[Pallet Streets]

CHAPTER #OO2: Automaton guy.

Já fora do laboratório, Morgana Alucard se sentia um pouco diferente. Agora que tinha seu próprio Pokémon fantasma e gostando muito do exemplar que recebera, a garota estava entretida e entusiasmada. Não em níveis externos, e isso era óbvio pra qualquer um que passasse por ela nas ruas de Pallet. Mulheres colocavam coisas em seus varais e homens deixavam suas casas para trabalhar. Aquela cidade era primitiva. A sombrinha da loira fazia com que a parte escura no chão se tornasse fresca e agradável, em contraste com o calor infernal que aquela cidade fazia. Alucard respirava devagar enquanto caminhava, imaginando quais seriam seus próximos passos a partir dali. Andar sem saber o que fazer não era de seu feitio. Num piscar de olhos, havia um Pokémon do seu lado. Ergueu seu equipamento eletrônico, a PokéDex, para saber mais sobre aquele pequeno e magnífico autômato movido por uma força de energia desconhecida.  Após uma curvatura quase imperceptível de seus lábios, Morgana balançou a cabeça positivamente, fazendo sinal para Golett se aproximar.

Perto dela, ela o olhou com cautela. Piscou uma ou duas vezes e proferiu uma única palavra, que parecia agradar ao Golett.

— Auto.

Após receber seu apelido, o pequeno autômato passou a caminhar ao lado de sua dona, mantendo uma postura protetora, como um guardião de uma çady. Os perigos, no entanto, não entendiam isso. E eram quase sempre atraídos pela energia que ela emanava, como um imã de problemas. Levou a mão à boca teatralmente e soltou um bocejo. Parou no meio de uma rua e colocou-se a ler uma placa. Queria saber para onde ir naquela cidade, ou se estava apenas perdendo tempo.

Ao ler a placa, Morgana deu de ombros, dando meia volta e voltando ao caminho da cidade. Cidade, pensou, isso é muito mais um vilarejo do que uma cidade. Quase não há o que fazer por aqui. Imagino como as pessoas podem pensar em viver em lugares assim. Parece tão... Insípido. Com os vermelhos olhos mirando o caminho a sua frente, a garota caminhava lentamente. A sombra de seu guarda-chuva movia-se a cada passo que dava, acompanhando-a e mantendo-a protegida do sol. Incomodada era a última coisa que Morgana Alucard poderia estar no momento, e entediada era provavelmente a primeira de todas. Auto, o Golett, caminhava ao seu lado, aproveitando o momento. Ela passou a caminhar mais devagar enquanto seu Pokémon fantasma seguia em frente. Observando-o, ela podia ver a forma com a qual se movia. Dono de uma confiança incrivelmente inabalável e com uma presença delicadamente marcante, Golett passeava como se fosse o dono do mundo simplesmente por ter uma treinadora a quem ajudar. Parecia ser um Pokémon extremamente prestativo.

O pequeno autômato azulado apontava em frente, e Morgana ficava intrigada. Não sabia se devia seguir ordens de um Pokémon, já que na maioria das vezes não seguia ordens de ninguém além dela mesma, e pouco se importava com o que pensariam ou deixariam de pensar dela. Sabendo que, de todos os fatores negativos daquela viagem, obter o Golett com o professor fora a melhor coisa que já lhe acontecera, decidiu seguir o primeiro e único, até o presente momento, Pokémon de sua equipe. Como uma mono-treinadora fantasma, ela tinha um time em mente. Não necessariamente esse time seria mantido até o final, mas é claro que não haviam mesmo milhares de opções para treinar os temíveis Ghost, sendo registrados apenas trinta e quatro deles até o presente momento, incluindo formas especiais, formas de mega evolução e o lendário dragão-fantasma, Giratina.

Parando de divagar sobre seu tipo favorito mentalmente, Alucard parou em um passo e abriu os olhos na direção que Auto, o Golett, apontava.

— Hm. Pois não?

A dúvida em seus olhos era muito mais vontade de deixar todo aquele aborrecimento de lado e finalmente fazer alguma coisa para tentar se divertir. Difícil. Extremamente difícil.

Morgana observou aquele tanto de Mareep sem mover um músculo de sua face. Continuava impassível e sem demonstrar nenhuma expressão, independente do quão interminável parecia ser aquela fuga. Isso é, quando percebeu que aquilo era uma fuga, ficou ligeiramente interessada no que poderia ser tão assustador para fazer com que todo um rebanho de Mareep fosse fugir de tal forma. A última Mareep enganchou-se na cerca e não conseguiu atravessá-la e estava muito machucada. Morgana ergueu uma sobrancelha, finalmente mostrando uma reação além de chateação ou interesse no que poderia ter assustado tantos Pokémon.

No entanto, enquanto Auto tentava ajudar a Mareep, Morgana seguiu em frente. Aquele Pokémon não a incomodava com sua personalidade prestativa e que gostava de ajudar, mas a garota realmente não tinha nada a ver com aquele Mareep e estava pouco se importando com seus ferimentos. Por isso preferia os fantasmas. Raramente eram corpóreos, e quando se machucavam, simplesmente desapareciam e reapareciam quando saudáveis mais uma vez. Sequer entendia a mecânica em atingir fantasmas, mas grande parte dos Pokémon conseguiam esse feito. Quando Auto havia ajudado a Mareep, colocando-a de volta em um lugar, disse à ela algumas palavras de consolo em sua própria linguagem e disse que voltaria para ajudá-la. Após fazê-lo, correu para perto de Morgana, seguindo-a fielmente, rumando para o caminho do qual as Mareep tanto fugiram. A leve brisa elevava os cabelos da moça um pouco, sendo aquela uma área pelo menos um pouquinho mais fresca daquela cidade que, até o presente momento, tinha se mostrado tão quente.

Alucard abaixou seu guarda-chuva. Auto olhou em volta, mas quando olhou para sua treinadora mais uma vez, pegou-se confuso, imaginando onde é que aquela sombrinha tinha ido parar. Não parou pra pensar nisso por muito tempo, é óbvio. Morgana manteve-se calma, caminhando agora enquanto balançava ambos braços gentilmente ao lado do corpo, ainda que sua presença fosse obscura, seu andar era gracioso, e as longas tranças amarelas dançavam levemente uma música tocada pelo vento, arrastando alguns fios para trás conforme o ar fresco invadia as narinas da loura. Estava curiosa, mas não transparecia isso em seu rosto. O máximo que podia ver era um sucinto interesse em saber a fonte de tanto pavor.

Algo que a atraía.