[EVENTO] ...You? Again? – Goldenrod City –

Aniquilado o primeiro coelho, restava decidir o que fazer com o outro (ou os outros, digamos assim).

Particularmente, não era tão difícil; Quer dizer, pelo menos com as instruções que recebia durante sua rápida pesquisa no eletrônico alaranjado (e, ei, quem diria que o mapa disponível seria tão detalhado assim?), cruzando as breves e vagas informações oferecidas por Illuminati, não parecia ser. O primeiro fato óbvio que devia levar em consideração era que, bem, o avistamento do tal pokémon não deveria ser tão distante assim, afinal, se poderia atrapalhar os negócios ou se aquele era um dos únicos lugares que oferecia um relato crível de encontro esquisito, não fazia o menor sentido que precisasse simplesmente ir até o outro lado da cidade atrás de sabe-se lá o quê.

Então, sim, já podia riscar as duas últimas da sua lista.

A decisão de para onde ir, então, se revelou em uma simples oração sussurrada nos cânticos da madame dourada. Ora, digo, as ordens da mulher se resumiam em seguir com fé - e quer mais simplicidade para fazê-lo que se dirigir até uma rua que acolhe a estrutura de uma paróquia em seu abraço? Deve compreender que não foi necessário muitos pensamentos antes de concluir que seu objetivo estava, senão na igrejinha, pelo menos em suas proximidades.

Um pouco mais demorado, mas eis aí o seu segundo coelho.
E foi em sua direção.

Natalie seguia sua lógica e razão. Seus pés começavam a caminhar pelas ruas pavimentadas e bem limpas indo em direção a igreja. O mármore dos degraus era branco e constantemente limpos pelos funcionários do local. Alguns turistas se aproximavam do local afim de prestar orações ou respeito a estátua de Arceus que olhava a todos de baixo para cima. As grandes letras douradas eram imponentes.

Com a aproximação de Natalie um senhor de beata vinha até seu lado com um sorriso largo. Sua careca calva e corpo miúdo entregavam um corpo já gasto pela idade.

- Bem vinda filha dos céus. Lindo não acha? O grande Arceus sempre nos abençoa e nos engrandece com mais um dia alegre cheio de felicidades. Quer que eu tire uma foto sua perto dele ou ouvir uma história sobre os tempos imemoriais? O que te trouxe até aqui?

O senhor não parecia ter segundas intenções, mas Natalie estranhava a paz que o local emanava. Será mesmo que Arceus esconderia uma de sua falhas logo abaixo de seu solo sagrado onde todos poderiam ver? Quem sabe...

Era um pouco irônico, se parasse para pensar.

Não o fato de estar simplesmente se jogando em direção ao perigo - sinceramente, após tantas ocasiões em que já havia feito o mesmo, aquilo sinceramente era o de menos. A questão era mais estar caminhando em direção à uma paróquia que louvava o *diabo* do Arceus, que tanto parecia a perseguir e acorrentar para que, no mínimo dos desleixos, a castigasse e torturasse, psíquica e fisicamente, mais uma vez, além das tantas que já fizera. Era quase como se jogar na boca do covil do predador e, sinceramente, não se sentia minimamente confortável para fazê-lo em uma situação daquelas.

...Ao mesmo tempo, estava ali pra isso.

— ...Ok. — Suspirou, os orbes acinzentados passeando pela estrutura de mármore banhada em ouro ao finalmente virar a esquina que a levaria ao seu destino. — É só uma capela. O que de pior pode acontecer, afinal? — Murmurou, tentando convencer a si própria de que seu destino infeliz talvez, e só talvez, não fosse tão infeliz assim. Apesar disso, foi com os pés arrastados que a ruiva mergulhou nas entranhas da Rua Smith, torcendo o canto dos lábios principalmente ao ser abordada por um dos fiéis daquela besta cervídea.

O segundo desafio, aparentemente, era passar pelo homem sem pagar de louca, herege ou, no mínimo, sem ser expulsa daquele lugar.
Não gostava do que poderia ter de fazer para concluir nenhuma das opções, na real.

— ...Hm... — Murmurou, um sorriso quase amargo pintando nos lábios pela maneira abençoada que o homem se referia ao tal Criador. — ...Estou só de passagem, na verdade. Se quiser que eu resuma, ouvi dizer que esse aqui era um bom lugar pra visitar, que... — Pausa. — ...o Altar era um dos exemplares mais bonitos. — Comentou, já ameaçando se dirigir ao mencionado. — ...Eu imagino que não tenha problema dar uma olhada. Tem?

...era...
Difícil esconder o desprazer, para falar a verdade. Não que quisessse desesperadamente fazê-lo, mas...
Sabe como é, né?

