Aquele lugar era definitivamente estranho ao jovem rapaz. Toda a composição do ambiente lhe causava estranheza, desde o brilho prateado até àquela grande samambaia que parecia trazer umidade o chão do local apesar do enorme calor que o cercava. Contudo, apesar da sensação, Lysander não poderia esboçá-la, exibi-la, caso contrário, tudo poderia acabar por desmoronar uma vez mais, como ocorrera no beco mais pela manha. Mas, ainda assim, aquele homem que se fazia presente causara a morte daquela garotinha, mesmo que indiretamente. Caso não fosse a presença de seu grupo de bandidos na cidade, os eventos anteriores jamais haveriam se realizado, e isso trazia ao jovem uma crescente raiva, que bem sabia ele, também haveria de conter.

Sendo assim, caminhou até a direção da cadeira que lhe fora apontada pelo homem. Seus passos não eram apressados e tentava o jovem trazer consigo certo ar de tranquilidade, como se aquilo fosse algo normal para si. - Olá, Senhor. - Dissera ele, uma vez sentado confortavelmente na cadeira, cruzando suas pernas. - Ah sim. Tenho algo para encaminhar, sim. - Continuava ele, a fitar o que seria o responsável por aquele lugar, tentando concentrar-se na fisionomia do ser, reconhecer aquele que também participara do evento que lhe causara assombro. - Contudo, não o tenho aqui agora... Deixei-o em um lugar de confiança. Enfim... Se trata de uma grande raridade, tão ímpar que, antes de simplesmente despachá-lo gostaria de saber um pouco sobre o funcionamento de vocês, se realmente se trata de algo seguro. Então, poderia me mostrar o local, e quem são vocês? Como surgiu o negócio?

Lysander tentaria assim descobrir um pouco do que se tratava aquele estabelecimento, bem como do responsável daquele local. - E antes que pergunte, estou disposto a pagar uma quantidade generosa pelo procedimento, afinal, sou Lysander Lestrange, filho único e herdeiro de Lorcan Lestrange.

Aquela figura certamente o deixava abismado, contudo, ao menos sua simples fala já confirmara a tudo aquilo que o rapaz havia deduzido sobre aquele lugar. Um real proprietário de um estabelecimento de transportes jamais falaria com um cliente em potencial de tal maneira, não... Aquele não era uma simples transportadora, havia algo a mais ali. Lysander, contudo, não poderia deixar-se levar pelas emoções que sentia, tinha de manter a calma e jogar o mesmo jogo daquele homem se pretendesse sair dali vivo. Lentamente seus olhos passaram a seu relógio de pulso, verificando o horário que se tratava. - Mais meia hora... Ainda há mais meia hora para o horário indicado na mensagem... - Pensou o jovem consigo mesmo. Na pior das hipóteses, o jovem concluíra que, por ter enviado a mesma referida mensagem ao Policial que havia lhe ajudado anteriormente, quando desse o horário marcado, os policiais agiriam.

Eis que, mesmo em meio às ameaças do homem, o rapaz continuou sentado em sua cadeira, suas pernas cruzadas, e um sorriso trêmulo, mas ao mesmo tempo ligeiramente sombrio brotando em sua face, apesar de sentir suas mãos tremerem. Seus olhos concentravam-se na figura estranha à sua frente, de forma a tentar cada vez mais visualizá-lo como um todo, apesar da pouca iluminação que se fazia presente naquele lugar. - Ora... Creio que a cabeça de meu pai não seja de grande valor por si só, meu senhor. - Dissera ele enfim, dando de ombro ao homem à sua frente. - Pois veja... O que ganharia com isso? Sinceramente, não é lá um grande negociador, você.

Ao fim de tais frases o jovem girou sua cadeira, ficando de costas ao homem por alguns instantes mas então se levantou, e quando em pé, girou em seus calcanhares para ficar face a face ao homem uma vez mais. Levava suas mãos até suas costas para não demonstrar o quão trêmula estavam e então ele continuou. - É uma pena... Esperava mais de alguém como o senhor. - Continuava ele, balançando sua cabeça de um lado a outro em tom de deboche. - Ande, fale... Podemos fazer negócio ou continuaremos com joguinhos? Pois saiba que, se escolher a segunda opção, não estarei disposto a perder. - Ao fim de sua fala, voltara a exibir sua mão, agora já com uma Pokéball em sua mão. Tratava de reproduzir toda as suas ações de forma mais lenta possível, para simplesmente fazer o tempo passar o mais rápido possível.

