Mt. Pyre - A Birth in the snow peak.

Aquele garoto só poderia ter algum tipo de problema para depois de todas as palavras de Lysander ainda desejar continuar naquele lugar... Em um cemitério... Por um lado o rapaz até mesmo entendia o garoto, que, aos olhos de Lys, apenas não queria afastar-se daqueles que amava, mas, não entendia como ele poderia pensar em viver num lugar daqueles, era algo tão mórbido, tão absurdo... No entanto, o rapaz apenas suspirava profundamente e permitia-se a ser guiado pelo garotinho pelas lápides ali presente, até uma outra saída da "caverna", mas, diferente da que Lys usara para chegar até ali, dava passagem para o nível superior da caverna, onde mortos haviam. Ao final do passeio, retornaram até a mesma tumba que a pouco estiveram, no ultimo piso da "construção". Dali, não demorou muito para que o garoto acabasse pegando no sono... Lys o observava por um momento, examinando-o.

- Curioso... - Sussurrava o rapaz para si mesmo, enquanto encolhido à um canto da tumba, sentado no chão da mesma. Um olhar sereno em sua face. - Como pode... Como pode um garoto viver em um cemitério e ser feliz com isso? - Seus dedos acariciavam o topo da cabeça de Pancham que dormia escorado à sua perna. Skorupi, por sua vez, continuava acordado, apenas observando em silêncio tudo o que acontecia, não parecia ser o tipo mais relaxado de pokémon, na verdade, sua dúvida quanto ao rapaz persistiam. - Como pode ele ser feliz aqui, e eu, que vivi em uma mansão em toda minha infância, não ser... - Após tais palavras, ditas em um sussurro tão baixo que tornava impossível o garoto ouví-lo, não demorou muito para que vários barulho começassem a ecoar pelo lugar, barulhos que vinham de andares abaixo ao que Lys se encontrava. Haviam chegado, Lys logo presumiu.

Encarou o garoto ainda dormindo, deu umas cutucadas no focinho de Pancham que acordou um pouco perdido, levantou-se e estapeou suas vestes, livrando-as de qualquer pó que ali pudesse haver. Skorupi também se ergueu. Lys enficou uma de suas mãos no interior de sua pasta e dali pegou uma outra pokéball, que ao liberar um lampejo prateado acabou por conjurar a ave de Lysander, Marte, o Honchkrow. A ave fez menção a liberar um forte grito, amostra de sua irritabilidade ao ser liberado em uma situação que não envolvesse uma batalha, mas, diante de um rápido e um pouco desesperado gesto de Lysander para o estressado pokémon, este se calou, não sem antes passar voando em boa velocidade ao lado de Lys, que pode sentir a corrente de vento revirar suas vestes, para então pousar no topo da tumba.

Dirigiu-se até o garotinho que continuava a dormir, e por um minuto lutou consigo mesmo em busca de uma resposta sobre como agir diante da situação... Iria acordá-lo ou não? Depois de alguns segundos, o garoto enfim decidiu a acordá-lo, cutucando-o enquanto dizia. - Acorde, super herói de cemitérios. É hora do show. - Sua face, logo em seguida então se levantava, tentando encontrar Honchkrow. Não tardou para ver os olhos da ave faíscarem em sua direção. Era comum os dois agirem desta forma, com uma rivalidade, mas, depois de muito desentendimento entre os dois, os dois acabaram se entendendo, e desde então, mesmo que relutante, a ave nunca mais o desapontara, afinal... Dos pokémons de Lysander, a ave era a mais antiga, podendo se dizer que esta fora seu inicial, mesmo tendo quatro outros pokémons já passado por suas mãos antes dele.

Enfim... Bastou um gesto de Lysander para a ave entender o propósito para o qual fora liberada. O gesto consistia em suas mãos primeiramente estarem em um baixo nível e aos poucos subindo. Honchkrow levantou voo mais uma vez, mas, desta vez ficou apenas um pouco acima da altura de Lysander, e de sua boca, começou a soprar uma densa neblina que logo começara a tocar o chão se espalhar. - Produza a mais densa neblina que conseguir à caminho. - Emitia em baixo tom à ave, em seguida, voltava-se ao garoto. - Agora, vamos dar uma olhada em nossos inimigos... Quanto a neblina... - Emitia Lys enfim, um pouco mais animado. - Sempre achei que neblina tivesse um aspecto sombrio... Bem, coisa minha.