O sobrenome de Natalie talvez fosse a maior explicação de sua obstinação em perseguir situações inusitadas. A senhorita Chase esta ali. Diante de seu Nemêsis. Em frente ao altar criado em sua homenagem. Procurando por um boato que pudesse concretizar seu imaginário: deus não era perfeito. Era falho e agora estava escondendo as provas que levariam mais pessoas a terem essa certeza que pulsava como um fato concreto na própria Natalie. Seguia a passos firmes com uma ideia em mente: - É só uma capela: o que de pior pode acontecer afinal?

O senhor sorridente levava a mão aberta em direção ao altar.

- Claro que não senhorita. Fique a vontade para admirar a gloria de Arceus. Se ele não nega ninguém, quem dirá eu um mero mortal.

O homem seguia ao lado de Natalie até se aproximar da estátua.

- Precisando de mim estarei lá dentro.

E assim o homem sumia tão rapidamente quanto havia aparecido deixando Natalie a sós com o objeto a ser inspecionado. O altar de mármore branco exalava realeza por seus detalhes. A obra de arte havia sido feita de modo que não importava que posição você estivesse a frente da estátua seus olhos encontrariam os do observador. Já analisando as costas uma inscrição dava uma pista importante para Natalie. Ao pé da estátua iluminada pelo sol e luzes radiantes do dia havia uma inscrição datada de muito tempo com uma informação crucial: Rua Smith Tadeus.

A memoria da ruiva corria rápida pelo nome das ruas Smith de antes. Como só duas eram o foco de sua atenção foi fácil de descobrir que a origem da estátua não era a rua onde estava atualmente e sim a outra rua Smith onde um altar fosco e diversos sacos de lixo eram acumulados gradualmente.

Natalie Chase havia conseguido uma nova pista muito importante. Se a "profecia" de Iluminati seguisse seu curso ela sabia bem o que deveria procurar na próxima rua Smith...

Se ele não nega ninguém, senhor,
então como você explica as nossas interações, no fim das contas?

A pergunta veio e foi em sua consciência, retórica, ladina - e, com um suspiro inquieto, a ruiva balançou a cabeça e se manteve em silêncio; No fim das contas, de nada adiantaria derramar suas preocupações, frustrações e tudo o mais nos ombros de um fiel. Quer dizer: Para quê? Ele certamente não mudaria suas crenças e seu tempo era precioso para perdê-lo em uma tentativa de "converter" um homem que não ganharia absolutamente nada por, simples e somente, fazê-lo.

Então, foi com certo alívio que Chase tomou para si, mais uma vez, a solidão, quando o pastor (ou seja lá o que ele fosse) resolveu abandoná-la ali, com aquela estátua luxuosa do seu desgraçado malfeitor. E a parte boa de toda a situação foi que não precisou de muita inspeção ou estudo para encontrar uma discreta inscrição na rocha que denunciava que, para variar, muito provavelmente estava no lugar errado; Entenda, não foi à toa que o suspiro escapou da garganta, pesado, inquieto.

Não tinha o que fazer: Teria que mudar seu destino.
E foi, paciente e sempre. O máximo que podia acontecer era perder o rastro de seu bicho, né?

Chase seguia seu rumo com ainda menos fé na benevolência do deus cervo do que antes. Se é que isso era possível. Seguindo adiante e sempre em frente as narinas de Natalie avisaram o que estava evidente em seu GPS: havia chego a rua Smith tadeus.

O pilar onde outrora havia uma reverencia a Arceus agora estava maculado pela sujeira acumulada da humanidade. Um altar fosco e sem sombras do que um dia havia sido. Natalie conheceu o luxo para poucos minutos depois conhecer o Lixo. O lugar fedia e isso não era culpa de deus. Ou será que era?

Um arrepio percorreu a espinha da senhorita Chase enquanto lá está o bueiro da profecia. O caminho era simples e certeiro. Natalie estava perseguindo algo unanimimente incômodo e a tendência era entrar cada vez mais profundamente dentro da sujeira do mundo....e para isso ela mesma teria que mergulhar fundo no amago da tubulação que dava vida ai sistema de esgoto da cidade.

Curiosamente ela sentia o arrepio e um trepidar pulsar forte em seu coração a cada passo que chegava mais perto da tampa que seleção a decisão. Optaria adentrar ao desconhecido deixado a segurança e conforto externo provido pela iluminação do astro rei para adentrar até o fundo do poço que guardava as falhas secretas do criador de tudo?

Um franzir de sobrancelhas resumiu suas emoções quando, ao enfim adentrar no "ponto de referência" daquela rua, o odor pútrido do abandono e do lixo escoava para o interior de seu sistema respiratório, a ponte do nariz inevitavelmente se torcendo à medida que se aproximava daquela pilha rançosa que continha restos de sabe-se lá o quê. Bem, a parte boa da situação era que não era a primeira vez que se deparava com algo nojento daquele jeito e, sinceramente, não fazia tanto tempo assim desde que havia, literalmente, descido para passear no esgoto - e se em Lilycove não era tão patético assim (apesar de que, uh, estava de máscara, né? Hm.), em Goldenrod não podia ser.

