[Missão] Turn up the music

Era engraçado ver a empolgação de Duda e toda sua admiração pela professora. Confesso que em alguns momentos das nossas conversa eu fiquei um pouco desconcertada. Não pela garota, mas por mim mesma. Sei lá, de repente me vi estranha, sem objetivos de longo prazo ou mesmo pessoas a quem me espelhar, que não minha própria família. Talvez seja a hora de repensar algumas coisas...

Enfim, um picolé foi uma ótima aquisição pra fazer aquela caminhada de volta para a fazenda. Eu definitivamente tiraria um cochilo, debaixo de qualquer árvore que captasse uma boa brisa. Mas Duda estava bastante acordada e disposta a seguirmos com a aula, então me permiti ser levada por seu ânimo.

Eldegard não nos esperava, de fato, mas ficou satisfeita em nos ver e mais cedo do que o combinado. Talvez aquela reação da professora tenha afetado positivamente a jovem aluna ruiva. Eu, por tabela, deixava meus pensamentos complexos de lado para mergulhar de novo na aventura do conhecimento. Bota, luvas e avental.

– Bioquímica, aí vamos nós! – comentei com certa empolgação; para ninguém em particular, só soltei uma graça espontânea.

Finalmente chegávamos a uma parte que muito me interessava, a prática! Como uma estudiosa por natureza, principalmente na infância e parte da adolescência, não estou aqui desmerecendo a parte teórica. Longe de mim! Mas, sei lá, parece sempre muito mais interessante e fácil de aprender quando vemos as coisas na prática. É assim com a música e com a dança, dois elementos muito presentes na minha vida. E foi assim também com os Voadores, cuja especialização começou sem nem eu perceber, entre livros, mas só se revelou verdadeiramente quando eu botei os pés pra fora de casa, rumo às aventuras, enfim.

A preceptora claramente tinha aquele dom natural de lecionar, então tomou minha atenção por completo, mesmo com belíssimos insetinhos que pudessem tentar roubá-la enquanto estivemos lá fora, estudando o solo. Graças às Deusas, apesar de vaidosa eu nunca fui fresca, então por a mão na terra não foi problema algum. Também, minha cabeça nem tinha tempo pra se importar com isso, já que eu tava mais focada em prestar atenção nos elementos técnicos da coisa. Minha boa memória para coreografias, letras e partituras certamente seria bem utilizada aqui.

Agricultura não seria meu foco principal como Criadora, mas sim a base dos meus grandes objetivos na carreira, então foi por isso que escolhi começar aqui. Essa era a minha chance de ter a base mais sólida possível para me suceder bem no futuro breve. Por isso, agora finalmente não hesitei em participar, questionando vez o outra, levantando minhas curiosidades, ou mesmo me abrindo para confessar as dúvidas.

Depois de vários processos e estudos curiosos das amostras do solo, finalmente chegamos à uma conclusão sobre nosso estudo dos parâmetros. Aí entrava uma parte igualmente legal, a adubação! Isso sim eu já tinha estudado antes. Os diferentes tipos de adubo, suas aplicações, frequência, resultados esperados.

– Uhm! Recebi um par de adubos tipo Boost e Rich. – me pronunciei após a preceptora – Se entendi bem, pra corrigir esses parâmetros vamos precisar do Rich, não é?! – me dirigia à mochila para encontrar os saquinhos com os produtos, enquanto aguardava resposta da Doutora.

Mãos e joelhos na terra de novo, era hora de aplicarmos os adubos no terreno tratado. Ali eu aprendia um pouco mais, e olha que eu já comentei que sabia um pouco sobre adubos. Mas, definitivamente, meu conhecimento ainda era amador e até um pouco antigo.

A professora nos dava instruções novas, estudos recentes, ciência! E eu acho que uma parte da minha mãe, cientista, que mora em mim despertou aqui, porque eu me senti bastante empolgada com aquilo, e interessada em como a informação segue mudando, progredindo, coisa que enquanto leigos a gente nem faz ideia... Nossa!

