A reposta era não. O Pokémon não havia entendido a mensagem, ou se entendeu, parecia não querer leva-la em consideração, já que apesar de seus ganidos terem cessado, ele ainda forçava seu corpo para trás numa tentativa desesperada de conseguir encontrar, ou até mesmo criar, uma abertura pela qual pudesse sair.
Aquilo fez com que Zachary compreendesse que se o Pokémon estava disposto a enfrentar as condições opressoras que assolavam o lado de fora para não ter que continuar mais ali, o problema era claramente a sua presença. Ou talvez fossem ambos, a presença e o clima, mas pela proximidade, parecia julgar Zachary como o mais propenso à lhe fazer mal. Era de fato um Pokémon medroso.
O garoto logo se pôs a pensar em uma outra forma de resolver aquela situação e não demorou muito para chegar à uma conclusão, que parecia ser a única: um dos dois teria que sair.
Zachary saiba que não seria ele a deixar o lugar – não tinha condições físicas e nem psicológicas para aquilo – e por mais que fosse ficar, sabia também que jamais colocaria aquele Pokémon para fora, nem mesmo o próprio querendo isso. Precisava pensar mais, tentar acalmar Poochyena.
Fitou-o mais uma vez e rapidamente desviou o olhar. Não queria parecer ainda mais ameaçador à julgo do canino, que percebera estar realizando o mesmo movimento de retração, agora um pouco mais desesperado, já que parecia saber que a pressão que fazia no tronco era completamente em vão. Tremia, respirava falhamente e se os olhos fossem mesmo o espelho da alma como dizem, a alma daquele Poochyena com certeza estava sendo devorada pelo medo no momento.
A cena foi suficiente para fazer com que garoto mudasse de ideia. Ele sairia. Não era justo que o Pokémon sentisse todo aquele medo. Não por sua causa. Ele era um homem feito e por mais que achasse que não, conseguiria sim enfrentar aquele vendaval. Começou então a reunir coragem, queria sair de uma vez, da mesma forma que se deve puxar um band-aid que está colado há muito tempo. Quando saísse, pegaria seu violão rapidamente e em seguida correria para a próxima árvore. Era isso.
Estava prestes a mover seu corpo. Olhava para fora através do buraco da entrada afim de se ambientar mais uma vez com o clima, quando um suspiro repleto de cansaço e desanimo chamou sua atenção. O garoto olhou e suas gargalhadas tomaram conta do lugar.
Poochyena havia desistido, não forçava mais o corpo para trás, no entanto, não parecia ter se dado por vencido, já que agora fazia menção de ataque enquanto colocava as duas presas para fora. Aquilo seria um tanto quanto ameaçador se o Pokémon não estivesse tremendo mais que os arbustos que eram sacudidos pelo vento, mas como estava, a situação se tornara cômica.
Zachary tentava interromper o riso, porém ao vislumbrar o Pokémon mais uma vez percebera que além de tentar controlar o tremor, agora ele tentava controlar também a sem-graceza diante das gargalhadas, que eram o oposto do que esperava que o garoto fosse fazer, e isso fez com que o risada só aumentasse.
A última vez que vira algo tão engraçado relacionado há um Pokémon fora quando ele e seus ex-companheiros de banda flagraram seu Misdreavus “tocando” os instrumentos na garagem e como o Pokémon tentou esconder a vergonha numa cara de “eu sei que toco melhor que vocês, idiotas” quando descobriu que estava sendo assistido.
Aquela lembrança fez com que o garoto tivesse uma ideia. Alcançou uma das Pokébolas em seu bolso e pressionando-a, liberou seu Misdreavus, que ao sair observou com curiosidade o lugar e ao fitar seu dono, não escondeu a decepção ao ver que ele estava sem o chapéu na cabeça. O Pokémon parecia nutrir grande fixação por aquele utensílio.
— Misdreavus, eu preciso da sua ajuda...
A intenção era clara: talvez Misdreavus pudesse intermediar a conversa dele com Poochyena e assegurá-lo que nenhum mal lhe aconteceria. Será que dessa vez o canino cederia?