Trainwreck

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Eu fiquei um pouco nervoso enquanto ele checava os documentos, é claro. Não era uma situação comum, geralmente eu não tinha de provar que eu era quem eu era, e isso só me mostrava o quanto eu não entendia nada da burocracia do mundo Pokémon. Provavelmente isso é sim, usual, mas não para minha rotina; os próprios funcionários do laboratório devem ter que provar sua identidade todos os dias com crachás e etc. Se algum dia eu entrar para alguma organização, no intuito de colaborar com alguma pesquisa ou coisa do tipo, veria esse tipo de coisa se tornar normal para mim também.

Devo admitir que não entendi a reação dele. Ele nem olhou os documentos direito? Me fez buscar tudo isso pra nem ligar? Tsc, qualquer um poderia falsificar assim, mas tudo bem. Assenti com a cabeça quando ele me chamou para caminharmos, e segui atrás do Professor, com ansiedade no olhar. Não era todo dia que se tinha a oportunidade de ver espécies tão raras de pertinho, e eu estava bastante feliz pela remota possibilidade de encontrar uma Mareanie. E então, veio a pergunta de Matias: o que eu queria pesquisar exatamente? Essa era fácil. - O habitat das Mareanie, e o máximo de informações que conseguir sobre sua adaptação aqui, em Kanto. No geral, é pra descobrir a possibilidade delas acabarem predando algum Pokémon nativo.

Disse sem nem pensar duas vezes. Eu havia decorado isso dezenas de vezes para saber exatamente como falar, e também por conta da ansiedade de começar logo. Não parecia ser uma missão fácil, apesar de até agora estar se mostrando bastante simples; eu tinha muita coisa para registrar, e uma Mareanie apenas não serviria para encontrar um padrão da espécie; não, eu teria de encontrar pelo menos um grupo grande delas para poder ter uma análise concreta. - Imagino que mergulhar seja a melhor opção... Elas vivem em mares profundos, comumente, não? - Questionei de uma forma meio retórica, mas sem saber muito ao mesmo tempo. Eu não estudei as Mareanie com profundidade, tudo que eu sabia era o que a Pokédex me dava de informação e o que eu podia tirar da internet.

Ok, talvez fosse ser ainda mais difícil do que eu imaginava.

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- Sim, é bem específico. - Disse, rindo um pouco sem graça, mas ainda prestando atenção nas falas do rapaz. Era estranho, Janine não me dera nenhuma informação do que eu poderia encontrar aqui, se não, tinha me preparado para tal; conheço a escola de mergulho em Kanto, e também daria tempo de correr atrás de algum Pokémon Water-type. Bem, não era hora de chorar pelo leite derramado, agora eu tinha de correr atrás do tempo perdido e arranjar algum jeito de aprender a mergulhar, de algum modo, nesse lugar todo. - Não, e não.

As minhas respostas foram mais decepcionantes para ele do que para mim, tenho certeza, mas por enquanto, somente eu expressava isso. - Ninguém me avisou sobre isso, e eu acabei não pensado que precisaria... Imaginei que aqui conseguissem me disponibilizar meios para mergulhar e tudo mais. Mas se precisar eu posso ir atrás de um Pokémon aquático agora mesmo. - Completei, com uma esperança de que ele dissesse que não precisava. Era óbvio que eu não queria ir caçar um water agora, não depois de ter voado por horas até Cerulean, esperar horrores no Correio e voltar voando de novo, só por conta de documentos que eu também não sabia que precisava.

Mas, se fosse realmente necessário, eu acabaria indo de qualquer forma para poder executar essa missão o quanto antes, meu objetivo era voltar para Janine o mais rápido possível, mas para isso precisava de todas as informações que ela pediu; e consequentemente, precisava ter as coisa que o Matias me pedia. - Não tenho um tempo específico, mas a Requiem me cobra resultados em um certo tempo, Então eu teria que acabar o quanto antes. - Foi assim que terminei minha frase, e também minhas respostas para o pesquisador. Como ele reagiria ainda era um mistério, já que nem tudo que disse era positivo para ele, mas, ele se propôs a me ajudar, então deveria fazer tudo a seu alcance, né?

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Fiquei um pouco mais calmo quando ele disse que não ter um prazo era um avanço, achei que provavelmente ele iria reclamar pelo fato de eu ter de ficar muito tempo aqui, mas no final, seria melhor assim mesmo. - Concordo, deve realmente ser o melhor para nós dois e... - Não terminei a frase, quando ele terminou a dele, minha boca se calou. Eu realmente teria de ir atrás de um aquático? Achei que ele fosse tirar algum magicamente de dentro daqueles tanques e me entregar para que usasse no mergulho. Claramente estava enganado, mas não queria acreditar.