O tempo voou naquela tarde, mais do que na manhã de aula teórica. Mas não ficávamos sem ter o que fazer, porque Edelgard entregava um dever de "casa" que precisaríamos cumprir nas próximas horas, para estarmos prontas na aula do dia seguinte. Assim que me despi dos acessórios que pertenciam à fazenda e me despedi da professora, falaria com Duda sobre a atividade.

– Uma caça a uma berry rara, uhm?! – entrei no assunto, esperando ter um pouco da atenção da garota – Quando a gente pode ir? A floresta não é tão distante, podemos voar até lá rapidinho... Quer dizer, você vai comigo, né? – sabia que tinha esquecido um detalhe importante: convidá-la oficialmente!

Eu não ia esperar menos de Duda, senão a empolgação e um misto de ansiedade em cumprir a tarefa dada pela professora. Só o que me deixava um pouco insegura era, talvez, a urgência com que a garota tratava o assunto.

Ela queria ir agora! E nem mesmo a insegurança que percebi em seu olhar, quando falei sobre voarmos, a fez contradizer a ideia ou adiar. Okay, agora eu ficava um pouco insegura, e isso raramente acontece. Precisava dar uma amenizada nas coisas, de repente.

– Bem, eu acho que voando é a forma mais rápida de chegarmos no local. – comentei, levemente estonteada pela visão dos insetos, principalmente aquela versão cobiçável de Ledyba, ai se eu pudesse... – Mas, assim, sem pressão. Se você não se sentir segura e preferir ir de ônibus ou outra coisa do tipo, podemos nos combinar pra amanhã cedinho! Aí estudamos hoje à noite... – sim, eu estava sendo empática ao medinho dela, mas eu não deixaria de contemplar algo que poderia ser favorável à nós duas: – Eu não sei se já falei, mas sou especialista em Pokémons Voadores e tenho um Tropius bem mimoso e grandalhão aqui comigo. Acho que tem espaço pra nós duas, se se sentir segura. – lancei um sorriso de confiança.

Podia estar sendo presunçosa, insinuando minha vontade acima das inseguranças da garota. Mas, sei lá, acho que ela só tem alguns receios e não uma fobia real... Assim espero! Fora isso, onde eu tava com a cabeça de querer ir pro meio do mato ao anoitecer? Acho que, como previ no começo desta rota, conviver com Duda tava me fazendo voltar à empolgação impulsiva de antes... Kisako!

Okay, Duda estava disposta a ir agora, e provavelmente encararmos a noite dentro da floresta, que não era muito longe de Pewter. Com uma coisa resolvida, minha cabeça se permitiu pensar nos outros elementos da nossa aventura, e eu precisava ser ligeira para tentar contemplá-los, ou então só perderíamos mais tempo nas decisões.

– Ah, sim! É um bebezão com uns dois metros só de pescoço, creio eu. – eu não tinha uma informação precisa, mas que ele era grande, era – Bem, só acho que a gente precisa se preparar um pouco antes de ir em frente com isso. Meu estoque de Poções está zerado... Vamos precisar de no mínimo uma lanterna, porque provavelmente enfrentaremos a floresta ao anoitecer e se a fruta já não é fácil de achar, imagine no escuro! – ao elencar alguns riscos, inevitavelmente pensei em Pokémon, e aí me veio a curiosidade – Que tipo de Pokémon você tem? Porque é bom estarmos preparadas pra isso também, né?!

Talvez Duda já tenha me dado essa informação, em meio as nossas conversas, mas eu não me recordo. Espero que, caso isso tenha acontecido, ela não se ofenda por eu perguntar novamente.

Bom, acho que tendo pelo menos alguns desses detalhes arranjados - as lanternas são imprescindíveis, para mim - acho que enfim poderemos partir ainda agora. Senão, minha segunda alternativa é adiar isso pra amanhã bem cedo! Aí, usamos a noite de hoje para nos prepararmos e eu até consigo estudar melhor a tal fruta. Pistas sobre a natureza dela serão bem vindas para encontrá-la mais fácil.

... Pera, acho que há ainda uma terceira alternativa: "ir hoje e, se não vermos muito resultado, caímos fora e voltamos a amanhã". Será? Nah, melhor deixar essa aqui bem guardada. Dois trabalhos. Credo!