#001 - Primeiro Ato....

A ave arredondada – será que todo Pokémon tem esse formato? – ofereceria uma batalha interessante. Entretanto, a atenção de Erik estava focada em outra criatura, ainda não identificada. O monstrinho que havia corrido a pouco observava a situação ao longe.

O treinador sentia uma espécie de arrepio. Não posso deixar esse Pokémon escapar. Este pensamento ecoava na mente do rapaz, acompanhado de uma irritante conclusão: esse Hoothoot não vai me deixar em paz.

- Muito bem, bola de penas... – Erik movia os dedos de sua prótese, apenas para garantir que a mão não fora danificada – Se é uma briga que você quer, então conseguiu. Igniz, use Astonish e avance com Peck!

Apesar não poder desviar sua atenção da batalha, o rapaz precisaria descobrir a identidade do Pokémon misterioso de alguma forma. Direcionou sua pokédex, apesar de duvidar que funcionasse daquela distância. Ao mesmo tempo tentou, com o canto do olho, reconhecer a aparência da criatura.

A criatura misteriosa pareceu ter fugido, mas o rapaz ainda escutava seus passos em algum lugar nas proximidades. Foco, Erik. Um problema de cada vez: primeiro o Hoothoot, depois eu me preocupo com o Pokémon desconhecido.

Na verdade, seria excesso classificar a coruja como um “problema”. Para Igniz, mal representava um desafio. O corvo parecia extremamente entediado ao perceber que seu adversário mal resistiu à primeira rodada.

- Vamos encerrar isso, Igniz. Use Pursuit, deve ser o bastante... Se precisar, acerte outro Peck. E não deixe que o Hoothoot te acerte.

Tenho a impressão de que o verdadeiro desafio ainda está por vir...

O instinto de Erik provou-se correto. A batalha contra Hoothoot foi unilateral, de forma que Igniz nem ao menos se arranhou. Entretanto, um novo adversário surgiu. Uma fera branca, tão imponente e ameaçadora que até o arrogante Murkrow demonstrava receio de enfrentar a criatura.

O Pokémon selvagem encarava o rapaz, que mal se atrevia a respirar. Manteve a postura tensa, mas inalterada. Se demonstrasse o menor receio naquele momento, seria bem possível que seu corvo voasse para longe dali. Não posso fraquejar, repetia mentalmente. Não posso recuar. Não posso perder.

- E é agora que a diversão começa... – murmurou o treinador, apontando sua pokédex na direção do adversário. Então levantou a voz – Você não queria um desafio, Igniz? Pois bem, chegou a hora de testarmos nossa força! Voe fora do alcance daquele Pokémon, espere uma brecha e use Astonish, avançando com Peck em seguida!

Erik sabia que o quadrúpede à sua frente assistiu a batalha entre Igniz e a pequena coruja, o que significava uma vantagem a ele. Repetir a estratégia utilizada da ultima vez seria arriscado, mas o rapaz precisava verificar as habilidades do adversário antes de bolar uma estratégia eficaz.

A aproximação do Absol impressionou Igniz e seu treinador, mas a fuga repentina da criatura deixou a dupla completamente paralisada. Por que um Pokémon aguardaria o desenrolar de uma batalha inteira, apenas para confrontar Erik e desaparecer em seguida?

Absol, o pokémon desastre... Estaria ele apenas cumprindo sua função de anunciar alguma desgraça que viria a seguir?

- Quer dizer que algo vai dar errado? Diga uma novidade... Diga alguma vez em que algo deu certo... DIGA QUANDO ALGO DEU CERTO NA MINHA MALDITA VIDA!

O grito não era para o Absol, para o Murkrow ou para qualquer um que pudesse escutar. Erik gritava para o mundo. O mundo que sempre lhe foi injusto. O mundo que lhe tirou tudo, mais vezes do que ele podia contar. O mundo que Erik teria de enfrentar sozinho, na esperança de resgatar o único resquício de felicidade que lhe restava.

O rapaz caiu de joelhos na grama, sem conseguir conter as lágrimas. Por quanto tento permaneceu rendido à frustração? Os segundos pareciam dolorosas horas. Em certo momento, Erik sentiu um cutucão em suas costas. Igniz encarava seu treinador com uma expressão determinada. O corvo alçou voo e, de asas estendidas, emitiu um sonoro grasnado.

- Tem razão, Igniz... – o garoto levantou-se, enquanto secava o rosto. – Não posso desistir por tão pouco. Nós não vamos desistir, certo?

O Murkrow acenou com a cabeça, concordando. O rapaz lembrou-se que, independente do que enfrentasse, ele não estaria sozinho. E Igniz parecia disposto a enfrentar qualquer dificuldade junto de seu treinador.

- Então, vamos lá? – Erik recolheu alguns shards, deixados no local onde esteve o Absol. – Temos um longo caminho pela frente. E alguns desastres a enfrentar.

Ao que parece, Erik tinha uma tendência a atrair loucos. Quando o homem subitamente o abordou, o garoto olhou para a direita, para a esquerda, para trás, apenas para garantir que era com ele que o desconhecido falava.

- Err, acho que o senhor me confundiu com outra pessoa... Meu nome é Erik.

O treinador acenou com sua mão direita, o que esperou que fosse o bastante para desfazer a confusão. Falar o seu sobrenome também serviria, mas detestava recorrer a este recurso.