coffee, grapefruit and licorice - journey start

Pareceu um leãozinho, com um profundo bocejo que deu início ao seu dia. Deixou a cama, mas ficou parada por um momento, assistindo o despertador, que marcava seis horas e quatro minutos da manhã. Se tinha qualquer coisa para se orgulhar sobrando, é que ainda conseguia dormir direito. Espreguiçou os braços e as pernas, esticando-os quase como se pulassem pra fora por um momento, e torceu a expressão levemente enquanto tomava seu rumo ao banheiro.

A água em contato com o rosto era suficiente para abalar a pesada camada de sonolência que cobria seu semblante. Se refrescou com um banho simples, e vestiu algo bem leve; uma camiseta simples amarela, calça de moletom, chinelo de dedo. Era o suficiente para uma manhã fria. Antes de ir para outro espaço, fitou o sono profundo de Aron, que estava afundado no transe. Ver o bichinho sempre lhe trazia um sorriso terno, uma segurança inigualável. Enfim, se direcionou à cozinha da casa para comer alguma coisa.

Seguiu o aroma quente de pão e café que emanava do recinto, o que indicava que seus pais tinham acordado cedo. Trocou 'bom dias' casualmente, enquanto fitava a tela do celular para conferir se havia alguma novidade. Fez profundo contato visual com a sua mãe quando ela lhe questionou sobre o que havia falado alguns dias antes, com um semblante um pouco entediado. Possivelmente, Chloe ainda achasse que era só uma brincadeira.

- Sim, mãe. Eu vou sair hoje e virar uma treinadora ou coisa assim. - Respondeu, antes de provar o sabor rotineiro do pão fresco. A manteiga sempre caía muito bem. Talvez pudesse comer só isso pra sempre. - Eu já tenho um Pokémon, e vocês têm Pokédex sobrando aqui em casa... É tudo o que eu preciso, né? - Virou os olhos com um sorriso descontraído quando a mãe começou a listar 'Roupas, sapatos, dinheiro, Pokébolas, comida, cachecol, desodorante...' - Você entendeu... Eu ainda vou visitar vocês. Não vou longe não.

O sabor do café já era um grande companheiro da garota. Na verdade, foi quase um amor à primeira vista; é o aliado que você reluta em acreditar a princípio, mas se torna inseparável. Na fruteira próxima, assistiu por um momento uma laranja, até que uma frase que tinha visto em algum lugar brotou na sua cabeça.


Não era difícil perceber que o autor da frase seria facilmente chamado de maluco. Mas, quando pensava na ideia de se tornar uma treinadora, o gosto do café puro era a primeira coisa que adentrava a sua mente. Talvez a graça estivesse em subir a montanha. E a jovem queria bastante tentar. O caminho podia ser difícil e tortuoso, mas se iniciasse a jornada pensando que essa seria a maior parte do caminho... Talvez fosse como um bom café.


Tentou evitar, mas acabou desabando na cama mais um pouquinho. Dessa vez, ficou assistindo o teto esbranquiçado, por um tempo, deixava os ânimos acalmarem mais uma vez para ter certeza de que não se arrependeria, uma canção tranquila no fundo da sua cabeça através dos fones de ouvido. A desatenção foi quebrada por um sinal de vida diferente; a vibração do celular na mesa de cabeceira, que avisava de uma notificação qualquer. A menina pegou o dispositivo e fitou a sua tela por algum momento, o polegar passeando pela lista de contatos da menina, permeada em grande parte por colegas da escola e seus parentes. Quando chegou ao final, teve um pequeno estalo.

... Nossa. Há quanto tempo não falava com Yuri? Ela tinha se tornado uma treinadora, né? Enquanto isso, Madeline passou os últimos três anos da sua vida em um colégio local, todos os dias, ficando do nascer ao por do sol. Talvez mais produtivo, mas certamente não mais interessante. Pareceu uma boa ideia entrar em contato com a prima. Ainda era cedo de manhã, então provavelmente não teria saído para lugar algum.

- ei yuri

- oi
- quanto tempo

- é, ultima vez que eu te mandei mensagem faz... um tempo

- tudo bem, ce tava ocupada com a escola

- tu ainda ta viajando? tipo... como treinadora

- uhum, eu to em hoenn em um tempo ja
- as cidades são todas rodeadas pelo mar, é muito bom

- então, é que eu queria ser uma treinadora também

- ai sério? vc não é muito esperta pra isso não? todo mundo sabe que vc daria uma ótima médica

- qual é sadjknsa nem vem
- sei lá, acho que eu só quero... sair de casa, algo assim

- tlg

- mas ei pq vc foi pra hoenn? a gente nem tem parente aí nem nada

- ah, então
- eu tinha vindo pra ver o timothy em um torneio, aí fiquei

- ....... QUE
- ???????

