Cap. 28: Esa hembra es mala

- Ele costuma dormir no meu escritório. Quando eu era mais nova passava o dia todo lá, talvez ele esteja lá. Ou no meu quarto - comentou, depois segurou no braço de Miranda. - Mas querida, eu temo que esse som de vidro possa ser minha coleção de Gemas - afirmou, depois se apoiou na fada que devido a aparência mais humana, recebeu um sorriso da idosa.

Subindo a escadaria, o primeiro quarto a esquerda aparentava ser o de Inês, pois tinha uma luxuosa cama de casal. Curiosamente, um Bannete rolava nos lençóis e remexia os travesseiros, parecia muito focado em procurar algo. Não havia sinais de Slakoth por ali, mas o pequeno corredor que seguia possuía duas portas: um banheiro e o escritório.

Da porta do escritório, uma pessoa de trajes feitos de lã na coloração roxo e preto surgia. Em suas mãos estava um martelo. Ela parecia ter uma idade bem próxima à de Inês e colocou a mão no peito quando fitou a mulher no fim do corredor.

- O que está fazendo aqui?! Ah... quer dizer... você não devia estar aqui! BANETTE!!! - gritou a idosa.

Da mesma porta que ela havia saído, outro fantasma fantoche surgia. Ele era um pouco maior e tinha diversos alfinetes fincados pelo corpo, mas não parecia se incomodar. Depois, o fantasma que estava vasculhando o quarto também surgiu, atravessando a parede para ficar na frente da idosa invasora.

Após ouvir um grito familiar, Inês subia as escadas com o apoio da fada e aregavalava os olhos ao ver a idosa no fim do corredor. A invasora abria um sorriso e mexia o martelo em mãos.

- Dorotéia?! O que você está fazendo na minha casa?
- O que acha que vim fazer?! Destruir suas coisas igual destruiu as minhas sua velha mal-amada!
- O que? Mas porque...
- Não tente me enrolar. O que é isso? Corrompendo os menores? Vou dar uma lição em você - disse apontando a ferramenta. - Alfinete use Shadow Ball e Night Shade em Ninetales. Zíper use os mesmos golpes mas... no primata

Antes da batalha acontecer, Inês ouvia o plano de Miranda de segurar a idosa, concordando com a cabeça apesar de ter uma expressão triste no rosto. Ninetales e Thwackey eram liberados no corredor que, por sorte, era largo o suficiente para que ficassem lado a lado. Aquele corredor parecia ter ficado mais quente graças a habilidade do Pokémon. A raposa iniciava criando fogos azulados que dançavam ao redor de seu rosto, depois o lançava no Banette cheio de alfinetes que ficava queimado. O macaco de Galar era o próximo, saltando para dar uma batida na cabeça do fantasma com a baqueta. Os fantasmas atacavam como um conjunto, conjurando uma orbe roxo e preto na frente das bocas e as lançando com um sorriso na direção de cada adversário. Ela explodia causando alguns danos.

Dando continuidade, a raposa tentava mais uma vez incendiar o adversário, porém esse desviava do golpe que se dissipava ao encontrar a janela da casa. Avocado repetia o mesmo golpe anterior, porém batendo no Banette sem alfinetes. Sincronizados, os fantasmas voltavam a executar o movimento em conjunto: criando uma aura fantasmagórica que atravessava o corredor para causar causar danos nos adversários. Eles comemoravam. No entanto, Alfinete, o Banette furado por esse item, recebia dano de queimadura.

- Eu deveria me envergonhar?! - disse a idosa furiosa. - Inês passou a vida toda trabalhando em casa, mal olhava para o próprio filho que fugiu dela. De repente ela decide ir jogar xadrez comigo e faz o homem que amei toda a minha vida se apaixonar por ela?! Não! Eu digo NÃO! - gritou, babando um pouco. - Alfinete use duplo Shadow Ball em Ninetales. Zíper use Will-o-Wisp no... é... qual o nome desse pestinha verde?! Depois use Hex!

Ceris compreendia a demora para reflexão do adversário como um pensamento de como faria para agradar aquelas crianças mas ainda assim sair vitorioso do combate. O Rotom Drone não falava nada pois cabia aos adversários reclamarem, mas por sorte ele retornava lançando uma Monferno em campo, sendo marcado no placar.

- Bom ver que está bem. Mas por quanto tempo? Spinda use duplo Psy Beam!

,O primata de fogo tinha a maior velocidade e prioridade de movimentos, então avançava dando um soco no rosto do ursinho que cambaleava ainda mais, porém não caía no chão. Nessas cambaleadas, ele criava um círculo colorido e liberava um feixe nos mesmos tons que dançavam no ar, mas acertavam o alvo em cheio. As crianças adoravam o show, batendo palma e se dividindo em gritos de "Spinda! Spinda!" e "Helena! Helena!".
A rodada seguinte foi realizada pelos mesmos golpes, o que não agradava tanto.

- Certo, Spinda vamos prosseguir com seu Copycat e Psybeam! - comandou animada e fazendo uma mímica para imitar o urso.


Inês ouvia as palavras de Miranda e colocava a mão no rosto enquanto tímidas lágrimas corriam seu rosto. No fundo, ela torcia para que algum Policial chegasse logo. Enquanto isso não acontecia, o combate tinha sua continuidade.

Ninetales agora partia para uma ofensiva, erguendo as nove caudas ela absorvia o calor do ambiente para soltar uma rajada flamejante ainda mais forte da boca, atingindo em cheio o fantasma com alfinetes. Por um motivo estranho, ele ria da dor. O primata de grama era o próximo, fazendo caretas e mímica para o fantasma comum que caía em sua provocação. Enquanto Alfinete criava e disparava a bola fantasmagórica, seu aliado ainda estava preso na provocação e não fez nada.

Em sequência, Ninetales e Alfinete repetiam seus últimos golpes se causando danos. Avocado e Zíper travavam um combate diverso, onde o macaco usava sua baqueta para dar mais um tapa no adversário enquanto recebia uma sensação ruim por todo corpo conforme os olhos do fantasma se cobriam numa coloração roxa. Por fim, Alfinete sentia as dores da queimadura.

- Pensei que éramos amigas - disse, depois começou a rir maleficamente. - Alfinete aqui? Ele está com um fio de cabelo do Afonso. A cada vez que ele sofre algum dano, aquele traidor também sofre um pouco. Banettes adoram esse tipo de coisa - ela apontou para o outro. - Esse é novidade. Zíper, filho do Alfinete. Criei especificamente para segurar um fio seu também. Posso não ficar com o homem, mas vocês vão sentir tudo o que meus fantasmas sentirem!
- Por Xerneas - disse Inês aos prantos. - Como pôde?! Onde está Slakoth? E minhas Gemas?
- A preguiça está desmaiada no quarto. Nem precisei lutar, ela nem sequer acordou. Quanto as suas gemas, dei uma decoração nova para elas - finalizou, rindo mais alto enquanto manipulava o martelo em mãos.

- Ataque-os com o máximo de Shadow Ball que puderem!

Okami e Avocado se preparavam para acabar com aquela batalha no começo do turno. A raposa carregou mais uma rajada quente na boca e desferia contra o fantasma mais jovem e o deixava tão exausto quanto o outro. O primata batucava no chão e liberava folhas cortantes da baqueta nos dois Pokémon, encerrando com o sopro de energia que ainda continham. Dorotéia ficava vermelha de fúria, batia os pés no chão nervosa e erguia o martelo. Por sorte, antes que a idosa fizesse qualquer coisa um Policial subia as escadas e mirava uma arma de choque para a invasora.

- Todos calmos. Senhora coloque o objeto no chão e não se mexa - disse o policial. - Inês, você está bem?
- Vou ficar querido, obrigada

A idosa seguia as ordens do oficial e colocava o martelo no chão. Logo em seguida ela retirou as Pokébolas para retornar a dupla de fantasmas. Esticando a mão, ela recebia algemas nos braços. Olhando o policial de cima a baixo, Dorotéia ria e comentava:

- Se eu fosse você eu corria. Você é o Arthur, namorado do Tyler não é?
- Não envenene meu genro! - disse a idosa, limpando as lágrimas e mudando a feição para raiva. - Arthur depois você poderia revistar os Pokémon dela? Ela disse estar envolvida com coisas maléficas. Talvez seja por isso que Afonso esteja no hospital
- Vamos verificar. Depois eu te ligo pra saber o motivo de tudo isso - comentou, depois olhou para Miranda. - E quanto a ela?
- É uma jovem que veio me ajudar e acabou se envolvendo em toda essa bagunça. Pode ir em paz
- Vai ligar pra ela? Por que?! Eu posso te dizer o que aconteceu... essa mulher é uma TRAIDORA - esbravejou a idosa, sendo conduzida até fora da residência.

- Desculpe ter te envolvido em todo meu drama familiar. Agradeço sua ajuda até agora mas acho que pode ir - comentou, indo na direção do escritório. - Venha, vou te dar um pouco de dinheiro

Caminhando até o local, ela encontrava um grande quarto com estantes enormes de madeira escura e lotadas de livros. No centro, havia uma luxuosa mesa com um computador e uma árvore petrificada onde a preguiça estava agarrada.

- Aqui está querida. Você está livre de mim - disse entregando um envelope com dinheiro, depois se virou para a preguiça. - Oh Slakoth, por que eu quis tentar? Estou velha, cansada... não tenho nada a oferecer. Não tem porque visita-lo mais - finalizou, chorando pra preguiça que abria os olhos e se grudava no pescoço da dona.

Miranda se comovia com a história e os lamentos de Inês e lhe abraçava junto com o Pokémon. O pelo de Slakoth era tão bem cuidado que parecia um tapete extremamente macio e cheiroso. Os olhos da idosa se enchiam de lágrimas com a conversa e conselho da mulher. Por mais que ela fosse mais experiente, o amor ainda era novidade e todo ensinamento era precioso.

- Obrigada Miranda, jamais esquecerei o que fez por mim. Espero que possa me visitar outro dia, numa situação melhor eu espero - disse rindo.

Um homem com um sorriso bobo estava encostado na porta e de braços cruzados vendo a cena. Ele não falava nada até o abraço ser desfeito e enfim ele bater na porta.

- Quando Arthur me disse que você estava precisando de apoio, não imaginei que veria essa cena
- Tyler? O que veio fazer aqui?
- Auxiliar minha mãe. A melhor que eu poderia ter

Tyler então cumprimentava Miranda e se atualizava sobre as informações do encontro do Afonso. Se propondo a levar a mãe para o local indicado, Miranda enfim estava livre para retornar as ruas de Rinshin e seguir seu rumo, seja lá qual for.