Ato 06 — Flashes.

E não poderia ser diferente, né? Como dois extremos completamente opostos, era engraçado ver a dinâmica de Nicholas e Emma, onde a garota era, sem dúvidas, o yin do seu yang — ou ao contrário, sei lá qual é qual. Tamanha diferença me lembrava de Daisuke, onde também somos bem opostos, com o garoto sendo calmo enquanto eu... Bem, eu sou eu. Dei uma leve risada com a empolgação da loira, extremamente simpática e adorável:

— Eu adoraria, cunhadinha. Mas estou com um pouquinho de pressa. — empurrei o lábio inferior para frente, remetendo um semblante triste; logo o sorriso tornou a aparecer no rosto, junto com uma piscadela — Mas não se preocupe, qualquer dia vamos em um restaurante legal. Podemos fazer um double-date, o que acha?

Antes mesmo que a garota pudesse me responder, Nicholas nos interrompeu, falando sobre o que aconteceu por ali e pedindo para conversar em particular. Revirei os olhos, caminhando com passos pesados até uma parte distante o suficiente para que Emma não escutasse o que tinha para dizer. Mesmo com todo aquele semblante sério e irritadiço, abri um sorriso de orelha-a-orelha enquanto fitava o rapaz; estava feliz por ele estar inteiro, sem se envolver — pelo menos por enquanto — em problemas com a organização.

— Não. Tá tudo bem. — dei uma leve risada, bagunçando seu loiro cabelo desgrenhado — Estava preocupado com a sua irmãzinha, Nico? Que bonitinho. — afinei a voz, como se estivesse falando com um bebê; gargalhei sozinha da brincadeira, levando minha mão direita até seu ombro esquerdo — Não se preocupa, eu me viro. E vou tentar resolver isso. — não podia dizer como, mas, que diferença faz? — E... Olha só. — apontei com o queixo para Emma, que estava distraída com seu Kirlia — Sabe que não pode esconder as coisas dela para sempre, né? Você precisa ser sincero ou, quando ela descobrir, vai ser pior. — apertei os dígitos de leve contra o osso do loiro, dando dois tapinhas logo em seguida e sinalizando para que Braviary se aproximasse — Confia em mim. Ela não é boba. — com a mudança de assunto, dei uma leve risada, aproveitando para dar um peteleco na testa de Nicholas — Você ganha que você vai conhecer novas pessoas. Otimas pessoas, inclusive. E pode ficar perto da sua irmãzinha. — pisquei, suspirando no processo — Vai ser bom pra você e pra Emma estarem rodeados de boas pessoas, vai por mim. Eles me ajudam bastante... Mentalmente falando, sabe? — pela primeira vez eu falava sério, sem rodeios; meu semblante até mesmo se modificou, com os olhos semi-cerrados enquanto a cabeça consentia uma única vez — Você disse que queria cuidar de mim, não é? — abracei o loiro repentinamente — Não tem forma melhor que essa, pestinha. Assim posso ficar de olho em você sempre também. — Nicholas, coMO SEMPRE, RELUTAVA EM ME ABRAÇAR DE VOLTA — QUANDO EU MORRER VOCÊ VAI QUERER ME ABRAÇAR DE VOLTA, NÉ? — apertei-o ainda mais no abraço, mas é triste ter cinquenta e cinco quilos e não conseguir esmagar ninguém — ... Ah, tem vários TM também e sempre tem algumas festinhas na nossa base. A Emma ia adorar. — me afastei do abraço, parando agora para acariciar Ramen, que nos fitava curioso — O que me diz? — abri um sorriso e voltei minha atenção para a bolsa, buscando quatro Potions e entregando para ele — Como vocês estão aqui no meio do nada, usa isso aqui pra recuperar os Pokés de vocês da batalha. — baguncei seu cabelo de novo — E vê se faz o piquenique com ela, tadinha... Ela te atura tanto. Faz esse esforço, chato.

Estava tudo bem, ao menos, fora o que a loura dissera. Tão bem que as exíguas e alvas mãos avançaram até as douradas madeixas do kantoniano, em movimento lépido para lá e para cá, desgrenhando ainda mais os cabelos do treinador; não que o mesmo fosse, de fato, ligar para aquilo. Apenas a seguir, que com aquele ajuste no tom de voz súbito de Bley que o lábio inferior de Nicholas se acentuara, as sobrancelhas se erguiam achando esquisito — isso para não transparecer um pouco de irritação, afinal, odiava qualquer coisa que o remetesse às ações infantis, ainda mais partindo de Karinna e a sua pira em chamá-lo de irmão. Taciturno, suspirou, delongando infimamente no processo.