O jovem treinador poderia enfim voltar a respirar pois sua estratégia havia demonstrado resultados positivos ao final. Romero parecia surpreso com a coragem - mesmo que trêmula - de Lysander em desafiá-lo de igual para igual sem amedrontar-se diante de suas palavras sinistras, o que lhe fizera uma vez mais assumir uma pose profissional, à qual o rapaz preferia. O homem voltara a sentar-se em sua cadeira, dispusera um contrato sobre a mesa e estendera sua mão à Lysander cordialmente. O jovem rapaz, após um rápido e disfarçado suspiro, deu alguns passos à frente e também esticou sua mão a Romero, retribuindo-lhe assim o aperto de mão, um aperto firme e sério de sua parte. - Prazer em conhecê-lo, Sr. Romero. - Emitira o jovem após tal aceno, já em seguida puxando a cadeira na qual havia se sentado anteriormente para mais perto de si.

Sentou-se uma vez mais e tentando manter suas mãos o menos trêmula possível, estendeu-a sobre a mesa e puxou para perto o contrato que lhe havia sido demonstrado. - Posso lê-lo, sim? Uma leitura rápida. - Dissera o rapaz, já pegando o contrato em suas mãos. Neste momento, o rapaz tentara reproduzir o mesmo aspecto sério com o qual vira seu pai trabalhar por toda a vida: Cruzara suas pernas e segurava o contrato com uma das mãos, sendo que a outra era levada até sua têmpora - Aquela partezinha entre os olhos e a orelha, para quem não sabe - como em uma pose de reflexão e de profunda concentração. Ora, o que o rapaz planejava com aquilo? Procurava saber o quão sério era aquele estabelecimento, pois já sabia que o proprietário era um lunático. Desta forma, o rapaz preferira verificar o contrato, tanto para continuar sua farsa e fingir que realmente planejava fazer negócios, bem como retirar mais informações. Teria algo interessante por ali? O rapaz duvidava...

Ao fim de sua leitura, o rapaz levantara seus olhos à figura de Romero, acenando-lhe positivamente ao mesmo tempo em que retornara o contrato sobre a mesa, empurrando-o em seguira com as pontas de seus dedos até aproximar-se do homem. - Parece bem elaborado, o contrato. Se o ali disposto for devidamente cumprido não vejo problema em fazer negócios. - E ao fim de sua frase, o jovem se levantou, posicionou sua cadeira no exato lugar em que encontrava-se antes de sua chegada. - Sendo assim, irei buscar minha encomenda. - e quando já estava se preparando para sair daquele lugar, o rapaz levantou seus olhos para a estranha criatura que também se fazia presente, quando então arrumou coragem o suficiente para uma vez mais arriscar-se. - Ah sim... Perdão, mas... Este não é Meltan? Um daqueles pokémons mitológicos que foram liberados por Hoenn? Como conseguiu um destes? Pensei ter ouvido pelo jornal que sua captura não parecia estar sendo possível... - E ao fim de sua frase, o jovem continuava em pé, a desviar olhares entre Romero e o pokémon à suas costas, de forma hexagonal e ao mesmo tempo um corpo aparentemente líquido. Esperava que com a leitura do contrato, o tempo talvez havia se apressado um pouco mais.

O jovem aprendiz esperava atentamente pela resposta de Cortez acerca da figura que lhe parecera tanto um Meltan, contudo, aquilo que fora ouvido pelo jovem parecia não lhe satisfazer. Pelo contrário, apenas gerava ainda mais dúvidas na cabeça já transtornada do rapaz. - Ah sim! - Suspirou o jovem enquanto voltava a caminhar até a cadeira em frente a Cortez, como se estivesse se esquecido de algo, um embaraçado sorriso tolo surgindo em sua face. - Já havia me esquecido de assiná-lo... - Mentira o rapaz, que em verdade não planejava assinar o documento tão facilmente. No instante seguinte, virou um pouco seus ombros, de forma que seus olhos agora recaíam sobre o interior de sua bolsa carteiro, como se estivesse fingindo procurar por uma caneta.

Contudo, após alguns instantes de buscas, o rapaz levantara sua cabeça, fingindo haver tido um repentino pensamento, que em verdade já estava em sua cabeça desde a alguns segundos atrás, propositalmente esquecendo-se da caneta pela qual fingia buscar. - Alias... - Pronunciara-se uma vez mais, um tom curioso em sua voz, sua sobrancelha arqueada. - É no mínimo curioso, Sr. Cortez... Se me permite dizer, é claro... - Em sua voz havia um tom inquisidor, ao mesmo tempo em que tentava parecer apenas um mero cidadão com uma curiosidade aguçada. Desejava era pressionar o homem, para ver até onde ele prosseguiria com aquela mentira. - A criatura que eu acabei de ver às suas costas é idêntica à imagem liberada pela mídia ainda mais cedo. Exatamente idêntica... Mas, claro... Devo estar imaginando coisas.

