Capítulo 23 - Desbravando a Tormenta [Luch]

Apesar de ter certeza de que tudo daria certo... Pelo menos nessa batalha, já praticamente vencida, meu corpo não reagia da mesma forma. Uma apreensão tomava conta de mim, afetava minha respiração e brincava com minha ansiedade. Meus punhos mantinham-se cerrados e o olhar vidrado nas Pokémon cor-de-rosa, apenas voltando "a real" quando o golpe de meus companheiros acertaram em cheio o corpo da caprina e ela tombou, de vez. Parece que seus dias de vilã estavam contados... Não que eu tenha sido mais gentil com a outra do que sua amiga elétrica. Mas enfim... Quando o silêncio se fez no ambiente, tratei de olhar para trás e procurar algum sinal de meus perseguidores. Como nada vi, pelo menos em um primeiro momento, tomei a liberdade de cuidar de meus companheiros por um segundo.

— Ume, veremos essa paralisia mais tarde, ok? Agora retorne... — E em segundos, fiz com que a Pokémon de Grama retornasse para sua Dusk Ball. Em seguida, retirei uma Lum Berry de dentro dos meus pertences... Um daqueles oferecidos a mim por Blake e dei para Syd — Nada de manter com você, ok? Come a frutinha agora mesmo, precisa tirar mais essa paralisia! — Comentei com o pequeno, abaixando-me perto dele e fazendo um carinho em sua cabeça. Tinha certeza que Syd e também os outros Pokémon só queriam estar em casa e não aqui nessa busca louca por Naty, que até agora não tinha dados sinais concretos de sua presença. Mas enfim... Ergui-me novamente e peguei num bolso diferente uma segunda Water Gem, oferecendo à Buddy — Mantenha com você... Foi muito útil contra a Electabuzz... Pode vir a calhar! — Comentei, sorrindo em seguida.

Por fim, peguei a esfera de Lenora e a deixei sair... Eu sabia que o ambiente não era nada propício para a Pokémon, mas ela era a única que não estava paralisada, além dos outros dois já de fora de suas respectivas cápsulas. Entretanto, ainda tinha algo a resolver antes de mandá-la para qualquer enrascada — Vem cá Lenora! Deixa eu tirar isso de você... Não é um lugar propício para coisas de treinamento, não é mesmo? — Comentei com a Voadora, esperando que se aproximasse e retirando seu Power Item. — Pronto... Certo... Agora em frente! — Finalizei, respirando fundo e seguindo adiante com meus três Pokémon pelo caminho que ia cada vez mais próximo ao topo.

Olhei mais uma vez para trás, só para tirar a sensação estranha de um vulto estar me perseguindo... Era tudo tão escuro que qualquer movimentação de ar já me parecia uma criatura pronta para me saltar por cima do ombro. Mas enfim... Confirmado que tudo não passava de impressão da minha cabeça, parti adiante na companhia de Syd, Lenora e Buddy. Nós havíamos escolhido o caminho mais óbvio ao topo, que eram as escadas do trajeto inclinado para cima, logo depois dos corpos nocauteados dos últimos oponentes. Foi necessário saltar o corpo de Nazaré para evitar pisar na coitada (ou nem tão coitada assim), mas em poucos segundos já estávamos ganhando terreno através dos degraus da escadaria. Bem, talvez não ganhando taaanto terreno, pois depois de mais ou menos quinze degraus, alcançamos mais um obstáculo vivo e parecia um complô familiar contra mim, afinal eram a forma evoluída e pré-evoluída das duas Ovelhinhas que havia nocauteado no andar anterior.

— Mais... Pokémon... Bem, acho que vocês não vão facilitar para mim, não é? — Comentei, fazendo uma expressão de incerteza, torcendo o lábio em desaprovação quando as criaturinhas emitiram um sonoro berro, que apesar de não compreender, considerei como uma negativa — Ok, ok... Que seja, não esperei que fosse ser fácil mesmo... — Comentei, suspirando pesadamente e depois atentando-me à batalha — Tá, formação... Syd, fique à esquerda... Eu quero que use dois golpes EARTHQUAKE! Lenora, pelo meio! Use SUPERPOWER e depois DARK PULSE na Ampharos... Se ela cair, use o segundo golpe na Mareep da Direita. Buddy! Duplo WEATHER BALL (RAIN + GEM) e (RAIN) na Ampharos! Se ela cair, também transfira o segundo golpe para a Mareep da Direita. — Disse, comandando as criaturinhas para uma combinação de golpes. Não sabia o que viria pela frente, mas estava pronto a aceitar qualquer resultado que fosse.

