[And in the end, peace... Or not?] - Route 4 -

Aparentemente, a forte tempestade de segundos atrás era mais passageira do que realmente se supunha. Quando o barulho das pancadas de gotas gradualmente desapareceu, os orbes cinzentos se esquivaram para a janela em busca de algum vestígio do que antes era um verdadeiro temporal. Seu cenho franziu-se por alguns segundos, porém, o coração livrou-se de um enorme peso. Poderia seguir em paz, afinal... Pelo menos, esperava que sim.

O panda bicolor não teve uma reação muito diferente. Ao se deparar com os primeiros raios solares que despontavam do lado de fora, saltou da mesinha para o chão, bambeando alguns passos em direção da porta e se apoiando em sua soleira, o corpo inclinado para frente, a cabeça pendida para o lado e orelhinhas caídas. A garota suspirou e acompanhou o pequenino, se abaixando apenas para o pegar nos braços e afagar suavemente sua face macia - este, por sua vez, se balançou todo e aninhou-se nos braços da ruiva, arrancando-lhe um sorriso suave.

Ela permaneceu alguns segundos sentindo a brisa fria, voltando a face para trás e correndo o olhar entre a loira e seu companheiro gramíneo.

- Hm... Vocês iam para o Mt.Moon, não é? Bem, boa sorte. Eu... Eu vou voltar para a cidade. Acho que não estou com muita sorte ultimamente na natureza. - Deu de ombros suavemente - A gente se vê por aí. - Um aceno vago com a cabeça, pouco antes de se precipitar para fora da residência, desviando-se de algumas poças que demarcavam a estrada de terra.

E novamente, a semi-solidão.
Talvez estivesse mais confortável assim.

Além de tudo, ainda precisava se preocupar em não escorregar para alguma poça de lama e acabar virando um Kecleon camuflado na estrada graças à sujeira. Permitindo-se guiar pelos passos desajeitados do pequenino de grandes orelhas, a brisa fria acalentava seu coração e a ausência de nova tempestade - pelo menos, por enquanto - relaxava cada um de seus músculos e nervos.

Ela não sabia ao certo os motivos de uma tormenta ter se iniciado e definhado com tanta velocidade, porém, tal fator não importava no momento - afinal, era possível que acabasse tendo um pouquinho de paz e isto era o que mais desejava em dias. Receava algum encontro brutal novamente, porém, não fugiria de tais possibilidades se trancando em algum ambiente qualquer, certo?

...E afinal, as coisas poderiam piorar tanto assim, depois de tudo?

Parando pra pensar, não era a primeira vez que a vida pregava-lhe peças para atrapalhar o seu caminho.

Esse foi o primeiro rascunho que se desenhou na mente da ruivinha quando os ouvidos e os orbes claros foram obrigados a se desviar do caminho para o lago relativamente animado à lateral de seu corpo. Quer dizer, quantos foram os problemas que a perseguiram até então para que pudesse estar de pé naquele exato segundo?

Bom, era óbvio que nenhum tão grave quanto os mais recentes, mas mesmo assim... Problemas. E superados! Então por que diabos deveria remoer tanto as mesmas e mesmas coisas se até alguns pequeninos que estavam em perigo constante não se deprimiam o tempo todo? Ela torceu de leve o cantinho dos lábios e respirou fundo. Tudo bem; Não era exatamente o maior exemplo de pessoa para superação, mas tinha que tentar. Ou ficaria naquele loop pelo resto da vida até um ponto que nem mesmo ela se aturaria. Não podia esquecer? Que parasse de dar valor e enterrasse as imagens em sua mente, então.

Os lábios se movimentaram de leve para que um assobio pudesse escapar com sutileza pela fresta que permaneceu - o suficiente para chamar atenção do panda bicolor. Ela o chamou de leve com um dedo e caminhou na direção do lago - o pequeno piscou por alguns segundos, mas seguiu a garota com seu costumeiro rebolado torto. Os pés de ambos descansaram novamente apenas ao alcançarem a relva mais próxima das margens da relativamente miúda reserva aquífera e a garota segurou as mãos atrás das costas, observando a movimentação dentro d'água e, bem, considerando que não tinha exatamente um tempo limitado para qualquer coisa (não tinha pressa, afinal), sentou de pernas cruzadas e relaxou com a carícia da brisa em seu rosto.

Esquecer...
Seria possível?

Eram infinitas possibilidades de trilhas e até mesmo de resoluções para problemas antigos, escavados num simples momento de distração. De nada valeria destacá-los naquele exato segundo mas, sinceramente, não era como se realmente fizesse falta ou algo do tipo. O importante era relaxar... E isso jamais aconteceria se a mente não esvaziasse ou, no mínimo, alterasse o foco para qualquer outra coisa.

Respirou fundo - as pálpebras se apertaram por alguns segundos e ergueu a face para o céu...

Apesar de ter sido sugada para a realidade novamente por conta de um simples toque macio no braço. Piscou algumas vezes e demorou questão de milésimos para fitar o pandinha novamente - porém, o foco foi atraído pela mancha rósea que se prostrava à sua frente.

...?

Vendo o sorriso do pequenino desconhecido, não pôde conter correspondê-lo. Os dedos até arriscaram se aproximar de leve, roçando a pontinha destes em carícia quase tímida abaixo de seu queixo.

- Hey, amiguinho. Como vai?

Era óbvio que não teria resposta alguma em palavras. Caso ocorresse, provavelmente seriam murmúrios que não seriam de sua compreensão e, bem, do contrário... Era praticamente impossível ou, pelo menos, acreditava que era. Um riso meio sem jeito com os toques sutis... Mas, sabe, até que aquele pequenino parecia-lhe levemente familiar. Talvez visto em algum livro ou competição antes?...

Duvidava que lembraria. Então, quando sua movimentação mudou na direção do lago, ela piscou de leve e...

Bom, não tinha nada melhor pra fazer, de qualquer maneira.

Ela ergueu-se e bateu de leve as próprias roupas assim que o pandinha começou a se animar com uma possibilidade de novas amizades, acompanhando os passos calmos do espécime. Claro, não sem antes conferir QUAL era o espécime no pequeno aparelho avermelhado que sempre era bom manter consigo. Enfim! Se ele não estava nervoso, duvidava do fundo do coração que fosse alguma coisa séria... Ele queria brincar ou algo do tipo?

Só descobriria quando ele demonstrasse, certo?