Recrutamento de aprendiz - Luke Horan

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Talvez eu estivesse esperançoso demais, talvez estivesse deixando subir a cabeça todo o sucesso que tive na missão e nas batalhas que envolviam outros treinadores, talvez o ego estivesse me consumindo, mas eu não tinha como ter certeza; qual a diferença entre autoestima e egoísmo? Quem sabe regra quando estou sendo egoísta ou apenas me importando comigo mesmo de maneira saudável? Era uma linha tão tênue, e eu tinha a predisposição para cruza-la, vindo diretamente de minha mãe. Nora Specter nunca foi alguém modesto, e todos tinham noção disso, incluindo eu e meu pai; mamãe nunca escondeu sua sede por poder, seu punho de ferro e um coração espinhoso para todos que estavam ao seu redor, e talvez por isso ela fosse uma das únicas mulheres na posição em que se encontra. Mas isso não era motivo para perder a humildade.

Não sei exatamente quando aconteceu a primeira vez, ou quando ela começou a se sentir assim, mas uma vez durante o casamento de uma colega de trabalho, aconteceu a famosa briga entre a bem sucedida CEO e o ex-artista que abandonou sua carreira já não-tão-bem sucedida para cuidar da família; eu não deveria ter muito mais de seis anos, mas os argumentos já me faziam sentido na cabeça. "Inútil", "burro", "sem talento". Esses eram os argumentos que eu já entendia, e que com certeza me machucariam se fossem direcionados a mim; machucaram do mesmo jeito, sendo para meu pai. Depois disso piorou, pra depois melhorar de novo e nos últimos dias sequer tocarem no assunto. Não sabia se era uma coisa genética, mas parecia estar rolando o mesmo comigo.

Meus olhos se focaram no ambiente ao meu redor somente quando o velho abriu a boca para me responder durante o trajeto; ele parecia tão confiante quanto eu estava quando adentrei as portas do ginásio. Agora? Duvidava de mim mesmo. Eu sorri para ele, assentindo e garantindo que não contaria para mulher que ele havia me contado sobre suas esperanças; o que quer que ela esperava de mim, eu sabia que conseguiria atingir, sem muita dificuldade. A essa altura, tudo que eu queria ainda era uma cama. Mas o destino tinha planos diferentes, e eu me sentia obrigado a segui-lo; o destino aqui também podendo ser nomeado como Janine. Por falar na mestra, a batalha que Kodaiashi me falou estava para acabar, e eu sabia disso sem nem ter visto o seu início; era óbvio que aquele carinha não a derrotaria com o básico, e aquele Hypno nem parecia tão bem treinado.

Se fosse eu, provavelmente perderia também, afinal abusar do óbvio era meu nome do meio; capitão óbvio até foi meu apelido num joguinho on-line uma vez, meus amigos adoravam. Eu teria de assistir o massacre com bons olhos, afinal era uma oportunidade única de ver a madrinha em combate, e assim captar algumas estratégias para mim, já que tínhamos quase os mesmos Pokémon; ela não parecia tão centrada como quando me questionava gostos e afins, na verdade até envolvida na batalha ela estava. Apesar de eu não ver tanto, salvo seu rosto, graças a roupa de ninja típica que agora pousava sob seu corpo, eu tinha certeza que ela estava concentrada; não nervosa, concentrada. Ela queria vencer, mas não queria transparecer isso, e até nisso eu me enxergava; mas, tirando tudo isso, eu teria de aguentar toda a burocracia do desafio para poder ser atendido por ela, e por isso cruzei os braços e a perna direita sobre a esquerda, observando bem e me lembrando de agradecer o Oji-san quando ele saísse.

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Minha atenção era toda voltada para a batalha nesse exato momeonto, mesmo que eu não quisesse, eu me obrigava a ver o resultado final, e entender o que acontecia; por sorte não tive muito mais o que apreciar, Janine acabou com a batalha no exato segundo em que decidi que iria prestar atenção. Fora um massacre, perfeito e limpo, bem como eu esperava dela, mas algo me surpreendeu, e fora sem dúvidas a olhada que ela me deu no pós-batalha; se eu tivesse segurando algo, provavelmente teria derrubado, mas não sabia se aquela encarada era de "vou te matar" ou simplesmente de "feliz que voltou". Não dava muito para saber o que ela pensava, a menos que estivessemos falando de seu pai.

Eu virei para a sala em que ela entrou, chamando o senhor Kodaiashi consigo, e me deixando na curiosidade; havia falado mal de mim? Pedido para o velho me expulsar? Nenhuma das duas, aparentemente, já que logo o Oji-san retornou, com seu sorriso de sempre nos lábios e animação para minha parte; eu retribui a simpatia, é claro, e o segui até a sala. - Me deseje sorte. - Pedi, antes de adentrar a sala, e ele realmente o fez. Eu não sabia o que me esperaria ali, mas sabia que teria uma boa conversa com a líder, e foi por esse motivo que eu não mative o sorriso, queria estar o mais neutro possível, exatamente como ela se mantinha; se eu perdesse a vaga, não seria por falta de algo, mas talvez por excesso. E eu até que aceitava isso.

