[#002] Route 110 - Treinamentos e Preparações

Slateport estava tornando-se entediante. Claro, eu moro aqui desde o incidente em Johto. Entretanto, com o início de jornada recente, eu estava cada vez mais animado para me jogar no mundo, mas... Sair em jornada parecia muito mais fácil na teoria, agora na prática... Era uma ideia tão assustadora, eu estava realmente pronto? Os únicos que me davam certeza disso naquele momento eram Fokko e Sneasel. Mas desde quando eu chamo Braixen de "Fokko"?

Até mais, Slateport.
Pouco depois de ter conhecido uma amiga, Mei. Comecei a andar em círculos no meu quarto dentro do Centro Pokémon. Eu estava em uma dúvida interior, deveria optar por ir logo para o próximo local (sendo ele a Rota 110/Rota 105) ou ir até minha casa e me despedir (mais uma vez) para a casa de meus pais. Sneasel parecia pouco importar-se com o que eu escolheria, ficava apenas olhando para o horizonte, ele definitivamente amou o porto, talvez tivesse alguma razão mais profunda, mas estava tão distraído com meus próprios pensamentos que nem notei que ele pensava em algo. Braixen parecia um pouco desanimado, era a primeira vez que eu via ele dessa maneira, tratei de perguntar-lhe o que acontecera e antes mesmo de terminar a frase fui respondido com o olhar pidonho do pokémon, minha mente associou tudo à Mei e sua Vulpix, principalmente a criatura de fogo que criou um laço com a raposa. Aproximei-me dele e olhei-o em seus olhos castanhos, pensei em como animá-lo e me veio a ideia de dar-lhe um apelido, talvez se fosse algo engraçado ele pudesse ao menos rir.
—Eu sempre quis dar um apelido para pokémons, todos os meus amigos faziam isso lá em Olivine. Eu até daria um nome pro Sneasel,
mas além dele provavelmente recusar, ele era um pokémon do meu pai, então não sinto que tenho direito de chamá-lo de outro jeito. O que acha Sneasel? —Fui olhado de um jeito frio, ele me encarou e olho para o alto, voltando a ignorar-me. Braixen, por sua vez, deu um pequeno sorriso e concordou.
—Que tal, Fogo? —Ele pensou um pouco e chacoalhou a cabeça. —Queimado? —Rejeitou quase de imediato e partiu a olhar pra TV. Passava um programa que eu assistia quando mais novo. Era uma espécie de documentário para crianças onde se falava sobre espécies de pokémons e coisas que ensinavam na escola. E em um deles aparecia a espécie (até então desconhecida em Johto) de Fennekin. Onde a menina pensa que o nome da criatura era "Fokko". Ta aí, um bom nome.
—Pode ser Fokko. O que acha? —Em um sorriso ele concorda com a opção e solta pequenas brasas pelo seu focinho. Dei um pequeno sorriso retribuindo. Querendo interagir com Sneasel, comecei a aproximar-me dele.
—O que acha, devemos ir pra casa antes de sairmos pra próxima rota? —Ele voltou sua atenção para mim por alguns segundos e negou com a cabeça. Não voltar para casa? Me perguntei o por que mentalmente, mas cheguei a conclusão de que talvez voltar agora já seria uma "desistência".
Foi a partir deste momento que eu comecei a pensar sobre em qual rota eu iria. Pesquisei um pouco sobre as rotas próximas, eram a Rota 105 ou a Rota 110. Nenhuma delas me chamou tanta atenção levando em conta os pokémons oferecidos, mas já era de bom tamanho se conseguisse treinar e ter finalmente minha Karpa. (Nome da minha futura Magikarp).
Como eu temia, a ideia de sair em jornada poderia ser assustadora, Braixen me acompanhava fielmente, Sneasel quase nem se importava com nossa presença. Conversei com a enfermeira para poder liberar o quarto onde estava. Não demorou muito e já me via livre para ir para qual lado eu quisesse.
Meus critérios de escolha foram: Basicamente não existiu critério. Só dei uma olhada na diversidade de pokémons e optei pela Rota 110.
Começamos a seguir rumo a saída da cidade. Cada passo me dava um aperto no coração, deixar meu lar? Me sentia do mesmo jeito quando me despedi de Johto. Era tão triste deixar meus pais. Mas já não era hora de voltar atrás.
Pisei fora da rota e fui parado no mesmo instante. Era uma conhecida.
