I can't stop me

Com a explicação de Rose o velho pescador achou mais prudente não ir à pesca hoje, principalmente por conta da estranheza com a tal névoa. Ele só deu meia volta e retornou pelo caminho de onde veio, sem assobiar nem nada, mais preocupado em sair depressa dos riscos que tinha subestimado há poucos minutos.

A treinadora agora se via sozinha com sua duplinha incomum. Lucila sorridente com sua nova chave e Kali apática ao lado. Na caminhada em busca de novas aventuras, se Rose não tinha percebido a névoa que o outro cara alertou, ela encontraria o fenômeno muito em breve, porque era difícil precisar se a garota estava indo na direção da fonte, ou sendo seguida por ela.

Em todo caso, a névoa além de deixar o clima ao redor levemente mais frio, também tornava-se densa o suficiente para dificultar um pouco a vista. E isso tudo era só um pretexto para que Kali acabasse por desviar do caminho seguido por sua treinadora. Diferente de Lucila, a fantasma era mais fácil de observar e não perder de vista, já que ela parecia muito interessada num som triste que vinha de alguns metros adiante.

Mesmo o som da água da enseada não mascaria por completo aquele barulho constante, como se alguma criatura estivesse chorando, sofrendo ou algo assim. Não era de se surpreender que a fantasma feia de almas presas fosse atraída pelo sofrimento alheio...

Lyce - Zoo trouble! - Rota 12

O que Kali encontrava - e por consequência Rose - era no mínimo incomum. A névoa não se adensaria mais do que aquilo, então ainda seria possível ver a alguma distância; ela também não esfriaria demais, pois não era uma nevasca ou um "hail" da vida, tava mais pra um ar condicionado forte, talvez...

A fonte do fenômeno era também a criatura da lamentação, e que estando de costas para Rose era só uma silhueta escura, sem uma cabeça aparente, sentada numa rocha de frente para o mar. Julgando os pequenos soluços aquela criatura chorava, formando um combo digno de filme de terror: uma figura chorosa, alta e indefinida, sentada à beira de um pequeno abismo contemplando o mar.

Se parecia bizarro, então Kali não temeria, mas era difícil dizer se sua aproximação era por empatia, curiosidade, ou apenas para averiguar a morbidez daquela alma. Independente disso a fantasma fazia menção de seguir até lá para ver. Lucila, em compensação soltava uns leves suspiros, como suaves rangidos metálicos, e sua expressão era de tristeza. Bem, talvez dê pra confiar um pouco mais nos instintos de uma fada, né?!

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Susto e surpresa foram as primeiras reações do Pokémon tristonho, que só percebeu a presença de Rose quando ela se aproximou e lhe falou. Não estando mais sozinho, o Pokémon estranho acabava por deixar que a névoa diminuísse, e assim ele próprio ficava mais nítido aos olhos da treinadora.

Tinha claramente o corpo de um pinguim, mesmo sentado ali naquela rocha. Ele também era alto para um Pokémon, mas era sua cabeça que chamava a atenção: um grande e maciço bloco de gelo! Por isso sua feição era impossível de descrever. Digo, olhando só para aquele cubo não era possível dizer se ele estava triste, sorridente, surpreso... Tampouco dava pra ver sinais de lágrimas ou algo similar.

Para a pergunta de Rose, Eiscue, o estrangeiro, esboçava algumas palavras em sua língua de Pokémon e agitava a asinha junto ao corpo, se abanando. A julgar pelo gelo que fazia parte de seu corpo, não seria de se estranhar se aquilo fosse um sinal de calor. Mas, sobretudo, quando ele pulou da pedra para o chão e começou a se balançar de um lado a outro, demonstrava um sinal sutil de contentamento. Ao menos era o que parecia, já que Kali o imitava e Lucila apenas ficava um pouco indiferente... O que estava acontecendo por ali?!

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Eiscue não entendia a mão estendida de Rose para ele, mas também não recuava, principalmente pelo tom gentil na voz da garota, que o fazia se animar um pouco mais. Quando ela o tocou ele estremeceu e juntou as asinhas ao corpo, como se esperasse que ela tivesse uma reação negativa - provavelmente acostumado a isto vindo das pessoas com quem teve contato. No fim, relaxou quando a menina seguiu com o carinho.

Agora tocando-o e mais próxima, Rosemary sentiria que o gelo na cabeça do Pokémon estava bem mais úmido que o esperado. Fora do ambiente controlado do cativeiro em que vivia no zoológico, além da solidão Eiscue estava sofrendo também com a adaptação ao novo ambiente, não tão gelado quanto estava acostumado.

Os outros Pokémon da treinadora seguiam curiosos com a figura. Claro, Lucila manifestava aquilo com sorrisos e conversa, enquanto Kali apenas circulava o gélido, observadora e analítica. E talvez por estar assim mais atenta é que a fantasma notava a movimentação vinda da mata, da mesma trilha por onde elas vieram. Num som gutural e breve ela alertava sobre a chegada de alguém.

Um garoto (?) magro e alto aparecia ali, de cabelos róseos até a altura do queixo e oclinhos meia lua. Ele parecia meio aéreo, distraído, mas fez uma expressão caricata de surpresa ao ver a garota com o Pokémon exótico ali. [imagem ilustrativa]

- Oh! Então são vocês. Olá! - seu sorriso parecia gentil, mas de um jeito... estranho - Nós sentimos uma presença triste e outras curiosas. Legal esse Pokémon aí, é seu?

Sem cerimônia, já ia se aproximando de Rose e Eiscue, mas Kali se intrometeu no caminho, observando algo mais além do garoto. Sim, ele não estava só. O Espeon que vinha caminhando entre suas pernas logo se adiantou, também trocando "olhares" com a fantasma.

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