I'M NOT A SUCCESOR, I'M THE DETHRONER!

O fechar das cortinas trazia um alívio para meu coração, mas não tão grande ao lembrar que a peça estava só começando. Os primeiros atores deixaram claro que estavam ali para dar o seu melhor e como a peça tinha dois desfechos, teria que me preocupar em seguir o desfecho esperado para a vitória (e na soma de pontos ganhar novos itens). “Meu coração estava cobiçando altos, prémios, perdão!”, pensava comigo, enquanto bebia água e respirava melhor sem a máscara espalhafatosa de coelho.

- Obrigado. – agradecia ao elogio do único profissional ali. – Acho que batalhas Pokémons empolgam todo mundo. – dizia com um olhar pecando para a batalha demorada que se teve pouco tempo.

Enquanto pegava o pedaço do roteiro, eu abria para ler algumas falas que fiquei confuso. Mas seria só improviso, afinal, na tensão do momento não falaria cada palavra corretamente. O palco era alterado, enquanto eu observava que teria que avançar mais na peça. Ambipom saia da Pokébola, com vestimentas de coelho também, o que era bem engraçada. Eu passava algumas orientações para ela. Teria que ser mais como um Pokémon Contest do que um Pokémon Battle. Ela saberia como agir.

- Iai, Shion? Pronto?

Finalmente uma pausa... Aceitei os objetos de bom grado com um sorriso. Da mesma forma que Brycen, também tinha de ter muito cuidado com a sua maquiagem, eu também sofria com os mesmos problemas. Eu estava satisfeito com a pontuação, havia espaço para melhorar e talvez tivesse sido possível aproveitar melhor algumas oportunidades mas atuação ainda era algo que eu estava bem verde, principalmente atuar ao mesmo tempo que batalho...

- Na verdade sempre foi algo que tive curiosidade em experimentar mas ainda não tive nenhuma oportunidade. Fico muito feliz que tenha gostado! - respondia ao líder de ginásio com o seu tom de voz normal que talvez fosse uma surpresa para o recetor já que não me tinha visto antes da peça - Eu vou dar o meu melhor. - dizia enquanto soltava o pequeno Ralts da sua esfera bicolorida e lhe faço algumas carícias nas face - Você foi muito bem, garoto! Me deixe dar-lhe um destes! - explicava enquanto mostrava um Full Restore e lhe aplicava nas zonas mais machucadas para que o mesmo se recuperasse - Vamos continuar com o excelente trabalho, okay? - lhe dizia induzindo alguma coragem ao mesmo, Ralts ainda era inexperiente em batalhas e por isso eu achava extremamente necessário aumentar a sua confiança sempre que este batalhasse.

Deglutia meus últimos goles de água, e logo tornava à afinação. Agora foram precisos apenas alguns segundos para atingir o timbre certo. Verificava ainda se era necessário retocar a maquiagem em algum local pois as luzes intensas o faziam suar mais que o normal e juntando isso ao nervosismo que estava a sentir era a situação perfeita para que toda a montagem fosse destruída.

Enquanto aguardava o tempo restante repassa pelas páginas do guião mentalmente - Estes intervalos são tão curtos... Bem, vamos lá, já chegamos até aqui, agora é até ao fim! - exclamava, já entrando no personagem, seguindo de um longo suspiro para controlar o nervosismo e a respiração.

O cenário mudava completamente, o próprio ambiente parecia já indicar para o que aconteceria a seguir com a entrada da Rainha Branca em cena. A sua presença era serena e a sua humildade e bondade era transparecia pelo seu sorriso e até o modo de andar... Chegava até a ser estranho para mim ver uma figura da nobreza com tamanha figura, afinal toda a minha vida vi os nobres assumirem uma figura de superioridade e egocêntrica para com o povo que eram obrigados a assumir um papel submisso. O que mais me impressionava era como aquela mulher sendo a Rainha Branca o seu povo pareciam ser bem mais "coloridos" e felizes sendo eles habitantes do reino branco, e os habitantes do reino vermelho da minha mãe eram "descoloridos" e infelizes. Sorri ao ouvir a voz dela, um sorriso inocente e de admiração por ela:

- Também queria entender a minha mãe... A minha mãe e toda a nobreza vermelha... Toda a gente tem medo deles, receia erguer a voz contra eles sem ter a sua cabeça cortada depois... Mas acredito que os ventos da mudança começaram a levantar-se agora, a nossa revolução vai sem dúvida fazer disparar faíscas por todo o reino! - respondia-lhe em uma fala que começava triste mas que ia desenvolvendo cada vez mais emoção - Nós vamos derrotá-la! - terminava colocando a mão sobre o meu cetro que se encontrava colocado como uma espada na cintura e erguendo a outra, fechada, ao nível do peito.