- Droga... - Perguntava Lysander para si mesmo, uma veia começando a saltar próxima à seu olhar. O plano de surpreender os ladrões, pregar uma peça, não funcionara como o esperado pelo jovem. - O que eu tinha na cabeça? Como pude acreditar que isso realmente daria certo? - Continuava o rapaz a se questionar. Seu olhar por um breve momento recaia sobre a figura do garoto à seu lado e se lembrara do que ele havia lhe pedido, se lembrara que ele lhe pedira para trazer de volta a paz àquele lugar, que, aqui com as "palavras" do próprio Lysander, honrasse os mortos, impedindo que mais furtos ocorressem ali, impedindo que pegassem aquilo que havia sido dado em tributo a estes que já se foram e deixaram seus familiares, amigos, ainda vagando por essa terra.

Havia sido ingênuo em pensar que um susto bastaria. Já deveria ter entendido, depois de todas suas experiências, que nem todo mundo se assustaria com uma brincadeira de criança, que haviam muitas pessoas realmente más no mundo, e que estas deveriam ser combatidas com força pesada. Desta forma, Lys repôs-se em uma posição ereta e fixou a saída daquela tumba em especial, que descia para o andar abaixo, de forma que a neblina liberada por Honchkrow parecia descer os degraus e desaparecer em meio a escuridão. Sem nenhuma outra objeção, ou palavra dita ao garoto ou a seus pokémons, Lys caminhou até a mesma. Pancham saltou imediatamente para as costas de seu treinador, mesmo que estivesse meio dividido em continuar ou não. Skorupi, diferente do primeiro, não parecia dividido, estava certo que teria de acompanhar seu mestre, então o fazia.

- Para seu próprio bem... Este lugar deixe. - Dizia, em voz alta o suficiente, o rapaz, enfim, com um tom de voz estranhamente confiante enquanto seus pés se afundavam na neblina que cobria os degraus até chegar o piso inferior.

Evidentemente seu alerta foi em vão. Não surtira efeito algum. Não notara nenhum traço de receosidade na fala dos ladrões, ou sequer intimidação, e isso não lhe causava estranheza alguma, afinal, alguém que ousa entrar em um cemitério e roubar dos mortos sem ter peso na consciência, dificilmente deixaria-se intimidar por um frágil rapaz como Lysander. Tinham que ter muito sangue para fazer o que faziam, sem sequer pensar que aquela era uma leal forma de prestar honras àqueles que um dia fizeram parte da vida daqueles que deixavam tais tributos ali.

Lys, ouvindo todas aquelas palavras dos bandidos, não fazia nada a não ser sorrir e continuar a descer os degraus, até alcançar o piso e continuar a se aproximar. Pancham encarava as silhuetas dos ladrões, ainda pensando se deveria se esconder ou finalmente mostrar sua cara e enfrentar a situação ao lado de seu parceiro, e após um momento de hesitação decidiu por esforçar-se e enfrentar a situação... Afinal, se Skorupi, um recém nascido, não parecia receoso de enfrentar a situação de frente, por que ele iria? Notando que Pancham havia se agarrado mais forte na alça de sua mochila e inclinado seu corpo para frente, Lys soube que o ursinho havia feito sua escolha... Mas, como procederia?

Lys caminhava sem peso ou dúvida alguma, seus pés se afundando na néblina que o acompanhava, um sorriso sarcástico ainda estava em sua face. Já havia visto o que sua cabeça quente havia causado em situações anteriores, que aquele que dá o primeiro passo no jogo, na maioria das vezes, acaba entregando seu jogo e desta forma, decidira não partir de imediato para a briga. Quando estava próximo o suficiente para que os ladrões notassem sua face, emitiu enfim. - Meu aviso já foi dado. - Pancham encarava os homens, tentando ao máximo forçar uma expressão séria em sua face, seus olhos estranhamente avermelhados. Skorupi, se aproximara sorrateiramente de seus pés. Esperava então alguma próxima reação dos bandidos.

