Wallace Cup - Combate E

Assim que os pokémons foram liberados das esferas que os resguardavam, por um breve momento, sentiu vontade de rir.

Veja bem: Como se já não bastasse ter que encarar um contest - que, sinceramente, não tinha a mínima ideia de como seria a melhor maneira de proceder em batalhas -, teria que dar conta de um embate de inicial contra inicial, praticamente de mesmo tipo, ironicamente ambos no mesmo patamar de evolução e, para sua plena infelicidade, tinha consciência de que o adversário possuía uma velocidade naturalmente superior. Além disso, não era como se realmente conhecesse seu oponente: Ou seja, se ele já fosse um veterano ou pelo menos familiarizado com contests, ainda teria que lidar com os movimentos que viviam aparecendo nesse tipo de competição que, cá entre nós, eram os mais infernais possíveis.

Apesar de não ter nenhuma experiência em algo do estilo de Wallace Cup, ainda se lembrava da última vez que havia tido a chance de disputar um embate sério, oficial - acirrado, por sinal - e, no fundo do coração, a maneira como ele chegou ao fim e tudo que se sucedeu desde então sacudiam um desconfortável sentimento de insegurança dentro de seu peito. Estar ali, em meio à tantas pessoas e com a responsabilidade de uma batalha em mãos (e, vejam só, com Ryo, mais uma vez!), era uma situação em que tinha de enfrentar não apenas o rapaz à sua frente, como a si mesma: Arranhar as ferrugens que se impregnaram pretensiosamente não só em sua vontade de prosseguir, como em sua própria ambição.

E, quem sabe, lá no fundo, também fosse uma necessidade do orgulho.

Já fazia tempo que não tentava, de fato, raciocinar antes de se mover. Aquela era uma ocasião maravilhosa pra fazê-lo ou, no mínimo, arriscar. Não se sentia no patamar de muitos concorrentes por ali - quiçá realmente não estivesse - mas, ora, não estaria em nível nenhum se não criasse vergonha na cara ou se pelo menos se esforçasse para se manter de pé.

Era isso que tinha feito uma vez, há muito, em Pewter.
Talvez fosse, enfim, hora de se reerguer.
Se não saísse com uma vitória...
Também não seria com uma desistência.

Seu cumprimento ao adversário se tratou de uma breve mesura com a cabeça. Não era como se precisasse participar ativamente - como havia sido na primeira etapa -, mas também não era lá respeitoso simplesmente ignorar a pessoa do outro lado do campo. Infelizmente, não poderia ir muito além disso nem se quisesse: Tinha seus demônios interiores para conter e, com sorte, suprimir.

E para isso, precisava tentar descobrir algumas coisas.

— Ryo, não perca tempo: avance com um Headbutt! Mantenha em mente tentar esquivar de qualquer investida, sempre que possível. — Bem, dizem que é sempre bom começar com simplicidade, certo? Mas, especialmente, tinha que... Ugh. — Que tal exibir um pouco da letalidade das suas folhas? Tente um Razor Leaf!

Quando a tela cintilante foi invocada no meio do campo e, pior, bem no caminho de sua pobre Ivysaur, seu coração amaldiçoou a sorte horrível que havia tirado: Independente se o adversário era ou não frequente nos contests, sim, ele estava preparado para participar de um com no mínimo um movimento e, para sua plena infelicidade, se tratava do que mais lhe daria dor de cabeça.

Não mais do que faria com sua pequena inicial, certamente, considerando a maneira como ela sentou a testa bem no meio do projeto de escudo luzente invocado por aquele... Aquele... Calango infeliz!

Com um suspiro desconfortável, trocou o apoio do corpo de um pé para o outro, observando a troca de golpes que se desenrolava. Não tinha muita certeza se seria capaz de virar o jogo de uma maneira espetacular, ou sequer de uma qualquer - bem, provável que não - mas, como bem pontuado anteriormente (e ao contrário de como estava o seu placar, haha), não estava lá pra jogar a toalha e ir embora sem sequer tentar. Devia isso não só à si mesma, como à Ryo, e até mesmo à Blue, que com tanta complacência acatou em fazer parte de sua apresentação.

Não, não poderia ir embora.
Não por desistência.

A ruiva respirou fundo quando ouviu as ordens de seu oponente, e balançou a cabeça com sutileza. Talvez, só talvez, devesse ter se preparado melhor à respeito das cartas de combinações que podia tirar da manga.

...Mas, felizmente, ainda não estava sem.
Ele não gostava de folhas?
Então daria a ele.

— Ryo, faça "chover" com seu Grass Pledge, acabe com qualquer clone que aparecer, veja se consegue impedi-lo de avançar e terminar os movimentos! Tente abrir um corredor de folhas quando identificar o verdadeiro e o atravesse para um Headbutt!

Mas, para todos os efeitos, não desistir também não significava se iludir e achar que algum milagre aconteceria para que tudo desse certo dali em diante, independente das variáveis. Chegou a se felicitar por não ter utilizado Zorua, como planejado de início, afinal, imagine a dificuldade que a pokémon não estaria passando na mão daquele calango? Se já tinham passado aperto no último confronto...

Ao término da nova rodada, com a vantagem adquirida no placar, teve certeza: Não sairia dali com vitória alguma. A situação parecia confabular para que tudo desse errado para o seu lado e, bem, estava conseguindo. Não sabia se por carma ou meramente azar - quem sabe se os culpados não eram simples e somente os status? -, o inicial esverdeado de seu adversário sempre saía por cima. Já estava começando a achar se não era sorte pela batalha estar rolando "em casa" pra ele, também...

A moça deu um suspiro pesado. Infelizmente, não era hora de se arrepender. Não teria razão, efeito, ou mesmo vantagem - embora houvesse penado um pouco para tentar conseguir alguma. Só precisava dar continuidade à batalha. No mínimo, ao final de tudo, teria alguma experiência pra contar a história.

— Tudo bem. Mais uma vez: dois Grass Pledges. Tente manter a distância, Ryo!