Eu confiava plenamente na habilidade de meus Pokémon e sabia que eles eram totalmente capazes de arrasar com aquele bando de ovelhas para podermos seguir em frente. Contudo, era evidente que em uma situação como essa, seria preciso muito mais do que habilidade para não acabar vacilando, afinal uma das variáveis deste sucesso era a infeliz da sorte, que claramente não vinha sendo muito agradável para com a minha pessoa. De todo modo, tinha de enfrentar aquilo e não vacilaria em dar ordens objetivas, além de montar uma estratégia contundente para meus Pokémon. Sendo assim, ordenei um ataque em trio conjunto de Syd, Lenora e Buddy. Os três eram razoavelmente velozes se comparados com os selvagens e agiram primeiro. O alvo principal era Ampharos e um golpe de cada um dos meus companheiros foi o suficiente para abater a criatura.

Em seguida, foi a vez do trio se separar... Syd manteve os tremores de terra sobre a Mareep solitária, enquanto Buddy e Lenora uniram-se em um golpe conjunto, com direito a crítico sobre a Elétrica restante. Em pouco tempo, todos os três Pokémon estavam caídos e poderíamos seguir adiante... Tudo tão rápido que era até difícil digerir o resultado. Ergui uma sobrancelha e fiquei boquiaberto por alguns segundos, até ter certeza que realmente tinha "acabado" — Vocês foram incríveis! Digo... Isso foi maravilhoso, um trabalho em conjunto perfeito... Mas não podemos ficar parados comemorando. Ainda não achamos Natalie e nem chegamos no topo... O que eu espero que signifique a mesma coisa... — Comentei, olhando para o caminho adiante e suspirando. Em seguida, devolvi o Power Band de Lenora e recolhi a Honchkrow e o Dwebble para dentro de suas respectivas cápsulas, libertando Meo-Mey.

— Mey e Buddy! Agora é conosco novamente... Vamos deixar Syd e Lenora descansarem... E não ache que esqueci de você Mey... Tome isso e se recupere! — Comentei, lançando uma Lum Berry para que a Meowth consumisse imediatamente. Em seguida, aproximei-me do Roserade — Vamos economizar Gemas para um caso de maior emergência, certo...? Mas não vamos baixar a guarda... Venha cá — Chamei Buddy, retirando da mochila um dos prêmios que havia recebido do Teatro, era o Expert Belt. Em seguida, amarrei a faixa na cintura de Buddy, para ajudá-lo com os movimentos efetivos que viesse a causar... — É isso... Somos nós três agora... Adiante! — Comentei com a dupla de criaturinhas e avançamos, sempre em direção ao topo, independente do que viesse pela frente.

Agora encontrava-me na companhia de Mey e Buddy, exatamente como no fatídico momento em que batalhei e torturei aquele rapaz próximo a fonte. Eu estava bem mais tranquilo agora do que naquele momento, apesar da apreensão de me aproximar do topo cada vez mais rápido. Mais rápido até do que imaginava... Mas enfim... Enquanto caminhava, fiz questão de olhar para trás e observar mais uma vez o estrago que ocorrera ali... Aqueles três Pokémon, agitados talvez pela presença do campo elétrico sobre seus pés, agora talvez conseguissem descansar em paz, apesar do nocaute nada agradável. Já eu, por outro lado, não tinha descanso tão cedo e só poderia rela... Opa! Mas o que é isso? Enquanto viajava em reflexões e epifanias, observei a presença de uma espécie de pelúcia de Pokémon largada no chão e um tanto encardida, manchada de poeira e um pouco de lama, pela chuva que castigava o local. Recolhi o objeto e levei para perto do rosto, usando a outra mão para bater nele e limpá-lo.

— Que coisa mais estranha... Será que isso pertence a alguma criança? Espero que não... Imagina uma criança, nesse lugar terrível. De qualquer modo, vou levar... — Comentei com meus dois companheiros, que simplesmente observavam sem ter muito o que dizer ou pensar. Talvez nem entendiam direito o propósito daquela pelúcia. De todo modo, guardei o objeto na bolsa e segui adiante pelo caminho ascendente de sempre. Escadas, escadas e mais escadas. Degraus de tamanho variados, alguns artificialmente produzidos, outros apenas entalhes mal-feitos em pedra. Uma subida cansativa, mas felizmente não infinita. No fim do trajeto contudo, uma presença que demonstraria ser mais ameaçadora do que aquelas encontradas até aqui. Pelo menos quando eu compreendesse do que se trata. No início só vi seu vulto e era estranhamente redondo... Surgiu com o retumbar dos trovões sobre um dos picos rochosos e parecia apenas mais uma parte da montanha, até que se moveu! Rolando de um lado para o outro, como as bolinhas de Pinball das máquinas de Nimbasa, eu consegui identificar como um Pokémon, tomando a decisão sábia de sair de seu caminho.

