SHIMMER RUINS DUNGEON #1 - KB & SHIANNY

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E então, após um longo pedaço de caminho que mais parecia infinito, os pés frearam em descanso brusco, tropeçando por alguns passos extras antes que finalmente encontrassem ponto morto, a poucos metros de distância da primeira reentrância que tão atrativa parecia ao seu dócil psíquico gelatinoso - embora, em primeiro instante, a ruiva não se desse conta de tão discreto encanto. A adrenalina pulsava por suas veias, sabotando a percepção que deveria ter a respeito das pernas trêmulas, do calor ambiente já eternizado e dos pulmões queimando dentro do torso, ardentes - ou mesmo da força com que os dígitos se prendiam aos da companheira, em prevenção e temor que sua companhia se dissipasse com a mesma suavidade que a brisa soprava pelo oceano de areia.

A primeira coisa que as pupilas captaram, óbvio, foi a convidativa - e ameaçadora - garganta que se abria, negra, entalhada sobre as rochas. Um calafrio percorreu por sua espinha, reverberando por cada uma das células nervosas diante da abertura enigmática que desafiava exploração; Discretos, os dedos se apertaram um pouco mais entre os de Bley, antes que vagarosamente afrouxassem, tais quais vítimas de hipnose. Até então, admitia, havia sido movida meramente pela excitação de se deparar com o desconhecido e, sobretudo, contagiada (de certa forma) pela cobiça de monotreinadora quanto aos tantos tesouros que poderiam se esconder nas entranhas do deserto. Entretanto, porém, contudo e todavia: Uma pequena parcela de seu coração bem tinha consciência a respeito dos perigos que estariam à espreita num lugar como aquele e, agora, mais próximas do que nunca, tal sabedoria berrava, esganiçada, em busca de reconhecimento - e o temor era consequência inevitável, no fim das contas.

O coração de Babel, da Tempestade, das Masmorras - fosse qual fosse, nunca havia tido a sorte de escapar de qualquer um deles sem que uma cicatriz se desenhasse por seu peito, nova ou antiga. Se parasse para pensar a respeito, não teria motivo algum para que o de Shimmer trouxesse uma nova perspectiva à tais aventuras inconsequentes e, em realidade, considerando que agora tinha alguém que corria o risco de perder e que necessitaria defender além de a si própria, bem, a experiência facilmente corria o risco de ser... Pior, entende?

...Não quis concluir a linha de raciocínio.

A segunda coisa em que prestou atenção, inevitavelmente, se tratou da maneira como o dócil psíquico fitava o projeto de passagem lateral que fazia desvio das ruínas imponentes à frente. O cenho franziu, discreto, e a ruiva se deu ao luxo de umedecer o lábio inferior com a ponta da língua antes de se aproximar da curva, estacando a poucos passos do espécime gelatinoso e observando a situação retratada no quadro entre as duas paredes de rocha. De maneira discreta, as pálpebras estreitaram, e a primeira reação que teve foi olhar de um lado para o outro, em busca de quaisquer sinais de presença, huh, humana - mas logo a atenção repousou mais uma vez na escuridão que marcava início às ruínas e, naquele instante, questionou-se se não seriam as únicas com ousadia o suficiente para buscá-las e explorá-las.

E se, por algum acaso, Oliver também fosse o guia de seja lá quem estivesse por ali?
E se ele soubesse que haveriam mais pessoas naquele local?

...Optou por não deliberar demais.

— ...Se ficar com essa cara de tarada do ouro, até eles vão saber. — Retrucou, um rápido olhar periférico na direção da loira, torcendo um sorriso de canto de boca. — ...Mas, se liga. Pode ser que a gente encontre algum mapa ou algo do tipo naquelas coisas. — Murmurou, mordendo a parte interna das bochechas e retirando do bolso uma de suas esferas bicolores - porém, manteve a mão atrás das costas, fora da visão dos dois quadrúpedes. — ...Quero tentar olhar sem confusão. Não sei se tem mais gente aqui, ou se ainda tem gente por perto. — Acrescentou, em baixo tom, sem desviar o olhar dos terrestres ruminantes. — Se prepara, porque pode ser que a gente precise olhar à força. — Alertou, respirando profundamente e mexendo o pescoço de um lado para o outro, usando o dorso da mão livre para secar o rosto.