Assistia depois ao resto das interações, maravilhado com todas as emoções que a atriz e Brycen conseguiam transmitir através da sua voz e movimentos, até que chegou a fatídica pergunta que eu não sabia responder e tinha sido arrastado até agora desde antes da batalha começar...

A sincronia de atores e do novo palco trazia novas revelações para o público. Era possível ver uma ou duas pessoas se inclinando para prestar atenção no curto diálogo que se seguiu. A rainha branca parecia tão serena que eu sabia que era uma boa atriz. De certa forma, aquilo deixava certa pressão, já que eu preferiria me disfarçar em uma missão ranger do que interpretar um papel do qual eu não sabia bem como iria acabar.

A rainha se aproximava de todos. Em mim, ela comentava sobre a forma animal que eu tinha. Por trás da máscara haveria de se encontrar o rosto comum de um homem, mas por enquanto, eu estava interpretando um coelho de nobreza inestimável. Com um abanar do leque e uma leve olhada no relógio, estufava o peito demonstrando respeito e nobreza para toda a “corte”.

- O Tempo nos ensinar a ser paciente com cada segundo, nobre, rainha!

Mas as revelações se seguiam de forma curiosa. Próximo ato tinha a ver com Alice e o misterioso artefato. Enquanto a rainha se distanciava com um olhar preocupado, eu dava mais um passo para poder mostrar serviço.

-Seja onde for, seja quando for, minha vida é do reino branco. – dizia me prontificando para resolver o problema.

Por fim a revelação. Um tanto quanto trágica, um tanto quanto assustadora... Alice estava mesmo morta? Isso era impossível! Na verdade era um alívio saber que não havia notícias pois isso levantava a probabilidade de estar viva, ao contrário do que achava quando o Chapeleiro nos perguntou antes sobre o paradeiro da moça ainda no corredor. A mulher falava ainda do tal artefacto que seria uma peça extremamente necessária na luta contra a minha mãe... Por fim, Brycen se voluntaria para ir procurar por Alice e o artefacto no reino dos Espelhos... Era esperado do personagem fazer aquele tipo de coisas, era engraçado como o Chapeleiro conseguia conciliar dois extremos de uma personalidade tão bem, dando origem a uma pessoa extremamente respeitada e vista como um exemplo pela grande maioria do exército branco.

Inspirada pelas palavras do chapeleiro, eu dei alguns passos até me colocar do lado de Brycen, era passos barulhentos, mas não pesados, apenas chamavam à atenção para minha movimentação. Tinha uma mão colocada sobre o centro, enquanto a outra baloiçava de acordo com os movimentos do meu corpo enquanto caminhava.

- Me deixa acompanhá-lo, por favor. Ir sozinho é perigoso demais e não posso simplesmente aguarda o seu regresso. Também preciso assegurar que esta revolução tenha sucesso, e isso depende da presença de Alice e do artefacto. - meu tom era sério, assim como meu olhar, indicando que seria complicado me fazer seguir outro caminho.

OFF: Troca... Magical Leaf por Teleport, por favor!!

  O próximo ato era apresentado. Correr até o Reino dos Espelhos para salvar Alice e o misterioso artefato fazia parte da peça. Aos poucos, imagens da história original se misturavam com a peça e naquele show de fantasia e criatividade meu olhar pairava sobre todo o elenco que se esforçava para poder garantir o maior e melhor entretenimento que Hoenn já viu. Meu coração vibrava e meu olhar pairava sobre todos os que ali estavam. Ora me sentia um coordenador em uma de suas apresentações, ora me sentia um ranger em uma missão, ora me sentia um treinador, no meio de uma batalha. Quer queira, quer não, agora era um ator!

Shion logo se prontificou a ficar um passo à frente para mostrar que estaria junto do Chapeleiro no meio desta odisséia. Não negava que o foco no Chapeleiro maluco estava deixando a peça de todo modo bem interessante. Claro que eles esperavam o meu posicionamento, enquanto, enquanto eu fechava o leque que eu portava, dava aquela mais uma olhada no relógio de bolso, enquanto todos aguardavam.

- Não há mais tempo para debater. Iremos correr contra o Espelho para resgatar Alice e a relíquia que nos dará a vitória.

A posição mais séria e mais cordial era o do meu personagem, um pouco diferente do coelho. Claro que perante o ato do tribunal tive que resgatar o ser falante e desconexo que era o original Coelho.