Combatchy! Quica quica, bate bate

Adam se aproximava em passos lentos da primeira dupla, a medida que ia chegando perto conseguia escutar o conteúdo da conversa. Algo referente a pokémons cute, cool... Tal assunto acabava complicando ainda mais a cabeça do jovem, porém nem tudo era negativo naquela conversa, descobria também que o próximo evento seria em Lilycove e pelo jeito pokémons cute levariam a vantagem. A cidade de Lilycove não era tão longe assim, mas precisaria passar por duas rotas antes. É... pelo jeito Yokosuka teria que antecipar aquela visita nas aulas de vôo, se quisesse chegar a tempo para a competição.

— C-ca... Caralho, Haunter. — Teve uma certa dificuldade para proferir mais um palavrão, ainda estava se acostumando com esse estilo. — Isso complicou ainda mais. Entendeu alguma coisa? — Perguntou para seu fantasminha que por razões óbvias respondia negativamente balançando seu corpo e abrindo suas mãos; sem entender absolutamente nada. — Vamos ver algum candango que esteja marcando bobeira por aí e tentar arrancar alguma coisa.

Sem ter mais nada para absorver naquela conversa entre os dois treinadores, Adam seguia adiante e dava de cara com mais um monte de coordenadores. Porém um em específico chamava sua atenção, se tratava um jovem com estilo mariacchi, bem parecida com a única fantasia que o fragmentado tinha. O que seria perfeito para pegar algumas idéias para sua próxima apresentação no contest. Adam então resolvia se aproximar e trocar uma idéia, o bom de falar com coordenadores era que não ia causar nenhuma estranheza por está mascarado.

— Fantasia foda que você tem aí, chefe. — Tratou de chegar elogiando para ganhar a confiança do rapaz. Também aproveitou para começar a acostumar seu dialeto com gírias, sendo o oposto de Joe, tudo isso para que ninguém futuramente consiga descobrir quem estava por trás da máscara. — Acho que tem um jeito de você decidir em qual cabeça colocar esse ítem... Jogue pro alto, a cabeça que pegar primeiro, fica com ele. — Em teoria não era uma ajuda tão boa, sabia por alto que o temperamento das cabeças do Doduo não eram lá tão amigáveis e uma disputa entre elas poderia causar uma confusão e tanto. A personalidade caótica já começava a colocar suas mangas de fora.

Adam dava sua sugestão da discórdia e a mesma era muito bem aceita pelo Mariacchi a sua frente. Assim que o rapaz lançava o cachecol para cima, ambas cabeças acabavam entrando num cabo de guerra e só terminavam quando rasgavam a vestimenta, para a alegria das aves e para o desespero de seu treinador. Para ser sincero, Adam não esperava que a criaturinha acabaria destruindo o Scarf, na sua mente esperava uma pequena confusão derrubando o treinador, algumas bicadas pra lá e pra cá ou talvez ignorariam o próprio treinador e deixariam o mesmo com cara de tonto.

— Hihi, por essa eu não esperava... — Segurou a risada para não debochar da cara do jovem a sua frente. Já Haunter começava a entrar no personagem de Adam e dava algumas risadas, não negando suas raízes debochadas de fantasma.

A situação ainda ficaria pior, o mariacchi ficava totalmente desesperado e começava a gritar com suas mãos na cabeça. Lágrimas começavam a cair de seus olhos e seguravam a barra da capa de nosso anti-herói. Adam não se importava -ou fingia muito bem que não-, já seu outro "eu" ficava com um pouco de recentimento por fazer uma coisa dessas. Parecia que essa era o primeiro conflito entre personalidades, o fragmentado balançava rapidamente sua cabeça e voltava para si.

— Qual foi, mermão? Me solta. — Deu um puxão na sua capa e caminhou na direção do Doduo. Começou a analisar a situação e percebia quem ficava com a maior parte da Scarf, apontando para aquela cabeça. — Não foi uma merda completa. Olha aqui! Descobrimos em quem você irá equipar a scarf. — Disse para o jovem choroso. — Não tente entender, Doduo. Eu te explico, ele só está emocionado que você pegou esse ítem aí. Parabéns! — Tratou de parabenizar o pokémon e bateu algumas palmas. Inclusive Haunter também se sensibilizava e dava alguns carinhos em Doduo. Ambos faziam tudo isso para não deixar o pássaro chateado ou coisa parecida.