Após tal frase, voltara a disfarçar estar procurando mais uma vez a tal caneta, desta vez em um compartimento diferente de sua bolsa. Contudo, após alguns poucos instantes o jovem voltara a levantar seu olhar ao homem. - E sabe o que é ainda mais curioso? - Continuava ele, no mesmo tom de voz utilizado anteriormente, suas mãos trazendo o contrato para mais perto de si apesar de ainda não possuir em suas mãos uma caneta. - A descoberta destas criaturinhas, os Meltans, é recente... Muito recente... Não chega a uma semana a data de sua descoberta. Um artesão, por mais ágil e hábil que seja jamais conseguiria produzir uma estátua sobre a exata forma de um Meltan em tão pouco tempo... - Suas palavras, assim como seus olhos, estavam claramente direcionadas a Cortez.

Voltara então uma vez mais seus olhos à sua bolsa, de onde agora enfim retirara um lápis, material ainda não suficiente para uma assinatura em contrato, mas o suficiente para apontar discretamente ao homem enquanto dizia suas próximas palavras. - Então me diga... E diga a verdade... O que este Meltan faz aqui? Ah sim... Acho que não tenho uma caneta, apenas isto.

Mais uma vez a resposta de Cortez não fora aquilo que ele esperava do homem. Em verdade, a resposta que obtivera não lhe valera de nada além de garantir que Cortez pretendia evadir-se de seus questionamentos tanto quanto o jovem rapaz buscava solucionar todo aquele problema. O homem parecia tentar mudar o rumo da conversa, tentando fazer com que Lys ignorasse a suposta "estátua" que tanto ele tentava esconder às suas costas, dizendo-lhe para que assinasse logo aquele contrato que se fazia presente às mãos do aprendiz. Contudo, Lysander já havia convencido a si mesmo que aquele era um verdadeiro Meltan, ainda mais que sobre a sombra da criatura, lançada ao resto da sala, a figura claramente movimentava-se. - Ah sim... Devo estar ficando louco...- Disse ele, naturalmente. - A alguns dias atrás pensei ter visto um Articuno... Mas tudo não passou de minha imaginação também.

- Calma, calma... - Dissera o jovem aprendiz, girando o lápis em seus dedos alguma vezes. - Já irei assinar... Apenas preciso de uma caneta. - Sorrira o jovem treinador, um sorriso um tanto forçado e ao mesmo tempo sarcástico, que à sua imaginação pareceria um tanto sinistro quando visto à meia luz como tudo se passava naquele cômodo. Contudo, ao fim de tal frase, Lysander baixou seu olhar uma vez mais à sua mochila, como se retornasse às buscas por uma caneta em seu interior. No entanto, desta vez logo em seguida sua face se levantou, e junto com ela, sua mão. Desta vez, havia, finalmente, uma caneta em meio a seus dedos. - Ah! Aqui está! Sabia que tinha alguma por aqui! - Dissera ele, sorrindo, enquanto já começava a se inclinar até o contrato.

Eis que, quando curvado o suficiente para assinar o documento, intencionalmente, o rapaz deixara que sua mochila escorresse de seu ombro, caindo ao chão e assim fazendo com que alguns de seus pertences dela saísse. - Ah... Só um segundinho. - Dissera o rapaz, parecendo estabanado, enquanto prontamente abaixou-se para recuperar seus pertences. Eis que em meio a seu gesto, um rápido lampejo surgira em meio à sala, imediatamente dando forma à PANGORO. - Olá, BACCHUS... - Dissera ele, e ao fim de tal frase, o jovem acenou discretamente à mesa em sua frente e então ao homem. Aquele gesto fora mais que o suficiente para o grande urso entender seus comandos e então iniciar a parte de sua execução.

Pangoro daria um forte esbarrão na mesa, arremessando-a contra a figura de Cortez. Sua intenção era de imobilizá-lo contra a parede, para então prosseguir com seu plano. A estratégia realmente funcionaria como o planejado?

No momento seguinte, conforme o planejamento de Lysander, ele saltaria sobre o que restar da mesa com o impacto, já com seu canivete em mãos e em riste ao homem, apontando-a para a garganta de Cortez, o mais próximo possível dela, e então proferir. - Uma respiração mais pesada e esta lâmina será banhada em seu sangue. Com o sinal da primeira pessoa a atravessar aquela porta, o efeito será o mesmo, então não ouse chamar seus empregados. E ah sim... Libere Meltan, AGORA. - Seu olhar, na hipótese de seu plano funcionar, estará vidrado, e claramente transparecerá insanidade, sua língua a umedecer seus lábios de forma sinistra.