Fiery Feathers

Starly lacerava os céus e desmantelava as muralhas de vento que se impunham defronte seu firme encaro. Após tanta prática, era mais que evidente que mesmo mal tendo nascido já seria versado na arte do voo. A cada minuto que se passava enquanto a pequena ave cruzava o azul celeste sobre minha cabeça, um aviso lhe era dirigido para que não voasse para muito longe. Por sorte, parecia entender melhor que Lairon ou Skrelp as minhas ideias e preocupações.

Respingos da luz efêmera do sol resvalavam por minha pele e da de meus companheiros Pokémon, projetando sombras diáfanas na calçada paralela à uma das ruas de Heahea. O dançar do espelho de nossas silhuetas no chão formava poses excêntricas e cômicas que Riolu em especial gostava de assistir.

Já havia se passado algum tempo desde a minha saída do Pink Park, onde orgulhosamente capturei o meu primeiro Pokémon de Alola. Mudbray, o burrico, mantinha-se afastado, provavelmente se sentindo obrigado a me acompanhar. Lairon, sempre ao meu lado, parecia refletir ainda mais intensamente do que antes; sua evolução realmente afetou seu psicológico. Riolu, saltitando e deferindo golpes em pleno ar, não era capaz de segurar seu espírito de luta e entusiasmo em explorar aquela nova região. Nuzleaf relaxando no depósito após ser mandado para mim num evento de amigo secreto tinha a vaga no time ocupada pelo ovo de Magby que há muito guardava em minha mochila. Já Skrelp... bem, não gostaria de ver o que aconteceria se eu o liberasse no meio da rua.

Senti um súbito tremor em minhas costas. Logo, olhando para trás, proferi:

-Já cansou, Starly? Sabe que meu ombro não é um bom lugar para descan... – não terminei. Não porque me rendi à vontade de meu companheiro em ficar sentado sobre minha espádua ao invés de tira-lo de lá para não ter dores musculares, mas sim porque não se tratava da pequena ave castanha, que por sua vez ainda sobrevoava nossas cabeças. O tremor vinha de dentro de algum compartimento.

Repousei minha mochila sobre a calçada, abrindo zíperes um a um até que enfim cheguei no mais óbvio: o compartimento que dava acesso ao ovo de Magby. Ele era sem dúvidas o causador do meu susto. Rachaduras em toda a sua superfície e tremia sem parar... meu tão esperado Magby estava para nascer. Não pude deixar de conter um sorriso que tomou para si o meu semblante. E foi num piscar, realmente, que o ovo se abriu. O pequenino não parecia estar muito feliz em ficar preso para se livrar de lá com uma voadora que lançou seu corpo alguns metros longe de mim. Voltou seu olhar para nós, seus mais novos companheiros, e lançou uma expressão de raiva.

-Parece que você realmente é do tipo porradeiro, não é? Sou Roderick e estes são Lairon, Riolu, Mudbray e Starly, lá em cima. – disse, apontando para cada um. -A partir de hoje, sou seu treinador. Venha comigo e te garantirei muitos oponentes para lutar! – afirmei, estendendo o meu punho para Magby, que retribuiu o comprimento com uma ligeira risada em sua face determinada.

Antes que pudéssemos perceber, éramos uma equipe completa nas ruas de uma cidade desconhecida, pronta para ser desbravada.

Para quem achava que bebês Pokémon seriam alegres e carinhosos, aquilo foi chocante. Magby não era como Riolu ou Starly, que se sentiram curiosos e felizes logo em seus primeiros momentos de vida. Não, ele ou ela era de alguma forma muito diferente dos dois. As marcas da mordida que a mim ele(a) dirigiu eram prova disso. Rapidamente refletindo, cogitei que sua personalidade briguenta e ranzinza pudesse ser uma característica originária de seus pais biológicos, já que não cheguei a os conhecer.

-Quando disse que garantiria muitos oponentes para lutar e liberar sua vontade, não contei comigo, sabe? – disse, visando relaxar o pavor que meus outros companheiros tiveram em reação ao Magby.

Não pensei duas vezes em apontar a câmera de minha Pokédex a meu mais novo Pokémon. As informações recebidas possuíam seu valor, como ao dizer que é possível medir sua saúde com base no fogo que ele expira, mas nada mencionavam um aspecto psicológico como o apresentado pelo meu.

Como um breve momento de preocupação, aproveitei para ver se Magby tinha nascido com saúde me baseando em seu registro da Pokédex; se o fogo que sai de sua boca fosse amarelo, estava bem, mas se fumaça preta fosse vista junto às chamas, estava de algum jeito debilitado. Bom, por mais que eu tentasse observá-lo, ele parecia evitar olhares e voltava sua atenção aos seus arredores, como se ignorasse minha presença.

-...Se ficarmos apenas parados a nossa jornada nunca vai continuar. Vamos, pessoal, temos uma cidade para explorar. – disse, começando a caminhar pelas calçadas da rua de Heahea que dava acesso ao Centro Pokémon de onde havia saído há algum tempo e me mantido por perto. -Vamos, venha Magby...

Bastaram-se poucos minutos para que nossa caminhada fosse interrompida. Não de uma forma negativa, porém de alguma forma curiosa. Aparentemente a visão que as pessoas possuíam da junção de nossa equipe pelas ruas da cidade era fantástica. Tal hipótese se evidenciou transparente durante a abordagem de um fotógrafo para comigo, pedindo para tirar fotos nossas. Logo relembrei-me que era uma região inteiramente nova e que meus Pokémon pudessem ser incrivelmente raros por ali.

-Não quero fazer deste dia muito longo... Vai demorar muito? – perguntei, por um breve momento deixando escapar os meus pensamentos. -Quer dizer, deixo, sim, mas seja breve, por favor... Façam poses e tudo mais, galera.

Após uma sessão de fotos que buscava incorporar as melhores características individuais de cada um de meus companheiros, o fotógrafo seguiu a conversa com palavras inspiradas que refletiam seu sonho e aspiração.

-Um sonho desses é algo bem nobre, sabia... com tantas fotos, imagens e obras diferentes que retratam os Pokémon e suas maravilhas, tem que se ter coragem para seguir a vida dessa forma e esperar fama e glória. - disse, dando minha opinião sobre o futuro que o homem almejava. -Talvez você consiga, talvez não, quem sabe? Mas se você realmente quer conseguir, terá que tentar e sentir na pele os obstáculos do seu caminho. - repetia o que ouvi de um vídeo motivacional para malhar. -Então, que tal você tentar ainda mais, agora? Me acompanha um pouco, cara, porque do tanto de coisa que já aconteceu na minha jornada e olha que ela acabou de começar, acho que você vai conseguir ver algumas coisas bacanas pro seu álbum, nunca se sabe.

Mal ele sabia que pretendia usá-lo para me resgatar se acontecesse alguma treta maligna e intensa.

Evitando ao máximo o contato visual com o fotógrafo para que ele não abrisse a boca para me contar sobre espécies de Pokémon que ele gostaria de fotografar, logo nos deparamos com uma situação um tanto interessante. Ao que eu podia notar, muito provavelmente algo digno de apostas estava ocorrendo ali perto de nós. Não tardei em forçar minha entrada no círculo, erguendo uma nota de 1PK$ com minha mão enquanto dizia:

-Eu aposto no que tem vantagem!!!

Por que 1PK$? Para prevenir que eu não me ferre. Se eu ganhar? Bem, pode ser que eu lucre com o dobro, não é mesmo? Apesar de parecer melhor sem mencionar de fato o valor...