Quando se não tem pra onde ir, qualquer lugar serve

quando não se tem pra onde ir...

Ah, a maravilhosa hora em que o peso das nossas atitudes recai sobre nós. Não posso dizer que sou muito fã desses momentos, mas eles acontecem com frequência, com a maior parte das pessoas; talvez se Daisuke tivesse observado melhor poderia ter percebido que aquele menino ali certamente não era o que ele procurava. Primeiro porque, ele nem era tão alto quanto a "sombra" que ele viu antes; segundo, como ele sairia a tempo suficiente de dentro do beco a ponto de estar a frente do garoto em questão de velocidade? Não fazia tanto sentido, afinal, o beco não tinha outra saída, né? Mas nem essas evidências impediram o menino de disparar acusações contra o rapaz.

O azulzinho encarou Tachikawa com um olhar confuso, transformando-se em algo mais ofendido a medida que ele ia falando; não dava pra saber qual parte de fato o deixou bravo, mas ele com certeza não gostou nada da maneira que o protagonista falara com ele. - Moço, eu não faço ideia de quem você seja. - Ele falou, com certeza rispidez. - Ou você se confundiu, ou tá tentando me arranjar alguma pra cima de mim. Nos dois casos, eu não sou quem você procura. - Ele arrancou a mão de Daisuke do ombro dele com um empurrão, e voltou a andar, ignorando a última parte da fala do moreno.

O que estava acontecendo, de fato? Dai realmente estava enlouquecendo? Ou talvez o garoto estivesse só mentindo pra ele? O fato era que, no momento em que o ser azul saiu do campo de visão do menino, antes de virar uma esquina a frente, ele virou-se e encarou Daisuke por longos segundos, virando-se e deixando um sorriso de canto pra trás. Era uma provocação? Um pedido que ele o seguisse? Ou simplesmente pra outra pessoa que o moreno não conseguiu ver daquela distância? Valeria a pena ir atrás? Se fosse comigo, eu não deixaria quieto não, mas vai saber, né?

O que acontecera a seguir, não deu tempo de Tachikawa pensar. Com um barulho alto e uma fumaça, algo atrás do garoto, por onde ele viera, estava pegando fogo, mas ele claramente perderia o azul de vista se fosse verificar o ocorrido. Era uma escolha difícil, mas a vida é feita disso, e com essa frase motivacional eu termino a narração.

quando não se tem pra onde ir...

Para alguém que estava cansado de brincar, Daisuke parecia bastante disposto em ir atrás do rapaz, huh? Não só ignorou a fumaceira que se fazia presente no céu conforme o tempo passava, como também ignorou todo o resto e simplesmente seguiu atrás do garoto. A multidão de pessoas que agora ia se formando pós chuva era grande, e isso impedia que ele visse com clareza o que estava muito a frente; contudo, ainda era muito bem possível enxergar ao longe o ser azulado perambulando por ali, sem um destino concreto aparentemente. Era fácil seguir ele daquela distância, mas para onde ele estaria indo? Quer dizer, pode ser que ele simplesmente quisesse levar Tachikawa pra algum lugar mais isolado, mas isso poderia ser perigoso também, né?

Fato era que, estava bem aparente que ele ia para um lugar longe do centro. Na verdade, se o protagonista fosse observador, notaria uma placa que indicava o nome de um bairro mais periférico de Olivine, e que tinha uma pessoal mais barra-pesada; o fervor da cidade ia ficando para trás a cada passo que o moreno dava, e aos poucos ele ia ficando a sós com o ser azul, mesmo que a alguns metros de distância. O garoto que era perseguido não virou pra trás nenhuma vez, sequer esboçou vontade de fazer isso; era como se ele soubesse que Daisuke o seguia, e nem precisava olhar para ter certeza.

Depois de algum tempo caminhando, quando o ambiente mudara completamente para o subúrbio, o garoto azul virou num beco, que provavelmente não tinha saída e que deixava Tachikawa na mesma situação de antes, mas dessa vez tinha um tom diferente. Ele conseguia ver a sombra do menino no chão, em pé dentro do beco, como se agora realmente o esperasse; era agora, o confronto entre o cão e o gato. Ou o gato e o rato, depende da sua versão da história.