- uhum
- doido né

- como teus pais deixaram ele virar treinador???
- esse menino n consegue nem andar sozinho
- quanto mais treinar bicho

- ah eles n deixaram n
- lembra que ele foi morar um tempo com os avós em kanto? tipo, os pais do meu pai né
- eles deixam qualquer coisa que ele pedir, vc sabe como é

- mas até sair sozinho por uns lugares que ele nem conhece??

- ah... aí é com eles
- mas tipo, da última vez que eu vi ele, ele parecia bem
- os problemas de saúde tão aparecendo bem menos, sabe
- ele melhorou bastante

- eu ia te pedir umas dicas pra ser treinadora, mas tipo
- se até o timothy saiu sozinho e não morreu
- acho que vai ser de boa pra mim

- kkkkkkkkkkkkkkkk para
- ele cresceu pra caramba com essas coisas, sabe?
- nem parece o mesmo menino que eu cuidava
- sepa vc topa com ele por aí, nem sei onde ele tá agora
- começou a voar com os bichos dele e n para quieto mais

- que doido, viu
- eu tinha arrumado minhas coisas aqui e tava pesquisando
- mas acho que não deve ser muito dificil
- eu so quero passear pelas cidades proximas

- então é tranquilo
- os centros pokémon são muito uteis, no começo é esquisito mas vc se acostuma a dormir por lá
- mas pra vc é tranquilo, a hora que quiser é só voltar pra casa da tia chloe

- eu tava vendo uns aplicativos também
- tem um que ajuda a encontrar treinadores proximos
- talvez eu encontre uma galera legal pra não andar sozinha

- é aquele woopr né
- cuidado, tem uma galera que usa esse negócio aí pra achar namoradinha

- ... obrigado por avisar
- isso é algo que eu 100% não quero agora, sabe
- acho que eu tenho que ser bem clara que eu só quero gente pra viajar junto né

- ... não sei se é uma boa ideia
- mas toma cuidado, tá? não sai de noite não
- leva mapa e tal se puder

- tudo bem, eu vou tomar cuidado
- não decidi quando vou sair de casa ainda, mas quando eu for te aviso

- tá bom
- eu vou sair agora, tá? preciso acordar de vdd
- se cuida, maddy

- vc tb, yuri

SIMPLE BIO 001 by LORREIGN of RPGD

Continuou olhando para o teto. Uma imagem do pequeno Timothy passou pela sua cabeça. E pensar que já carregou esse menino no braço... Mas, tipo, era isso. Se até ele conseguiu, ela também conseguia, né? Riu com a ideia.

Nem tinha certeza.

Foi surpreendida por um bote certeiro. Aron havia acordado, e abraçava sua dona profundamente, como fazia todos os dias. O espécime parecia bastante animado, movendo a sua cabeça para os lados. Madeline contara no dia anterior que viajariam.

- Oi, meu amor. Tudo bem? - Segurou o corpinho por entre as mãos, um beijinho suave sobre a testa metálica. Não que fosse o mais adequado, mas o Pokémon era o melhor amigo da jovem já fazia muito tempo. Eles tinham uma ligação muito forte. Uma mera troca de olhares fazia com que ambos entendessem o que queriam. - Eu vou arrumar as coisas aqui em casa primeiro, tá? A gente vai sair mais tarde.

Deixou seu bebê sobre a cama para que fizesse o que bem entendesse. Depois disso, voltou para a cozinha, para fazer seja lá o que seus pais pedissem. Seria a última vez em algum tempo, então parecia até legal ajudar com as roupas, a louça, o depósito. Sentiria uma saudade esquisita.


Fim de tarde, era hora de partir. Sim, não era o horário apropriado ou recomendável... Mas só passearia um pouquinho, veria como é a noite em Goldenrod, talvez até aproveitasse a proximidade da residência para voltar, caso se arrependesse muito rápido. Estaria perto, afinal. Fazia frio, então vestiu um moletom verde - O mais confortável que possuía, bem maior do que deveria, também - Um cachecol vermelho em volta do pescoço, jeans escuros e sapatos sociais.

- A gente vai sair jajá, tá? - Deu mais um abraço em Aron, antes de retorná-lo para a Pokébola. Não era uma prática comum com o bichinho, que tinha o hábito ficar zanzando e brincando pela casa o dia inteiro, mas era bom começar a acostumá-lo. Não poderia andar assim o tempo todo. Pegou sua bolsa, conferiu se tudo estava lá dentro e colocou a alça em uma posição confortável. Ofereceu um abraço aos pais e promessas de que tomaria todos os cuidados possíveis. - Amo vocês, viu? Ligo assim que puder.

E deixou a casa. Torceu para que o brilho que escurecia a noite fosse como um bom café.

@gustavo

Inicial de Personagem secundário entregue.
Pode iniciar a sua rota em Goldenrod ou rotas adjacentes, conforme regras para Personagens Secundários.