Por fim retornou ao dono do Doduo e estendia sua mão direita. — Bora, mané. Levanta dessa merda aí... Vou te ajudar a limpar essa cagada feita. — Esperou ele se levantar e voltou a falar. — Acho que vi umas lojas de roupas perto da loja de vôo ali do outro lado, podemos começar por lá. — Deu um tapinha no ombro do rapaz a sua frente para forçar ele a caminhar para o próximo local. — Pelo jeito esse ítem é bem importante. O que caralhos ele faz?

O treinador na sua frente era mais inocente do que se imaginava, ele nem notava que a escolha da cabeça vencedora era apenas um sarcasmo. Aquilo de certa forma mexia com a cabeça de Adam e então decidiu ajudar o jovem, é claro que da sua maneira, estava visando receber alguma bonificação por trás. Tal ajuda era o bastante para o mariacchi engolir o choro e voltar com sua alegria no rosto, inclusive agradecia e prometia fazer um favor para o nosso anti-herói futuramente, que em resposta dava somente uma risadinha sarcastica.

— Hihihi, relaxa, moleque. Você vai me pagar em breve. — Essa ultima frase falava um pouco mais baixo, somente para seu Haunter ouvir. Não era a toa que tava ajudando aquele treinador, estava interessado naquele Scarf, o que ele fazia e como conseguir um.

Logo o grupo começava a andar, em busca da loja de roupas do outro lado do plaza. Haunter seguia o caminho todo do lado de Doduo, o fantasma era bem gentil e de certa forma se identificava com o pássaro. Já Rafael seguia tagalerando ao lado de Adam, se apresentava, explicava sobre o ítem destruído e tudo mais.

— Rafael? Um belo nome bíblico que você tem. Eu me chamo... — Agarrou o garoto pelo pescoço -como se fosse um abraço- e seguiu andando assim. — Adam! Um dia irei ficar famoso. — Com o outro braço apontou para os céus, fazendo uma alusão que era algum escolhido por Deus. — E mudarei esse mundo de merda que vivemos. Você tá tendo privilégio de ser meu primeiro discípulo, se aceitar, é claro hihi. — Com o termino do seu discurso, soltou o garoto.

Sem nem pensar, Adam começava a expor um outro lado totalmente diferente de Joe. Era algo mais explosivo e talvez... radical? Não sabia como o mariacchi iria reagir, mas decidia seguir com o assunto, ficando fascinado sobre os Scarfs e sua importancia para os concursos. Certamente teria que arranjar um de alguma forma.

— Porra, esse bagulho é melhor que imaginei. Agora já sabe como fazer pra me agradecer, vai me ajudar a descolar um Scarf pra mim também. — Finalmente o grupo chegava até a loja de roupas. — Ah lá, não falei que tinha uma por aqui?

Ambos treinadores adentravam na loja e Adam ficava analisando o espaço exclusivo para Scarfs para entender mais sobre esse cachecol, enquanto Rafael ia falar com o dono do estabelecimento e ver o que ele poderia fazer pelo mesmo. Nosso anti-herói acabava presenciando um furto e pelo jeito ninguém mais notava, decidindo então tomar as rédeas da situação. Mesmo tendo uma personalidade caótica, estava na bíblia "não roubarás" e isso era inadmissível.

— Haunter! Guardou a fisionomia daquele cara de capuz? Veja para onde ele foi, sem levantar muitas suspeitas dele. — Disse para seu fantasminha e saiu de fininho na direção do balcão. Chegando perto, deu um chute no balcão com toda sua força. — Ô coroa! Acorda, caralho! — Deu mais um chute no balcão. — Época de contest e você tá marcando bobeira? Um verme acabou de entrar na tua loja e roubar uma Scarf.

O percurso até a loja de roupas era cheia de assuntos e bem interessantes até. Inclusive ajudava Adam a entender melhor como funciona os contests e também personalidade do rapaz que estava ao seu lado, sendo bem gentil e inocente. Era até difícil de acreditar que alguém fosse tão inocente a esse ponto, o mesmo não entendia os sarcasmos e outras atitudes de Yokosuka. Enfim, o importante é que Adam conseguia seu primeiro seguidor e nem precisava de muito para convencer a aceitar.