E então, andamos. Saímos de dentro do escritório e fomos de volta para o laboratório em si, depois seguindo para um lugar que eu sequer conhecia, e por fim, chegando a um píer diferente do qual eu pousei anteriormente. Era grande, e tinham alguns barcos espalhados por sua extensão, era chamativo mas nada muito diferente do que eu já vi anteriormente; nas festas da empresa da mamãe cenas como essa eram comuns. Mas bem, prestei atenção na fala de Matias, e assenti, concordando com as dicas. Me afastar das ilhas artificiais e caçar um Pokémon aquático. Não deveria ser difícil, né?

Então, seguimos píer adentro, até encontrar um homem, de mais ou menos quarenta anos, com roupas apropriadas para andar de lancha. Concordei com ele sobre a questão da chuva, e depois apertei sua mão como forma de cumprimento, sorrindo de maneira simpática. - Muito prazer, sou Lukas, e obrigado por me acompanhar! - Voltei minha mão para o lugar, e me virei para Matias de novo. - Certo, em breve retornaremos. Eu espero... - Respondi, e depois voltei para Tião. - Podemos? - Questionei o homem, já caminhando com ele em direção a lancha que ele cuidava. Não demoraria para dispararmos em direção ao mar, para longe das ilhas artificiais...

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Felizmente, Tião já havia entendido tudo, e eu não precisaria fazer muito para chegarmos no lugar certo; o homem provavelmente conhecia o lugar como ninguém, e com toda certeza me levaria para o melhor lugar de pesca possível dali. Dentre todas as opções que eu conheci olhando na Pokédex, o único aquático que me chamava a atenção era o Tentacool, simplesmente por ser venenoso, e também porque era uma espécie que eu gostava bastante. De certo seria meu alvo na pesca, mas não recusaria algum outro raro caso aparecesse.

Adentramos o barco (roxo, combinando com meu mood geral), e começamos a seguir o fluxo da água, para longe das ilhas artificiais e de toda sua poluição; aos poucos, o corpo do rio ia mudando de composição, e eu, colocando a mão na água, sentia novamente a mudança de temperatura. Isso me dava o insight do porque todos esses Pokémon vinham para tão longe da "orla", tão longe da cidade e das outras ilhas; Tentacool, Frillish, Chinchou, todos esses monstrinhos apareciam de relance, vez ou outra, na água, mas só as lulas que realmente me chamavam a atenção.

Quando o barco parou, Tião me avisou que poderia começar, e eu pensei comigo mesmo: está na hora de colocar o meu talento zero pra pesca em prática. Eu não tinha noção nenhuma de como fazer isso, só as poucas vezes que vi meu pai usar uma vara para pegar peixes pequenos nas viagens de família; sabia que tinha que colocar a minhoca no anzol, jogar a linha para a água, e esperar. O que quer que tivesse no meio ou depois disso, não estava no meu planejamento. Quando finalmente coloquei o anzol no mar, soube que demoraria, e muito, para algo acontecer. Respirei fundo, e me relaxei, esperando um milagre do espaço.

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Apesar de todos os meus esforços mentais para me lembrar de como tentar pescar de alguma forma, minha querida narradora, simplesmente ignorou tudo e quebrou a minha vara, como um palito de dente, sem qualquer aviso prévio. Tião riu, e apesar de estar um pouco envergonhado sim, levei a situação como deveria: de maneira cômica. Acabei rindo junto com o funcionário e dando de ombros no final, jogando a vara fora, e pouco me importando com aquilo. - Parece que não foi uma boa ideia. - Disse, coçando a nuca.

Depois, com as sugestões dele, eu pude refletir melhor sobre o que fazer a seguir; Tinha algumas opções de itens que poderia usar para pescar de alguma forma, mas o que mais me chamava a atenção era a rede, com ela eu poderia facilmente puxar um Tentacool, e só precisaria de uma ajudinha para esticar a tarrafa. Assim, já começando a colocar tudo em prática, liberei a esfera de Wimber. O morcego se formou no ar, batendo suas quatro asas de maneira sincronizada, e rapidamente, como sempre. Sua atenção se voltou para o homem que me acompanhava, e eu assenti com a cabeça, indicando que era um amigo. Depois, mostrei a rede para ele.

A principio, o Crobat não entendeu muito bem, mas eu o expliquei que serviria para pescar, pegar um Pokémon no mar direto, e ele pareceu ficar um pouco mais confortável com a ideia; eu não sabia se a espécie dele costumava comer peixes, mas ele não pareceu incomodado, então prossegui com o plano. Pedi que ele segurasse a ponta da rede com sua boca, e se distanciasse do barco até que ela estivesse completamente esticada, e eu faria o mesmo desse lado, com os braços pra fora do barco. Abaixaríamos a rede, e eu pediria ao Tião que começasse a andar com o barco; na minha cabeça fazia sentido, só esperava que na de minha narradora também fizesse.