Ficha - Bill Goldenheart

Descrição física: Seu cabelo é preto e onduloso. Seus olhos: pequenos e gentis. Na testa o sinal do tempo, no rosto uma barba forte e ríspida emolduram um homem de traços fortes e com orelhas grandes e atentas.

O corpo, relativamente forte e peludo, é notável apenas através dos botões abertos de suas camisas de flanela e das mangas longas recuadas até o cotovelo. Com cores latinas sua pele se mistura entre o grosso e o sedoso, se isso faz algum sentido.

Sua roupa quase sempre segue tons pasteis e na grande maioria variam entre o branco e o bege. Com muita sorte verá ele usando uma calça ocre ou amarela. Mas hoje ele segue com uma camisa branca e calças cor de palha. O tênis segue a uniformidade, ou tentam. Eram para ser brancos, mas o caminho nunca os ajudaram, por isso sempre estão com uma aparência encardida ou enlameados.

Na carteira, quase nunca a vista, guarda uma flor de Aster. Amassada e ainda linda.



Personalidade: Moldado pelo tempo, pelas dificuldades e recentemente pelo luto, sua personalidade é um tanto hostil.

Não que ele seja bravo, muito pelo contrário. Bill sempre foi uma pessoa doce e caridosa, altruísta e com uma síndrome de mártir que nunca o ajudou de nada.

Ele só está assim: "hostil", pois está amargurado, triste, chateado, doloroso, penoso, aborrecido, infeliz e insatisfeito com os últimos grandes acontecimentos da sua vida.

Mas verdade seja dita: Ele só está dessa forma, e se sente assim, quando sozinho.

A pior parte é de que: às vezes, ele se sente sozinho mesmo no meio de várias pessoas.

É uma montanha russa, ele diz pra si mesmo. As vezes o sol está no alinhamento perfeito sobre seu rosto, a brisa é gentil e o orvalho não está lá para molhar sua calça. E a vida é boa.

As vezes a ansiedade não o deixa dormir, o frio corta sua pele e os grilos fazem muito barulho. Não o suficiente para desligar as vozes de auto sabotagem de sua cabeça que dizem que ele não é digno. Que ele é o culpado. De que ele deveria ter feito mais, ou feito algo. E que é por isso que nada dá certo: porquê ele é relutante em fazer algo.

Quando é assim, o dia amanhece cinza, ele: desmotivado e cansado. E a vida não é boa.


Biografia: Nascido e criado em Lavender, Bill foi uma criança feliz. Era amigo de todos os seus vizinhos e frequentemente brincava de pique esconde com eles. perdendo sempre para seu irmão mais velho, que era mais rápido e sabia dos melhores lugares para se esconder. E por "melhores" eu quero dizer os "assustadores". Locais esses que sempre deixavam Bill bem distante, tamanho o medo.

Todos brincavam dizendo que Bill poderia resgatar uma velhinha de um incêndio, mas que não conseguiria salvar a si mesmo se pra isso tivesse que entrar num matagal a noite.

Claro, era só uma brincadeira dos adultos, afinal nenhuma criança deveria entrar em um matagal. Principalmente com tantas espécies peçonhentas por aí.

Bill engoliu em seco pensando nelas enquanto os adultos riam ao fundo.

Quando não estava brincando, Bill tentava ajudar o pai e o irmão com os afazeres de carpintaria. Até então era fraco, e tudo o que conseguia fazer era pegar pregos e entregar ferramentas para o pai, que sempre o agradecia com um sorriso enorme e que dizia que ele seria um grande carpinteiro algum dia. "O melhor da cidade!", bravava.
Bill dizia que queria ser um treinador, sair por aí ajudando pessoas atoladas ou perdidas. Mal podia esperar para fazer dez anos logo.

Sua mãe era grandiosa, uma pintora de um talento devastador e dona dos olhos mais lindos que Bill já vira. Era gentil e sempre pegava Bill pelo ar enquanto ele corria pra se esconder e "escondia ele no seu abraço". Bill fingia se incomodar quando ela dizia isso, mas ele amava. E passava perto dela de propósito toda vez que brincava.

Seu irmão é um borrão. Bill sabe que o amava mais que tudo, mas simplesmente era novo demais na época para se lembrar. Como se esquecera do rosto do seu melhor amigo? Ele se culpa por isso até hoje. Como se fosse proposital, coitado.

Enfim a tragédia aconteceu, no ano mais esperançoso da vida de Bill.

Já em seus nove anos, seu pai e irmão saíram para trocar o piso de uma loja na borda da cidade. A lembrança de uma fumaça escura e cruel no horizonte tomou o lugar que deveria ser do irmão, e assim seu sonho de ser um treinador foram soprados para longe com a fumaça e sua felicidade.

