Alola, Kanto!

Domingo, 09:55 h - Rota 10, Arredores de Lavender

Em mais uma etapa, numa sequência de viagens por diversas regiões, Ame chegava à pequena cidade de Lavender, conhecida pelas suas fantasmagóricas aparições de Pokémon e também pelo altruísmo do falecido Sr. Fuji, antigo dono de um orfanato Pokémon localizado no subúrbio do vilarejo. Entretanto, Sakigami não estava ali para uma visita turística, - pelo menos, não como prioridade - e sim para a caça de monstrinhos fugitivos do Zoo, que se espalharam pelas Rota 10 e 12, colocando em risco o ecossistema de toda essa área.

Como não havia nada a ser feito em Lavender, a jovem treinadora dirigiu-se quase imediatamente para a Rota 10, um longo trajeto composto por breves bosques, praias e um longuíssimo píer, que fazia uma travessia mais segura até a Rota 11, a Rota 12 e a Cidade de Sienna no extremo oposto. Ame parecia interessada em ir diretamente para a praia de areias grossas, logo abaixo do píer de madeira e concreto,  mas antes precisaria descer uma estrada de asfalto, que saía da cidade e atravessava o espaço entre dois breves montes, terminando no litoral, onde poderia decidir por qual das possíveis vias seguiria.

Era evidente que não apenas Ame estava em busca desses Pokémon exóticos, mas uma infinidade de treinadores que chegavam à Lavender aos montes. Todos andavam sozinhos ou em grupo, com suas mochilas pesadas e companheiros Pokémon ao lado, descendo a trilha diretamente ao litoral. Eram tipos bem diferentes de treinadores, das mais diferentes regiões, com sotaques e aparências distintas. Entretanto, um deles se destacava no meio da multidão. Era um jovem quase da idade de Ame, mas que vestia um uniforme amarelo com detalhes cromados e outros marrons. Ele parecia ser um guia ou algo do tipo e panfletava, ou melhor, tentava panfletar para todos os transeuntes, porém sem sucesso.

Ame aproximaria-se para pegar um dos panfletos ou ignoraria o rapaz como a maioria dos pedestres?

Domingo, 10:03 h - Rota 10, Arredores de Lavender

Indo na contramão da decisão da maioria dos treinadores que seguiam na direção das "entranhas" da Rota 10, Ame aproximou-se do rapaz dos panfletos. Ele estava triste e isso ficava mais claro, conforme a garota se aproximava do jovem... Provavelmente se sentia tão invisível, que nem notou a aproximação da Coordenadora, parando ao seu lado e lhe fazendo uma pergunta sobre direções. Entretanto, ao notar que havia sido notado, um sorriso se iluminou em seu rosto e rapidamente ele a respondeu, não exatamente o que queria ouvir, mas enfim... Além disso, lhe ofereceu um dos muitos panfletos que ainda estavam em suas mãos.

— B...Be...Bem-vinda! Eu sou Timothy! Trabalho para a Sienna Co. e estou aqui para servir de orientação e guia para aqueles que vieram ajudar com o triste incidente do Transporte do Zoo. — Informou o rapaz, apresentando-se. Ame poderia muito bem recusar o panfleto, mas observando-o de longe, ainda nas mãos do jovem, era possível notar que se tratava de informações sobre as Rotas 10 e 12, com um mapa e setas indicando provavelmente seus acessos e biomas. Não era um papel muito grande, mas era bastante colorido e informativo. Enquanto isso, os demais transeuntes pareciam aproveitar a distração do panfletista para apressarem o passo e evitarem sua abordagem. Realmente os treinadores dali não curtiam esse tipo de "marketing".

