Segundo capítulo

Segundo Capítulo


Já havia alguns dias que Zaffre tinha seu novo Pokémon. Azurill era, como o assistente do professor lhe alertara, um pouco arisco, mas parecia mesmo gostar do garoto. Era como se eles tivessem uma conexão. Dormiam juntos, comiam juntos, Azurill mal ficava em sua Pokéball. Na realidade, o pequenino gostava mesmo era de se acomodar nos braços do seu dono, que o levava como uma almofadinha próxima ao corpo. Ele não era pesado. Era uma boa companhia.

Entretanto, Azurill ainda era bem fraco. Seu treinador sabia que ele precisava melhorar antes de sair em jornada. Decidiram, então, treinar um pouco, talvez achar algum item legal que poderia estar pela cidade. Zaffre sabia que Verdanturf era pacata, tanto pelos habitantes quanto pelos monstrinhos que ali viviam. Então, decidiu sair com o pequeno ser azul para a parte da cidade habitada pelos Pokémon, próxima aos antigos trilhos de trem e pomares.

Depois de alguns dias se acostumando com a presença um do outro, e fortificando seus laços, Zaffre e Azurill finalmente decidiam seguir em direção ao desconhecido. Como todo jovem que acabava de se tornar um treinador pokémon, Zaffre decidia que estava na hora de agir, e seu primeiro propósito era deixar Azurill forte andes de partirem.

Com a pequena bolinha azul em seus braços, o jovem seguia em direção aos confins da cidade onde vivia a muito tempo. Ele sabia que se seguisse pelos trilhos antigos que cruzavam a cidade, ele acabaria chegando aos pomares que a rodeavam. E seu objetivo era procurar por pokémon para batalhar, ou algum item que pudesse ajuda-lo em sua viagem.

A medida em que se afastava das casas seguindo os trilhos, o jovem parecia se animar ainda mais. O desconhecido era algo que o agradava, já que gostava de conhecer coisas novas. Como todo jovem curioso, ele olhava para todas as direções, enquanto procurava por algo que lhe chamasse a atenção.

Passados alguns minutos de caminhada, as casas haviam se tornado vegetação, e não havia mais nenhum sinal de humanos por ali. Zaffre tinha algumas opções que poderiam lhe soar interessantes. A primeira era continuar seguindo pelo trilho mais a oeste, para ver onde aquilo o levaria. A segunda era sair dos trilhos e se aventurar no meio da vegetação ao norte da cidade. Mas a terceira opção, poderia ser a que mais lhe chamaria a atenção. A alguns metros ao lado do trilho, no meio de uma vegetação mais densa e verde, um som bastante estranho soava em um ritmo frequente. Era como o tilintar de um sino, mas parecia um pouco distante dali, bem no meio das outras duas opções seguindo para o noroeste de onde estava.

O que Zaffre decidiria fazer?

Segundo Capítulo


Um tilintar estranho percorreu o ar até os ouvidos de Zaffre e de Azurill. O som vinha a noroeste, seguindo a brisa de Verdanturf Town e o farfalhar da vegetação ali presente. O garoto sentiu quando o pequeno Pokémon se remexeu, inquieto, e saltitou dos seus braços. Essa não!

O ser azul aterrissou no chão como uma gota de água, mas silenciosa. Usou a cauda para amortecer a queda e ainda pegar impulso. Era um belo jeito de usar o movimento Splash, Zaffre percebeu, como uma pequena bola de canhão que quicava e avançava à frente. Entretanto, era mais urgente correr atrás de seu bichinho do que admirar suas ações.

Azurill adentrou uma região mais densa em direção ao sino. Felizmente, seu dono o alcançou assim que passaram próximos a uma árvore vistosa e de grandes raízes. O garoto pegou o pequeno entre seus braços.

— Ei, garoto, fique calmo! Confie em mim. Se quer fazer algo, vamos fazer juntos, certo? — falou para o Pokémon, que lhe retribuiu com um assentimento e um grunhido caloroso de satisfação.

Assim, seguiram os dois em direção à fonte sonora.

Apesar de Zaffre ser o mais curioso entre os dois, Azurill ainda era um bebe. Era obvio que um filhote sairia correndo em direção ao som que lembrava muito um brinquedo, e assim aconteceu. Azurill ouviu o tilintar e logo saltou do colo de seu treinador para avançar em direção ao local de onde parecia vir o barulho.

A vegetação à frente não era das melhores para se atravessar, como ainda não haviam chegado ao pomar, um matagal alto tomava conta do caminho entre eles e o som. Além do mato alto, alguns arbustos espinhosos e arvores de grande porte podiam ser encontrados. Cipós pendiam das copas mais altas, e formavam uma mata fechada.