—Onde pensa que vai mocinho? —Era a policial que havia conhecido no dia em que comecei minha jornada.
—Você sabe das regras. Mostre a licença e está liberado. —Suspirei e mostrei a Pokédex.
Dadas as informações necessárias ela tornou a conversar comigo:
—Mais uma vez lhe dizendo: Boa sorte. Quando você voltar para Slateport me procure. Vai ser um prazer conversar contigo novamente.
Adeus, jovem! —Disse, enquanto andava para em direção a sua moto.
Passados alguns metros do local onde a abordagem acontecera. Parei para olhar a Pokédex. Procurando mais uma vez, os pokémons que poderia encontrar no local. Braixen observava o objeto atentamente junto a mim. A doninha-ninja corria por entre as árvores. Pouca coisa podia acontecer nestes primeiros momentos de rota, então simplesmente continuei andando. Até deparar-me com uma enorme quantidade de grama. Parecia que no momento em que eu pisasse nelas um pokémon viria correndo para batalhar. Evitei isso de começo, passando pelo lado de fora, mas seria inevitável mais a frente. Bom... Que começasse a diversão.

O começo da caminhada estava bom até o momento. Não acho que aconteceria nada de mais logo ao entrar no gramado. Mas preferi esquivar-me de obstáculos por hora. O mar ao leste mostrava-se interessante para pescar. Assim como as árvores típicas apresentavam uma boa variedade de tipos e pokémons. Só cabia a eu escolher o que fazer de imediato. Não era hora de forçar o tipo fogo a batalhar, isto estava certo em minha cabeça. A batalha em Slateport foi algo muito surpreendente para a criatura, ainda mais seguida de um empate e despedida de novas amizades. De fato, deveria deixá-lo um pouco de lado. Ao menos por hora.
Sneasel mostrava-se contente com o clima da rota. Mesmo que não fosse o seu favorito. Alguns ninhos entre os troncos poderiam sentir-se ameaçados com sua presença. E criar confusão agora não seria muito inteligente. Respeitar a vida selvagem do local parecia uma boa tática pra mim ao iniciar a passagem por uma área tão diferente da cidade.
—Sneasel. Vem cá! —Chamei o felino com a expectativa de ser respeitado de imediato.
E parece que tudo estava ocorrendo bem entre nós. Ele aproximou-se pouco depois do pedido que eu havia feito e despertou sua curiosidade.
—A gente bem que podia dar uma treinadinha, hein? Digo. A última diversão foi do Fokko. Que tal você poder mostrar o quão forte é? —Sneasel sempre mostrou querer ser forte e mais esperto que os demais pokémons. Aumentar esse ego era uma boa estratégia para conquistá-lo.
A doninha arrumou a faixa em sua cabeça, como de costume, e partiu em direção ao gramado alto que havia em frente. Quase desaparecia em meio a grama. Entreguei a mochila para a raposa. Que sentou-se em uma pedra e guardou a bolsa ao seu lado, mesmo que tentado em comer o lanche que havia trazido do Centro Pokémon.
Correr atrás de Sneasel não era nada fácil. Sua velocidade era muito maior que a minha e seu entusiasmo mostrava-se gigantesco. Partia as gramas com suas garras enquanto corria por entre a mata, entretanto a área com grama dividia-se em muitas pela rota inteira. Talvez não fosse fácil encontrar algo já em seu início, o que frustava o pokémon. Fazendo-o dar meia volta e passar por mim antes mesmo que eu tivesse reação de impedi-lo.
—Sneasel? O que aconteceu? Já desistiu?! —Fui recebido com um olhar frio como uma pedra de gelo. —Vamos lá. Vamos ao menos treinar uma coisinha ou outra? —O pokémon ignorou-me no mesmo instante e voltou a ir próximo a mochila, a fim de pegar comida na mochila.
—Pode ir parando aí! —Peguei o sanduíche e a mochila. —Qualé. A gente acabou de chegar. Você comeu duas vezes antes de sair! —Mais uma vez fui atacado com seu olhar ameaçador.
—Vai lá. Faz cara feia. Não vai comer e ponto. —A criatura sentou-se no chão com os braços cruzados.
Fokko sentia-se constrangido em meio a toda aquele clima. E com o intuito de animar as coisas começou a fazer algumas caretas e puxava seu "cabelo" pra baixo. Tornando-se algo totalmente diferente de sua espécie. Arrancar sorrisos meus não era tarefa difícil, já do outro...