A criatura passou por mim como uma bala e para a minha sorte, não me acertou. Entretanto, demonstrava não estar para amizades e ter uma hostilidade eletrizante. Sua proximidade me fez ter uma visão melhor de sua estutura e a semelhança com a linha evolutiva de Dwayne foi evidente. Bem, não totalmente porque era claramente um Pokémon diferente, mas digamos que sejam... primos? Enfim... A Pokédex me confirmou a informação, indicando ser um Golem de Alola, uma região tropical e distante daqui. Era possível essa pesada rocha ter vindo... Voando? Levitando por Magnetismo? Enfim... O que importava agora? Era preciso derrubá-lo se eu quisesse continuar até o topo — Se vai ser assim, então que seja! Vamos em frente pessoal, força total! Meo-Mey, acerte-o com aquele seu FAKE OUT no Golem! Depois recue e use PROTECT! Já você Buddy, conto contigo, seu Expert Belt e é claro, seu duplo WEATHER BALL para derrubar esse Pokémon! Acerte o Golem com tudo! — Ordenei às criaturinhas, confiante de que se não fosse o suficiente para derrubar o Pokémon, certamente seria o bastante para um estrago majestoso.

Conforme avançava, cada vez mais próximo do topo do Mt. Pyre, seja em uma caminhada cautelosa, uma corrida desesperada ou uma batalha eletrizante, sentia meu coração bater com mais força junto ao peito. Cada batida era como trovões, reverberando sua energia pelo resto do meu corpo a partir de cada bombeada de sangue por parte do coração. Entretanto, esta sensação interna e incontrolável era extremamente contrastante com a externa, que era fria, inerte, anestesia, tal qual minha capacidade de julgamentos, fortemente abalada desde o incidente na Fonte... Me faltava um senso de direção concreto e eu parecia estar agindo por impulso, como uma agulha de bússola procura apontar sempre o Norte, porque assim o é, sabendo disso ou não. Bem, nesse caso meu Norte era Natalie, e por associação, o topo do Mt. Pyre, onde tudo prometia resolver-se, seja para bem ou para mal.

— Flanqueiem ele pelos dois lados... A visão lateral do Golem é muito limitada! — Comentei com os dois Pokémon, movimentando-me pelo lugar, em busca de algum sinal de fraqueza ou ponto de ruptura que o Pokémon houvesse e lhe deixasse mais frágil e suscetível aos golpes das duas criaturas. Entretanto, não havia nada... Ele realmente era um monolito poderoso e eu teria que lidar com ele da forma mais crua possível. Com muita porrada! Pois bem... As ordens já haviam sido dadas para os Pokémon e sem sombra de dúvidas, eles as executaram com total dedicação e precisão. Meo-Mey, como fazia com frequência, principalmente desde que chegou aqui, agilizou-se em uma finta de corpo para então saltar no ar e golpear a cabeça do adversário. Um movimento não muito poderoso, ainda mais com a resistência física do adversário de pedra, mas no ponto ideal para deixá-lo à mercê do que viria a seguir... Buddy já preparava-se para dar tudo de si com suas mortíferas Weather Balls. A primeira veio com o oponente ainda desorientado... A segunda, quando ele pensou em reagir. Entretanto, era tarde demais e ele apenas caiu, fazendo um estrondo quase tão forte quanto os trovões que atormentavam o Monte.

