II. Precisamos trabalhar na sua socialização

Ufa. Suspirei aliviada quando o guarda se afastou, mas bastaram os olhares dos "clientes" insatisfeitos com o fechamento das premonições pra eu perceber que eu ainda ia sair no lucro se vazasse dali agora.

Dias de luta, dias de glória; desde então, minha careta ruiva e dentuça (só eu posso falar da minha arcada dentária... "protuberante", ok?!) estaria marcada pelas autoridades civis de Ecruteak. Mas, ei, pelo menos uma graninha eu tinha conseguido. Enquanto eu me retirava de mansinho, cabeça baixa e evitando todos os que tentavam me parar buscando por mais previsões, olhei para Arma Caótica de soslaio, bamboleando no ar e me seguindo com uma expressão que indicava não ter entendido nada do que havia se passado. Ok, eu tinha que admitir, até que o carinha e eu formamos uma boa dupla. Ele era meio cabeça-oca, sim, porém uma pontada de remorso me fez repensar o quão dura eu estava sendo com ele até então. Todos começam de baixo (eu mesma já me meti em inúmeras enrascadas antes de ser uma trapaceira de mão cheia!) e o baixinho tinha algum potencial.

— Ei, Arma Caótica de Detonação Mortal. — chamei-o, e quando ele se aproximou, acariciei sua cabeça pontuda. — Você se saiu bem lá atrás. Acho que você merece uns 20% do lucro de hoje, falou? Bora arranjar algum lugar pra comer e eu te pago um Doce Raro ou algo do tipo.

Depois disso, voltei minha atenção pra olhar em volta do centro de Ecruteak em busca de algum lugar pra encher os buchos; humano e Pokémon.

Você disse... g-r-á-t-i-s? A decisão me atingiu rápida como um Thunder Shock. Eu tinha passado a manhã tentando arranjar uma graninha, e no final nem ia precisar gastá-la! Eu tava era no lucro.

Aproveitei a deixa do garoto e seu Mankey e rumei pro Centro Pokémon junto de Arma Caótica. Chegando lá, tratei de me dirigir pra simpática (e com uma família assustadoramente semelhante) enfermeira na recepção. Eu não taça nem me importando se a comida não fosse lá grande coisa; de graça, até feijão na testa.

— Ô, enfermeira, tudo beleza? Vem cá, sabe me dizer onde fica o refeitório? Queria bater um rango aqui, eu e o meu Baltoy.

Depois de esperar na fila com meu estômago cada vez mais soando como um Loudred estressado, finalmente pude montar meu prato: porções generosas de macarrão, bife e salada, além da sobremesa. O sabor não era espetacular, mas eu já tinha comido em lugares piores; aquele rango era feito com carinho, de forma caseira, e isso realmente não tinha preço.

Olhei para o lado e não é que Arma Caótica de Detonação Mortal tava bem empolgado com a própria comida? Finalmente eu tinha descoberto uma coisa que arrancava reações dele.

Enquanto enchiamos o bucho, fiquei pensando no trajeto que eu tinha feito até ali. Há alguns dias, tinha deixado Fallarbor e agora estava numa região totalmente nova. A questão era: não havia muito pra mim em Ecruteak. Havia o Ginásio, claro (e o tal Morty tinha fama de ser beeem bonitão!), mas eu e Arma Caótica não teríamos a menor chance naquele momento. E meu foco eram os Concursos, acima de tudo. Talvez eu não devesse demorar muito ali; eu devia sair por aí, viver algumas aventuras... É, não dava pra ficar parada por muito tempo.

Notas:

Agora que já tínhamos nos alimentado, devolvemos os pratos e saí com Arma Caótica dali. Não contive um sorriso: como era bom ser bem-servida sem pagar nadica de pitibiriba em troca...

O Centro Pokémon oferecia estadia pela noite, porém, eu provavelmente iria passar o dia na estrada. Mas antes, dei uma nova olhada em Ecruteak: já era próximo do meio-dia e a cidade tornava-se novamente pacífica, com as famílias em pleno almoço.

Hum, pensei. Acho que não preciso sair daqui com tanta pressa assim. Talvez a cidade ainda guardasse alguma oportunidade pra mim, por que não? Enquanto eu cogitava minhas possibilidades, o Baltoy bobalhão levitava ao meu redor.

Spoiler:

O ar pacífico de Ecruteak era estranhamente contagiante; dava vontade de voltar pro Centro Pokémon e tirar um beeelo cochilo pós-almoço. Porém, eu até que estava curtindo bater perna pela cidade, descobrindo os pontos turísticos cujos quais eu ouvia falar desde lá em Hoenn. A famosa Torre Queimada cativou minha atenção; quase cogitei adentrá-la, mas aquilo era aventura pra outro dia.

Quando chegamos na área das florestas que circundavam o centro urbano, eu já estava ofegante (isso que dava ser sedentária...).

— Bem que eu gostaria de levitar que nem você, colega — comentei com Arma Caótica ao meu lado.

Em nossa volta, podíamos ouvir Pokémon mexendo-se pelo local. Na grama, nos arbustos, nas árvores. Eu precisava investigar mais de perto...

— Arma Caótica de Detonação Mortal, me ajuda a olhar em volta. Me fala se achar algo interessante.