Por mais que as pinturas da mãe de Bill fossem espetaculares, não demorou muito para que fossem todas vendidas, ou comidas por traças. A mãe estava em uma depressão severa e já não conseguia mais pintar com a mesma qualidade e frequência. Eles venderam a casa para pagar dívidas e se mudaram para uma casa menor, de aluguel. Então assim que seus dedos conseguiram segurar o peso de um martelo, lá estava a criança solitária: fazendo o possível e o impossível para ajudar a mãe a sustentar a nova casa.

Conforme o prego foi afundando na tábua a cada martelada, Bill foi afundando na solidão a cada ano.

Nem tudo foi ruim depois disso. Sua mãe melhorou e voltou a pintar. Bill arrumou um emprego numa loja na cidade vizinha e passava o tempo que deveria ser de lazer, andando amedrontado entre as cidades. Passando por pontes crepitantes e becos mofados. Mas pelo menos eles o pagavam bem. O suficiente para que Bill comprasse roupas novas e presentes para sua mãe de vez enquanto, que sempre dizia um "Oh, meu filho. Obrigada! Mas guarde o próximo presente pra sua namorada". Bill a olhava com cara de desaprovação e ela retrucava: "ou namorado!". Os olhos de Bill sempre se reviravam quando isso acontecia. A verdade é que Bill não queria namorar por medo. Medo de perder igual perdeu seu pai e seu irmão. É um pensamento idiota se bem pensado. Mas Bill nunca se deu essa oportunidade. Sempre que o pensamento surgia ele tentava pensar em outra coisa.

A idade continuou chegando. E as coisas começaram a piorar outra vez. Uma doença rápida e cruel tomou conta de sua mãe. A definhou mais do que a depressão. E a levou mais rápido do que o vento. Deixando em sua mão uma flor de Aster e as palavras. "Essa cidade é cinza, e mesmo assim essa flor triunfa. Esse é você!".

Bill estava sozinho. E sozinho encarava a última pintura de sua mãe: seu rosto em preto e branco. "É como se olhar em um espelho", Bill dizia. "Um reflexo sem cor de uma vida sem cor".

E sem cor a vida foi, e foi, e foi.

No dia anterior ao seu aniversário de vinte e oito anos a vida tomou outra direção. Fora mandado embora da loja em que trabalhava. As inúmeras horas extras não compensava a queda de desempenho que ele teve, de acordo com o dono de lá. E assim Bill saiu, as nove horas da noite, depois de trabalhar onze horas seguidas. O noite estava tão nublada quanto a sua mente e por caminhos desconhecidos elas o levavam.

Bill caiu, e chorou. "Qual é o sentido?" berrava. As lagrimas caíam com as horas e a madrugada veio.

O vento frio forçou Bill a se levantar e tentar voltar para casa. Assim que se levantou, porém: ficou paralisado. Na sua frente um ser demoníaco pairava. Parecia um buraco negro com olhos famintos. Uma esfera com uma névoa o rodeando. Bill juntou cada gota de energia que ainda lhe restava e saiu correndo desesperado dali.

Parecia que quando mais corria, mais perto o demônio chegava. Sua casa ainda estava longe, e ele estava exausto, do trabalho e do choro. Em certo momento ele não conseguiu mais. Suas pernas travaram, ele caiu. Seu coração batia na sua garganta e sua boca estava seca. Com a criatura do seu lado ele pensou "é o fim". E foi então que percebeu que a criatura era um Gaslty que sorria para ele como quem tivesse gostado da brincadeira.

"De perto você não é tão assustador", disse Bill. E encostou sua cabeça na relva molhada. Recuperou o fôlego e se pôs a andar para a casa. Gastly continuava o seguindo, e por mais que Bill estivesse incomodado com sua presença, ele não tinha energias para lutar contra essa situação.

Bill acordou em sua cama, já não se lembrava direito os detalhes de como exatamente chegara ali. O cansaço o venceu quando avistou a cidade na noite anterior.
Gastly estava lá. Não tão assustador, mais ainda assustador, agora que era dia.

Gastly não desgrudava de Bill. Sua capacidade de atravessar paredes impediam Bill de ter privacidade até mesmo ao usar o banheiro. Os únicos momentos de "paz" eram quando Gastly saia para atormentar os vizinhos.

Agora desempregado, e sem condições de pagar o aluguel: Bill vendeu o pouco o que tinha, colocou tudo em uma mochila e seguiu estrada a fora para longe daquela cidade, e quem sabe em direção ao seu sonho de ser um treinador Pokémon.