[Mirror's Echo] – Route 121/Mt.Pyre –

De início, não tinha certeza se o sumiço da "coisa" que atingira sua cabeça era, de fato, uma péssima situação. Caso se tratasse de um selvagem, sua fuga era justificável: Talvez não houvesse calculado apropriadamente os riscos e consequências de finalizar o treinamento de um bendito terremoto no meio de um corredor fechado de floresta mas, bem, agora já era um pouco tarde para se arrepender. Existiam altíssimas chances, inclusive, de ter terminado por ali - entretanto, seu acidental "agressor" aparentemente não havia passado despercebido aos olhos de Zuby, considerando a maneira como o roedor se movimentou para remexer em uns arbustos que... ...Simplesmente brotaram do chão, de repente?

"Tome cuidado com os Glooms!", recordou-se, ao ouvir o característico som do espécime romper o silêncio momentâneo que pairou na atmosfera - o qual talvez não se recordasse de imediato, entretanto, o fato de que seu Vileplume malmente abandonara aquela forma era o suficiente para ainda manter aquele barulho ainda fresco em sua memória. Não demorou de perceber, porém, a maneira como o poderoso Nidoking recuou quando descobriu não somente um espécime, como a "horta" toda: Para seu desespero, os gramíneos não se demoraram em montar cerco e, pior ainda, o balanço de seus corpos vagarosamente começavam a liberar pózinhos coloridos que, pela sua experiência, detinha total consciência a urgência de evitá-los o mais rápido possível.

A primeira reação que teve foi puxar o cachecol para cima, pressionando o tecido contra nariz e boca para evitar a inalação dos esporos que muito provavelmente em breve dominariam o ar. O segundo movimento foi fisgar de imediato sua pokéball e retirar Nidoking de campo, pois também não queria que o dinossauro sofresse com os efeitos secundários daqueles movimentos ofensivo-defensivos. O terceiro, por fim, se concluiu quando o próximo a ser liberado foi o fantasma que consigo carregava: O indício inicial de sua presença foi o clarão padrão da liberação da esfera bicolor e, logo a seguir, a luminosidade veio naturalmente diante das faíscas elétricas que emanavam do corpo do espécime.

— Rotom, Thunder Wave! — Ordenou. Não tinha certeza se seria necessário engajar um combate mas, sinceramente, não poderia simplesmente ficar assistindo enquanto os selvagens trabalhavam justamente para o oposto. Tinha consciência que talvez a culpada fosse ela própria por perturbar a paz parcial do local (seria exagero afirmar total, considerando a tormenta do lado de fora) mas, bem, o mínimo que poderia fazer era defender não somente a si, como aos seus pokémons, não?

Outra coisa que ouviu, aliás, foi o barulho insistente que provinha de seu pokénav, indicando o recebimento contínuo de mensagens. Imaginou que devia se tratar de Drac mas, infelizmente, não estava em um bom momento para tentar respondê-lo...

Quando cobriu o rosto em uma tentativa de "proteger" suas vias aéreas, não se iludiu com possibilidade alguma de se ver livre de todos aqueles esporos arremessados pelo grupo venenoso. Era tremendo o incômodo de como a respiração havia ficado abafada de repente mas, bem, não poderia fazer nada a respeito - pelo menos não até que o pó se assentasse por completo. Seus pokémons detinham uma resistência bem mais gritante em relação aos efeitos que sofriam diante do contato com aquele tipo de movimento, mas não teria como prever qual seria a reação do seu corpo caso os aspirasse em quantia significativa. Por via das dúvidas, de todo modo, achou melhor esperar e não arriscar.

Felizmente, a entrada de seu fantasmagórico monstrinho havia dado conta de afastar a maioria dos espécimes com a onda elétrica arremessada de improviso. Infelizmente, por outro lado, um dos selvagens (?) se mantinha firme e forte no lugar, e tampouco parecia ter sido afetado; Não era tão problemático, considerando que Rotom não teria tantas complicações em enfrentá-lo de igual para igual e, por conta disso, o nervosismo do coração foi parcialmente apaziguado.

— Rotom, Confuse Ray! — Iniciou. Se não era capaz de espantar o animal, então seria obrigada a se ver engajada em combate pois, ao que tudo indicava, o gramíneo não simplesmente daria as costas e os deixaria ir caso tentasse fazê-lo. Talvez poderia apenas tentar manter o menor nível de baixas possível, e...

... ... ...

A voz se perdeu na garganta. Não por resultados de combate (quer dizer, até poderia se dizer algo do tipo), mas pela interferência do mais improvável (pelo menos para si) companheiro: Nosepass. Com um ataque repentino de fúria, o pedregulho não só correu na direção de Gloom, como também se arremessou no animal e rolou com ele pelo chão. A surpresa assaltou-lhe tão rápido (hah) quanto a estatueta fizera com o venenoso e, por um instante que fosse, não soube o que fazer. Não tinha certeza se era uma boa ideia permitir aquele confronto, considerando toda a situação mas, ao mesmo tempo, receava o tipo de reação que o rochoso poderia ter caso tentasse interferir - e, em realidade, nem bem sabia se seria capaz!

...
Por um breve instante, as pálpebras se apertaram.
Não - na verdade, não precisaria ser capaz.
Não teria o porquê fazê-lo.

— ...Nosepass, Thunder Wave e Smack Down! — Instruiu, num ímpeto. Não tinha certeza se o animal acataria com seus comandos, ou sequer se se permitiria ser guiado por suas ordens. Entretanto, enxergar a flama incendiar os olhos do narigudo em ávido desejo de combate não era um detalhe que poderia simplesmente ser ignorado por si - muito pelo contrário! Por conta disso - e somente disso, quem sabe? -, permitiu-se o luxo de não interromper a decisão do animal de entrar em combate.