...Então, se aproximou. Passo pós passo, sem pressa, sem desejo algum de alarmar os dois camelos de fogo: Os orbes acinzentados percorreram rapidamente a área, tendo a cautela de observar se existiriam mais saídas, terrenos esquisitos pelas proximidades ou mesmo tentando detectar quaisquer presenças que não teriam reparado em um primeiro olhar. Particularmente, queria muito que os bichos fossem dóceis o suficiente para aceitar aproximação de duas estranhas mas, se tivesse que ser sincera, não contava muito com essa possibilidade. Desde quando tinha sorte nessas raras ocasiões inusitadas? Pfft.

— Ei, garotos. — Chamou, um sorriso relaxado, enquanto tentava findar a distância que existia entre ambas as duplas. — Vocês estão com fome? — Perguntou, fitando a grama seca que os bichos mordiscavam. Ainda com a mão livre, puxou uma das barrinhas de ração do bolso exterior da mochila, estendendo na direção dos animais - ora, se tinha alguma chance de conquistar os bichos, pelo bucho seria a melhor tentativa que poderia arriscar, né? — Aqui, vem cá. Podem pegar! — Incentivou.

Esperava não ter que lidar com uma confusão logo antes de entrar nas ruínas...
Mas, como bem pontuado, não era como se confiasse nessa hipótese, no fim das contas.

Foi com naturalidade que o sorriso torceu no canto da boca quando, de maneira afável, ambos os quadrúpedes se aproximaram, interessadíssimos na ração estendida por si. A ruiva até mesmo ousou afagar com delicadeza a cabeça de um dos camelos terrestres, gentil, após entregar partes da barra para cada um dos pokémons, enquanto o psíquico flutuava ao redor dos dois, aproximando-se de maneira curiosa de seus focinhos e emitindo um cry alegre, girando em torno de seu próprio eixo e flutuando de um lado para o outro em uma boba tentativa de chamar atenção. Isso, é claro, por si só já era ótimo, considerando que seria uma distração a mais que os quadrúpedes teriam de lidar e concedia tempo para que Karinna pudesse, no mínimo, dar uma espiadinha no conteúdo das tantas bolsas penduradas nas selas dos animais.

...Quer dizer, pelo menos foi o que havia pensado.

Claro, não era realmente surpreendente que alguma coisa as atrapalhasse - o fato de que as próprias montarias o fizeram, porém, a atingiu e arrancou sobressalto quase grotesco e que, felizmente, foi o responsável por fazer com que as pernas se movessem e desviassem do caminho dos imponentes Camerupts, evitando que acabasse atropelada com o movimentar dos animais: E a moça não hesitou ao sequestrar o pequenino Duosion entre os próprios braços ao sair da frente dos relaxados pokémons.

Poderia ter pensado em falar alguma coisa, qualquer coisa, na verdade; Porém, não precisou. As próprias ruínas fizeram questão de ecoar a resposta de uma pergunta não feita, em sussurros de passos pesados que eram abafados pelos sons agudos emitidos no baile do vento. Um calafrio inquietante subiu por sua coluna, e o abraço em torno do psíquico se apertou um pouquinho, antes que o olhar volvesse na direção de Karinna e, bem, não é como se a bolsa nova em suas mãos pudesse lhe passar despercebida.

