One One One

off.:

Não delongou em Sinnoh, afinal, seu objetivo agora era outro. Lembrou-se da especialista em psíquico falando de alguns detalhes sobre enfrentar Regirock nas ruínas de Shimmer, e teimoso como era — mesmo que Karinna falasse o contrário —, o kantoniano não poderia desperdiçar a oportunidade de enfrentar o titã rochoso. Era ímprobo fazê-lo sozinho, e então ao conhecer o criador, pôde ver um pouco de sua força e o julgou como alguém ideal para acompanhá-lo na incerta cruzada contra Regirock.

Volveu para Hoenn e preparou tudo: ensinou algumas novas técnicas para alguns de seus monstrinhos, deu um descanso para Balerdroch — que sempre o acompanhou, mas, diante da situação atual, resolveu poupá-lo —, levava roupa adequada para atravessar o deserto de Shimmer, comida, água, remédio e o caralho a quatro.

Acredito que já entendeu, caro leitor: Nicholas fez todos os preparativos necessários para que não fosse surpreendido com ocasiões adversas nesta arrojada jornada para enfrentar uma das lendas hoennianas.

Estando tudo certo, sobrevoou com o condor psíquico até a cidade de Mauville. O nome fê-lo relembrar da atuação de um rocket em específico; Nicholas queria confrontá-lo assim que fosse possível por questões do seu passado e até mesmo do presente, contudo, não poderia. Conforme o horizonte materializava com mais nitidez os prédios da cidade da luz hoenniana, sentiu o coração palpitar, o abdômen passava a sensação de frio e quase ensaiou um suor frio escorrer na testa do treinador ás. Balançou a cabeça conforme chegava, e novamente, jogou todas as suas lembranças de um distante passado para debaixo do tapete — em uma área de seu cérebro que se forçaria a não acessar tão cedo.

Em uma de suas manobras aéreas, o condor psíquico reduziu a velocidade e pousou ao chão mais ao norte de Mauville; ora, não obstante de todas as questões que envolviam Mestre H da equipe rocket, aquela cidade não era uma novidade para Nicholas, ainda mais se tratando de que o louro outrora havia vencido Wattson e conhecido mais gente por ali também. Com o conhecimento prévio, retornou Shiranui de volta para sua esfera bicolor.

Calcorreou na direção do norte da cidade em passos lentos. Conforme avançava, leu a mensagem de Hayato, que permitiria localizar o criador com mais facilidade.

Chegou, enfim, à saída norte de Mauville, seguindo como se fosse adentrar a rota. Mas mudou o curso, afinal, não era difícil ver o monstrinho vulcânico por baixo de uma árvore junto de seu treinador, tomando um último descanso antes de peregrinarem no lugar na terra que mais se aproximava do Tártaro, nos confins do Hades.

Ergueu o braço destro, achegando-se da dupla que conhecera não tem muito tempo em terras longínquas de Hoenn. Ínfimo tempo depois, Nicholas já estava próximo, sendo anunciado pelo Camerupt de Hayato; cogitou até uma aproximação afável do magmático, todavia, seu semblante não era dos mais convidativos — que coincidência, não?

— Não sabia que você ia chegar tão rápido — inferiu, conforme chegava mais perto. Era um cumprimento um pouco mais informal, digamos. — Espero que tenha dormido e descansado muito bem. O caminho é bem longo.

E bota longo nisso. Tem gente que tá no deserto até hoje...

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Hayato estava do lado oposto da árvore, e Nicholas ao saudar o magmático, percebeu que fê-lo acordar de um sono aparentemente profundo. A saudação do criador conforme se espreguiçava e até mesmo coçava o olho era a prova de bênção de Morfeu que o transportou para seu mundo um bom tempo, interrompido somente por Camerupt.

E por fim, veio a indagação sobre para onde iriam. Franziu a testa, como se já esperasse a pergunta — mas a reação aparentava uma ínfima surpresa. Encostou-se sobre a árvore, levou ambas as mãos ao bolso e começou a vislumbrar os limites da rota 111. Respirou fundo.

— Para o deserto de Shimmer — respondeu, singelo. Bom, não sabia se Hayato ficaria satisfeito somente com aquela resposta, afinal, o destino era muito mais específico do que aquilo. Nicholas indagava para si mesmo se o criado o acharia louco de se preparar para enfrentar o titã rochoso hoenniano.

Vai saber, né?

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Quiçá ainda grogue de sono, o criador conseguiu ligar todos os pontos de maneira astuta e desvendou o porquê Nicholas fazia tanta questão de ir até as vísceras do deserto: enfrentar o titã rochoso hoenniano. Conforme Hayato comentava sobre a lenda de Regirock e também do monstro estar adormecido nas ruínas de Shimmer, o kantoniano chegou a esboçar algum sorriso, como quem já esperava que, lá no fundo, o garoto soubesse o destino final.

Taciturno, mexeu a cabeça para cima e para baixo, afirmativamente, admitindo de que Hayato havia acertado todo o enigma que Nicholas omitiu por um bom tempo.

Deslizou ínfima coisa por entre o tronco, como se recostasse ainda mais. Ergueu os olhos na direção do ainda desfocado e turvo deserto bem ao longe.

— Tamo falando do Regirock, o titã de pedra. Ele deve tá agora nas ruínas de Shimmer. Pelo que eu sei também, era berço de uma antiga civilização, então o que deve ter de pokémon pra aquele lado — comentou, jogando papo fora com Hayato. — Acho que dá conta de enfrentar o Regirock. Você não me parece o tipo de cara que corre assim.

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Não posso deixar de dizer que era excêntrico a dualidade entre o louro e o criador: enquanto um exalava confiança ao dizer que enfrentaria um pokémon lendário, o outro se mostrara receoso. Começou a falar de que, em determinados momentos, correr era uma virtude, para no fim dizer que faria o necessário quando a ocasião pedisse. Nicholas deixou um riso manso escapar das cordas vocais, e tão sucinta quanto uma corrente elétrica passando por entre os neurônios. Agachou, apoiando o corpo sobre os joelhos flexionados, os braços por sobre as coxas, fitando o horizonte.

Hayato discorria sobre os seus monstrinhos e sobre as improbidades sobre enfrentar uma fortaleza ambulante — não à toa era tratada como uma lenda em Hoenn. Nicholas balançou a cabeça, e como sempre, mantinha a mesma calma, quiçá até encarava aquele desafio como alguns outros mais singelos que enfrentara.

— Não precisa ficar com receio, relaxa — respirou fundo, volvendo-se para o criador. — Eu tenho um plano — e, confiante como nunca, um riso bailou por entre os lábios do kantoniano, balançando a cabeça. Logo depois, tornou a vislumbrar o deserto. — É mais do que possível vencer o Regirock. Passei umas boas noites sem dormir pra enfrentar ele. A única coisa real era que, sozinho, eu não teria nenhuma chance. Mas com alguém junto, a chance de vitória é grande, até maior do que parece.

Concordou quanto ao problema principal: enfrentar o clima para chegar até as ruínas.

— Tenho algumas peças específicas pra gente não torrar no sol, o problema é só a gente se localizar no deserto. O gps deve dar conta de deixar a gente pelo menos perto. Lá dentro, já não sei o que pode ter: maldições, ou só um terreno antigo com alguns selvagens lá dentro. Tá tudo sob controle.

Aparentemente, estava mesmo. Mas, será que Hayato queria ir ainda assim?

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