00 - Vá e Vença.

Os olhos azulados de seu avô lhe encaravam profundamente, não com uma expressão de intimidação ou de seriedade, que tantas vezes Mark já tinha visto ele fazer, mas dessa vez lhe apresentavam um sentimento diferente. Seu rosto, sério e com marcas de rugas pelo tempo, exalava um ar de aprovação, e – por que não? – de orgulho.

– Acho que já está na hora de você partir, hein? –  Seu avô lhe estendia a mão com um sorriso fraternal, entregando-lhe uma mochila escura acinzentada, um pouco desgastada pelo tempo, de algum material que parecia ser couro, com alguns detalhes prateados em seus bolsos e alças. Contudo, o maior detalhe era o símbolo da polícia de Johto gravado em cores douradas em seu exterior.  – Já guardei algumas coisas aí, mas fique à vontade se quiser verificar.

Parecia que esse era realmente o momento que Mark estava, mesmo que inconscientemente, esperando. O momento que sua jornada de fato começaria. Em sua frente seu avô, que durante os últimos meses com que conviveram juntos tinham formado um forte laço de amizade e fraternidade, já deixava claro que esse era o momento de despedida. Não era necessário melosidade ou qualquer sentimentalismo adicional, ambos se entendiam e sabiam que essa era realmente a próxima etapa da jornada do jovem.

Mark deu um leve sorriso e pegou a mochila que o ex-policial lhe entregava. Ele abriu e viu que dentro já estavam alguns itens voltados diretamente para treinadores, como Pokébolas, em um dos bolsos frontais. – Vô, onde o senhor conseguiu isso?

– Eu tenho muitos amigos, você sabe. – O homem loiro, mesmo que agora seus cabelos estavam quase todos tomados por uma tonalidade branca, sorria triunfante. – Está tudo aí, tudo que você precisa. Conversei com um dos ajudantes do professor sobre um neto que estava disposto a embarcar em uma jornada. Ele disse que estará torcendo ansioso para o seu sucesso, Mark. – Os dois se olhavam, neto e avô, em um momento bonito de passagem de gerações. O avô lhe entregou também um aparelho de tamanho pequeno, de aspecto vermelho-alaranjado que o garoto de óculos rapidamente reconheceu como sendo uma Pokédex. – Além de tudo você tem meu sangue! Não pode envergonhar a família Avellar! – Disse o velho Jonathan em tom de brincadeira, mas que de alguma forma o neto não conseguia realmente dizer se ele estava sendo brincalhão ou se realmente falava sério.

O jovem então pegou na mão o aparelho e o observou por alguns segundos até coloca-lo diretamente no bolso. Virou-se para seu avô e com a maior sinceridade proferiu as palavras:

– Obrigado, vô. – Mark não se parecia tanto com o seu avô, seus olhos não eram tão azulados, sendo uma tonalidade um pouco mais acinzentada do que o profundo azul marinho de seu avô. Seus cabelos tampouco eram loiros e ele mal tinha pêlos, ao contrário do homem a sua frente, que esbanjava uma virtuosa barba desgrenhada branca e amarela. Seu avô além disso era um pouco mais baixo que ele, e bem mais troncudo e musculoso. Contudo, existia algo no semblante, na expressão e até na mentalidade dos dois que deixava claro para qualquer um que se tratavam de avô e neto. Mark não conseguia explicar direito, mas sempre sentiu que mesmo se o mundo inteiro estivesse contra ele, seu avô o apoiaria. E ele não tinha palavras pra realmente expressar isso. – Obrigado mesmo. De coração. Por tudo.

Seu avô, colocou uma mão em seu ombro e com um sorriso, apenas respondeu “Eu tenho muito orgulho de você.” Isso era suficiente. Não era preciso mais nada para deixar claro como era o relacionamento dos dois. – Ah! Já ia me esquecendo! – O homem correu pro interior da casa e alguns segundos depois voltou acompanhado de um Pokémon quadrúpede, de cor preta e vermelha. – Esse é um dos filhotes do Roger. Eu gostaria que você levasse com você. – O Pokémon era um Houndour, não tinha traços muito expressivos, sendo um exemplo perfeito de um animal de sua espécie.

Mark prontamente aceitou o novo companheiro, e partiu em direção à sua jornda, e partindo da região de Rustboro. Enquanto virava-se e caminhava pela rua, já de saída só conseguiu ouvir um grito de seu avô:

– Vá! E vença!