[Rota] Capítulo 1 — A Primeira Captura É A Que Conta

Crianças costumam serem simpáticas comigo, então eu não esperava uma reação diferente do rapazinho que já tinha se mostrado alguém descontraído pela forma que estava lidando com a insegurança de sua Pokémon. Eu já estava me sentindo okay com aquela interação desde o início, mas agora que ele não só me respondeu como fez outra pergunta eu me senti livre para ficar mais confortável. Por isso, me sentei no chão próximo do limite que a água do mar atingia depois de ser empurrada pelas ondas. De pernas cruzadas, posicionei a Azurill no espaço formado entre elas ainda buscando não deixar que ela se afastasse demais. Mantendo-a distraída com as carícias na cabeça, eu esperava que ela me deixasse terminar aquela conversa antes de podermos cair na água. Eu sei que ela quer, mas não vou deixar ela ir sozinha, afinal de contas não tenho como acompanhá-la indefinidamente mar a dentro.

— Sou de Jubilife. — respondi me sentindo entretido só de observar a Mawile que estava ali tão próxima — Nasci e cresci lá, até decidir virar um Coordenador por esses dias. — encurtei a história, imaginando que o pequeno não iria querer saber de todos os acontecimentos que me trouxeram até este lugar. Criança não liga pra essas coisas e ainda quebraria o clima da conversa — Me chamo Kai, aliás. E essa coisinha aqui é a Azurill. — nos apresentei por fim. Se aquela continuasse por mais um pouco sem sabermos os nomes uns dos outros acabaria se tornando rude. Chamei a azulada de "coisinha" para provocá-la, mas ela acabou se entretendo demais com as carícias e nem percebeu nada.

Fiquei encarando o mar por alguns segundos até me tocar de uma coisa que a criança disse. Vi ali a minha chance de me preparar para a Granite Cave, como eu bem precisaria fazer depois daquele momento de descontração. Me empolguei tanto que parei de acariciar a Azurill e inclinei o corpo um pouco para frente na direção do pequeno treinador.

— Escuta, por um acaso seu pai se importaria de me ajudar? Eu quero explorar a Granite Cave, mas só tenho um Pokémon. Se ele me ensinar dos seus perigos, talvez eu consiga me preparar melhor. — pedi sem vergonha nenhuma. Qualquer ajuda seria bem vinda naquela situação e eu não pretendia perder uma oportunidade daquelas por medo de me passar por folgado. Até porque sou um pouquinho mesmo.

considerações:

Fiquei pensativo quando Gabriel me perguntou se eu não pretendia dar um outro nome para a minha parceirinha. Eu nunca tinha pensado nisso e pelo o que percebi o fazer parecia mostrar uma intimidade a mais. Ainda assim, eu não consegui pensar em um nome legal logo de cara. Com certeza analisaria aquela possibilidade com carinho em breve, mas naquele exato momento claramente não iria rolar.

Sobre ter que esperar o pai do rapaz por mais uma hora... Não seria problemático. Eu queria mesmo aproveitar a praia com Azurill, então seria tempo o suficiente para nos divertirmos um pouco antes de voltarmos para a ação. Comecei a me alongar ainda sentado no chão, esticando os braços para cima como se estivesse espreguiçando. De olhos fechados e concentrado, eu continuei me movendo como uma preparação para um pouco de natação. A pergunta da criança, no entanto, me pegou de surpresa. Ainda com os braços esticados para cima, abri os olhos e o encarei por alguns segundos. Uma batalha não era exatamente a minha ideia de diversão. Eu sei que nos Contests existe a etapa de combate, mas eu pretendia me preocupar com isso bem mais à frente. Infelizmente, a parte daquela profissão que acabava puxando muito para o lado Treinador não permitiria uma folga dessas. Para conseguir formar um bom time, eu teria que me sobressair batalhando para poder seguir em frente. Ainda que um pouco contrariado, balancei a cabeça positivamente.

— Nunca batalhei, é. — respondi virando meus olhos para Azurill. A azulada me encarava como se estivesse esperando a minha decisão também. Bagunceira como é, com certeza gostava de brigar. A possibilidade aparentemente a deixava interessada — Acho que você tem razão. Se formos mais fortes e confiarmos mais um no outro será mais fácil termos sucesso na caverna. Uma batalha amistosa então? Eu aceito.

Me levantei deixando a Azurill no chão. Animada, começou a saltar em cima da sua cauda como se estivesse se aquecendo. Olhei para Gabriel e depois para sua Mawile. Seria feio perder para uma criança?

considerações: