[EVENTO] COBAIA DE ARCEUS

KAREN COBAIA?

Karen Cobaia?!

Quando a mocinha de nome-de-pokémon e o lêmure de nome-de-gente chegou perto, ele - o homem cantante - se envergonhara todo! "Tinha alguém ouvindo?", pensou com seus neurônios restantes. Tinha, meu caro Francis. Tinha sim! Você ficou tão receoso que até encolheu os braços, trazendo-os para si em cruz. Parecia que abraçava seu peito.

Sua estética, sua voz, sua postura. Tudo ficou meio fechado e tímido. Apesar de não ter muita certeza do porquê disso ter acontecido, você tentou esboçar algo:
- Ah sim... acho que está... não sei, na verd... - Fora completamente interrompido por algo de dentro. O que?! Bem, não sabia ao certo dizer.

Só sei que você não conseguia mais falar. Na verdade, não foi só a fala que foi impedida! Tu foi obrigado a mexer a cabeça para frente novamente, tirando de vista os novos amigos atrás da mureta. Sua visão focou no rio a baixo e no céu acima. Repentinamente, você deu um novo grito, mas agora sem entonar um fonema conhecido se quer... ao menos não na minha língua:
- Achtung! - Gritou. Por um instante eu achei que era um espirro, mas entendi depois que era outro idioma.

Só sei que ao fim do grito, tu levantou na mureta meio trêmulo, equilibrou-se ali por míseros instantes e aproveitou que Karen & Arthur não quiseram se aproximar demais. Nenhum te tocava! Usou dessa liberdade para mirar o centro do rio, posicionar-se e pular. Fez a "posição de mergulho" e pulara de cabeça naquele rio.

Assim que caiu, um "tuc" altíssimo ecoou. Era o som de algo oco batendo numa pedra sólida. Não demorou muito para que seu corpo flutuasse para a superfície do rio e ficasse visível seu suicídio. Você sabia, Francis. Você não só sabia como fez de propósito. Você pulou naquele rio raso, bateu a cabeça em uma pedra, abriu-a e morreu instantaneamente. Seu corpo emergira e, lentamente, foi sendo levado pela correnteza...

Sua alma, diferente do corpo, levantara daquele rio e caminhara para fora, escalando a margem com mãos & pés. Logo ela estava ali na avenida, de pé, fugindo dos carros. A ponte não era alta, então não era lá muito difícil para ela voltar. Caminhou o resquício da avenida, subiu os degraus de pedestre e chegou na mesma mureta, ignorando por completo a presença de Karen e Passimian. Tocou a mureta, viu que ainda estava quente e se preparou para sentar ali mais uma vez.

OFF: Pode decidir se você vê a alma ou não, real fica ao seu critério. Dependendo do que você decidir eu penso no que fazer.

Karen Cobaia?!

Infelizmente a dúvida era inerente a alma humana. A cada momento que se descobre algo, se descobre algo que não é descoberto. Uma definição nunca da conta de uma sabedoria plena, até porque, sabedoria plena é o imenso paradoxo. Se quando mais você sabe, mais você sabe que não sabe, não há como ser pleno e ser sábio.

Porque isso importa?! Bem, não importa... apesar desse ser o paradoxo de Karemachena. A moça que vê a alma do homem, sendo assim, sabe mais da situação atual que seu fiel escudeiro Arthur. Apesar de saber mais que o Passimian, ela sente-se muito mais perdida que o pokémon; justamente por não saber o que acha que deveria saber.

Para o Lêmure isso nem é uma questão! Ele ri e debocha, e enquanto faz isso, Karem ouve da alma-penada uma canção. Começa baixa, depois alta. Era o mesmo inglês mal-dizido de outrora. A mesma música. A mesma entonação. Ele arrotou do mesmíssimo jeito e por fim gritou. No ato cíclico, deu o mesmo "tilt", travando para frente e jogando-se no rio.

A mesma batida de cabeça e, mais uma vez, seu corpo fora rio a baixo, enquanto sua alma levantava, escalava a beira do riacho, subia a avenida, ia até a ponte e apalpava a mureta do vão central. O mesmíssimo ciclo: sem nenhuma alteração. Ok, ok, tínhamos uma alteração: desta vez não houve pergunta feita ao homem, por consequência, não houve nenhuma "resposta" semi-estruturada. Ele não respondeu dúvida alguma de Karemachena, visto que a dúvida que fizera fora para o Lêmure e para Deus. Como não era nem um lêmure e nem um Deus, não respondeu.

No mais, fica aqui a pergunta: quando Karen chegou aqui, este homem ainda estava vivo?! Talvez fosse de seu carácter ser uma alma. Talvez nunca vivera de fato nesse ano. Suas roupas não são antiquadas, mas também não estão "dentro da moda". O homem estava preso num ciclo eterno de suicídio-escalada-suicídio e parece que nada lhe tiraria dessa ordem.

Ao menos, acho que não.

Karen Cobaia?!

Dessa vez o ciclo não se repetiria com perfeição. A culpa? De Karen mesmo. Arthur seguia meio incomodado com a situação, mas agora não era a vez dele de ter protagonismo. Era sua treinadora que (inter)via. O lêmure então suspirou, desistiu de insistir, sentou no chão e batucou um Requiem em seu coco. Sim, uma sinfonia fúnebre. Por que? Bem, nem sele sabia.

Quando o homem sentou na mureta e se preparou para entonar a música... a voz de Karemachena interrompeu. Ele olhou para trás um pouco assustado, procurou seus olhos e arregalou seus próprios, em um ato de desespero. Quando conseguiu ficar olho-no-olho com a garota, disse curtas palavras:
- ... Me empurra - Pediu, num tom quase de súplica. Seu lamento vinha junto com uma lágrima e ele continua - Eu não consigo... por favor, me empurra.

Era apenas isso. Seu último pedido ecoou, tomando conta de todo o "silêncio". Era isso e a marcha fúnebre de Arthur.

Karen Cobaia?!

Nem com perfeição, nem com defeito. O ciclo não se repetiria mais. Quando Arthur foi compelido por uma força mística a empurrar sua treinadora, ele reescreveu a história daquele homem, sentado no muro. Ele o via?! Não. Ele o sentia? Não. O ouvia? Não. Apesar de não saber de sua existência, ele influenciou diretamente no seu destino. A vida é assim, não é?! O tempo todo pequenos atos (acidentais, as vezes) destravam sequências de fatos desenfreados na vida de pessoas que nunca vimos e nunca vamos vez. Talvez desde o início fora isso. Talvez Passimian nunca viu o Humpty Dumpty humano, já que quando Karen parara na ponte, Arthur simplesmente seguira a diante, sem nem entender porque Karen parou a princípio. Será que Arthur nunca vira aquele homem?

Nem mesmo no primeiro momento?!

Não sei. Arthur é o único que sabe essa resposta. Só sei lhes dizer que o ciclo acabou ali. Quando Karen desequilibrou-se a apoiou no homem da beira, este homem caiu. A questão é que seu vetor não fora mais diretamente para o rio: ele caíra um pouco na diagonal, saindo do vão central. A gravidade não lhe descera em 90º, mas em 45º, lhe fazendo ir direto para a... margem? É, parece que sim. O homem então rolara o aclive de terra & pedra e batera a cabeça numa pedra dura qualquer. Sua testa sangrava e agora ele gritava de dor!

Diferente das outras vezes, aquela não era uma morte silenciosa. Era lerda, dolorosa e bastante gritada... mas apenas para Karemachena. Só ela podia ouvir! O homem pediu socorro, pediu ajudar, se remexeu, remexeu, tentou tapar seus machucados, gritou por Deus, perguntou porque Karen fizera isso e por fim... morreu. Dessa vez seu corpo ficou ali, não foi levado por nenhuma correnteza.

Apesar da peculiaridade, seu corpo ficara mais sua "alma" não. Quando o cosmos do homem soltou-se do corpo para reviver o ciclo de antes (e manter o caos), ela tinha outra forma. Corpo de ave, asas com dedos-em-penas, pescoço grosso e cara de ovelha. O topo de sua cabeça tinha madeixas presas em transas grisalhas. Carregava em uma das suas asas-mãos um alho poró estragado. Completamente acinzentado e fedorento!

O 'troço' que saíra dali subira a margem marchando, olhara para Karemachena e guichava, irritadíssimo. Num relance, a criatura correu em direção a garota, pegando impulso e alçando voo. Aquele troço não pretendia parar: estava indo em direção a face de Karemachena e estava pronto para destroçá-la como podia.

Aquilo, minha gente... aquilo Arthur viu. Aquela criatura grotesca que saíra da margem para MATAR Karemachena em vingança. Isso Arthur conseguiu ver.