Ele escondia seu rosto com a faixa azul. A princípio achei que estivesse rindo mas sem querer mostrar para os demais. Então puxei a faixa para ver seu rosto, mas...
—Mas o que é isso?! —Ele estava comendo um pedaço de sanduíche. Quão astuto esse bicho é?
Olhei para ele tentando copiar seu olhar ameaçador. Mas pouco consegui concentrar-me com Braixen a meu lado, começando a rir novamente e arrancando alguns sorrisos de Sneasel.
Pouco tempo passou-se e nos encontrávamos caçando alguns pokémons nos matinhos. Braixen olhava para os corais. A criatura de cativeiro tinha seus olhos a brilhar novamente. Era tão lindo ver sua reação e a cor dos corais. Alguns até tinham pokémons escondidos atrás. E estava nisso a oportunidade de capturar minha carpa. Mesmo que por alguns instantes eu perdera o interesse em adicioná-la ao time, mas de qualquer maneira, seria bom para treinar e melhorar minhas habilidades de pesca que estavam meio ruins no barco que tomei conta recentemente.
Olhei em volta para pegar minha vara de pesca e chamar Sneasel, entretanto ele não estava presente no local. Onde ele podia ter se metido?
Parti em busca dele e rapidamente olhei na mochila para ver se não haviam sumido os sanduíches. Por sorte estavam todos ali, mas o pokémon em sí havia realmente desaparecido. Estava começando a desesperar-me, gritando seu nome junto a Fokko. Para nossa surpresa. Algumas sementes caiam em nossas cabeças. Ao olhar para cima. Quem estava ali? Sneasel. Parecia rir do nosso desespero e preocupação, enquanto comia alguma coisa que dava em algumas árvores e até alguns arbustos. Eram roxas. Não me preocupei muito em relação a isso, já que o pokémon era selvagem de natureza e sabia cuidar-se muito bem. Tornei a falar com ele:
—E, aí? Prefere pescar ou caçar uma boa batalha? —Em questão de milésimos ele pulou no chão e começou a olhar para todas as direções. Seguindo ao centro do local, chamado de Pradaria, pela pokédex.
Simplesmente segui-o novamente, desta vez acompanhado de Fokko que vinha pulando e maravilhado com o céu. Não podíamos nos desviar muito da trilha. Talvez fossemos atacados por bandos de pokémon e isso era o que eu menos queria por hora. Mas treinar era o foco.

A "estrada" estava deserta a muito tempo. Quase não se via pokémons, exceto alguns que passavam voando acima de nós. Era bom caminhar sozinho com meus pokémons por aí, tínhamos uma liberdade enorme para fazer o que quissemos, mas sem um desafiante era basicamente ridículo golpear algumas árvores sem nenhum motivo ou objetivo.
Pouca coisa acontecia e eu já estava me arrependendo de ter escolhido a rota 110. Nas informações da pokédex mostrava ter uma boa variedade de pokémons no local, algo que me fazia brilhar os olhos. Infelizmente, na prática não era tão mágico assim. Nenhum ar de vida nos arbustos, ou em árvores. Quem sabe as criaturas sejam tímidas? Ou assustadas... Talvez eles tivessem migrado? Não que eu ache que eles realmente fariam isso, entretanto nunca se sabe...
Alguns barulhos em moitas chamavam a atenção de Sneasel que em instantes partia para uma briga, decepcionando-se logo em seguida ao ver que não era nada demais.
Seguimos andando sendo direcionados pelos registros da Pokédex, com intenção de chegar até a próxima cidade. Maulville eu acredito, nunca lembro do nome de outras cidades senão a minha. E em meio a caminhada, de longe era possível enxergar um tronco bem no centro da via principal. Minha maior curiosidade era saber como aquilo havia parado ali, talvez uma tempestade ou vento forte, quem sabe uma batalha pokémon que ocorreu anteriormente no local? Aproximei-me com calma, não tinha muito o que fazer com aquilo senão ignorá-lo ou retirá-lo do caminho, e fazer esforço para tal ato não era algo que estava em minha lista de afazeres do dia, definitivamente. Entretanto, ao chegar mais perto percebo uma figura escondida por entre um pedaço de madeira. Era algo escuro, eu chutaria um preto, ou até mesmo marrom, Sneasel pouco importou-se de saber o que era e pôs-se a correr em sua direção, ato incrivelmente burro e precipitado por sinal, fiquei surpreso em ter presenciado isto vindo de um selvagem tão astuto e não de uma raposa curiosa que pouco sabe da vida selvagem.
