(004) - This Is Why We Can't Have Nice Things

Off escreveu:Quer me matar do coração? KKKKKKKK

Apesar de nossos esforços em fugir daquela situação, parecia que o que eu ouvi muito durante minha adolescência era verdade: nada está tão ruim que não possa piorar.

Saímos da água e corremos na direção da saída da rota, talvez em busca de ajuda na cidade de Lilycove. Duas loiras belíssimas e completamente molhadas fugiam do pássaro enquanto o vento batia e grudava nossas roupas no corpo; se fosse um filme, essa seria a parte que os adolescentes adorariam. Passamos pelos pertences do falecido Oswald, que por sua vez me deu calafrios. Bati no homem, em seguida ele me salvou e depois foi brutalmente assassinado. Sei lá, uma péssima forma de morrer, mas ao menos eu estava viva para contar a história.

Balancei a cabeça negativamente e foi quando abaixei a guarda. Com uma mordida, Manju se livrava de meus braços e corria na direção do que parecia ser um homem desconhecido. Ele abaixava e começava a acariciá-la.

— Ma-manju... — minha voz quebrava e eu parava imediatamente, não sei se havia um limite até onde poderia chegar próxima ao homem ou se ele era de fato uma ameaça — Vem pra mamãe. Sei que quer sua liberdade, mas agora não é a hora. — respirei fundo, apertando meu cabelo para que a água com sal saísse e não o deixasse pior do que já estava — E você, homem, o que quer? — olhei séria para o rapaz — Se for tentar nos matar, o faça logo... Já estou sem paciência.

Fitei Margo por um segundo. Se a loira tivesse uma ideia, agora era a hora de mencioná-lo.

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A situação não era das melhores. Manju inocentemente aceitava o carinho do homem desconhecido enquanto meu coração pulsava à mil por hora, como se fosse escapar pela minha garganta a qualquer momento. Não havia um plano, não havia solução iminente: minha cabeça já estava exausta de toda merda que já tinha acontecido em um único dia. E agora mais isso.

— Melhor dizer na lata do que enrolar, não é? — olhei para Margo de rabo de olho, aproveitando para prender mais forte o rabo de cavalo que prendia minhas madeixas — Não sei qual ruivo está falando, mas já conheci um que era borracha fraca demais, tadinho. — desconversei, tentando fazer o homem abaixar sua guarda — Deve ser mal de ruivo.

Respirei fundo pela vigésima vez em poucas horas. Sabe-se lá no meio de que eu havia me metido, mas digamos que agora parte da adrenalina já estava se fazendo confortável na minha corrente sanguínea — claro que o fato do homem roubar minha Eevee não era eletrizante, mas toda aquela tensão e estresse de certa forma me parecia mais familiar do que imaginava. Dei um sorriso irônico ao perceber as nuances de Margo em um plano que a loira parecia ter elaborado em poucos segundos, me aprontando para o que viria em seguida.

Em questão de milissegundos, o que parecia ser uma troca amigável se tornava outra estratégia da loira. Zoroark, mais uma vez, lidou com as coisas de sua maneira, mordendo o homem com extrema força e rapidez, que caiu e derrubou consigo o artefato e se afastou de Manju. Corri e com uma mão recuperei a canídea e com a outra peguei o artefato, lançando na direção de Margo para que ela o pegasse ainda no ar. Com a mão livre, corri e saquei a esfera metálica de Kadabra, lançando-a para o alto enquanto corria junto com a loira para longe.

— Margo, retorne o Zoroark! — pisquei para a loira e assim que o feixe de luz materializou Sushi, gritei: — Thunder Wave nesse homem, utilize de toda sua potência!

Utilizar Sushi era sempre a melhor estratégia que eu tinha. Foi meu primeiro Pokémon e apesar de não termos tantas batalhas assim, já passamos por maus bocados juntos. Além disso, a velocidade absurda do monstrinho era algo sempre favorável em situações de risco, já que consegue agir com extrema rapidez perante certas conjunturas. Assim que o psíquico me obedecesse, retornaria o mesmo o mais rápido possível e correria com a loira para longe dali. Será que finalmente teríamos paz?

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Parecíamos estar salvas, correndo e se afastando cada vez mais daquele malfeitor cujo ainda não sabia o nome. Mas algo estava estranho: o homem não parecia triste ou irritado por seu plano ter dado errado, mas sim tranquilo até mesmo perante a forte descarga elétrica que Kadabra havia desferido sobre ele.

De qualquer maneira, continuei correndo com Margo, até que percebi que algo estava extremamente estranho. A loira me acompanhava, mas parecia que aos poucos diminuía sua velocidade. Fitei-a por alguns segundos ainda durante nossa correria, percebendo imediatamente uma ponta amarronzada enfiada sobre ela. Meus olhos arregalaram no mesmo instante: mesmo quando achamos que estamos com a vantagem, o inimigo já tinha algo sobre nós duas. Segunda vez já que isso acontece.