— Mas, meu trabalho é bem mais do que só entregar Panfletos, sabe?! — Disse Timothy, bem de repente. — Eu também posso deixar o meu posto e seguir de guia para os treinadores do local. Foi isso que me disseram ao me enviarem para cá! — Complementou, determinado. Ele realmente queria ser útil e se os meros panfletos não fossem suficientes, ele iria entregar-se ao serviço de corpo e alma, guiando pessoalmente os transeuntes. Ou melhor, guiando Ame, a única pessoa que teve coragem de ouví-lo. Mas enfim... De todo modo, ele não parecia tão determinado assim. Provavelmente um 'não' lhe faria recuar, se fosse da vontade da garota. Será que vale a pena usar de seus serviços?

Domingo, 10:09 h - Rota 10, Arredores de Lavender

Depois da explicação de Timothy, Ame quase comentou com o rapaz que ninguém pegaria seus panfletos. Mas talvez o rostinho esperançoso do jovem, com suas bochechas rechonchudas e vermelhinhas emoldurando um sorriso frágil tenham feito ela desistir. Isso, é claro, não impediu que a Coordenadora deixasse bem claro que estava MUITO bem acompanhada por seus Pokémon, que fariam de tudo para protegê-la caso as coisas... Digamos... Saíssem do controle — É um belo Flareon! É sim! E... Eu... Tenho uma Beedrill, mas não sou um treinador tão incrível assim. Entretanto, farei de tudo para guiar e proteger! — Disse Timothy, visivelmente assustado com a intensidade do aviso de Ame. Entretanto, ele continuava reforçando que faria o seu trabalho com maestria e que... Conhecia um atalho para a praia que a garota estava buscando.

— Ame é seu nome? Certo Ame! Faremos um ótimo trajeto até a Praia. Meu trabalho é exatamente impedir aglomerações e "engarrafamento" de pessoas. Para isso, nada mais interessante do que ATALHOS! Eu conheço dois que levam até a praia... Você os verá logo, logo... — Indicou o guia, já seguindo na frente e esperando que Ame o seguisse. Curiosamente a direção era completamente oposta a que qualquer outro treinador seguia. Isso poderia ser um sinal de perigo ou, muito pelo contrário, um bom sinal. Mas enfim... O trajeto sugerido por Timothy levava a uma bifurcação. Ou eles seguiriam por uma gruta ou por uma espécie de penhasco com descida cuidadosa de trilha, ladeada de cactus e algumas plantas litorâneas.

— Ok Ame, temos duas boas opções... Você quer ir pela gruta ou pelo penhasco? Geralmente na gruta tem Pokémon que vivem tanto em mar quanto em outros lugares, tipo lagos... É mais escuro e úmido, mas... A outra rota, do penhasco, pode ser um pouco mais perigosa, apesar de ser mais claro e visível. Também tem uns Pokémon bem de mar, sabe? Então deixo a escolha para você. Eu irei te guiar sem medo e sem problemas por qualquer um dos lugares! — Garantiu Timothy, deixando a decisão nas mãos da Coordenaora. O que ela decidira?

Domingo, 10:18 h - Rota 10, Arredores de Lavender

Com todo aquele papo de Timothy sobre caminhos escuros e penhascos, foi inevitável para a personalidade extremamente cautelosa de Ame ficar nervosa e preocupada. Eram duas escolhas bem... Ruins. Mas andar às claras com um desconhecido, mesmo à beira de um penhasco, ainda era uma opção melhor do que a gruta assustadoramente escura. Sendo assim, a jovem Coordenadora acabou apontando o quanto antes para o caminho mais externo, informando que seria uma ótima oportunidade para um passeio. Timohty observou por um tempo a escolha e pareceu engolir seco. Ele estava suando frio e nem fazia tanto calor assim... — Eu achei que iria usar o Flareon para iluminar o caminho da gruta, m... mas... Eu estou pronto para o... para o... para o penhasco... Né? Afinal, eu sou o guia! — Disse ele, quase como se tentasse convencer a si mesmo sobre isso.