Perderia? Ganharia? Era difícil dizer.
Então, que se lançassem os dados!

De certa forma, não foi surpreendente para si a desobediência de Nosepass em relação à suas ordens - mas nem por isso foi menos frustrante. Diante de um ineficaz Toxic arremessado contra um venenoso, a moça respirou fundo, devagar, contendo a breve chateação que subiu por sua garganta e a eliminando ao engolir saliva. Os dedos se apertaram em punho por um mísero segundo antes de relaxar, e o canto dos lábios se torceu com delicadeza enquanto observava o desenrolar da rodada de sua rebelde estatueta. Seria extremamente complicado que ele lidasse com o gramíneo sozinho se aquela situação persistisse, e sinceramente não queria se ver obrigada a interferir, mas talvez fosse algo eventualmente necessário...

Suspirou.

— Nosepass, eu não posso te ajudar se você não aceitar minhas sugestões! — Foi o que disse ao pedregulho, o olhar se desviando rapidamente na direção de Rotom. Seria obrigada a utilizá-lo? — Por favor, confie no que estou te dizendo! Tente acertá-lo com um Thunder Wave, se conseguir, Smack Down! — Insistiu no pedido original. Não sabia ao certo se o animal poderia derrotar um espécime daquele jeito, mas a única coisa que poderia fazer àquela altura, bem, era tentar.

Sinceramente, não tinha certeza se a "obediência" repentina de Nosepass havia sido por algum acaso mágico ou se suas palavras haviam sido suficientes para alcançar o coração de pedra da estatueta - e, naquele momento, não poderia se dar ao luxo, infelizmente, de parar para refletir sobre esse caso. Qualquer que fosse o motivo, um peso enorme abandonou o seu coração ao ver a onda elétrica ser arremessada na direção do venenoso e, mais importante, as faíscas que tornearam o corpo do espécime adversário eram a martelada final para um melhor encaminhamento do confronto que ambos disputavam. Claro, não era nenhuma garantia de vitória, mas certamente era um passo a mais que conseguiam dar em sua direção, huh?

— Isso! Você foi ótimo, Nosepass! — Incentivou. Não tinha certeza se o rochoso seguiria suas ordens a partir de então, mas poderia no mínimo tentar comprá-lo um pouco com elogios... — Vamos tentar um Stealth Rock, tudo bem? Use um Smack Down para pressioná-lo para baixo, e as pedras espalhadas podem ajudar a te dar um pouco mais de vantagem! — Pediu. Se conseguisse com que o narigudo seguisse suas ordens, as pedrinhas afiadas poderiam fazer um papel importante contra a vitalidade de Gloom junto da pressão causada pela pedrada, mas não tinha como saber se funcionaria...

A verdade é que sentia um pouco de receio; Não somente pela situação em si, mas por não ter certeza de qual lógica ao certo o animal estava usando para lidar com o gramíneo. Acreditava que a reação do adversário seria suficiente para impedi-lo de utilizar outra vez um Toxic inefetivo mas e se, num momento de fúria, ele jogasse tudo para os ares e resolvesse simplesmente explodir no meio da batalha? A mera hipótese sufocava-lhe com um tenebroso nó na garganta; Tudo que poderia fazer era tentar evitar ao máximo que o confronto atingisse esse horrendo ápice.

— Mantenha a calma, Nose! — Exclamou, num "apelido" que escapou com naturalidade impecável, ao ponto de que a moça malmente o percebeu. — Você consegue lidar com ele. Só precisamos manter o ritmo! — Acrescentou, em uma tentativa de apaziguar e estancar a bomba-relógio que o animal guardava dentro de si. Só poderia torcer pelo melhor, enfim.

O verdadeiro caos, porém, só se iniciou quando o espécime selvagem optou por demonstrar o poder embrenhado em suas pétalas tortas, finas e esquisitas - a ruiva já imaginava que a qualquer momento um movimento restaurador daqueles poderia surgir em campo, entretanto, vê-lo funcionar de verdade era quase como sentir as chances de vitória se esvaindo entre seus dedos. Um dos maiores problemas, tinha consciência, eram agora a paralisia que adornava o corpo de Nosepass e, não obstante, a velocidade superior de Gloom por conta disso. Pior: Seu pobre pokémon não tinha muitas condições para dar danos pesados no venenoso e, parando para pensar melhor no aparente leque de movimentos que o selvagem detinha em manga, seria complicadíssimo tentar conquistar uma vitória solo, por mais que desejasse fazê-lo. Talvez, de fato, precisasse recorrer a mais um de seus pokémons... Mas qual opção deixaria mais confortável o jovem Nosepass?

— Tenha calma! — Pediu, ao reparar no susto e nervosismo do animal que o fizeram arremessar mais uma saraivada de pedrinhas que, infelizmente, não surtiram efeito algum. — Vamos tentar seguir com a mesma estratégia, Nose! Duplo Smack Down! — Foi o que instruiu ao rochoso, na esperança de que o plano anterior desse certo daquela vez. Já poderia pensar, entretanto, em que tipo de auxílio poderia enviar para o animal... As melhores opções provavelmente seriam Ariel e Vileplume, considerando que eram os pokémons os quais o narigudo mais demonstrou afinidade e aceitação de proximidade.

De todo modo... Precisava esperar para ver.