A afirmação de que Bley iria agir conforme seus instintos arrancava um sorriso leve do louro; ora, se fosse da maneira emocionada como agira em Lavender, possivelmente ia se enfiar em ainda mais confusões. Cauteloso e morosamente, retirou as mãos do bolso, deixando-as pendendo ao lado de seu corpo quando Karinna mencionava Emma em suas ponderações. Pedia para que contasse acerca da cruzada contra os rockets desde o regresso a Kanto, lembrando que, acaso descobrisse por conta própria, criaria um emaranhado ainda mais caótico na mente de Nicholas — apesar de parecer, não era boba.

— Não. De jeito nenhum. Ela não pode nem ao menos desconfiar de que eu tô fazendo isso — as mãos viajaram morosas pelo espaço até se repousarem em sua cintura. Os orbes cerúleos travavam na silhueta de Emma com Kirlia por alguns segundos, até tornar as vistas na direção da especialista em sua frente. — Do que eu conheço dela, ou ela vai querer me ajudar ou vai tentar entrar de cabeça nisso, é justo o que eu quero evitar — suspirou, mirando o chão por um ínfimo lapso temporal. — Eu já cheguei longe demais pra parar agora. Tenho alguma suspeita de quem seja, e já sei onde encontrar alguém que sabe onde eu encontro esses vermes. Quanto mais eu chamar a atenção desse tal de H pra mim, melhor, quem sabe eles esquecem a Emma pra sempre.

Deixou um riso manso escapar do canto dos lábios com aquele tato aprazível em sua testa; cogitou em dizer um “eu te odeio”, contudo, sentimental como era — como mostrado naquelas experiências tresloucadas na cidade fantasma do velho continente —, vai que Bley poderia expelir todas aquelas mágoas trancafiadas às sete chaves em sua alma. Preferiu manter-se quieto, ouvindo o que é que ele ganharia ao se juntar à Karinna e seus amigos. Resumiu: estariam mais próximos de gente de confiança da mesma, oferecendo um auxílio mental diante de todo um mundo caótico e imerso em sombras que, pouco a pouco, minam a sanidade de Nicholas.

E mais uma vez, a especialista avançava o seu corpo contra o do treinador que, inutilmente, tentou dar alguns passos para trás em resposta ao agarrão carinhoso de Bley; tarde demais. Os braços de Karinna enlaçavam-no por completo, pressionando com força ímpar o seu corpo contra o dela. Diante daqueles ditos quiçá melancólicos — se não pudermos dizer frustrados —, o louro deixou que suas mãos repousassem sobre as costas da loura, viajando até as madeixas douradas, fazendo leve força contra seu peito, afagando-a, vagaroso; não pode conter um suspiro inconformado ao fim, como sempre, não é?

— É só você não morrer, palhaça, e parar de ficar se enfiando a cabeça em um monte de confusão. Simples assim — comentou, um sorriso faceiro tingia o canto dos lábios enquanto as palmas volviam apontadas ao firmamento; recolheu as mãos para o bolso novamente. — Tá, eu aceito. Mas tem uma condição: — olhou de relance para Emma que, agora, não só conversava com seu psíquico, como Xatu também se achegava da loura e pareciam descontraídos os três juntos, perdidos em gargalhadas e assuntos corriqueiros. — desde que não tiremos o olho da Emma por causa de tudo o que aconteceu. Ela é a vítima de toda essa história e já passou por muita coisa. Não quero de jeito nenhum aconteça algo com ela. E é, acho que vai ser melhor pra ela mesmo do que ficar andando a esmo por aí. Entrei em alguma outra associação, mas nada que eu não resolva em pouco tempo. Eu me junto a vocês — comentou, breve, recebendo os sprays medicinais entregues pela especialista e guardando-os em sua mochila. — Ah, valeu. E já que tá com pressa, não vou ficar te segurando aqui. Só acho que talvez a Emma vai querer falar com você antes de você ir. Tá indo se encontrar com aquele frouxo e por isso a pressa?

