003.5 - Companhia Inesperada: Um Novo Norte!

Nessa rodada as coisas acabaram saindo mais ou menos como eu esperava, com exceção da paralisia de Buddy. Eu podia jurar que Franklin era do tipo mais ofensivo, que pouco se importava para alterações de status como essa. Mas talvez eu tenha conseguido poupar Mey de seguir o mesmo caminho, já que ela era a que mais precisava entrar em contato com o adversário. Com a paralisia de Buddy, não poderia me dar ao luxo de perder qualquer turno com aumentos ou diminuições de atributos e deveria focar na ofensiva, até porque não sei até quando Mey iria aguentar tanto dano seguido assim. Possivelmente não muito... De qualquer modo, não tinha muito tempo para pensar e precisava agir o mais rápido possível.

— Vocês estão bem? Buddy, aguente firme, essa paralisia é incômoda, mas estou confiante! Ande até o meio da arena e assuma a frente, tente proteger Mey dos choques! — Ordenei para Buddy, após elogiar o seu desempenho até aqui — Mey, não pare quieta em nenhum momento, tente acertar Raichu pelas costas, apesar dele ser rápido e quando ele for te atacar, tente esconder-se atrás de Buddy. Quando tiver a oportunidade, use um duplo Fury Swipes com força total! — Comentei com Mey sobre como deveria ser feita sua movimentação e com que golpe atacar — Buddy, continue tentando proteger sua companheira e use um duplo Mega Drain para se recuperar e também derrubar ele!— Comandei Buddy para esta rodada, torcendo para que as decisões fossem as melhores possíveis. Ficaria de olho o tempo todo e se Mey fosse golpeada e parecesse muito ferida, gastaria uma de suas ações para usar uma Poção nela.

Aí estava a brutalidade que esperava de um egoísta como Franklin Taillfeller. Ele havia ordenado que seu Raichu bombardeasse Mey com seus choques elétricos, fazendo questão de lembrar que iria empalhar minha Pokémon ao falar sobre sua pelagem macia. Isso havia sido a gota d'água para mim, o que me fez trincar os dentes e cerrar os punhos. Minha vontade era de socar aquele rosto macio e gordo, mas me controlei pelo bem de todos e continuei focado no combate. Eu estava contando com Buddy para salvar a pele de Mey pelo menos uma vez, pois tinha quase certeza de que ela não aguentaria dois golpes Thunder Bolt seguidos, mas precisava manter minha esperança de que tudo terminaria bem. O primeiro golpe acertou em cheio a Meowth, deixando-a em um estado terrível, jogada no campo de batalha, com dificuldades até mesmo para se levantar. Enquanto isso, Budew parecia grudado ao chão, completamente paralisado! Isso indicava que seria o nosso fim, nada estava saindo como deveria...

— Mey aguente firme! Buddy! Precisamos de você amigão! Precisamos! — Gritei completamente carregado de emoção, com os olhos cheios de lágrimas, pois sabia que um erro nos deixaria  completamente perdidos. A vida de meus amigos corria perigoso e dependia de mim, inteiramente de mim e dessa vitória. Mey ergue-se com muita dificuldade e correu na direção de Raichu, dando dois arranhões superficiais que nem pareciam ter sido sentidos. A felina ainda tentou voltar correndo para perto de Budew, mas não tinha forças para acrobacias ou esquivas. Por outro lado, o rato elétrico tinha energia para dar e vender e já preparava um grande choque na direção da Meowth, quando Buddy entrou na frente e recebeu toda a descarga diretamente em seu corpo minúsculo! Seria o fim de meu querido companheiro? Foi como se um flash de todos nossos momentos até aqui tivessem passado pelos meus olhos e eu só pude gritar por ele

—  BUDDY! NÃÃÃÃÃÂO! — E nesse instante toda a minha visão havia sido ofuscada pelo clarão. Um clarão estranho, que não era tão amarelado como o dos golpes elétricos normais. Era prateado, uma cor que eu jamais havia visto brilhar com tanta intensidade na minha frente. Aquilo não era eletricidade! Era... Era... Evolução? Estaria Budew finalmente evoluindo? Aos poucos, das luzes foram surgindo pétalas que se firmaram em rosas, dois botões se abriram, cada um de uma cor e no meio deles, um Roselia brilhava em seu esplendor! —  Amigão! Você evoluiu! Vamos mostrar a eles agora a nossa dança! Use dois Mega Drain nesse Raichu! — Ordenava para o recém-evoluído Pokémon, virando-me para Mey em seguida, pegando uma poção e curando a Meowth —  Mey! Continue com seu Fury Swipes e vamos derrubar esse rato de uma vez por todas! — Comandei para a felina curada, esperando que executassem com perfeição os seus movimentos.

Quando Roselia, ou melhor, Budew evoluiu em Roselia, algo que nem mesmo eu podia esperar, o Tailfeller ficou completamente sem ação e não conseguia sequer dar um comando para seu Raichu. Ele não gostava de pensar e nesse instante certamente preferiria que o Pokémon elétrico pensasse e lutasse por ele, trazendo apenas a vitória no final, o mais fácil e simples possível. Nada absurdo para uma pessoa tão mimada como ele... Sem comandos, Raichu ainda tentou levar a luta nas costas, focando todos seus movimentos em Meowth, que certamente era o elo mais fraco desse combate. Contudo, nem os dois Thunder Bolt lançados foram capaz de parar a força de vontade e o trabalho em conjunto da equipe de Luch, que partiu para cima do rato elétrico e uniu seus poderes para enfim, detoná-lo e levá-lo ao chão. O peso de Raichu tombando na madeira de demolição bem conservada do quarto era o mesmo peso sentido no coração de Franklin, que também desabou no chão, mas a chorar!

