Sombra e água fresca -sqn

  A chuva em Cerulean ainda caia lá fora quando eu acordei e me estiquei na cama. Aipom saia correndo sobre o meu lençol para me dá o bom dia primeiro e assim a macaquinha estava feliz por ter voltado para perto de mim. Eu apertei a pequena que ficou um longo tempo com o Professor Oak, por conta de pesquisas e outras coisas mais. A única coisa boa da distância da Pokémon de cauda longa foi o fato de ter conseguido evoluir nosso amigo sorridente para um grande e poderoso Gyarados.

A noite passou de forma rápida no Pokémon Center, local onde estávamos alojados desde que pisei em Cerulean. Quando pisei ao lado da cama, percebi que o meu tornozelo, outrora fraturado, estava ótimo. Mas depois de dias usando muletas, botas ortopédicas e tomando remédios, uma simples faixa ao redor do pé era coisa mínima. Sorri para Togekiss que abria a janela do quarto do Pokémon Center e assim olhava com uma cara pidona, perguntando se poderia voar pela chuva. Eu assim assentir! Togekiss deixava o quarto para estivar as asas lá fora, enquanto a chuva fria caia, enquanto os destroços ainda estavam lançados pela cidade.

Nydon esticava a coluna, dando uma impressão que era um Pokémon durão. Azumarill sorria e cutucava o poison que tanto admirava. Embora o Pokémon alfinete venenoso tentasse ignorá-lo, gostava de ser idolatrado. Leafeon saia timidamente de debaixo da cama, olhando para mim com uma cara de sono, enquanto Froslass se materializava no quarto, fazendo-me questionar onde ela estaria e se passou a noite fora, mas resolvi não comentar. A Ice desfilava flutuando pelo quarto, exibindo suas unhas que foram pintadas por Marcella no dia anterior.

Ao sair do quarto, após a higiene matinal, deparava-me com Marcella do lado de fora, toda vestida como se estivesse indo para algum lugar de classe. Uma lege negra e um sapato de salto negro se destacavam diante de um sobretudo que parecia um vestido, por ser cinturado, cor-de-salmão. Seu gorro negro onde por cima ficava a sua presilha azulada de borboleta deixava os cabelos loiros e visivelmente bem tratados bem mais vivos. Descemos juntos para tomar café e no meio da mesa tentava convencê-la a voltar para casa.

- Maninho, você não consegue cuidar de você mesmo. Se não fosse eu e os rangers antes de ontem, aquele homem mal tinha fugido. – argumentava enquanto comia uma torrada.

- Eu sei, mas você tem que entender, que às vezes as coisas podem ficar mais sérias e quando isso acontecer nem sempre eu vou estar lá para te proteger... – dizia.

- Nem vem! Imagine o que a mãe o pai vão falar se eu deixar o meu irmão mais novo ai sozinho?

Parecia que a simples lógica do perigo não deixava a menina ser vencida. Eu teria que pensar em alguma coisa a mais, no entanto, até lá, teria que treinar um pouco, já que estava afastado das minhas atividades de Ranger até me recuperar sem por cento. Isso me daria tempo para pensar alguma coisa para me livrar da loira.

Após a Enfermeira Joy dá uma olhada nos meus Pokémons, meu tornozelo e na garganta da loira (já que se queixava que sentia algumas dores, mesmo a bondosa mulher rosada afirmando que estava tudo bem com a loira) saímos do Pokémon Center. O guarda-chuva rosada da menina a enfeitava diante da chuva que ai. Ela se encostava em mim, mesmo sabendo que eu não importava com a chuva.

- Qual o plano então? – perguntava a garota, bem animada.

- Vamos só dá uma volta, por enquanto... – respondia...

A caminhada na cidade era vista como várias cenas em conjuntos. As ruas estavam praticamente desertas. As pessoas preferiam se manterem em vários estabelecimentos. Juntando a chuva com o desastre científico de dois dias, parecia que as coisas ficariam feias ali em Cerulean. Meus olhos pairavam sobre as partes cheias de água, enquanto Marcella “dirigia” o guarda-chuva, de tal modo, que eu tive que me abaixar, já que a jovem era menor do que eu, apesar de ser mais velha.

Deixei os meus Pokémons dentro das suas esferas, assim como a loira, uma vez que era melhor para que eles não se molhassem e viessem a sujar o Pokémon Center em nosso regresso. Marcella olhava para a situação com um pouco de receio e a jovem procurava que o ranger pudesse ter uma solução.