Apesar de acalentar o meu coração a forma como Nicholas queria proteger Emma de todo mal, infelizmente, o mundo não funciona assim; com ele ou sem ele, a garota aprenderia da pior forma como nem sempre as coisas são justas e certas. Que muitas das vezes, quem é bom, também se torna vítima das circunstâncias. Poderia rebater o loiro e ficar horas e mais horas falando sobre o porquê de eu estar certa, mas seria em vão. Triste ver que a vida terá que ensinar para Nicholas que é a única parte que a escuridão não pode tomar conta é aquele canto na sala que está iluminado; aclarado com verdade, confiança; uma ínfima lâmpada fluorescente que muitas das vezes falha, mas nunca se mantém apagada.

O jeito seria estar aqui para ele quando ela quebrasse.

— Faremos do seu jeito, então. — fui breve, consentindo com a cabeça uma única vez; os pulmões encheram-se de ar, expelindo-o quase que de imediato em frustração — Só se lembre bem, irmãozinho... — apertei o seu nariz, tornando a caminhar na direção de Emma — Não existe nada pior do que a dor que você vai sentir quando ela descobrir. — ignorei a última provocação de Nicholas até chegarmos na loira; talvez pelo drama que a última frase deixaria ressoando na cabeça do garoto, talvez por simplesmente querer me despedir da garota primeiro — ... — me aproximei de Emma, dando um último abraço inesperado — Eu vou para Johto por um tempinho, mas vamos marcar esse double date, tá? Foi um prazer te conhecer! Cuida desse bobão. — dei um leve soco no ombro direito de Nicholas — Não chama meu Simba de frouxo, palhaço. — apertei as bochechas do loiro — Vou sentir saudade, irmãozinho. Talvez você não consigue falar comigo porque vou me enfiar em uma caverna, mas tô bem, tá?

Dei um último abraço forçado no loiro, sinalizando para que Ramen alçasse vôo. Acenei com a mão direita e, então, deixei que o voador me levasse na direção de Slateport; vou tomar um facada pelo preço, mas vale a pena. Pode esperar, Dragon's Den, hoje eu estou pronta para você.

Protegê-la era fundamental. Uma válvula de escape de uma realidade enferma e envolta em trevas, espalhando seus males e doenças para cada uma das almas que habitam o globo terrestre. Um paraíso na terra, um recinto em que poderia depositar todos os seus agouros e lamúrias, sendo acalentado por sentimentos dos mais cálidos naquele microuniverso blindado de toda a maldade que o cercava. Nicholas corria todos os riscos possíveis, quiçá até mesmo de perder o anjo colocado cuidadosamente pelo etéreo em sua vida apenas para vê-la bem. Um paradoxo, tão infinito quanto os confins do universo em que habitamos.

Era palpável aquela frustração desvencilhada quando o ar puxado pela loura era expelido. A especialista volvia a tatear seu rosto, mais precisamente o seu nariz; era como se uma ínfima melancolia passasse da especialista ao kantoniano, como uma chave ao ser fechada em um circuito elétrico. Seus ditos ressoaram no consciente de Nicholas, fazendo-o titubear em sua postura sempre tão resoluta — ainda mais nesse assunto, tão delicado e intrínseco.

— É um risco que eu tenho que correr. Não é como se eu tivesse escolha — murmurou, quase inaudível; mesmo com seu desapontamento amargo em demasia, o kantoniano ainda queria que Karinna o entendesse, mesmo que por pouco.

Emma estava tão absorta com os monstrinhos ao seu lado que, se não lembrasse de que Nicholas e Karinna estavam ao seu redor, tomaria um susto tamanho. Apenas recolheu a especialistas em seus braços, apoiando as douradas madeixas em seus ombros, pressionando o dígito ternamente. Recolheu os braços mais pra baixo ao se desvencilhar de Bley, cerrando o punho direito e cobrindo-o com a mão livre. Ouviu com tristeza ínfima o reforço de que ela não estaria ali, recolhendo os lábios em cenho sorumbático. Abriu-os a seguir, com a promessa de que poderia, em algum dia qualquer, saírem para jantar.