O jovem conseguiu alcançar o pequeno Azurill, antes mesmo que ele se perdesse no meio da mata. Parando-o no ar no meio de um de seus saltos. Com uma risadinha animada a seu próprio modo, o pokémon demonstrou que estava se divertindo, e pareceu se animar ainda mais quando o humano concordou em ir até o som.

A caminhada era difícil, mas nada que Zaffre não estava acostumado. Depois de passarem pelos primeiros metros de vegetação, o mato alto começou a se transformar em uma vegetação mais rasteira. Com o excesso de raízes, a grama não conseguia crescer muito bem, e principalmente pela falta da luz solar. As copas das árvores se juntavam e formavam um telhado verde acima de suas cabeças, formando uma bela paisagem com os finos raios solares passando com dificuldade entre as folhas.


A medida em que avançavam, o som parecia ficar um pouco mais alto, indicando que realmente estavam indo na direção certa. E finalmente para a surpresa da dupla, eles acabaram encontrando uma pequena cabana de madeira, escondida no meio daquela mata.


A cabana ficava bem no meio de uma pequena clareira, enterrada no chão e coberta de vegetação. O que fazia parecer que havia uma construção ali, era a sua pequena porta a uns centímetros abaixo do nível do chão e a chaminé que se erguia para sobre a grama do telhado. De dentro da cabana, o som continuava vindo, soando ainda mais alto do que antes. Azurill se moveu animado no colo de seu treinador mais uma vez.

Segundo Capítulo


A mata se adensava. Zaffre às vezes tropeçava em ervas daninhas e raízes. As árvores escondiam o céu, suas folhas grandes e grossas se entremeando como um tapete verde. Azurill estava ainda mais inquieto. Houve um pequeno rebaixamento no terreno, e no meio da vegetação apareceu algo surpreendente.

Havia uma casa ali, pintada pelo verde do musgo que crescia com ajuda da umidade e sombra do local. A casa parecia afundada no mato, como num conto de fadas. Era dali que o som emanava, desta vez ainda mais forte que outrora.

Azurill saltou dos braços do seu dono, mas ficou próximo a ele. Obviamente, até aquele pequeno ser podia sentir que não era extremamente confiável adentrar um recinto como aquele. Olhou para o garoto com ar desconfiado, mas curioso.

Zaffre hesitou. Ambos queriam entrar (afinal, eram igualmente curiosos, mesmo que fossem seres diferentes com mentes diferentes). Mas será que não poderia ser uma armadilha ou algo assim?

Decidiu, então, deixar seus instintos falarem mais alto. Andou rente ao seu bichinho, é bateu à porta do lugar, esperando que algo ou alguém abrisse. Azurill parecia preparado para atacar se necessário.

Depois da não muito longa caminhada mata adentro, o jovem treinador e seu pokémon se viam diante de algo surreal. Uma casinha quase que abaixo do chão, coberta de musgo e folhas caídas das árvores, estava ali no meio daquele local ermo. Era bastante estranho, e muito mais estranho era aquele som de sino infindável que vinha de seu interior.

Não resistindo à curiosidade que corroía todo o seu ser, Zaffre e Azurill decidiam ver o que havia ali. Era cinquenta por cento seguro, mas para eles valia a pena arriscar. Eles se aproximaram vagarosamente da entrada da cabana. Precisaram descer dois degraus de terra batida para tal. Ao bater à porta, a madeira úmida emitiu um som meio insosso por causa de sua estrutura não muito firme. Mas aquilo pareceu suficiente para que o ser que estava em seu interior parasse o que estava fazendo. Finalmente o tilintar sessava.

Demorou alguns instantes para que acontecesse algo, e talvez o treinador novato estivesse se corroendo de curiosidade. Mas tudo parecia se desenrolar de forma que o deixava ainda mais curioso. Uma som de vidro estilhaçando contra o chão foi ouvido juntamente de um guincho estranho. “Piiii!” Em seguida alguém disse não muito baixo com uma voz irritada. - Eu disse pra ficar quieto! Ele deve ir embora logo.

A voz humana parecia pertencer a alguém ainda mais novo do que Zaffre. Parecia ser um menino e alguma outra criatura que ainda não podia ser identificada. Mas ficar em silencio e fingir que não havia ninguém ali dentro parecia ser um plano bastante falho. Depois de toda aquela barulheira com o “sino”, seria impossível não haver ninguém ali dentro.

O que estava havendo ali dentro? E de quem eles estavam se escondendo? Eram algumas das perguntas que se passavam na cabeça de Zaffre. Mas o que ele faria para descobrir?

Segundo Capítulo


Quando o garoto de cabelos azuis e seu Pokémon adentraram a casinha escondida sob o musgo ocorreu uma série de eventos no mínimo estranhos.

