Eternamente Preso no Velho Chato(Old Chateau) ou até a rota acabar

Tempo Perdido

Enfim, Tyrant e seus companheiros Pokémon haviam finalmente se livrado da estranheza da Floresta de Eterna e seus inúmeros encontros curiosos que culminaram em batalhas inevitáveis com adversários cada vez mais numerosos. Hm... uma frase desconfortavelmente longa, não é mesmo? Pois foque nessa sensação, afinal era este o mesmo desconforto que o Ranger Torres sentia ao adentrar a Mansão. O jovem sabia que era uma sensação familiar, mas ficava difícil explicá-la com palavras. Algo do seu âmago parecia simplesmente, errado. E não, não era vontade de cagar.

Como certamente não esperava que esta missão fosse tranquila, talvez fosse fácil resistir à sensação ruim. Quem sabe não fosse um "empurrãozinho" para resolver o problema o quanto antes, para poder partir? Dito isto e, focando no objetivo, Tyrant pôde observar o cenário que surgiu a sua frente, elencando aquelas coisas que talvez lhe chamassem mais atenção:

Um dos dois únicos sons ambientes era um relógio de parede, com seu tic tac constante, apesar de não parecer "correto"; o segundo som era o de uma cadeira de balanço velha, que talvez estivesse sendo sacudida por um vento entre as frestas da madeira que compunham as paredes; haviam uma meia dúzia de portas no térreo e no segundo andar - até onde era visível - então, de fato, era uma mansão, apesar de abandonada; havia uma lareira, apagada. Sobre esta, um boneco de pano maltrapilho e uma pedra decorativa, em formato nada convencional, com alguns entalhes, mas nada bonita. E por fim, mas não menos importante, havia uma terrível decoração de time de futebol de um tal Tombense Futebol Clube, culminando no incrível "Rádio de Pilha Temático do Tombense".

Um cenário curioso, não acha? Por onde Tyrant iria começar sua investigação?

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Apesar de ainda não compreendê-la, Tyrant ainda sentia a sensação estranha. E ela era SIM familiar, só que era uma tia-avó distante que ele só conheceu bebê e que certamente lhe diria 'te peguei no colo', caso o encontrasse em um evento de família. Enfim! Ninguém entende o palhaço, mas adora um circo. E neste caso, a lona estava armada e o picadeiro era a sala da Mansão.

Cauteloso - na medida do possível - e bastante perceptivo, Torres notou o brilho esverdeado sobre alguns objetos e peças cênicas daquela residência, sentindo-se tentando a averiguar alguma delas, como se estivesse em um maldito point-and-click de browser da era Flash. O que ele não sabia e estaria aprendendo de seu Narrador, é que o brilho se tratava de resíduo ectoplasmático. Ou seja, a Mansão gabaritava todos os clichês: além de velha, era também mal-assombrada. E dito isto, a escolha do Ranger foi averiguar o item de colecionador estampado com o vermelho do brasão Tombense, o rádio antigo com dois grandes botões em formatos ovalados, bastante sugestivos pela similaridade com os "olhos" do Rotom Phone.  

— ZzZz — Ouviu o rapaz, ao apenas fazer menção de se aproximar. Era um ruído característico de rádios antigos, seguido de um chiado ainda mais conhecido. Em seguida, o utensílio ligou-se e começou a flutuar, tão assustadoramente quanto a derrocada do Putfire no Brasileirão 2023. Tá, era óbvio que era um fantasma e mais óbvio ainda que fosse o versátil Rotom possuindo o equipamento eletrônico, mas o que ele não esperava era...

— E vai começar a Série C do Sinnhozão ZZzZ Digo, vai começar as boas-vindas ao ZZzZ público ZZzZ Homem só. RRRRRRROTOMBENSE é o nome dele. ZZzZ Vai espalmar? ZZzZ DEEEEEEFESAÇA! — Ao que tudo indicava, o Rotom Rádio Velho tentava se comunicar como humano usando passagens de diferentes estações de rádio, em sua maioria de narrações de futebol, a programação preferida de seu antigo mestre, provavelmente. De fato, era difícil entender o que ele queria falar, mas parecia que seu nome era Rotombense, o Rotom.

Será que valeria a pena tentar entendê-lo ou era melhor partir para outra das coisas destacadas do ambiente?

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Realmente, Tyrant era muito observador, ele notou que o Rotom era um Rotom! Porém, faltou habilidade para entender as falas nonsense do Pokémon... Além da qualidade péssima do áudio, cheio de chiados e falhas de comunicação, a conexão entre as falas não parecia dar "liga" ao assunto. Pelo menos, o Ranger parecia se divertir com o Radinho, pedindo para ele narrar um gol bastante específico (mas muito foda, diga-se de passagem).