— Tá bom, Kah, pode deixar, vou ficar esperando — os lábios descerravam-se em riso faceiro, tomando as duas mãos da especialista para si, pressionando-as, branda. — É mais fácil ele cuidar de mim. Quem costuma ser a estabanada de nós dois sou eu. Mas eu vou tentar.

Desferira um golpe tênue contra o ombro do louro, dando uma sucinta advertência ao se tratar de Simba. Nico ergueu uma sobrancelha, tendo de forçar os neurônios a se lembrar de era o modo cujo a especialista se tratava de Daisuke Fernandez. Matutou acerca dos infindáveis apelidos que Karinna dava aos seus conhecidos, franzindo o cenho durante estes ínfimos segundos. Deixou que Bley tateasse seu rosto, despedindo-se uma última vez ao informar que volveria a Johto.

Antes que Braviary se lançasse ao manto celeste, o louro despedia-se:

— Ei, só... se cuida, beleza?

Foi então que a ave de rapina se impulsionava ao bater suas suntuosas asas, alçando voo pelo azul infinito que os circundava. Emma mantinha seu olhar voltado para o céu por longos segundos; sua mão esquerda buscou a destra de Nicholas, pressionando-as calidamente. As írises oceânicas da kalosiana tornavam a encarar o semblante sempre tão inexpressível do louro.

— Ela é tão legal, né? Só que tem um problema, bebê: eu não tenho nem roupa pra sair pra um jantar — comentou, mansa, perdendo-se em um breve riso. — E o que era aquilo que vocês dois tanto falaram lá, hein?

— Ok, eu falo então: a gente tá de casa nova a partir de hoje. Se antes a gente ficava em Mauville, pelo que eu vi pelo pokézap, vamos nos mudar pra Rinshin — retrucou o louro, fitando a expressão sempre tão mansa de Emma. A kalosiana semicerrou as pálpebras, erguendo a sobrancelha no processo.

— Mas você tem certeza? A gente tinha se juntado a uma outra sociedade lá em Rustboro, e vamos sair assim tão de repente? E a gente tá nessa sem nem ao menos você me consultar, mocinho?

— Confia em mim.

Os lábios de Emma então abriram-se em sorriso jubiloso. Repentina, puxou a gravata de Nicholas em sua direção, levando o corpo do louro para o próximo do seu. Lépido, seu braço direito dirigiu-se à nuca do kantoniano, adentrando os seus dedos por entre suas madeixas, lançando o rosto contra o de Nico. E os rostos encaixavam-se em gesto fervoroso, tal qual um quebra cabeça, permanecendo assim por alguns segundos.

— Me entrega o seu bracelete depois. Eu resolvo toda a burocracia da nossa saída.

— Tá bom, senhor sabichão.

E Emma o fez sem muitas delongas. Ao retirar a sua também, o louro guardou-as em um bolso de sua mochila. Sem muitas delongas, fez um breve carinho na cabeça de Xatu, piscando para o mesmo; em linguagem não verbal, pedia ao mesmo que volvesse para o seu dever de outrora. Tomou para si três poções, materializando seu Charmeleon desmaiado e despejando os remédios sobre o mesmo; recobrou a consciência.

Recolheram Charmeleon e Kirlia de volta para as suas cápsulas. Entrelaçando os dígitos, volveram a caminhar na direção que calcorreavam outrora antes de interceptarem aquela dupla de treinadores que lutaram.

Podiam calcorrear livremente pela pradaria. Era anormal a maneira como seguiam livremente, sem serem assaltado por monstrinhos vindo de alguma grama alta ou arbusto esparso pelo entorno, ou mesmo treinadores — se Nicholas pudesse pedir, bem diferente dos últimos —, aventureiros e demais pessoas que seguiam rumo à caverna do Meteor Falls.

E em meio a devaneios e divagações foi que a dupla se volveu na direção de um arbusto. Semicerravam as pálpebras para tentar observar melhor manchas alvas na volta daquele arbusto; entreolharam-se, e dentro de um lapso de tempo tão insignificante, decidiam seguir até ali. Achegando-se, perceberam de que haviam, de fato, algumas penugens brancas soltas naquele arredor, além de algumas frutinhas de fácil obtenção. Tornaram seus olhos na direção do chão, com manchas esparsas em volta da refeição de algum monstrinho.

