[Lief] [008] Lose Control

Aos poucos as peças foram se encaixando. Já estava claro que o garoto era responsável pelos ovos, mas a confirmação era importante. O pior é que ele realmente não parecia mal intencionado, apenas não soube cuidar bem dos pokémon.

Ou será que era culpa dele mesmo? Lief poderia estar com a impressão de que o aumento da agressividade e o descontrole reprodutivo tinham sido causados por falta de manejo, mas Noah tinha outra suposição.

— Tu disse que trazia eles pra beber nesse rio, certo? — ele buscou alguma coisa em sua mochila: a garrafa com líquido roxo e esverdeado que havia coletado há pouco — Por acaso tu já viu algo parecido com isso no rio? Coletei essa amostra de um trecho mais adiante...

Lief que estava confuso com a nova evidência, logo começou a juntar os pontos também.

— Tu acha que seja lá o que for isso tem relação com o comportamento dos Girafarigs? — a cada passo que davam na direção de resolver aquele problema, mais dúvidas surgiam.

— Não sei ainda, precisamos analisar o que é esse líquido! — balançou a garrafa na mão tentando ver a viscosidade da substância — Além disso, precisamos curar os teus pokémon, pode ser que tenhamos mais batalhas pela frente...

A agressividade das girafas realmente era uma coisa a se considerar. Lief voltou o foco para o Fergunson.

— Meu nome é Lief, esse aqui é o Noah, qual é o seu? — perguntou, tentando sorrir para tranquilizá-lo — Nós vamos descobrir o que aconteceu com os Girafarigs e vamos ajudá-los a melhorar! Podemos contar com o teu apoio?

O garoto parecia ainda um pouco confuso e não tinha certeza de muita coisa, mas algo em especial chamou a atenção dos nossos protagonistas. A menção a uma empresa farmacêutica que despejava resíduos no rio. Tendo como evidência o líquido misterioso coletado por Noah, era definitivamente um caminho a se explorar.

Claro que ainda havia a chance de isso não ter nada a ver com o surto dos Girafarigs, mas era a única pista que tinham.

— A gente com certeza tem que investigar isso... — falou Lief, em tom baixo — Provavelmente algo ainda está sendo largado na água e deve ter afetado os pokémon!

— Isso não resolve de imediato o problema das fazendas... — ponderou — Mas cortar o mal pela raíz é um bom começo. De qualquer jeito ainda precisamos encontrar os Girafarigs e conter eles de alguma forma.

O moreno concordou e, voltando-se para o Fergunson, estendeu a mão para ajudá-lo a levantar. Paul era seu nome. Realmente era neto da Dona Mariah.

O convite para passar a noite na fazenda veio muito a calhar. A chuva estava aumentando e com os pokémon debilitados seria difícil fazer qualquer coisa. Um bom descanso os revigoraria e também lhes daria tempo para traçar um plano de ação.

— Eu vou te dar um voto de confiança, porque eu acredito que seja mesmo melhor sua avó ouvir de ti! — falou, em resposta ao pedido de Paul — Ela parece uma senhora gentil, acho que ela vai entender, mas... se amanhã de manhã tu ainda não tiver contado, nós vamos ter que falar! Dona Mariah merece saber o que está acontecendo com a fazenda dela e dos vizinhos!

Mesmo que nem a gente saiba ao certo, completou Noah apenas em pensamento. Estava decidido então. Voltariam para a fazenda para passar a noite e reorganizarem o que descobriram até então.

Ao retornarem à fazenda uma visão os surpreendeu: uma viatura estava estacionada ali e o policial não estava à vista. Será que haviam descoberto o envolvimento de Paul no incidente? Ou pior, será que algo havia acontecido com a Dona Mariah?

O jovem Fergunson saiu correndo a frente aflito. Lief e Noah trocaram um breve olhar e também apressaram o passo. Ao adentrarem a residência, tranquilizaram-se. Ali sentado estava um oficial, o mesmo que encontraram na cidade e que lhes dera a direção da fazenda. Pela sua postura relaxada, era possível perceber que ele ainda não sabia de muita coisa, não que isso deixasse Paul menos nervoso.

Em pouco tempo ficou claro que ele estava ali para alinhar com os garotos o que eles descobriram e ver se precisavam de ajuda com algo. O garoto e sua avó pediram licença e foram conversar em outro cômodo, talvez ele tenha decidido arrancar logo o curativo e contar-lhe o que fizera. Lief começou a narrar ao policial as suas descobertas, esforçando-se ao máximo para omitir o envolvimento de Paul e poupá-lo de complicações mais severas.

— Então é isso, a gente suspeita que foi algo contaminado na água... — completou o moreno — Como os moradores da região têm o costume de ferver, não tiveram problemas, mas pode ter afetado essa população descontrolada de Girafarigs!

— O senhor por acaso tem mais informações sobre a indústria farmacêutica que ficava aqui na região? — perguntou Noah enquanto buscava na mochila a garrafa com a amostra que coletara no rio — Nós encontramos isso aqui misturado à água, imaginamos que possa ser algum resíduo proveniente do descarte indevido dessa fábrica!

Entregou-lhe o recipiente para que ele pudesse examinar de perto.

— Vocês têm laboratório na cidade? Talvez o senhor pudesse levar e examinar para entendermos o que é esse líquido e descobrirmos se tem relação com o que está acontecendo... — sugeriu.

