Big TV _White Lies

Era impossível esconder minha cara de idiota quando Joy falou o que tinha que ser dito. Ela não me deu o Pikachu, na verdade, falara só sobre os esfregões que eu ontem, pela manhã, peguei. Não os devolvi até agora! Oh deus. Meu queixo caiu, minha face ficara rubra e comecei a esboçar um dito-falho, uma gagueira que só. Quando reparei no quão idiota aquilo soava, apenas virei o rosto, contornando o olhar da doce moçoila e anunciei:
- Procurarei para você - E fora só isso, em bom português. Dei as costas ao balcão.

Comecei caminhando até a parte exterior do estabelecimento, tentando contorná-lo para retomar o tão inexpressivo terreno baldio que outrora usei. Para Ayzen?! Nada falei; esperava que ele me seguisse, mas preferia que não. Certamente o rapaz perceberia que eu era a culpada pelo furto se me visse indo atrás - de modo tão certeiro - dos esfregões. Preferi seguir quieta, sem olhar para trás, sem muito estardalhaço. Abracei bem o egg de Tyrogue, ajeitei minha mochila e fui lá consertar minha pequena gafe.

Ai Winnie, porque tão esquecida?!

Tyrogue 55/60
Houndour 2/40

Ayzen me perseguia como já esperado; nunca quis tanto que o garoto simplesmente me esquecesse. Apesar de saber que seguiria minha rota, não dei para trás. Não contornei o caminho, não me fiz de sonsa e, principalmente, não dei corda ao homem... não é como se eu estivesse fingindo que não o ouvi, mas como se eu estivesse fingindo estar concentrada demais para isso?! Pois bem, cheguei ao local e, como imaginado, aos objetos perdidos. Por um instante cogitei esboçar alguma surpresa falsa, uma espécie de suspiro mentiroso e um alívio pelo encontro.

Cheguei até a derrubar meu queixo mas logo a ideia se esvaiu de mim. Até parece que enganaria um policial com descupinha tão fajuta, né Winnie?! Pois bem, virei-me para Ayzen e deixei que ele concluísse o óbvio. Estampei um sorriso sem graça no rosto, abaixei a cabeça e tentei achar ao menos um esfregão que servisse para o trabalho; infelizmente nenhum pareceu se salvar...

... ou ao menos, era a impressão que eu tinha. Eu não iria muito a fundo! Ayzen conectara a problemática e parecia me ajudar, por quê? Não faço ideia, mas não parecera muito ostensivo ao meu furto. Decidi ser sincera; se sem saber ele já aceitara, quando entender que fora um desleixo provavelmente não levará tão mal:
- Eu peguei pra um treino e esqueci completamente.... não tava tão acabado assim que eu lembre, talvez alguém veio aqui e piorou a situação, mas de qualquer forma, preciso de novos esfregões - É, a ideia de comprar não seria tão ruim se, claro não fosse tão cedo - Assim, são só esfregões, a gente não precisa ir para uma loja para arranjar, a gente pode tentar comprar de uma padaria, ou mercearia... sei lá deve ter algo aberto. Todo estabelecimento tem um! Ao menos encontrar um ou dois já ajudam... vem cá, me ajuda a carregar isso para a Joy, talvez seja útil essa porcaria.

Caminhei até a parede onde os objetos estavam apoiados. Peguei-os (ou o que restou deles) com as mãos e tentei carregá-los para dentro do estabelecimento... eles e os outros dois baldes que outrora peguei e que, muito provavelmente, também esqueci ali.

Tyrogue 57/60
Houndour 4/40

Ao narrador, com carinho.

Num avesso do esperado, apareci com a cara de tacho que já devia ter. Atropelei os possíveis julgamentos e fiz o que devia que fazer; mas admito, é por pura e óbvia aparência. Se Ayzen não estivesse aqui?! Possivelmente não iria emitir o feito e deixaria-o omisso. Com o homem justo e honesto ao meu lado, a coação fora inevitável e agora eu me via rente a porta, sob os olhares de Joy, com três esfregões estragados em mãos. Pigarreei, demonstrando o incômodo com o que sairia da garganta em seguir. Apesar da fala dolorida, devo admitir que aquele ar condicionado também não me ajudava em muita coisa:

"Desculpa, eu vou comprar outros três" dei à Joy o que é de Joy. Num só instante, a moça deu as costas e mudou de assunto. Aquilo doeu! Quando nada se comenta, é quando muito tempo. Deixei que falasse e tentei - assim como ela - me distrair. Tomei do balcão o pokémon que ela trouxera e o ergui com as duas mãos, virado para mim. O pequeno tremelicou, trupicou mas não caiu; apenas o fizera em desacato e medo. Aceitei seu viés pessimista e o virei de costas, apresentando-o para Ayzen.