— Eu não acredito... — Comentei baixinho enquanto observava o rapaz, tão enorme e tão infantilizado e mimado se contorcendo, chorando e gritando. Aproxime-me de Roselia e fiz um carinho no Pokémon, abaixando-me para pegar uma Meo-Mey quase nocauteada em meus braços, com muito carinho. Em seguida observei Ben e depois, Franklin, me aproximando dele para ouvir suas súplicas encatarradas. —  Hmm.. Seu Raichu lutou bem, você tem certo jeito para isso se colocar seu coração na batalha e nos seus amigos, não apenas empalhá-los... E sobre sua pergunta: NÃO! Não retiro o que eu pedi, porque EU venci e não você. E agora você deve ME obedecer. Soa estranho para você? — Comentei, alisando os pelos macios da felina, enquanto observava aquela ceninha e era acompanhado por Buddy. Nesse momento, Luci e Yuri finalmente entenderam que poderiam se aproximar e correram até mim, abraçando minhas pernas e olhando também o estado do taxidermista.

— Acho que ficou bem claro desde o início. NUNCA MAIS empalhar Pokémon... Deixar todos os insetos em paz e... Meu Venipede, por favor... — Disse encarando principalmente Benjamin, com uma expressão bem séria. Eu tinha certeza que ele havia feito tudo pensando na minha vitória, mas ao mesmo tempo me sentia traído e queria que ele se explicasse melhor para mim, olhando para os meus olhos e se finalmente eu visse uma veracidade em seu olhar e não apenas passividade em relação ao seu irmão, deixaria que ele ficasse com seu companheiro Venipede. Caso contrário, qualquer sinal de que ele acabaria permitindo a Franklin colocar as mãos no inseto, eu ficaria com o Pokémon — Tem muito o que dizer Ben... Entendo sua estratégia aqui, mas... Acho que tem muito o que me falar, não acha? — Questionei o rapaz, ignorando o seu irmão mimado no assoalho.

Depois que fui até o jovem Franklin dizer algumas verdades entaladas, parece que o Tailfeller só chorava e gritava ainda mais em desespero. Eu já não sabia o que fazer, quando Benjamin finalmente agiu como deveria, sacudindo Franklin e estapeando-o para que entrasse de volta no "Mundo Real". Todos, inclusive as crianças, ficamos estatalados, observando a cena, mas com um gostinho de justiça sendo feita. Assim que a sessão "sermão" terminou, parecia ter havido uma mudança significativa de personalidade no jovem, que levantou-se e avisou ao irmão que cumpriria sua parte no acordo, saindo para arrumar suas coisas. Fiquei boquiaberto e sem entender que outro "acordo" seria esse, mas esperei tudo se resolver para falar com Ben a sós. Eu estava realmente muito irritado por ele ter colocado Venipede em risco dessa forma e exigia explicações muito bem dadas para tudo isso, assim como os Macchiatos.

Ben então explicou rapidamente que o Venipede na gaiola não era real e sim uma pelúcia, um plushie muito real, capaz de me enganar mesmo estando há alguns poucos metros de distância. Nesse momento um sorriso tomou o meu rosto, pois eu ficava aliviado demais que Benjamin não tinha abandonado seu Pokémon apenas por causa de um plano. O garoto então pediu que mantivéssemos em segredo essa informação e foi com todos nós para seu quarto nas proximidades, um lugar bem mais humilde, para que pudéssemos conversar. Sentamos os quatro e ficamos a ouvir as explicações do rapaz, que contou como tudo aquilo havia sido um plano perfeito da Equipe Roquete, juntamente dele. Eles haviam tramado tudo enquanto eu dormia e essa informação quase me fez cair para trás!

Nesse instante a própria Equipe havia surgido e vieram ao nosso encontro para terminar de contar o plano aos prantos, pedindo desculpas por tudo e explicando que me viam como um bom treinador, que poderia despertar o interesse de Franklin por um combate. Eles haviam convencido o rapaz a largar a taxidermia e seguir uma carreira de treinador. E melhor ainda, o grande prêmio de Ben na aposta era fazer seu irmão viajar com ele para uma outra região por algum tempo, firmando-se como um treinador, sem o dinheiro e a influência dos pais. Meus olhos nesse momento, já estavam cheios de lágrimas e quando Ben solicitou Venipede como seu inicial, não aguentei-me e acabei chorando — Mas é claro que sim... Poxa, como não poderia ser assim?. — Comentei, deixando Shelmet, Dwebble e esperando que Luci soltasse Joltik, para que os quatro se reencontrassem.

— Vocês foram incríveis pessoal e eu sempre levarei essas lembranças comigo! Sempre! Conseguiram me enganar direitinho e resolveram o problema com maestria! Vocês são mesmo demais!— Comentei com a voz engasgada, levantando-me para dar um abraço coletivo nos Roquete e também em Ben, juntamente das crianças — Desculpa por gritar com você Ben... Desculpe também Jairo e Jessica — Disse uma Luci em prantos também, enquanto Yuri chorava tanto que nem conseguia falar. Continuamos o abraço por algum tempo e a conversa por mais outro tempo mais longo. Ben e Franklin viajariam juntos em uma jornada e eu mesmo, seguiria a minha assim que tudo fosse resolvido, ao lado dos jovens Macchiato. Quando finalmente fosse chegado o momento, despediria-me de Ben, dos Roquete, de Venipede e porque não de Franklin e seguiria meu caminho ao lado de Yuri e Luci na minha jornada. Mas não sem antes tirar uma foto com todos juntos, que guardaria de recordação. Após acabar por aqui, sigo enfim para o Centro Pokémon com o coração mais leve.