— Claro que não... — Uma voz profunda, vindo da direita do rapaz cortou o clima — Ele não é Pokétube, não. Rotombense só passa fragmentos de narrações ao vivo, pô.

— O que ele queria saber é se você tá sozinho e se tem mãos e sabe fazer conta. Por enquanto, é isso... O que nos diz? — Questionou, um curioso Spiritomb, que sorrateiramente se aproximou de Tyrant, fitando-o detalhadamente, antes de resolver interpelar sua interação com o Rotom. E sim, o Pokémon falava com a voz do Ron Perlman.

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Para a alegria, nem tão contagiante, do Spiritomb falante, Tyrant sabia contar e tinha mãos, aparentemente. O Pokémon observou cuidadosamente o rapaz em silêncio e só depois pareceu "concordar" que o que ele dizia era verdade. Rotombense observava tudo,  mantendo distância, mas finalmente havia calado a boca. Ou melhor, calado o rádio... Os chiados eram bem chatos, na real.

— É, você conseguiu agradar o nosso Rotombense, então creio ser digno desta missão. — Começou a dizer, o Fantasma, observando o cenário atrás do trio, onde outros Pokémon fantasma começaram a surgir.

— Eu sou Nar'Adhor, Imperador do Mitológico Reino de IStha'fer. Dentro deste corpo impuro não habita apenas a minha alma, mas também a de cento e seis de meus melhores soldados, além da minha esposa... Ou era isso que deveria ser, mas é história para outro momento. Enfim!  — Explicou, Nar'Adhor, enquanto ao seu lado surgia um Gengar de bengala, sentado na cadeira de balanço e, por fim, um Banette - após a transformação da boneca de pano.

— Na cadeira temos o Cickatriz,, o Gengar de Guerra. E o boneco abandonado é o Fofão... Ele foi jogado fora quando disseram que ele vinha com um punhal dentro dele e seria perigoso para crianças. Até hoje ele não aceitou bem essa história louca. Afinal, como descobriram o punhal dentro dele, tão escondido? Ah! E o Rotombense você já conhece, ele tá preso no rádio porque nem deveria ter entrado... — Completou o Spiritomb, respirando fundo antes de continuar.

— Você não vai contar nada agora, mas precisamos da sua mão. Não! No seu corpo mesmo, não vamos arrancar. Queremos que você recupere alguns pertences nossos de vidas passadas, mas estão em cofres e precisamos de dedinhos para abrir. O primeiro que precisa ajudar é o Rotombense! Vá até aquela sala próxima, do térreo e dá um jeito de chegar no cofre, só tem que passar pelos uniformes de futebol mal assombrados primeiro, mas é fácil! — Afirmou, esticando-se até a porta que Tyrant precisava entrar.

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Diante de uma solicitação tão estranha, vindo de um Pokémon estranho, parte de um grupo estranhíssimo de criaturas, Tyrant tomou a decisão mais inteligente que pôde, aceitar ajudar sem questionar. Dito isto, direcionou-se para o cômodo do térreo, indicado pelo Imperador Narr'Adhor. Era um quartinho acessível abaixo da grande escadaria do salão principal da Mansão, ao passar por uma faixa do Tombense, que já estava bastante deteriorada pelo tempo. Nesse caminho, Torres podia novamente notar o relógio de parede, todo decorado com arabescos, mas que - por algum motivo - parecia preguiçoso. Os segundos demoram tanto assim para passar? Enfim...

— É aí mesmo! Veja só a situação! — Dizia o Spiritomb, sendo seguido pelo Rotombense, entre chiados e ruídos indecifráveis. Logo após, o Pokémon acertou a porta e a abriu, revelando um cômodo habitado por um redemoinho arroxeado de energia fantasmagórica, onde onze camisas do Tombense voavam enlouquecidamente. Curiosamente, não havia som, parecia estar no mudo, mas era um poder incrível que os fazia rodopiar no ar, junto de alguns móveis e pedaços de parede.

— O quarto está amaldiçoado com o espírito do primeiro elenco do Tombense, onze camisas amaldiçoadas e, se não tiver cuidado, elas também vão te transformar em camisa... de saudade... Boa sorte! O cofre está do outro lado da sala e a senha é...  — Começou a dizer o Fantasma, sussurrando os números ao final — 1, 2, 3, 4... Nesta ordem, não se esqueça...

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