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Assim que adentrei a sala, meu olhar foi seguindo diretamente para o mesmo lugar de antes, Janine se mantinha sentada exatamente da mesma maneira e eu tratei de me sentar seguindo seu padrão; logo, ela me trouxe uma xícara de chá, e eu aceitei de bom grado, mantendo a cordialidade. Era também o mesmo sabor de antes, o que me agradou demais, e me causou uma sensação de paz súbita; sabe quando você tem uma memória culinária muito forte por algo que assim que você sente o cheiro, você é automaticamente remetido a essa lembrança? Pois bem, foi exatamente isso que aconteceu.

- Espero que tenha sido uma surpresa positiva. - Sorri entre um gole e outro, correspondendo as expectativas de retrucagem da garota. - Eu até tive um pouco de dificuldade, mas foi na parte do treino. A captura e evolução foram bem fáceis, na verdade; o que me demandou tempo foi manter ele concentrado por um bom período de tempo, enquanto executava os movimentos. - Comentei, sem medo de esconder minhas inseguranças e dificuldades para ela; afinal, se ela seria minha mestra, eu não deveria manter segredos com esse tipo de coisa, não é? Ela precisava saber aonde eu tinha menos facilidade para poder me ajudar a melhorar. Ao menos era assim que pensava.

No final da frase dela eu já mantinha meu sorriso típico, assentindo com a cabeça e tomando mais um gole do chá antes de me levantar e sacar a esfera de Arbok; pressionei seu botão, liberando a serpente, que se colocou rapidamente atrás de mim. - Odysseus, capturado, evoluído e treinado na rota 14. - Sorri, me sentando novamente e deixando o monstrinho livre. - Eu também aproveitei a rota para evoluir meus monstrinhos, estão bem mais fortes agora em sua última forma; treinados também, já que fiz uma sessão grande com todos. - Dessa vez eu não estava me gabando, só queria descrever como fora a missão nos mínimos detalhes para ela. Só não falaria de James, é claro.

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Eu notava a inquietação da líder conforme eu ia falando, mas não destaquei nada; ela se conteve também, permanecendo calada durante todo o meu discurso e prestando atenção nos movimentos da Arbok, que se mantinha em minhas costas, atenta ao ambiente novo. Imaginava eu que era a primeira vez que Oddie saía da floresta, e por isso estava tão curioso com o ambiente, e os hábitos humanos; apesar de interessado, ele se mantinha sibilando no mesmo lugar, encarando a mulher vez ou outra principalmente quando ela fazia o mesmo comigo. - De fato... Eu fiz isso com Gengar, meu mais agitado, e realmente deu certo. Foi um treinamento muito bem sucedido no final. - Comentei enquanto tomava mais do chá, terminando o último gole a tempo dela voltar a falar.

Eu sorri para o elogio dela, e me levantei quando ela o fez, caminhando com ela com uma promessa de provar que Odysseus era tão forte quanto o Arbok dela; eu tinha minhas dúvidas sobre este fato, mas deixaria que a prática tirasse o melhor de nós. Caminhamos até uma parte mais afastada do ginásio, uma arena que tinha coisas mais voltadas a treino do que batalhas; e assim desceu um saco de pancadas típico de boxe, e eu já sabia do que iria se tratar. Assenti com a cabeça quando ela passou o "desafio", e apontei para o saco enquanto encarava Oddie. - Vamos lá, mostre o que treinamos. Ataque com a cauda, até mandar parar. - Ordenei a serpente, que já tratou de tomar sua posição. Não sabia quanto tempo duraria, mas esperava que não fosse desgastar meu Arbok...

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Eu observava Odysseus executar com certa dificuldade no início, mas depois de embalado, dar um show para mostrar a Janine como ele estava desenvolto; por mais que esse tivesse sido uma ponto estranho no nosso treino, quando tentamos fazer, agora ele tinha mais força e não era tão díficil. Depois, ela fez algo que eu não entendi bem; me fazer ver o Arbok dela treinando? Sinceramente? Nesse momento eu me desejei do lado de fora de uma vez, queria que acabasse; mas eu sabia que tinha de aguardar a boa vontade dela, e por isso me contentei em me manter inquieto. - Ele é realmente bem forte, sem contar a disparidade de nível... Mas você não me chamou aqui pra ver seu Arbok treinar, não é? - Questionei, erguendo uma sobrancelha, curioso para as reais intenções da mulher com aquele "exercício".