- Estávamos na prefeitura ontem, eles disseram que já vão começar as reparações... Tudo o que podemos fazer é sentar e assistir.

Respondia com uma voz decepcionada, mostrando que o que um simples civil e ranger poderia fazer, já tinha feito. Apesar disso, gostaria de poder ajudar mais, mesmo que indiretamente. No entanto, estava mais impossibilitado pelo fato de que era algo que transcendia ao meu meio de ação.

- Que tal tomarmos um chocolate quente em um dos cafés da cidade? – chamava a loira, entrando em uma das lanchonetes menos cheias.

 Ao entrar em um lugar, aparentemente o menos cheio, percebemos que o fluxo de pessoas ainda estava enorme ali. Se aquele era o menos cheio, imagine o mais? Marcella e eu éramos vítimas de vários esbarrões, onde tentamos nos equilibrar e não cair. A chuva continuava lá fora e ali dentro as pessoas remanescentes tentavam se abrigar longe das ruas esburacadas e repletas de poças d’água. A atendente foi muito atenciosa naquele momento e eu me surpreendi ao perceber que todos os bares e lanchonetes da cidade estariam assim.

- Nós beberemos em pé.

Marcella tentava ficar o mais perto de mim e tentou não ser perdida de vista. Logo um raio escarlate saia da roupa da morena e sua Clefairy saia correndo querendo conhecer mais pessoas, acenando para todas que viam. Marcella teve que sair atrás da Pokémon rosada, antes que a mesma fosse pisoteada e depois retornava com a sua Pokémon rosada nos braços para perto. Eu ri de como ela era um tanto desengonçada com seus pokémons, mas para pagar com a língua, Aipom saia da sua esfera e resolvia subir no meu ombro, fazendo com que a loira me olhasse com uma cara como quem dizia “não sou a única”.

  O local estava cheio e isso ninguém poderia negar. Clefairy balançava os dedinhos para o lado e para quem passava ela fala, como quem dissesse “Oi, eu sou a Clefairy! Oi, eu sou a Clefairy!”. Com certeza, era carente de atenção e por conta disso, a Pokémon gritava sorridente para todos, arrancando risadas de uns, chacotas de outros e um tom de alegria na lanchonete. Marcella sorria junto de sua Pokémon, enquanto do meu ombro, Aipom cumprimentava a Pokémon fada.

Enquanto esperávamos o nosso pedido, parecia que mais pessoas entravam ali e a lanchonete estava tão amarrotada de gente quanto qualquer outra. Diante das pessoas se apertando, os pedidos demoravam e a eficiência do trabalho ali diminuía. Foi no meio desse “apertucho” que dois senhores se aproximavam de nós. O casal parecia ter boas condições financeiras e como de costume Clefairy se apresentava com toda a sua inocência.

- Obrigado, somos sim.... – respondia de forma tímida.
- Eu sou a Marcella, essa é a Clefairy e esse ai é o meu irmão Ayzen e sua Pokémon, Aipom.
- Vender?! Não, não, pelo menos eu não estou interessado em vender a Aipom... – dizia olhando para Marcella e tentando saber o que ela achava disso.
- Clefairy?! Não, a Clefairy é minha amiga... Quis seguir jornada comigo, não vou vendê-la. – a loira falava ainda de forma animada, enquanto em seus braços sua Pokémon acenava para o casal.

 Os senhores entenderam que nós não iríamos deixar nossos Pokémons por dinheiro algum, embora a longeva fosse mais sábia com isso. Não demorou muito e a proposta do casal mudava para uma batalha. Para incentivar, seria apostado, o que me deixava mais animado ainda. Marcella, nem tanto. Abria a bolsa e via que tinha ali o exato valor de Pk$2,000, o que significava que se perdesse, estaria sem dinheiro algum. Que olhar choroso ela olhava para mim.

- Tudo bem, eu cubro sua aposta... Mas não vamos perder, né, Aipom?

A macaquinha dava uma batida na minha mão e assim a garçonete chegava com os pedidos. O chocolate quente dava uma esquentada e eu dava metade para a Pokémon de cauda longa, enquanto Marcella dava para a Clefairy. Pagava pelo serviço e ai já vinha à dúvida. Como batalharemos? Ou melhor, onde?

- Os senhores conhecem um lugar melhor para a batalha?