...Podia?

Bem, descobriria. Pelo simples fato de: Não, não ia simplesmente dar a volta e ir embora por causa de um ou outro fedorzinho que atrapalhava um pouco sua situação, sabe como é. Era simples, na verdade: Apesar de hesitar por alguns segundos ao encarar o bueiro suposta e aparentemente mencionado pela cantora de bar, a ruiva não se demorou em começar a trabalhar para descer pelo bendito buraco em direção às vísceras da metrópole.

E esperava que valesse a pena.

Natalie mostrava ser uma guerreira intrépida mais uma vez. A cada degrau descido uma sinfonia de odores desagradáveis a acompanhava. Chegando ao fundo do buraco o abraço gélido e singelo das trevas cercava a treinadora. Olhando para a esquerda e para a direita nada conseguia ver por conta da iluminação escassa. A luz parcial era provida pelo lado externo e uma vez que começasse a andar precisaria de uma nova fonte de luz ou arriscaria andar sem direção pelas sombras.

Um choro baixo misto ecoava pela tubulação que cercava o intimo da cidade. Natalie tinha uma sensação estranha. Era como se conhecesse aquele choro mas ao mesmo tempo parecia muito diferente do que suas memórias traziam para ela. A treinadora senti o mesmo frio na espinha mais uma vez. O lado esquerdo parecia ser a direção de onde o choro estava vindo. O único outro som que seguia fluindo eram das águas que seguiam seu fluxo natural desembocando de uma ponta a outra. Forçando a vista a moça tinha um vislumbre pequeno de algo não natural. Algo que destoava do restante do mundo. Sua garganta secava por um momento. Finalmente ela estaria diante da anti criação que tanto procurava?

Era necessário um certo nível de concentração para que não simplesmente optasse por desistir daquela empreitada esquisita; Não só pela "cacofonia" de odores pútridos, mas também pelo gelar de espinha que afagava-lhe a alma, a derme, a estrutura óssea. A escuridão íntima não era um verdadeiro empencilho, porém, e seu não-problema logo foi solucionado quando a ruiva retirou do bolso o pokénav e acendeu a lanterna do aparelho eletrônico alaranjado.

Felizmente, não precisou de Lawrence, ou sequer de uma decisão arriscada para tomar algum dos caminhos que dividiam os traçados dos esgotos daquela cidade.

Precisou de uns dois segundos antes de enfim decidir por seguir aquele projeto de choro anômalo, mórbido, solitário. Ponderou até não fazê-lo, sinceramente, pelo temor que se agarrou em seus ombros quando seu cântico lamurioso tilintou em seus ouvidos: Entretanto, porém, contudo e todavia, tendo chegado até ali, não tinha lá muitos motivos para simplesmente dar as costas e sair como se nada houvesse acontecido. Sabe como é, né? Como tinha dito (quer dizer, tinha?): Ossos do ofício.

Sua reação ao se deparar com o estranho animal à frente, então, foi simplesmente retirar uma das esferas bicolores entre os dedos, preparando-se imediatamente para um possível e inevitável confronto - quer dizer, se os rumores estavam certos, não era como se Arceus fizesse coisas que a tratassem muito bem, né?

Enfim.

Ativando Skill: Queimando a Largada no Roserade; +1SpA, +1Atk.

Algumas pessoas teriam optado voltar a segurança de seus lares e o conforto de um bom chocolate quente. Essas pessoas nunca teriam as mesmas experiências que Natalie teria para contar no futuro. Sem mais delongas o cheiro antes fedido pela poluição e detritos começava a sumir. Um odor ferroso tomava conta do local. Um cheiro conhecido por todo aquele que já havia sido ferido alguma vez: o odor de sangue derramado.

Seguindo em direção ao som uma pilha de cadáveres. Em torno de 12 pokémons comuns do esgoto: Weezings, grimers e zubats. Todos tinha furos como se algo tivesse perfurado seu intimo e deixando os ali mesmo para morrerem. Natalie sabia que aquele tipo de ação não era predatória. Uma ação assim só poderia ter sido feita por alguém ou pokémon que matava sem escrúpulos. Logo depois de dobrar a galeria onde novas águas se encontravam o responsável pela destruição seguia inerte com um paredão de gelo as suas costas. O choro sofrido revelava um corpo que Natalie tinha afinidade e uma cabeça que não era para estar ali.

Os olhos azulados brilhavam na escuridão enquanto o gelo seguia acumulando ao redor de seu corpo acinzentado. Ao notar sua convidada o mon deixava o choro sofrido para iniciar um riso alto. O branco de seus dentes e a velocidade com que avançava na direção da treinadora não deixava dúvidas: se ela não agisse logo seria a próxima vítima esquecida no esgoto...