Apesar da dificuldade que tinha para obter alguma reação de Aron - mesmo que negativa, pois qualquer coisa seria melhor que o estado quase inerte da metálica - Gabriel ainda conseguiu ficar satisfeito, pois ambos os Gligar que estavam treinando concluíram o treino após mais algum esforço. Pondo a situação de Ralts de lado, o treinador virou-se para os dois escorpiões, parabenizou-os uma última vez e então os retornou para suas respectivas cápsulas, fazendo o mesmo com Flygon logo em seguida.
Durante todo esse tempo, Ralts tremeu e segurou-se com mais força em Gabriel. Os sentimentos negativos de Aron eram simplesmente fortes demais para a psíquica, cuja expressão de medo já estava mais que óbvia e preocupava até mesmo Anna, a qual aproximou-se com cuidado e andou ao redor de Gabriel, tentando olhar nos olhos da Pokémon.
- Ela tem medo... - A criança proferiu, com um semblante que surpreendeu Gabriel - a tímida garota definitivamente não costumava tomar uma iniciativa como aquela para se expressar. Tal ato foi o bastante para convencer o jovem a desistir duma vez por todas de sua ideia inicial.
- Calma, calma, estamos com você... consegue sentir Anna? - Questionou, conforme acariciou o capacete da Pokémon e a balançou algumas vezes em seus braços, tentando animá-la. A Pokémon não pareceu melhorar muito, porém esticou o pescoço para olhar na direção de Anna, após sentir os sentimentos vindos da garota - por sorte, ela não percebeu nada sobre as feridas do passado da criança, tendo apenas percebido o que ela sentia naquele exato momento. Gabriel reconheceu que Ralts parecia mais calma e, após deixar que Anna segurasse as mãos da Pokémon por alguns segundos, tratou de retornar a bebê para sua cápsula, onde ela poderia descansar após a experiência desagradável que teve com Aron.
Feito aquilo, restou resolver suas diferenças com a metálica - provavelmente sem a ajuda de seus outros Pokémon.
- Você devia criar vergonha nessa sua cara! - O tom de voz mais alto empregado por Gabriel afugentou Anna, que recuou alguns passos para trás. O loiro, já de volta à sua natureza insensível, não percebeu como a criança se sentia e continuou. - Eu te derrotei em batalha e nunca te tratei mal, tenho todo direito de ser seu treinador, então me reconheça de uma vez! É assim que as coisas funcionam, não é?! - Levado pelo estresse, ele gritou. Gabriel definitivamente não acreditava estar errado, porém todo aquele problema relacionado à conduta da Pokémon era algo que ele não sabia resolver - ele possuía mais similaridades com Aron do que reconhecia, pois também era alguém fechado que não revelava seus problemas para os outros. Com duas personalidades tão similarmente problemáticas, mesmo que por diferentes razões, era difícil de entender como o jovem conquistaria a confiança da Pokémon. Seu coração palpitava e sua respiração estava mais pesada, permitindo a Aron ler as emoções de seu suposto mestre com relativa facilidade. - E eu sei que estou certo... você vai ter que entender isso.