Não havia como pensar de que havia sido mais alguém além de Swablu. Além das penugens tão similares a algodão, as manchas próximas ao arbusto frutífero indicavam que um bebê faminto muito provavelmente fez a sua boquinha e seguiu em sua expedição ingênua pela rota cento e catorze.

— Olha, mô, certeza que ele passou por aqui. Bem, se eu fosse uma Swablu, com certeza ia comer essas frutinhas aqui que são tão fáceis — ponderou Emma, perdida em meio às suas divagações, reproduzindo, em seu consciente, a figura de um Swablu filhote fazendo sua refeição; era palatável até para si mesma. — Eu tô imaginando aqui, ele deve ser a coisa mais fofa, né. Quando eu achar ele, vou apertar ele bem muitão e encher de beijo — sua voz, gradualmente, ganhava um tom mais infantil, recolhendo o lábio superior e acentuando o seu inferior ao volver a sua atenção para o kantoniano. Nicholas apenas fitava-a, o cenho franzido e uma sobrancelha erguida, indicando com a cabeça para que seguissem em frente.

Ao tornar o corpo e arqueá-lo para seguir em frente, era como se o caminho vasto da pradaria se dividisse: primeiro na direção da parte montanhosa, desembocando no famigerado Meteor Falls e, por fim, na direção da cascata onde, provavelmente, desceriam um pouco. Mais uma vez, entreolharam-se.

— Não vai dar pra gente rastrear pelo cheiro igual antes. Você não tá com o Mightyena e o Zigzagoon não é dos melhores farejadores. Um bebê Swablu também não ia ter muito o que fazer em algum lugar mais montanhoso ou indo pra uma caverna — considerou a kalosiana, o dedo repousava sobre o seu queixo.

— Lá pra cachoeira, devem ter outras árvores com fruta e tem água pra ele beber, né. Meu medo só é que tenha acontecido alguma coisa com o coitado nesse trajeto — Nicholas dava um ar mais enigmático à busca, sempre tentando ponderar o mais próximo possível da realidade que o próprio julgava enferma.

— Ninguém vai machucar um bebê fofo desse. Ele deve tá indo atrás de frutinha e água pra encher o buchinho dele. Vamo descer pro rio então.

Em passos morosos, iniciavam a caminhar na direção do rio.

— A gente vai achar o neném e ele vai comer com a gente no piquenique. Você realmente achou que eu tinha me esquecido disso só por que a gente encontrou a Karinna nesse tempo, mocinho?

— Mas eu nem falei nada...

Ah, as tardes de andarilhos por uma via em que ninguém os observa — ao menos, era o que pensavam.

Não era sacrifício algum seguir a trilha conforme a própria natureza indicava. Desviaram do relevo mais montanhoso ao se dirigir às cascatas em um outro ponto da rota cento e catorze; era intrínseco ao kantoniano o desejo de quiçá um dia poder ir à uma expedição ao Meteor Falls. Rumores diziam que era possível até mesmo encontrar um Bagon ou outras espécies de dragões migrantes de outras regiões, apesar da dificuldade demasiada para tal.

A expedição à caverna não estava no plano da dupla no momento, portanto, ficaria para uma outra oportunidade — Emma, por um exemplo, matutava acerca desse bendito piquenique desde que deixaram Mauville até a cidade de Fallarbor, reiterando, desde então, após à chegada da especialista em psíquicos.

Falando na tipagem, envolto em aura rosada, o corpo da ave de Nicholas materializava-se ao seu lado conforme o instruído outrora. Com um movimento singelo de sua cabeça, Xatu indicava alguma posição de que havia visto o filhote de Swablu; melhor do que dois humanos procurando no solo, ainda com a visão estorvada das árvores que, gradualmente apareceriam conforme aproximavam-se dos rios, apenas um psíquico com uma visão aguçada e um sexto sentido tão sublime de acordo com o indicado acerca de crendices populares acerca de sua espécie.

— Ótimo como sempre, Xatu. Então, leva a gente até onde você achou algum sinal do Swablu — o kantoniano elogiou a sua ave, sempre tão tenaz e obstinada naquilo que o seu mestre pedia; recebia um sucinto afago como prêmio por tal. E sem delongar muito, Xatu guiava Nicholas e Emma de acordo com o caminho que escolheram.

— Tomara que esteja tudo bem com o filhotinho, né. Ele é tão inocente e já sai por aí entrando onde o nariz aponta — comentou a kalosiana, deixava uma singela frustração mesclar-se ao meigo tom de voz que lhe era intrínseco.