Por um breve momento acreditou que aquele fosse seu final, que seria impactado pelas lápides e com isso jazeria alí mesmo, estirado ao chão, onde em breve, talvez, fosse enterrado como algum tipo de indigente ou sabe-se lá o que. Mas... Mas... Este não era seu momento. Não ainda. As lápides se quebravam misteriosamente antes de se chocarem com o rapaz, antes de causar sua precoce morte. Seja lá o que houvesse acontecido com àquelas pedras, Lys devia agradecimentos a seja lá quem o tenha feito. No entanto, Lys também não tinha muito tempo livre para pensar naquelas lápides. Os ladrões continuavam seu percurso rumo ao piso superior, exterior, daquele lugar, era o momento perfeito para atacar.

Lys olhava imediatamente para Marte, seu Honchkrow, e imediatamente disse, em um suave para que os homens não o escutasse. - Levante Skorupi. E então... Poison Sting e Dark Pulse, nos dois. - O pequeno escorpião encarou Lysander por um momento, agora finalmente receoso, mas após um breve sussurro de "Dará tudo bem" de Lys, este enfim acenou positivamente com sua cabeça. Desta forma, a ave fez com que seu corpo baixasse no ar, e procurando não ferir Skorupi, prendeu seu corpo em suas patas e o levantou ao ar, não era uma espécie muito pesada, então não teria problemas, uma vez que era capaz de voar com Lysander, que evidentemente era muito mais pesado.

No momento seguinte, enfiou a mão em seus bolsos, e dali retirou uma outra pokéball, uma peculiar esfera, que diferente das outras não era vermelha, sim azul, e ao apertar seu centro, liberou um rápido lampejo azulado, seguido por algumas faíscas da mesma cor, que ao final, em meio à poeira, revelaram o corpo de Sharpedo. - Aqua Jet! - Disse Lysander à sua parceira, aproveitando a distração de Honchkrow e Skorupi, apontando para as silhuetas dos homens à frente. Por um momento, Eris, liberou um olhar de repreensão à seu treinador, mas após alguma fração de instantes, decidiu por obedecer seu treinador, não antes sem ranger seus dentes e seu olhar faiscar. Desta forma, seu corpo logo começou a se envolver por um manto de água e estava prestes a disparar-se, com a sua própria velocidade combinada com a velocidade do movimento em si.

Lysander caía ao chão, com o corpo de Sharpedo sobre seu corpo, sua luva esfolada pelo contato que sofrera com o corpo áspero do tubarão, ao tentar abraçá-lo quando viera em sua direção, o mesmo valendo para a sua pesada jaqueta. Com um pouco de dificuldade, Lys conseguira tirar o corpo de Sharpedo de cima de si, deixando-a a seu lado, um olhar de raiva evidente na criatura azulada, mas, desta vez, não era direcionada à Lys, sim à silhueta. O mesmo aspecto sombrio que havia no olhar de Sharpedo era compartilhado por Lysander, que de imediato enfiou a mão em seu bolso e com a pokéball de Éris a retornou, com os seguintes dizeres. - Esta batalha não será sua Éris, peço desculpas.

Seu olhar então recaía, ou neste caso, se erguia, sobre a dupla que voava a poucos centímetro s de sua cabeça. Marte voava sem muita dificuldade sobre a neblina, Skorupi bem preso à sua pata, com sua cauda já apontada para o inimigo, e por um momento Lys se impressionava com a coragem do pequeno inseto. Após um breve aceno positivo para os dois, Lys então abaixou seu olhar, encarando a silhueta à distância. - Brigar? Não é necessariamente meu primeiro desejo. Quero apenas que saiam daqui e não voltem mais. Quero que deixem os mortos em paz e se para isso terei de brigar, o farei. - Seu olhar então mais uma vez se erguia para sua dupla que voava.

- Dark Pulse, Marte, quantas vezes conseguir. O mesmo vale para você, Skorupi, mire onde Honchkrow atacar, Poison Sting! - Bradava o rapaz. A névoa nunca atrapalhara Honchkrow, pelo contrário, sua visão, podia-se dizer, funcionava ainda mais em lugares como aquele, longe de toda claridade. Quanto a Skorupi, era apenas mirar no mesmo ponto de Honchkrow.

Campo: Cemitério coberto por um nevoeiro. Lápides inteiras e destruídas criam obstáculos e barreiras.