Em seguida, relutante, caminhou na direção do penhasco, abrindo caminho para a garota. Era uma descida bem íngreme e cheia de rochas de diferentes tamanhos que formavam uma escada nada simétrica. Em alguns momentos era necessário dar um salto ou se equilibrar em passos rápidos para não escorregar. E pior, não havia muito onde se segurar — Fique calma, ok? Nós não vamos cair... — Dizia o rapaz, segurando firme a Poké Bola em suas mãos. Provavelmente e seu Beedrill, de quem havia dito antes, para quem sabe salvá-los se algo der errado.

Conforme a dupla descia o penhasco, a praia ficava mais evidente e mais próxima. Um alívio para aqueles que tinham medo de altura... Entretanto, ainda tinha metade do caminho a ser percorrido e o vento batia forte em todos os presentes. Lá embaixo, um mar vasto e tão distante de tudo quanto se poderia imaginar. Não havia qualquer sinal de terra no horizonte... Na faixa de areia, nenhum humano, mas haviam Pokémon, como Krabby e Shellder. Se eles iriam continuar ali até que chegassem, isso era outra história. Em meio a esse cenário, uma movimentação estranha, e que não era o vento, veio de alguns arbustos espinhosos abaixo. Timothy deu um berro e agarrou-se à rocha no seu lado direito — Isso, não foi nada. Foi o vento, certo? Mas talvez o vento esteja muito perigoso. Você não quer voltar?

Domingo, 10:24 h - Rota 10, Arredores de Lavender

Ame observava Timothy agora com uma certa pena... Ele era um rapazinho bastante assustado. Até demais! No primeiro barulho que ouviu já correu para o lado oposto, buscando segurança e começava a negar-se a continuar. Sugeria voltar, como se fosse a melhor dica de guia que tivesse, mas a verdade é que estava paralisado demais para continuar. Pelo menos por enquanto. Já Ame parecia mais corajosa... Ao sentir a movimentação nos arbustos, buscou equilíbrio e foi mais para a beiradinha, observando o que se passava lá embaixo. Infelizmente, com a vegetação alta, era difícil dar uma precisão do que havia, apesar de leves vultos serem identificáveis...

Se seguissem o caminho adiante, as rochas boas para se pular e caminhar fariam uma curva para a esquerda, passando bem próximo, mas em um nível mais baixo, do lugar onde a jovem Coordenadora se arriscava a espiar. Se houvesse algo ali embaixo, definitivamente esbarrariam ao chegar neste ponto. Contudo, o vento também era mais forte ali... Parecia haver uma corrente forte de ar ascendente e conforme a vegetação se reduzia, mais próxima da praia, maior era o seu efeito. Apesar disso, Timothy conseguiu deslocar-se do paredão, talvez motivado pela coragem de Ame e começou a, silenciosamente, descer o caminho que tinham adiante.

— Se for um Pokémon, é melhor ficarmos preparados... Qualquer surpresa e vamos acabar rolando direto até o mar. Quem sabe bater a cabeça nas rochas e morrer afogados... É isso, se não tivermos cuidado é o que vai acontecer... — Falou ele, retirando finalmente a Beedrill da esfera. — Preciso que me dê alguma firmeza aqui Bee! Envolve seus braços ao redor da minha cintura e usa as asas para dar contra apoio, por favor! — Pediu o rapaz, sendo prontamente atendido por sua Pokémon.

Com muito esforço então, conseguiram avançar um pouco mais, mas infelizmente deram de cara com nenhum Pokémon onde haviam os tais arbustos agitados. Provavelmente eram apenas resultado do forte vento, como Timothy havia dito. Entretanto, se não havia Pokémon, havia mais decisão a ser tomada. Novamente os dois encontravam-se diante de uma bifurcação. À esquerda, avançando sobre o mar, havia um bando de rochas sobrepostas que formavam uma passagem, um bom lugar para pesca. Já à direita estariam a poucos passos do acesso final à praia... Timothy ficava abaixado, pois suas pernas tremiam e ele nem tinha forças para questionar onde deveriam ir. Caberia a Ame tomar a decisão agora por conta própria...