Mesmo diante da queda relativamente rápida, mantive-me de pé, estático, apenas observando à distância para entender o que havia. Era o fim? Ainda tinha o que reagir? E se ele simplesmente... Explodisse? Bem, não sei porque o faria, mas e se? Foram necessários muito segundos de uma chuva pesada sobre meu rosto e corpo já encharcados para que eu tomasse a iniciativa. Buddy e Mey me observavam e esperavam reagir, por isso apressei-me quando "despertei" para a situação. Assim que cheguei bem próximo do Golem caído contudo, um estalo me fez recuar alguns passos e deixou os dois Pokémon "em alerta". O corpo da criatura movia-se e ameaçava reagir. Estaria tentando levantar-se? Esperei cuidadosamente e usei o braço para tentar retirar rapidamente a água que escorria pelo meu rosto, assim não perderia nada daquilo. Entretanto... Não era exatamente o que eu esperava... Não era o Golem movendo-se e sim as rochas que o constituíam, elas rachavam, trincava, afastavam-se e em pouco tempo toda a criatura simplesmente transformava-se em cascalho amontoado e por fim, pó.

— Que loucura foi essa...? — Questionei, primeiro para o "ar", observando o pó esvair-se com o vento. Em seguida, levando o questionamento aos dois Pokémon que me acompanhavam. — Será que não era exatamente um Pokémon? Só rocha unida por... Energia elétrica? Mas quem está controlando isso? Ou o que? — Continuei com as dúvidas que certamente não se responderiam, enquanto notava a presença de um cristal no meio dos cascalhos e do pó. Era semelhante ao que tinha recebido no Teatro, mas este brilhava como um raio e tinha uma aura de estática ao seu redor. Pois bem... Assim como com a Pelúcia de antes, simplesmente abaixei-me, abri a mochila e o guardei em um lugar seguro. Ao mesmo tempo, retirei algumas Berries e um frasco de poção, além de objetos que seriam úteis aos meus companheiros. Também decidi libertar todos e avaliar seus estados e o que poderia fazer com eles, por isso não demorei-me a fazer com que Syd, Ume e Lenora passassem a acompanhar Mey e Buddy.

— Ok, estamos vivos ainda pessoal! E cada vez mais perto do topo. Não, infelizmente não achamos Natalie ainda, mas eu tenho confiança de que conseguiremos em breve! — Comentei com todos eles, sentando-me em uma pedra saliente do caminho. Relaxar assim era como dar uma surra no meu corpo, pois desde que cheguei no Mt. Pyre tive pouquíssimo tempo de dar um descanso para as minhas pernas. O sofrimento e o alívio eram estampados no rosto de modo bem evidente para quem quisesse ver — Ah, finalmente sentamos... Mas ok, sem descansos, não é mesmo? Enfim... Eu tenho apenas uma Lum Berry e dois Pokémon paralisados... Bem, uma escolha difícil, mas eu estou entregando esta para Ume, tudo bem Syd? Essa é sua terceira paralisia e eu dei preferência a você das outras vezes, sejamos justos... Entretanto, ainda tem frutas e um refresco para feridas para todos vocês! Façam fila! — Comentei, dando uma Lum Berry para Ume consumir imediatamente, assim como Oran Berries para Meo-Mey, Syd e Buddy. Já Lenora precisava de mais do que uma frutinha... Sendo assim, apliquei um spray de poção em suas asas, na plumagem da frente e também no bico, que possuía alguns ferimentos, encerrando essa rodada de recuperações.

— Excelente! Agora a gente pode seguir em fr... — Comecei a dizer, até ser interrompido pela milésima vez nessa aventura, dessa vez com um guincho fortíssimo e próximo, vindo do caminho adiante. Um trovão novamente cortou o lugar e caiu muito perto de onde estávamos, o que me fez pensar que não havia sido uma coincidência, mas mais como um aviso... Ameaça... Contudo, o mais importante não era a reação sonora selvagem que vinha de lá e sim um grito feminino, que podia pertencer a muitas pessoas, mas que cortou meu coração e o fez pensar ser de apenas uma. — Isso não é bom... Isso não é nada bom! Ou melhor... Não é tão ruim, pois se há grito, há vida e se há vida, há esperança... Atenção, pessoal! — Disse, dando uma volta com o pé e ficando de frente para os Pokémon. Recolhi os objetos que precisava dar para cada um deles e fui entregando mais rápido do que antes. — Syd, me dê essa Choice Band, pegue no lugar o Expert Belt de Buddy! Já você Buddy, segure novamente essa Normalium Z. Tenho certeza que agora a gente vai usar ela! Tem algo grande aqui perto... Eu sinto! Além do mais, vamos todos juntos! Como um time completo dessa vez! — Comentei, olhando par a mochila e o Ovo, que apesar de não ter nascido, também faria parte desta equipe tanto quanto qualquer outro. Então... Preparado e com os Pokémon prontos para o que viesse, segui adiante em direção ao topo.