Não me lembro quando foi a última vez que estive com minhas roupas civis e viajando sem preocupações grandes na cabeça. Quero dizer, com preocupações grandes me refiro a: ter a vida de alguém, seja humano ou Pokémon, em minhas mãos; impedir um incêndio, procurar e neutralizar ameaças, como contrabandistas, incendiários ou invasores de outras dimensões. No momento minhas únicas preocupações eram chegar no Centro Pokémon e comer algo e encontrar o objetivo que me trouxe até esta pitoresca cidade.
Johto com certeza tem seus charmes, e mesmo sendo nativo daqui não conheço quase nada além da costa de Olivine e a floresta Ilex, que por mais que seja linda, exuberante e convidativa, francamente passei tempo demais por lá. Para as próximas férias vou pro lado das montanhas, com certeza. Então, como já adiantei, Mahogany era uma visão completamente nova. Uma pequena cidade no pé de uma grande montanha, com casinhas simples, poucos prédios e uma atmosfera mais bucólica. Para muitos, um tédio. Para mim, um paraíso.
Chegar em um ambiente como esse montado em um Salamence não é a menos chamativa forma de chegada, mas é a que temos. Desci de Bahlok, com Kinney em meus ombros, e tomei o Rotom Phone. Havia algo que também não me lembro de ter feito a um bom tempo, e já espero pela bronca. Como ainda era manhã, provavelmente teria uma série de broncas…
- Olha só quem lembrou que tem pai?? - dois ou três toques depois, um rosto masculino de meia idade, cabelos claros bem cortados e barba por fazer me encara. - Bom dia, Sr. Drama! - respondi meu pai com algo que provavelmente o tiraria do sério, de forma proposital é claro! - Drama, né? Moleque abusado! Oi Kinney! - ele torceu a cara, mas imagino que estava com tanta saudade da chamada que não continuou com a bronca, tanto que mudou completamente o humor quando viu Kinney subindo em meu ombro para dar um oi. - E que negócio azul é esse atrás de você? - estava encostado na lateral de Bahlok, então era realmente só uma grande massa azul. Mudei a posição da câmera para filmar sua cabeça, e assim que o dragão percebeu meu pai do outro lado da linha, soltou um rugido de alegria! - Cacetada! - é, seu Frederik não imaginava aquilo! Pude ouvir do outro lado da linha um “Olha a língua” de uma voz grave, provavelmente comandante Gordon dando uma bronca. - Olhem só isso aqui! - foi a vez do meu pai mudar a posição da câmera. Um sorriso bobo tomou conta do meu rosto quando puder ver o rosto de todos da corporação, e obviamente a surpresa foi generalizada. “CACETADA! É O BAHLOK? ELE EVOLUIU?”, acho que isso resume as reações de todos!
- Sim, é ele! Pensa numa criança feliz por poder voar? - era o maior sonho de Bahlok, tanto que ele entendeu essa parte e veio fazer um afago com a cabeça em meu ombro. Era grande e intimidador, mas ainda era o mesmo Bagon que encontrei na Meteor Falls. - Que bom, filho! Ficando cada vez mais forte, isso é incrível! E onde está agora? - pelo visto a parte da bronca não existia mais no tom que meu pai usava, agora era o velho Frederik babão - Estou em Mahogany. Vim falar com o líder daqui, um especialista no tipo ice. - sim, esse era meu objetivo. Consegui ouvir um “uuh” do outro lado da linha. - Pryce não é somente um especialista nos tipo ice. É uma lenda. Não esqueça de prestar o devido respeito, cadete. - comandante Gordon invadiu a chamada mais uma vez, dando uma de suas ordens na forma de conselho… ou era um conselho na forma de ordem? NÃO DÁ PRA SABER! - Sim, sei disso, por isso vim até ele. Se quero aprender algo, que seja com os melhores. - a resposta era direta e objetiva, como aprendi a fazer com eles mesmo. Devo tudo a minha formação de base com essas pessoas. Minha família.
Chamada finalizada e tudo decidido, era hora de correr até o Centro Pokémon e comer BASTANTE. Não sabia o que iria acontecer, mas algo me dizia que não seria tão simples quanto “Ah, quer aprender comigo? Claro, assine aqui!”. A reputação de Pryce o precedia, portanto é bem razoável de se imaginar que seja recorrente a tentativa de se tornar um de seus aprendizes. Mas é o que dizem: o não já tenho, vou atrás ou da humilhação ou da positiva. Ao meu lado estava um time bem sólido, e como sempre era muito interessante vê-los interagindo. Kinney estava ao lado de uma novata, recém chegada no time, ainda tímida e mais quieta. Era uma espécie bem exótica e rara, que adotei em um programa envolvendo uma ONG e um santuário Pokémon em uma ilha distante. Chama-se Clara, e tem olhos grandes e muito inocentes. Mas como todo bebê Pokémon, adora um carinho! Ao lado dela estava Groen, muito mais animado que das primeiras vezes. Ele é bem tímido e na dele, preferindo ficar ao lado de Ciri, que por si só parece um poço de tranquilidade. Leona sorria com a presença do rosto novo na equipe, fazendo a vez de veterana ao lado de Kinney. Ah, e sim, estava do lado de fora do Centro. Só assim poderia deixar Bahlok comer junto de todos!
Refeição feita, era hora de seguir para o ginásio. Como de praxe, Kinney ia ao meu lado, e dessa vez Clara também estava ao meu lado, pedi que caminhasse comigo. Era uma boa forma de estreitar os laços e também aprender mais sobre aquela doce figura. Não era nem um pouco difícil localizar o ginásio: um dos maiores prédios da cidade, com suas cores relacionadas ao tipo, reluzindo com o toque da luz. Depois de uma breve caminhada, entrei no local e fui na direção da recepção. - Bom dia! Por gentileza, o líder se encontra? Vim solicitar uma entrevista para me tornar seu aprendiz.