— De qualquer jeito eu vou lá amanhã de manhã tirar satisfação com esse povo! — exclamou Lief deixando transparecer sua indignação — Onde já se viu jogar isso ai no rio? Vou acabar com essa palhaçada!

— A gente ainda nem sabe se eles tem algo a ver com isso! — disse Noah em meio a uma risada, a impaciência do amigo o divertia quando não estava o colocando em perigo — E também não tem como saber se parando isso vai fazer com que os Girafarigs se aquietem! Pode ser que enquanto a gente está lá seguindo uma pista falsa eles causem mais destruição nas fazendas...

— Mas e se... — e parou. Estavam tão absortos na sua discussão que esqueceram que o policial ainda estava ali — Bom, o que o senhor acha?

O policial aceitou o recipiente com o líquido misterioso e prometeu levar para que seja analisado. Os garotos logo perceberam, contudo, que a visita dele tinha um objetivo mais específico: direcioná-los para a próxima fazenda onde os Girafarigs foram avistados.

— Bom, mas então vamos lá agora mesmo! — exclamou Lief já se levantando.

Noah nem se mexeu muito, apenas puxou o amigo pela camiseta e o fez sentar-se novamente enquanto dizia:

— Ah sim, vamos lá agora na chuva, no escuro e com os teus pokémon enfraquecidos... Parece uma ótima ideia!

O moreno revirou os olhos e cedeu. Precisavam mesmo descansar, mas sairiam logo nas primeiras horas da manhã para garantir que os Mudblacks não ferissem as pobres girafinhas. Despediram-se do oficial e ficaram a sós com seus pensamentos.

Lief levantou-se e foi ao cômodo onde estavam os Fergunsons para chamá-los, caso já tivessem terminado sua conversa, queria pedir ajuda a eles. Estendeu na mesa um mapa da região.

— Vocês conseguem me indicar no mapa a localização da fazenda dos Mudblacks e da Farmacêutica? — perguntaria assim que eles se aproximassem — Minha ideia original era nós nos separarmos, mas tenho medo que nenhum de nós sozinhos consiga lidar com os Girafarigs... Mas talvez a gente consiga direcioná-los das fazendas para a Farmacêutica e dai derrubamos dois coelhos com uma caixa d'água só!

— Cajadada... — murmurou o loiro, enquanto ponderava sobre as palavras ditas — É, nos separarmos pode ser perigoso, não sabemos se o pessoal da farmácia não é hostil. Dependendo das localizações pode ser que funcione, mas também pode ser que eles não tenham nada a ver com tudo isso e estaríamos apenas criando problemas ao levar os pokémon pra lá.

Lief balançou a cabeça. Sua intuição lhe dizia que com certeza eram responsáveis pelo comportamento dos Girafarigs e, mesmo que não fossem, eram no mínimo os culpados pela poluição do rio e isso era inadmissível.

— Bom, temos que lidar com os Girafarigs em algum lugar, que seja perto dessa fábrica para já resolvermos tudo de uma vez!

Então esperaram a resposta de Paul e Mariah para que pudessem definir então seus planos para o dia seguinte.

Os garotos ouviram com atenção as instruções da senhora que os acolhia. Ponderavam sobre cada palavra dita, mas deixaram para fazer suas colocações depois. Agradeceram pela disposição a ajudá-los e pelo abrigo e aguardaram o direcionamento para o local onde poderiam repousar.

Lief estava aliviado pela conversa entre avó e neto ter, aparentemente, corrido bem. Paul parecia um bom rapaz, que apenas cometeu alguns deslizes. Além do mais, o descontrole dos pokémon provavelmente não tinha nada a ver com ele.

— E ai? O que a gente faz — questionou o amigo assim que ficaram a sós — Talvez ainda seja possível direcionar os Girafarigs pra lá, até nos livraria de qualquer problema legal, afinal eles são os culpados, mas...

— Mas não temos certeza se eles realmente tiveram influência nisso! — Noah o cortou, mas sabia que não era aquilo que o garoto queria ouvir — E pode ser que os seguranças façam mal aos pokémon...

A segunda frase é o que o moreno estava pensando. Era um dilema difícil o que eles estavam.

— Bom, de qualquer forma temos que tirá-los da fazenda dos Mudblack antes que algo ruim aconteça! — disse enfim — A gente pode já tentar acalmá-los e dai depois lidamos com a Farmacêutica para evitar que algo parecido se repita...

Noah concordou, até admirou-se que Lief estava optando pelo caminho mais cauteloso.

Passaram mais alguns minutos combinando possíveis estratégias até que decidiram ir dormir. Tinham que acordar cedo para garantir a segurança das girafinhas e precisavam estar bem descansados caso houvessem lutas pela frente.


Despertaram nos primeiros raios da manhã e logo se prepararam para sair. Tinham uma missão para cumprir. Despediram-se dos Fergunsons e mais uma vez os agradeceram pela acolhida. Provavelmente não teriam tanta sorte com a próxima família. Decidiram ir voando para serem mais rápidos.

— Vê se desce na entrada da fazenda dessa vez! Nem todos são tão simpáticos de aceitar um doido caindo do céu no seu quintal! — o loiro rio e levantou voo com Amelia.

Lief revirou os olhos e o seguiu.