— Vê se tem algo interessante. Tira e coloca onde você achou. — Disse, em baixíssimo tom; Naquele momento, sequer lhe passou pela cabeça a ideia de que... Bem, teoricamente seria errado fazê-lo. Era difícil dizer, porém, se deveria culpar a inquietação ou se a atitude de Bley começava uma influência não muito boa sobre si. — ...Fica preparada. — Aconselhou, sem especificar, mas sem acreditar que precisaria fazê-lo. Em silêncio, encostou-se contra a parede de pedra do lugar e, pelo canto de curva, observou a entrada da garganta de Shimmer.

Não sabia o que sairia de lá, ou se alguma coisa de fato sairia...
Mas queria ver antes de correr o risco de tomar qualquer decisão precipitada.

Não seria exagero mencionar o alívio que pulsou por suas veias quando, de seu canto quase oculto, observou a figura que escapou da garganta do predador de pedra. Poderia ser um pré-conceito perigoso de se ter, mas admitia que ser "cumprimentada" pelo o que parecia ser um simples arqueologista, e não um grandalhão mal-encarado, bem, a deixava um pouco mais segura com, no mínimo, as pessoas que poderiam estar rondando aquelas ruínas. Quer dizer, não é todo dia que você se deparar com um vilão estudioso que coloca a mão na massa, né? Normalmente, eles sempre são caras brutos ou empresários que ficam muito, muito longe de onde a merda papoca.

Ou talvez só estivesse vendo filmes demais.
Mas não era como se "Império Pokémon Oirar't" e "Portão do Céu" a incentivassem a não pensar naquele tipo de coisa, vamos combinar.

— ...É de se imaginar que esse tipo de gente poderia passar pelo Oliver, antes de atravessar o deserto. — Comentou, em baixo tom, enquanto observava o homem dar meia-volta e deslizar para dentro do estômago dos portões entalhados nas rochas. — Você acha que ele sabia que teriam mais pessoas por aqui? — Perguntou, com uma respiração profunda, mantendo o olhar fixo na entrada por alguns segundos para se certificar de que o sujeito não voltaria a aparecer. — Talvez a gente possa entrar sem ter problema. Não acredito que ele vá impedir. — "...Ou que tenha como.", a mente completou - entretanto, não achava que seria uma boa ideia mandar uma dessas na frente dos dois quadrúpedes ali ao lado. Quer dizer, não se não quisessem ter problemas com eles.

— ...Camy e Putyn, hm. — Murmurou, os olhos acinzentados passeando pela imagem dos preguiçosos camelos, arriscando dar um afago na nuca desse último. Ao que aparentava, pelo menos, os pokémons não pareciam dispostos a comprar briga e, considerando que não tinham a menor ideia do que encontrariam do lado de dentro, talvez não fosse inteligente tentar puxar uma, também. — Vocês devem ser ótimas companhias pro deserto. — Comentou, deixando escapar um sorriso de canto de boca. Diante das palavras de Karinna, limitou-se a assentir com um breve aceno de cabeça, e as mãos se ocuparam em retirar duas barras de ração da mochila (graças aos céus tinha trazido montes do posto de controle), assobiando para os animais e as colocando sobre uma pedra próxima. Talvez eles não quisessem engolir de uma vez, e certamente colocá-las por perto daria mais liberdade do que simplesmente enfiá-las na frente do focinho dos animais.

— Vamo lá. — Disse para a loira, batendo a poeira das roupas e começando a caminhar na direção dos portões. — Se despeça, Kaleo! — Avisou à gelatininha, que piscou algumas vezes e rodopiou ao redor da cabeça dos terrestres, emitindo barulhinhos animados e esfregando sua superfície fria em seus focinhos em uma despedida nada tímida, antes de flutuar na direção de sua treinadora, sendo bem recebido entre seus braços. — Só vê se não começa a gritar de novo. Não vou poder te segurar toda hora. — Provocou, dando um olhar de canto para Bley e deixando um sorriso tranquilo escapar pelos lábios.

Tinha que aproveitar essa tranquilidade enquanto podia, afinal, não sabia o que encontrariam lá embaixo.
Ou se sairiam de lá.