Bastaram dois únicos anéis de água vibrantes para que Patrat estatelasse contra o solo, com suas energias exauridas. Ademais, não havia mais muitas opções restantes ao louro, a não ser arremessar a última esfera contra o corpo inerte do esquilo de Unova, capturando-o no ato. Calcorreou lentamente até o apetrecho em repouso no chão, tomando-o em suas mãos para, enfim, guardá-lo junto aos demais no bolso de sua calça. Concluída a captura, a terceira peça do quebra-cabeça lhe fora revelada: uma caixa com um pouco de espuma. Resumiu apenas a armazená-la em algum lugar de sua mochila.
Emma aproximou-se também com uma piscadela, antes de se envolver novamente com a mão direita do treinador; volveu a entrelaçá-las, lançando um olhar terno até se enlaçar no braço do rapaz em gesto terno de carinho. Suspirou, jubilosa, por finalmente compartilhar momentos de paz sem um único pingo de tensão comparado às últimas aventuras que tiveram de viver nos últimos dias: sem bandidos ou alguma entidade misteriosa para importuná-los; apenas as luzes dos astros e do parque ao redor com atrações lúdicas. Um cenário — aparentemente — perfeito para um casal que se conheceu por um acaso, pelas correntezas do destino, sempre tão incertas e as vezes funestas, agiu de maneira propícia aos dois: conheceram seus contrários, e, assim, puderam se sentir completos.
Claro, ainda tinham muito pela frente, e sabemos que a vida nem sempre é um conto de fadas — para a tristeza de Emma —; não é possível saber se ainda estarão juntos ao fim do dia, amanhã, daqui alguns anos ou se estarão juntos até o final da vida, contando às crianças sobre sua cruzada desbravando as terras tropicais de Hoenn. Restava a ambos aproveitar ao presente, abraçar a oportunidade que os deuses, muitas vezes sádicos titereando vidas humanas, deram de sorrir em uma ocasião oportuna como a que estavam.
Para as ciências exatas, uma soma; para as humanas, quiçá a definição da palavra amor ou paixão; para a biologia, o sistema hormonal regulando aquelas sensações indescritíveis em cada vez que os olhos se encontravam, mesmo que por acidente, a cada canto. Julieta e Romeu, e inúmeras citações folclóricas ao longo da história que poderiam ser citadas para dialogar com o casual encontro desses dois naquela situação melindrosa como a que viveram próximos a Littleroot.
E foi nessa união tão terna que os dois debandaram da derradeira tenda de captura, a última daquela atração; pareciam dois pombinhos, com a garota repousando sua cabeça sobre o ombro do treinador com um faceiro sorriso em seu cenho, vez ou outra movimentando sua íris para vislumbrar a face do louro. Nicholas apenas ameaçava gargalhar quando percebia que Emma lançava seus olhares jubilosos ao mesmo.
— Ah, amor, dá um sorrisinho, vai — murmurou a loura com aquele dengo em sua voz, inferindo pausadamente e acentuando as sílabas a cada frase que proferia. — Por mais que eu disse que acho você e essa sua cara séria muito sexy, você também fica lindo com um sorriso no rosto — provocou, abrindo os lábios em um sorriso. — Tava todo manhoso comigo há pouco tempo e agora só ameaça a dar umas risadinhas. Tô de olho em você, senhor Nicholas.
— Para com isso — Nico desviara o olhar por um curto tempo, sussurrando sem jeito. — Você gosta de me deixar constrangido, não é?
— Eu, hein. É claro que não. Eu só queria que você abrisse um sorrisão e mostrasse ao mundo o príncipe que você é. Por mais que tente, você não consegue esconder que tá quase explodindo de felicidade.
— É óbvio que eu tô feliz. A gente tá junto sem dor de cabeça nenhuma, sem rockets, sem nada de sobrenatural e um parque todo pra gente aproveitar. É só que... ah, sei lá, não sou tão bom socialmente falando.
— Até parece que nunca ficou com nenhuma outra menina. Quem não te conhece, que te compre.
— Já fiquei com outras meninas sim, mas nunca evoluiu pra um negócio mais sério tipo a gente, saca? Teve uma só que parecia que ia engatar, mas não foi, e mesmo assim, não era do jeito que a gente tá agora.
— Pera, deixa eu ver se eu entendi: você tem algum trauma ou algo do tipo?
— Não, de jeito nenhum. Só tô falando que não tô acostumado, e eu tenho medo de ficar andando de lá pra cá com essa cara de mongolóide ou de adolescente bobão.
— Ah, Nico, pelo amor de Arceus. Vai, vam’bora, vê se extravasa essa sua felicidade ou eu vou te constranger igual eu fiz na viagem pra cá, “tigrão”.
— Para com isso!
— Então dá um sorrisinho pra mim, neném, por favorzinho.
O louro engolira em seco com as provocações acerca de suas habilidades sociais. Enquanto isso, Emma, ainda apoiada ao seu ombro, mordia seu lábio inferior para segurar as gargalhadas ao perceber o constrangimento do rapaz diante de suas provocações. Nicholas tentava olhar para o outro lado, volvendo sua vista — pouco desfocada — na figura da sorridente treinadora tapando seu cenho galhofeiro com a mão. A loura abafou a sua risada, jogando-se e colando-se ainda mais sobre o corpo do garoto.
— Ai, bebê, te amo, sabia? — murmurou, cerrando as pálpebras por ínfimos segundos. Uma gargalhada acabou saindo, sempre tão angelical, de suas cordas vocais, antes de voltar a olhar para frente.
— Palhaça... — resmungou baixo o louro, tornando a sorrir como o pedido pela companheira.
Por fim, saíram da tenda de número seis, encontrando-se com as organizadoras do evento. Com calma, as responsáveis explicaram cada um dos brindes que ele recebera assim que enfrentou as três criaturas; ademais, uma boneca já pronta fora entregue, e explicou como ela seria útil no decorrer da cruzada do louro, deixando um convite para que o mesmo fizesse a sua também em suas barracas.
A última pergunta, claro: quem seria sua escolha depois dos encontros com monstrinhos tão interessantes? Nicholas respondera, sem titubear:
— Carbink.
— Eu duvido que ele vai ser tão fofo quanto a Cufant — resmungou Emma, fazendo um biquinho no processo.
— Para de resmungar, bicuda — a mão esquerda do garoto viajou até próximo dos lábios da garota, fazendo uma branda pressão sobre o bico da loura, arrancando risos da mesma. — E então, quando podemos nós mesmos fazer nossos próprios bonecos? — inquiriu, enfim, volvendo sua atenção para as responsáveis pelo evento.