Fokko olhou para mim com olhar de preocupado, e de fato, se fosse uma criatura forte poderia machucar a doninha. Comecei a correr atrás do pokémon, seguido pelo tipo fogo que vinha desesperado.  "O que raios é aquilo? Um pokémon?" Eu torcia para que sim. Mas se fosse forte demais, bem... Correr é sempre uma opção.

Aquilo era de fato um pokémon, a pokédex me dava a solução de meu problema, mas de que tipo e qual era este pokémon?
Poucos segundos após me perguntar, a caixa de dados me afirmava que era um "Swalot". Eu nunca havia visto um destes antes, era um pokémon que eu nunca havia pensando em capturar, mas aquilo pouco importava no momento, a criatura estava desacordado, sem nem pensar duas vezes fui pegá-lo para averiguar o que acontecera, mas fui interceptado pela doninha que rapidamente apontou para a pokédex, a mesma que informara que este era um tipo venenoso, ou seja, pode ser que tocar nele enquanto desacordado fizesse com que um ataque perigoso fosse direcionado a mim, e isso era tudo que eu não queria.
Fiquei alguns segundos olhando para a criatura que parecia nem raciocinar, eu talvez pudesse ter algo em minha mochila que o ajuda-se, mas eu tinha más lembranças com este tipo de experiência, outrora fora atacado por um pássaro em Slateport, e meu dedo ainda não estava cem por cento. Mas deixar o pokémon desmaiado era desumano, eu poderia muito me arrepender disso, mas meu bom lado falava mais alto nessa hora. Sneasel mostrou-se desinteressado pela falta de chance de batalhar, então afastou-se deixando-me por própria conta e risco, Fokko permaneceu ao meu lado, com um pouco de receio, entretanto mostrou-se curioso e aproximou-se com cautela., pronto para ver minha próxima ação.
Peguei um graveto e encostei no pokémon, esperei por uma reação dele, meu próximo passo era colocá-lo em um pokébola e levá-lo ao Centro Pokémon, mesmo que ele não gostasse da ideia, seria um sacrifício para seu próprio bem...

A bola roxa parecia extremamente desesperado por ajuda, grunhindo cada vez mais alto até não se aguentar mais. Eu ainda estava um pouco receoso por conta do veneno, mas não havia mais condição de esperar, peguei em um dos lados do tronco, enquanto Fokko pegava do lado contrário e fazíamos força, o tronco parecia mover-se, mas não que fosse o suficiente para tirarmos a criatura debaixo dele, pensei em pedir ajuda a Sneasel, mas não faria muita diferença, dificilmente nós três conseguiríamos mover aquele tronco, e podíamos piorar a situação para Swalot se fizéssemos um movimento brusco se quer.
Peguei uma pokébola em minhas mãos, talvez puxar o pokémon para dentro dela e depois soltá-lo em uma distância segura? Poderia funcionar, mas talvez não fosse do agrado da criatura, podia tentar alguma outra coisa como...
—Quem sabe se colocássemos algo para fazer uma espécie de alavanca?... Sneasel? —O pokémon olhou, parecia continuar sem interesse, mas correu até uma árvore e começou a pular sobre um galho, o qual partiu-se e parecia perfeito para realizar o procedimento esperado.
Colocamos o galho ao lado de Swalot e arrastamos uma pedra para perto, e foi aí que começamos a empurrar a ponta da madeira contra a pedra, na esperança de mover o pedaço de árvore, infelizmente pouco moveu-se. Já estava ficando desiludido, prestes a colocar  o roxão dentro da pokébola. Mas foi aí que me lembrei da habilidade de Sneasel:
—Podemos tentar congelar um pedaço do tronco, e aí partimos ele. Parece loucura, mas pode dar certo, o que acham?! —Disse, entusiasmado. Então Fokko pareceu um pouco receoso, Sneasel pareceu gostar da ideia, Swalot estava cansado demais para opinar, seus olhos estavam "vesgos", parecia não estar mais raciocinando. —Vamos nessa!
Sneasel começou a soprar em cima do tronco, em questão de segundos um vento frio começou a transformar-se em neve, a esperança era que aquilo congelasse o tronco e assim que o fizesse, Sneasel utilizaria seu golpe "Feint Attack". Contávamos com a sorte, pois as ideias estavam acabando, e força-lo a entrar numa pokédex parecia audacioso demais...