O barulho cessou. O que antes era um tilintar crescente, agora nada mais era que silêncio. Substituindo o silêncio momentâneo ouviu-se um grunhido possivelmente não-humano e, depois, uma voz infantil ecoou dizendo:

— Eu disse pra ficar quieto! Ele deve ir embora logo.

Azurill disparou para dentro do lugar. Havia ali um cheiro forte de mofo e era bem escuro. O teto e as paredes eram, basicamente, madeira molhada e vegetação úmida. Existiam frestas por onde passavam fios de luz que garantiam ao local uma iluminação fraca e lúgubre.

Zaffre também foi em direção ao Azurill, seus sentidos ainda se acostumando àquele ambiente. Sentia o coração batendo rápido e a respiração alterada. Já que estavam ambos ali, por que não descobrir o que se passava? Assim fizeram, buscando, dentro da casa, o que lhes despertara a curiosidade.

A curiosidade da dupla era o suficiente para faze-los avançar para o interior da casinha. Azurill foi o primeiro, e agindo de forma impulsiva e um pouco imprudente, ele golpeou a porta e adentrou ao local. Zaffre foi logo atrás, talvez um pouco preocupado com seu pokémon, mas nitidamente bastante curioso para ver o que havia lá dentro.

Ao passarem pela porta, a única iluminação que vinha era a da abertura a qual haviam acabado de passar. Suas sombras se projetavam até a parede do fundo, causando medo em quem já estava do lado de dentro.

Era um local pequeno, assim como visto pelo lado de fora. Não havia muita coisa ornamentando o interior. Do lado direito, uma mesinha de madeira, quatro pequenas cadeira, uma estante presa à parede preenchida com algumas berries e utensílios de louça. Do outro lado, um colchonete velho e surrado estava forrado no chão ao lado de outra estante vazia. E por fim, bem no centro, atrás das sombras de Zaffre e Azurill que estavam projetadas até a parede do fundo, uma dupla estava agachada se abraçando e com uma expressão aterrorizada nos rostos.

Era um garoto que aparentava ter menos de dez anos de idade, e um pokémon idêntico ao pokémon de Zaffre. Quando o rapaz e seu pokémon invadiram o local, o garotinho gritou e abraçou fortemente o pokémon que o acompanhava. À frente deles, havia um objeto de vidro quebrado, e um par de guizos jogados ao chão. Foram precisos alguns segundos para que o garoto reparasse em Zaffre e Azurill, e assim que viu o treinador ele relaxou e começou a chorar.

Segundo Capítulo


Azurill corria a frente, saltitando. Atrás, Zaffre estava taquicárdico e preocupado. Será que teria sido uma má ideia? Por que ainda se deixava dominar por sua curiosidade?

Adentraram um cômodo. Era igualmente rústico, madeiras e mofo para todo lado. Entretanto, havia uma pequena - e alarmante - diferença.

No chão, próximo a cacos de vidro, havia uma espécie de sino ou guizo. Zaffre já havia visto um objeto daquele em algum lugar... Mas onde? Não se lembrava. Além disso, uma figurinha redonda e azul da cor do mar estava ali. Era um Azurill.

Para sua surpresa havia um garoto também. Tinha uma expressão assustada e tremia como vara verde. Ao se deparar com o treinador de cabelos azuis, ele chorou e pareceu aliviado. Aquilo amoleceu o coração de Zaffre.

— Quem é você? Por que está aqui? — perguntou, se aproximando levemente do pequenino. — Fique calmo, não vou te machucar. Me conte o que está acontecendo.

Depois de ver o que havia dentro da cabana, Zaffre acabou se comovendo com o garotinho assustado e seu pokémon. Enquanto o garoto chorava, o treinador se aproximava dele e ia fazendo perguntas para tentar acalma-lo.

Parecia meio inútil tentar conversar com o garoto, ele estava muito assustado e não parava de chorar. Apesar de o garoto não parar de chorar, assim que Zaffre e seu Azurill se aproximaram o suficiente, o Azurill que acompanhava o garoto se colocou entre eles. O pokémon parecia nervoso, e começava um “poing-poing” frenético dividindo o território.

- Eu, eu, – o garoto tentava dizer finalmente. - Eu sou Alef. – Depois de falar, ele tentava engolir o choro, e ficava apenas fungando o nariz. Todos ficaram alguns segundos em silencio, ouvindo apenas um funga-funga do garoto, mas logo em seguida ele continuou falando baixinho. - Eu fugi de casa. E agora eu moro aqui. – Ele limpava os olhos. - Mas tem um monstro na floresta, e temos medo de sair daqui. Eu tô com fome, mas não tem mais nada pra comer aqui e o Azurill não é forte para ir lá fora sozinho. – Por fim ele parava de fungar e olhava para Zaffre.