#002 - What Doesn't Kill You...

Dizem que o que não te mata te fortalece. E isso deve ser verdade. Assim que saio do Centro Pokémon de Sootopolis com meu Pokémon devidamente curado e descansando em sua Pokébola, dou uma bela olhada nos arredores e percebo que eu sequer tinha parado para apreciar a vista da cidade desde que cheguei às pressas para a competir na Wallace Cup. E que vista!

A cidade de Sootopolis é bastante conhecida tanto por sua localização atípica quanto pela sua arquitetura bastante singular. Agora, após o fim da competição e sem toda a correria, sinto-me privilegiado por ter a chance de estar vendo isso tudo de perto. Traria Bulbasaur para fora de sua Pokébola para que ele também apreciasse a visão caso ele não estivesse precisando de um merecido descanso.

As lembranças mais que vívidas do meu primeiro festival ainda me deixam zonzo com tanta informação. No fim eu perdi, e não julgo quem ousar dizer que perdi feio, mas só eu sei o que a experiência significou para mim. Tudo se resume ao fato de eu ter me crescido como treinador, do meu Pokémon ter se fortalecido e do laço entre nós ter se estreitado como eu nunca achei que poderia. Sim, eu perdi, mas não é isso o que importa agora. O que importa é que eu tenho um mundo inteiro me esperando para explorá-lo. Sacudo a cabeça espantando os devaneios e volto minha atenção para a bela paisagem enquanto inicio um passeio pela esplêndida Sootopolis.

Caminho distraído pelas ruas íngremes de Sootopolis por algum tempo até ser surpreendido pelo ronco no meu estômago. Estou faminto!

Ando mais um pouco até encontrar alguém que possa me informar sobre os restaurantes da cidade e quem sabe alguma pousada na qual eu possa passar a noite antes de ir embora.

A iluminação das ruas parece oscilante. As pessoas parecem se movimentar preocupadas. Corro até a primeira pessoa que passa por mim e tento entender o que acontece.

- Ah, com licença? Desculpa, é que eu sou de fora e estou procurando um restaurante ou uma pousada. Aliás, o que está acontecendo com o abastecimento se energia? É algum tipo de queda? -

- Ah, sim! Sou novato, sim. - Digo, corando pelo comentário do rapaz. Por um lado me pergunto se ele não chegou a me ver ou mesmo me notar na Wallace Cup. Por outro lado, contento-me em saber que ele não me reconheceu, o que me livra de qualquer comentário sobre a minha derrota.

Ouço as instruções do garoto e me sinto extremamente bobo ao ser informado de um aspecto tão básico dos Centros Pokémon. De fato, ter passado os últimos 18 anos debaixo das asas dos meus pais me deixou bem atrasado nessa corrida. Mas agora não adianta chorar pelo leite derramado ou pelo tempo perdido. Sacudo a cabeça levemente e sorrio sem graça. - Ah! Verdade! Tem os Centros Pokémon para isso! Nossa, que cabeça essa minha. - Tento disfarçar e lanço um sorriso um tanto quanto amarelo.

O jovem à minha frente para um instante para pensar e eu começo a ficar nervoso com o que ele possa vir a dizer. Noto, pela primeira vez desde que o abordei, que ele deva ter mais ou menos a minha idade. E é bastante... atraente. O simples pensamento me deixa de pelos em pé. É então que ele volta a falar e eu quase cambaleio para trás.

Tão rápido o rapaz responde minha segunda pergunta, irrito-me comigo mesmo por me permitir ficar tão sem graça assim mediante uma simples conversa com um estranho. Realmente, 18 anos praticamente trancado em casa não me foram justos com minhas habilidades interpessoais.

Mais uma vez corado pelo olhar observador do rapaz, me encontro em um beco sem saída e trato de cuspir a primeira frase que minha mente consegue formular. - Você pode me levar até o Centro Pokémon? -

Mas que diabos foi isso? Eu acabei de vir de lá, não sou tão tapado a ponto de conseguir voltar para lá após alguns míseros minutos de caminhada. Entretanto, o estrago já foi feito. Não posso simplesmente dizer que me enganei quanto ao pedido. Além do mais, não me importaria de conversar com esse cara mais um pouco.