[Entrega de Missão] NAKEISHA LAOUALI

Bingo! Falkner tinha mesmo muito a acrescentar no conhecimento que eu vinha construindo sobre o lance da happiness. Até então, não tinha percebido e nem recebido a informação de que a tipagem e a história evolutiva do Pokémon poderia dizer muito sobre as capacidades de desenvolvermos essa relação.

Muita coisa começava a fazer sentido, então, pois meu Charizard em particular originalmente esteve nos times mistos do antigo treinador, onde era usado com foco exclusivo em suas habilidades de batalha, pra depois passar por um tempo indeterminado no Potin da Requiem quando eu finalmente veio parar no colo de uma louca dos ares que, além de tudo, queria extrair dele os melhores desempenhos aéreos...

– Aaah! – exclamei quando as reflexões vieram, da fala do meu mentor; Swoobat, nas minhas costas, pontuava algo com ar de dúvida, querendo que eu lhe contasse o que tanto me deixou satisfeita daquele jeito.

Uma hora ou outra eu iria contar à minha companheira o que estávamos concluindo ali. Por enquanto, ela teria que se contentar em passear pelos corredores do Gym pra que pudéssemos conhecer uma nova área agora.

– Massagem?! – mordi o canto do lábio e cocei o queixo rapidamente, tentando lembrar o que eu sabia do assunto, mas só lembrei que: – Bem, já ouvi falar, sim, mas usada pra fins terapêuticos no caso de Pokémon estressados e tal. Ouvi um pouco a respeito disso nas aulas da Universidade, mas admito que não consigo agora fazer uma ligação com o lance da relação entre Treinador-Pokémon... – admiti, sem ter conhecimento (ou lembrança) profundos o suficiente pra conectar as coisas.

– Uhmm... É quase como um carinho, só que melhor trabalhado... ?! – pontuei a breve conclusão que fiz, depois da explicação do líder.

Enquanto ele explicava eu já começava a tirar Swoobat das costas, deixando a morceguinha livre pra se aninhar onde fosse possível empoleirar ali. Também pousei a bolsa num canto e alonguei os músculos superiores, vendo Falkner tirar de uma esfera seu Fearow. Um espécime lindo e muito bem cuidado, dá pra dizer pelo brilho do bico e alinhamento das penas.

– Bom, então acho que vamos tentar juntos. – decidi trabalhar ao mesmo tempo que o rapaz, pois assim também poderia ter os movimentos corrigidos se fosse necessário.

Ezylryb, meu Charizard, era liberado de sua Pokébola sem hesitação. Apesar de tudo, minha relação com ele era tranquila e pacífica, nunca apresentando problemas de obediência, rebeldia ou nada do tipo. Eu só sentia que, talvez, ela ainda não fosse forte o suficiente pra ele aceitar a árdua Mega transformação.

– Esse é o Ezylryb, meu Charizard. Ez, esse é o senhor Falkner, meu mestre. – feitas as apresentações – Ez, deite aqui, com o focinho encaixado no buraco, igual o Fearow. Vem, eu te ajudo. – e seria necessário, já que o Pokémon possui uma envergadura grande e uma cauda que às vezes parece ter vida própria. Não queremos nada acidentalmente pegando fogo por aqui, né?!

– Certo, sensei. – concordei com as orientações.

No começo foi difícil, realmente. Eu nao sabia bem como me posicionar evitando cauda, pernas robustas e asas enormes. Fora que o próprio Pokémon ainda estava um pouco ansioso, provavelmente pela expectativa de saber o que ia acontecer ali, naquela situação tão peculiar.

– Relaxa, Ez. – sussurrei pra ele quando enfim comecei a tentar executar os movimentos ensinados pelo Líder.

Eu conhecia aquela direção pra onde mover os dedos, afinal com uma boa frequência andava viajando com Ayzen e... Enfim, massagem não era assim tão raro. Mas entre o corpo do homem e o do Pokemon, as semelhanças terminam só no movimento dos dedos mesmo.

Charizard, obviamente, tinha uma pele mais áspera, além das escamas que precisavam ter seu sentido respeitado, eu logo notei. Não só isso, mas a própria firmeza do músculo exigiu uma força que eu precisei aprender a executar direito. Massagem é, praticamente, mexer com o limiar entre a satisfação e a dor... Além de que o bichinho em si devia estar todo tenso.

– É mais ou menos isso, ne?! – confirmava com o mentor.

Nos intervalos da minha forte concentração, me pegava cantarolando baixinho o ritmo de alguma música familiar pro meu lagarto. Meus Pokemon sempre tem canções com as quais se identificam e, no ritmo certo, relaxam.

Reduzi o ritmo das minhas mãos pra que meus olhos pudessem focar e prestar atenção nos novos movimentos ensinados por Falkner. No começo não parecia nada tão complexo de executar, até que veio aquele estalo!

Meu rosto deve ter congelado por uns segundos na expressão de surpresa que eu fiquei: os olhos arregalados, as sobrancelhas arqueadas e o queixo levemente caído. Com certeza até meus dedos paralisaram um tempinho também. Eu nunca tinha "arrancado" estalos em massagens antes!

– Ok... Acho que essa vai ser um desafio.

Suspirei, agitei a cabeça pra retomar o foco, relaxei os ombros e mirei bem pra área das costas de Charizard onde eu deveria realizar o procedimento. Acho que a expectativa era alta e eu tava multiplamente ansiosa agora. Um estalo inadequado poderia fazer o bicho reagir de modo inesperado, eu consigo supor pela breve reação do Fearow.

Enfim, não vou saber se não tentar. Então, primeiro me posicionei numa distância segura da cauda em chamas do lagarto voador. Depois, usei as pontas dos dedos pra localizar o encontro de músculos e articulação do bicho, como o Líder havia dito. Uma vez que encontrasse tentaria executar o movimento circular. Estou segura de não ter feito corretamente nas primeiras tentativas... Se, depois, conseguirei arrancar um estalo bem sucedido?! Veremos.

Expirei com tanta intensidade que senti meu peito arder, depois do quase-acidente com a cauda de Ez passando de raspão em Falkner. Engoli seco e senti que eu mesma precisaria de uma massagem no fim do dia, só pela tensão. Acabei até deixando os dedos relaxarem sobre a pele do Pokemon e devo ter me inclinado pra cima dele por alguns segundos, pronta pra domar a fera se precisasse. Mas, graças aos céus, não foi preciso.

– Uffa!

Recuperava a postura enquanto o líder fazia suas observações e apontamentos. Se ele diz que levo jeito, eu aceito e agradeço! Deve ser parte da experiência como fazendeira, nos cuidados com os Pokemon e tal.

– Um aroma... ? Essa é uma boa pergunta. – meu cenho até franziu com os pensamentos agindo – Nunca parei pra observar, considerando que ja dei uma porção de berries e bebidas pra ele... – pensei um pouco mais, tentando buscar alguma pista ou mesmo um palpite, até cheguei a olhar pra cara do lagartao, ali com o focinho enfiado no buraco da maca – Acho que ficaremos bem com um adstringente. Lembro das vezes que ele queimou troncos pra mim na fazenda e que parecia muito contente com isso... É, diria que adstringente. - não tinha total certeza, mas o palpite era forte.