"Esse aqui é o mansinho", fora a única coisa que falei. Até porque, ele era! Apesar do ódio, pouco lhe restara de malícia. Infelizmente ele parecia inquieto demais para levá-lo comigo então, numa experiência que (estranhamente) tem se tornado comum, retirei uma pedra. "Você vai gostar de mim depois desse presente?" indague, sendo respondida com um olhar esperançoso, guloso & auspicioso. O ratinho?! Pulara do chão e tentara agarrar a pedra por-si-só. Vê se pode! Logo mais eu lhe dava o pequeno presente e pulava para longe; evitando um terceiro choque.

Sem choque, com brilho. Pequenos raios inofensivos incandesceram o saguão e logo mais um Raichu se mostrava contente. Agora só me restava dar-lhe um lar; um daqueles que lhe faria bem! Catei da PokeNav o aplicativo GTS, mas deixei-o no bolso; só o faria depois da minha primeira obrigação. Dei um aceno singelo e tímido à Joy, dei um abraço em Ayzen e um beijo no rosto, sai pelo estabelecimento com uma curta despedida; até porque eu tinha certeza que, para ambas personas, aquilo seria apenas um "até logo".

"Bom médico, meu bem. Que melhore logo, resolverei isso aqui e já começo minha missão..."

Tyrogue 59/60
Houndour 6/40

Fui andando sem muito rumo; só tendo certeza que não iria ao mesmo lado de Ayzen. Sabe aquele momento constrangedor, quando você se despede de alguém e os dois vão para o mesmo lado? Pois é, eu queria evitar isso. Por essas e outras fui ao norte; o garoto fora ao Sul. O que tinha para lá?! Não sei ao certo, só sei que em certo ângulo o sol batera em minha face, me obrigando a pega meu óculos de sol.

Não que eu possa reclamar; estava tão frio que dificilmente um sol me seria um incômodo. Coloquei o dispositivo na cara e apenas agradeci; finalmente um calor natural tocava minha pele clara, aquecendo meu pelo fino e revelado o brilho do suor que eu já nem lembrava que existia! Olha à diante, tentei encarar o sol com o óculos novo que ganhei do Ranking e logo mais me arrependi. Um pequeno borrão se fez ao centro da minha vista e isso me perturbara por longos minutos.

... talvez eu deva comer mais cenouras.

Pois bem, com ou sem visão complicada, fui marchando em direção ao sem-rumo. Procurei a calçada, pulei entre meio fios desregulares e ora ou outra, brincava nas pequenas rampas. Fiz isso por longos metros até um beep me parar. Um daqueles que eu já sabia de longe, sabe? O ritmo me era tão conhecido que eu nem precisava pegar a PokeDex para entender que, em sua tela, uma mensagem óbvia surgia em tom de alerta.


- Thanks, Siri - Ironizei, guardando no bolso do vestido o aparelho.

Sim meu vestido tem bolso; graças a deus inventaram essa modernidade no século XXI. Larguei ali o aparelho, trouxe a mochila para frente e abri com delicadeza o zíper, retirando com cuidado o ovo-rosado que eu ali guardei. Larguei uma alça da mochila, deixei que ela pendesse para o lado esquerdo de meu corpo e apoiei o objeto-de-vida com o braço direito, confortando-o entre meu peito e meu cotovelo. Ninei-o por um bom tempo até... bem, até um tremelique o tomar. A luz do sol invadiu um pequeno buraco e, em instantes, um soco moldava a casca malemolente de fora para dentro.

Mas que estranho; eu nunca vi isso antes. Era como se o bebê chutasse, mas não saísse de vez! Num estágio um tanto quanto hiperativo do nascimento, Tyrogue parecia ter certa dificuldade para sair dali. Decidi dar-lhe o tempo que merecia e, talvez por isso, parei de andar. Eu já estava longe do Centro Pokémon mas, com o estranho nascimento, optei por não me afastar mais; procurei um banco de beira-de-praça e sentei ali.

Quando assim o fiz, botei o ovo no chão. ele rolara para a esquerda, depois para a direita e perdera um pouco o controle, indo para frente e tombando. Ficara ali, tentando sair daquela posição, como uma tartaruga-de-costas. Confesso não saber o que fazer; eu nunca havia sido orientada a meter a mão em um nascimento, mas aquilo parecia ser... necessário?! Bem, quando cogitei botar o dedo no buraco e alargá-lo, Tyrogue Egg rolou, naquela posição horizontal mesmo... não fora tão longe, já que o pé-do-banco o parou e, finalmente, rompeu a casca, libertando o rosado-lutador. Abri um sorriso um tanto quanto tosco; cacei-o com as mãos, o coloquei em meu colo sentado e lhe disse francamente:
- Você parece uma boneca - E parecia. Rosado, bobo, malemolente, pequeno e... principalmente, bebê - Mas eu sei que você não vai ficar assim pra sempre... só não posso fingir que isso não aconteceu. Eu não consigo pensar outro nome para você além de Thor, o mais atrapalhado de Asguard.

OFF: Chocando Tyrogue e botando o nome dele de Thor.

Tyrogue 60/60
Houndour 8/40