#1 - Route 110

De pés descalços o jovem rapaz pisava sobre os finos grãos de areia, que insistiam em se infiltrar entre seus dedos e suas unhas, algo que não exatamente o agradava, mas se estava ali, tinha de aproveitar a situação ao máximo, e quanto a isto, o rapaz sem dúvida o faria, afinal, sempre tivera uma grande fascinação pelo mar. Seus pés iam deixando marcas de pegadas sobre a areia seca, afastando seu corpo da cidade e seguindo cada vez mais ao norte, mas seus passos eram suaves e tranquilos, afinal, não tinha objetivos, não por hora, seu objetivo era simplesmente manter sua cabeça, seus pensamentos, no lugar, e o mar era o lugar perfeito.

- Cham! - Disparara uma pequena criaturazinha presa à alça de sua pasta presa lateralmente a seu corpo. Era Pancham, onde costumeiramente viajava. Seus bracinhos levantavam-se ao céu, como na tentativa de agarrar o sol que brilhava sobre suas cabeças, naquele belo céu azulado. Lysander sorrira ao monstrinho, esticara sua braço à frente, a manga de sua camisa dobrada, e logo o ursinho escalara a alça da pasta e saltara de seu ombro direto ao chão.

- Cá estamos novamente, pequeno... Era aqui onde você vivia... Lembra? - As mãos do rapaz, agora, pareciam tranquilas e imóveis dentro dos bolsos de sua bermuda, mas havia certa estranheza em sua voz, e o pequeno o percebia, mas sabia disfarçar, então simplesmente assentira e decidira que não caminharia pela areia, mas sim saltaria, daria cambalhotas, e outras coisas do gênero. Lys, por sua vez, mantinha seus olhos finos nas ondas que iam e vinham pelo mar, em seus olhos, grande satisfação.

Era uma garota e sua Aipom... Afinal, não era nada de mais, não era nada que, aparentemente, as estivessem colocando em perigo. Na verdade, era um tanto decepcionante, mas bem, fora a escolha do rapaz chegar até ali, e agora o tinha feito, não restava nada a não ser continuar por alguns momentos, fora que, para alguém que pretendia apenas tranquilizar-se, era uma grande sorte a situação não ser tão complexa como esperava. Seus olhos desviaram-se para a figura do macaco, pendurado na árvore, com a mochila de sua parceira em suas "mãos", e então retornara para a figura da garota, seus passos o levando cada vez mais próximo da garota.

- Sabe... Não sei o que tem ocorrido aqui, mas, se Aipom lhe causa tanta vergonha, por que não o libera então? Isto é, devo deduzir que ele é seu, certo? - Havia grande simplicidade em sua voz, como se aquilo fosse algo normal, não havendo qualquer resquício de raiva, e a cada palavra, aproximava-se ainda mais da garota, suas mãos ainda no interior de seus bolsos e Pancham a seu lado, desviando olhares de Aipom para a garota. - Não é certo, sabia? Aipom tem sua personalidade, e censurá-lo com gritos histéricos desta forma não a levará a lugar algum, a nenhum dos dois.

Seus pés paravam a centímetros da garota e então virara seu corpo, na direção de Aipom. - Mas talvez, um pouco de controle de sua parte também ajudaria, não é? - Disparava o rapaz ao macaco. E após tais palavras, o rapaz virou-se mais uma vez para a garota. - Se os dois não forem capazes de se respeitarem, sugiro que nem continuem juntos. Agora... Vamos, pequeno. - Emitira a frase final a Pancham e então girara seus calcanhares, como se fizesse menção a retornar ao ponto em que estavam antes de ouvir o grito da garota.

A cara de Pancham era cômica, e suas feições até mesmo fizeram com que um sorriso surgisse na face de seu treinador. Boquiaberto, de olhos arregalados e rosto surpreendentemente vermelho, o ursinho ficara certamente mais constrangido que a macaquinha. Tornara-se uma estátua, uma divertida e fofa estátua de um ursinho em desespero. No entanto, a expressão do jovem treinador também logo se alterara, pois assim como Aipom, que se aproximara de Pancham, a garota também se aproximara de Lys, lhe fazendo uma série de pergunta e lhe tocando.

- Err... - Resmungou o rapaz, enquanto seus olhos se reviravam ao ambiente a seu redor. Contato físico nunca fora pelo rapaz apreciado, ou talvez, justamente por que fora raro quando em sua infância que não se sentia bem com tal contato, e isto fazia com que, discretamente tentava afastar-se da garota, mesmo que sem muito resultado, afinal, não queria magoá-la, logo, não lhe restara muitas alternativas, a não ser caminhar por um tempo com a garota. Pancham, movia-se como um perfeito robô, seus músculos rígidos como pedra, feito um soldadinho de chumbo.

- Bem... Meu nome é Lysander. Lysander Lestrange. - Dissera o rapaz, seus passos mais uma vez tocando os grãos de areia. Seu tom de voz era um tanto arrastado e cansado, e de vez em quando, lançava olhares à Pancham, que continuava a marchar. - Sou das Ilhas Laranja, e estou aqui para... Bem, é complicado. Basicamente, para me livrar de alguns pensamentos. - No horizonte, o rapaz começava a ver duas silhuetas a se aproximar, e então, um tanto temeroso de que, seja lá quem fosse, o visse com uma garota agarrada a seu braço, fez mais uma tentativa de afastá-la.