— Você acaba de tomar uma decisão importante, moleque! hihi. — Deu uns tapinhas no ombro de Rafael. — Nada que uns treinos não ajudem na parte prática. Precisamos é disso... Acumular riqueza, ficar mais fortes e famosos. Aí vamos espalhar a palavra de Deus e mudar o mundo.

Adam estava começando a gostar de Rafael, sua ajuda para o rapaz estava começando a ser algo mais "real" do que puro interesse no ítem em questão. Talvez aquele jovem era o primeiro discípulo ideal, alguém inocente e inteligente, com conhecimentos teóricos e que poderiam trabalhar juntos num plano de ação para conquistar seu objetivo.

Dentro da loja o furto acontecia de forma muito rápida. Por sorte, o Haunter ouvia seu treinador e ia atrás do meliante, restava agora rezar para que o fantasminha não fosse descoberto. Do outro lado, o novo estilo explosivo do anti-herói acabava não dando certo, o ídoso no susto acabava sacando sua espingarda e apontava para ambos os jovens, inclusive até achava que eles fossem os ladrões. Sem muito o que fazer, Yokosuka apenas levantava suas mãos e tentava mostrar que era inocente.

— Ô seu velho miserável! Tá doido, porra? Que tipo de ladrão que avisa para o dono do estabelecimento que está sendo roubado e ainda por cima continua na loja? Abaixa essa arma e vamos atrás do desgraçado que te roubou, se perdermos mais tempo aqui ele vai acabar se safando.

A tensão ficava cada vez maior, Yokosuka já sentia por dentro da sua máscara o suor escorrendo por conta do nervosismo. A medida que o tempo passava ficava cada vez pior com o velho acusando ambos treinadores excessivamente de furto e apontando o cano da arma na direção de Rafael, pelo jeito aquele velho falava sério em atirar.

Tentando contornar a situação, Adam -com todo seu jeito nada delicado- tratava de explicar melhor a história para safar a sua pele e de seu discípulo de levarem um tiro. Porém acabava surgindo um herói inesperado, Rafael acabava dando um tapa de cima para baixo na espingarda e saia correndo para fora do estabelecimento, se aproveitando da brecha que tinha surgido. O fragmentado não esperava por aquilo, ficava alguns segundos estático sem saber o que fazer e voltava para si quando ouvia a palavra "corre". Sendo tomado totalmente pelo calor da situação, acabava correndo pra fora do estabelecimento também, se jogando no chão da rua para evitar de tomar algum futuro tiro.

— CARALHO, MANÉ! VOCÊ TÁ PIROCA DAS IDÉIAS? — Esbravejou aos gritos. — O coroa tinha uma arma e precisavamos dele para costurar a scarf! Essa não era a atitude mais sensata, porra! — Vendo que a situação estava mais "calma", se levantou do chão e passou a mão por toda sua capa, limpando a mesma. — Pelo menos saimos vivos. Toca aqui. — Estendeu sua mão com o punho fechado, para receber um toque de punhos.

Logo, Haunter aparecia em cena com um sorriso malandro no rosto e apontando para um beco próximo, provavelmente por onde o ladrão teria fugido. — Aonde tava esse tempo todo? Ainda volta tirando onda... Quase morremos com um tiro! — O fantasma em resposta começava a rir ainda mais, numa tentativa de irritar ainda mais seu treinador. — Ah, foda-se. Que seja...

A situação não era das melhores, a única chance de conseguir costurar a scarf tinha ido por água abaixo. As opções eram escassas, tinha somente uma provável localização do meliente ou poderia tentar a sorte de encontrar alguma outra loja pela a cidade.

— Parceiro, eu não to ligado em nenhuma outra loja por aqui. — Olhou fixamente para Rafael. — Se você não souber também, acho que tenho uma idéia... Vamos atrás do verme que roubou essa imundice. Com isso vamos ter duas alternativas. — Gesticulou com um sinal de dois com a mão. — Fazer ele se assumir pro coroa e com isso o coroa vai nos perdoar ou podemos dar uma surra nesse desgraçado e pegamos a scarf pra gente. — No final de sua frase, deu um soquinho na palma de sua outra mão. — O que acha? — Esperou a resposta se posicionando de frente para o beco, pronto para entrar no mesmo. — Haunter, fique pronto para guiar a gente.