Realmente não dá para subestimar mais ninguém.

Ainda inidentificável, segurei nos braços dela e apontei para o corpo estranho. Sei que seria um choque para a loira, mas ao menos estávamos cuidando uma da outra. Se fosse um Pokémon, pensei na hora o que fazer.

— Sushi, se não podemos lidar com isso, lidaremos com a cabeça do time! — exclamei — Acerte o homem com um Psybeam!

O ataque era um tiro no escuro, mas na medida que as coisas evoluíam, toda e qualquer ideia era uma boa ideia, ainda mais caso causasse confusão no alvo; afinal, se a estaca fosse realmente um monstro de bolso, ao menos não teria alguns comandos por alguns minutos. Se a Liga Pokémon me visse atacando um ser humano diretamente com um Pokémon, no mínimo eu seria presa, mas foda-se: estávamos as duas lutando por nossas vidas.

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Engoli seco.

Meu coração acelerou ainda mais.

Ao assistir o homem ser atingido pelos raios psíquicos e falecer imediatamente depois me deixou perplexa. Não da maneira como a morte de Oswald, mas ainda assim eu senti como se uma pequena tinta preta começasse a recobrir parte do meu coração. Poético, mas é a verdade: já era a segunda morte em um único dia que eu causava. Com o homem no começo não foi proposital, mas com esse sim. Eu queria atingi-lo.

Queria ver ele sofrer.

Queria ver ele... morrer.

Assassinei o homem. No final das contas, seria eu tão diferente assim do meu pai? Um antigo psiquiatra, Freud, explica, mas me recuso a acreditar. Não pode ser. Lutei minha vida inteira para me desvencilhar da imagem dele e nesse mesmo dia, após o situações estressantes, era como se minha mente tivesse prevido o futuro naquela utopia que sonhei.

Olhei para Sushi por alguns segundos e soltei um leve "desculpa" baixinho; sequer tive a coragem de matá-lo com minhas próprias mãos: tive que mandar meu Pokémon fazer o trabalho sujo pra mim. Fitei Margo por alguns segundos com a expressão claramente perturbada, mas logo engoli seco mais uma vez.

— Hm. — pigarreei — Eu não queria matá-lo, mas foi preciso. Sinto muito que tenha que ter visto isso. — sorri sem graça para a loira, afinal, não sabia a procedência de Margo ou se ela já tinha visto uma morte em sua frente, algo que marca eternamente uma pessoa. — E sinto mais pelo artefato que desapareceu.

Voltei meu olhar para o homem e minha mente começava a surtar aos poucos. Matei uma pessoa. Sabe-se lá se ele tinha família, se tinha amigos ou até mesmo conhecidos. Alguém sentirá falta dele e ele nunca mais voltará e desaparecerá para sempre. Meus olhos cerravam enquanto via uma pequena esfera negra deslizando aos poucos pelo terreno. Ela se abriu, dando lugar à estrela-do-mar de cinco pontas, Staryu. Exatamente o que eu buscava antes dessa confusão toda começar. Olhei para Sushi e sorri.

— Olá amiguinha... — observei os machucados da estrela-do-mar — Sei que você sofreu bastante, mas o que acha de vir conosco? Vamos cuidar bem de você. — apontei com a cabeça para que Kadabra tentasse dialogar com ela, caso contrário uma batalha para capturá-la seria necessária — O que acha? — empunhei uma Premier Ball vazia e ofereci a ela.

Devido todos machucados que enfeitavam o corpo marrom da estrela, sei que seria difícil, mas não custava tentar uma aproximação amigável ao invés de uma batalha.

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Deixei que meu coração — agora enublado pelo sentimento da morte — falasse. A aquática não me atingia diretamente, o que era lucro, já que pelo visto ela era muito mal tratada por seu antigo treinador, então imaginei que seria arisca. Sushi começava a conversar diretamente com ela em seu idioma ininteligível e eu só ia concordando positivamente com a cabeça com tudo que o psíquico falava. Claro, confiava cegamente em Kadabra para que convencesse Staryu a se unir a nós, ainda mais por ser um Pokémon tão extrovertido e simpático — o contrário de mim.

— Lhe prometo que não te machucaremos. — agachei para ficar na altura da aquática, li uma vez em uma revista que isso ajudava-os a confiar mais em seres humanos — Somos todos uma grande família. — olhei para Margo e pisquei com o olho esquerdo — Sei que seu antigo treinador não era dos melhores... Então, o que acha?

Busquei em minha bolsa uma pequena frutinha azulada, intitulada Oran Berry e ofereci com a outra mão, já que com uma segurava a Premier Ball. Sorri mais uma vez, só que agora para Sushi. Quem diria que há meses éramos só nós dois e agora já estávamos em cinco... Por sorte, esperava que Staryu aceitasse o convite amigavelmente e nos fizesse seis.

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