— Se aparecer algum selvagem maluco, nada que Charmeleon e Kirlia não deem conta, ao menos eu acho. Em só duas lutas, eles se saíram melhor do que o esperado.

Se dizem que é melhor prevenir do que remediar, a dupla deixava de fácil acesso a esfera metálica bicolor contendo a dupla já usada nas últimas duas situações em que um embate fora necessário; após uma significativa evolução e, assim, aumento em seus poderes, poderiam auxiliar eximiamente seus mestres naquela cruzada em busca do perdido filhote de Swablu.

Por Arceus, que ele esteja apenas caçando algumas frutinhas para frear esse apetite demasiado de filhotes.

Xatu os guiava sem problema algum. Sem indícios de vida selvagem ou de vida humana para interceptá-los, seja adjurando informações ou auxílios — cena muito corriqueira, afinal, cada aventureiro tem porções ínfimas de um “escoteiro” intrínsecos a si, afinal, dividem a mesma realidade.

Não delongou até que, achegando ao rio, capturaram uma visão, no mínimo, aprazível; tal um documentário de vida selvagem, mas desta vez, fitaram-no ao vivo e em cores: a ave de penugem branca jazia próximo a um arbusto rasteiro repleto de amoras, saboreando as frutas despreocupadamente com feição jocosa. Ponderaram de que era o filhote não apenas pelas manchas esparsas pelo chão, como também suas proporções menores que a média de espécie; em decorrência de sua alimentação desenfreada, seu corpo era sutilmente rechonchudo — um charme a mais.

Vendo aquela cena, a kalosiana recolhia seus lábios para dentro de sua boca, os orbes cerúleos cintilavam diante da cena harmoniosa emoldurada em seus olhos anis tão encantados, a mais adorável e deleitante possível; pressionou com força moderada a mão de Nicholas, encarando o louro com semblante bobo, envolvida pelo filhote de pássaro em sua refeição corriqueira.

— Ai, que fofo! Ele é uma gracinha! Eu vou amassar ele de tanto que eu vou abraçar ele bem assim — envolveu ambos os braços em volta de Nicholas, desta vez, comprimindo-o contra si. O louro erguera a sobrancelha em resposta à ação súbita e exagerada da treinadora. Retesou a postura, então.

O pequeno Swablu, então, notara um outro arbusto com algumas frutas para seguir a sua refeição — até mesmo para um filhote, seguia uma dieta exabundante. Desairoso, a ave bateu suas asas para alçar voo e alcançar o outro lado do corpo d’água. Vez ou outra, pareceu vacilar ao lançar-se aos ventos, e no primeiro movimento hesitante do pássaro, no rio, alguns monstrinhos lépidos estavam à espreita do filhote — em busca de uma refeição, quiçá. E conforme o destino ditava, não havia outra maneira de chegar até o filhote a não ser com mais um embate.

Nicholas e Emma se entreolharam; um riso convencido surgiu no canto dos lábios de ambos, planejando já o combate antes mesmo de lançarem os seus monstrinhos. Lépidos e sem titubear, materializavam Charmeleon e Kirlia para o chão gramado envolto do rio; entenderam a situação, mirando os seus futuros adversários. Antes disso, o louro fitou a ave psíquica ao seu lado.

— Não deixa o Swablu ir pra longe da gente de jeito nenhum, beleza? E vai na surdina — com um balançar de cabeça, o psíquico do kantoniano assentira, tentando alçar voo, com discrição, entretanto, não tão próximo do firmamento; apenas queria estar nos arredores para caso o pequeno filhote volvesse a calcorrear despreocupado em busca de mais frutinhas, não tivessem de se lançar à sorte.

Agora, com os comandos dado ao guardião alado de Nicholas, restava apenas combater contra os aquáticos que tentaram predar o pequeno Swablu.

— Charmeleon, mire em algum deles e dispare dois Dragonbreath. Se um deles cair antes, troque o alvo — soprou, sem cerimônias ao lagarto ígneo.

— Dois Disarming Voice, Kirlia — assim como o kantoniano, Emma fizera também.

Que os aquáticos não fossem tão resistentes como aqueles monstrinhos dos treinadores que enfrentaram outrora.