02 - A caminho de Mauville!

Pelo visto a batalha não duraria muito mais tempo. Meditite já mostrava sinais de cansaço, mais um pouco e a vitória seria nossa. - Certo, Kinney, estamos quase lá! Use Taunt novamente! - comandei minha parceira, vendo que o Pokémon selvagem evitou o ataque direto, ele poderia estar tramando algo - Use Quick Attack ao ver uma abertura! - comandei, por fim, acreditando que aquele seria o golpe final, lançando em seguida a Pokébola, assim que Meditite não pudesse mais se mover.  

Foi uma batalha e tanto, e Meditite se mostrou um Pokémon muito durão! Ao terceiro chacoalhar da esfera já sentia que a captura tinha sido efetiva. O segundo ataque recebido deixou Kinney um tanto atordoada, mas ela estava de pé ao fim da batalha. - Muito bem, Kinney! Você foi perfeita como sempre! - sorri para minha parceira e fui em sua direção para lhe fazer um carinho. No entanto, fui surpreendido por algo inesperado.

Um brilho azulado ofuscante começou a emanar de Kinney, mas ainda pude ver o que acontecia. Sua silhueta foi mudando aos poucos, inclusive crescendo alguns centímetros. Algo cresceu de sua cabeça, como se fosse um leque. Quando a luz se dissipou, a Sneasel que conheci havia mudado, e muito. Seria aquele o tal processo de evolução? - Kinney… garota… você… você evoluiu? - disse, ainda sem entender. Kinney olhou para suas garras, atônita. Era nítido que algo não estava certo. Eu podia sentir algo… desesperador dentro dela - Kinney, o que foi garota? - tentei me aproximar, mas ela reagiu de forma brusca. Suas garras brilharam, como se fosse um novo movimento. Vi nos olhos de minha parceira um misto de medo, angústia e raiva. Em um grunhido alto, mesclado a algo parecido com um grito, minha parceira, agora uma Weavile, mergulhou nas sombras da encosta rochosa - KINNEY! - gritei pelo seu nome, mas a penumbra da lua pouco me ajudava naquele momento. Kinney havia desaparecido.

Senti os joelhos fraquejarem. Cai prostrado, imóvel, aterrorizado. O que diabos havia acontecido? “Reaja, Galvanis!” tentava me mover, mas meu corpo não reagia. “Eu disse” - REAJA! - meu grito foi tão forte quanto o de Kinney, e me coloquei de pé, no impulso da emoção. Ouvi o ecoar de minha voz pela rocha, assim como outros tantos sons de algo se partindo e quebrando. Não havia tempo para lamentações, precisava resgatar minha parceira! - Rolf, saia! - liberei meu fiel rastreador, que estava animado, como sempre. Mas logo ele percebeu que algo estava errado, visto meu semblante. - Rolf, Kinney desapareceu na escuridão! Precisamos encontrá-la! - a expressão de surpresa no rosto do canino se fez presente, assim como sua rápida mudança para a prontidão. Logo ele começou a farejar ao entorno e rapidamente captou o cheiro de Kinney. Senti um tremor na cintura, uma de minhas pokébolas estava se mexendo sozinha! Lucy saltou para fora, nitidamente preocupada - Vamos atrás de Kinney! Venha, Lucy! - tomei o pequeno broto nos braços, que estava preocupada e confusa, tentando saber o que havia acontecido. Aparentemente Rolf explicou a situação, eu só conseguia correr atrás dele, para dentro da encosta rochosa.

A noite se aproximava a galope, não havia muito tempo com luz natural. O relevo e a flora não ajudavam, encobrindo o terreno com sombras cada vez maiores e extensas. Mas nada disso importava, na medida que corria atrás de Rolf, farejando Kinney da melhor maneira possível, seguindo também o rastro de destruição que seu rompante provocara. Pequenas árvores caídas, marcas na parede de rochas. O caminho era sempre subida, parecendo sem fim. Mas não havia outro caminho a não ser seguir em frente.

Na medida em que o tempo passava mais difícil ficava para enxergar. Já me faltava ar nos pulmões, meu corpo estava desgastado por aquele dia, estava quase no meu limite. Mas não poderia parar. Aproveitando que Rolf parou por um momento para se certificar do rastro, lancei mão de uma lanterna presa a um dos bolsos da mochila e fiz surgir um feixe de luz que pudesse nos orientar melhor. Lucy estava preocupada, ficava olhando para meu rosto o tempo todo. Conseguir ver perfeitamente parte da vista abaixo daquela encosta, era uma visão magnífica de se apreciar em um outro momento. Haviam rochedos de diferentes tamanhos, será que Kinney tinha se escondido atrás de algum deles? - Kinney? Kinney! - chamava por ela, ofegante - Cadê você garota! Kinney! - gritava o nome de minha parceira enquanto procurava por detrás de alguns rochedos maiores.

Nada de Kinney por entre aquelas rochas, nada de seu rastro. Para onde você foi, garota?

Foi quando meus olhos avistaram a lua estampando o véu multi cor do céu de início de noite. Sob aquele manto sombrio, a penumbra do luar destacava uma figura ofegante, encarando o astro noturno. - Kinney… - um alívio súbito percorreu meu corpo, ali estava ela. Parecia ainda confusa, perdida em pensamentos. Sinalizei para meus Pokémon se aproximarem com calma. Sem falar nada, mas também não me preocupando em ser notado ou não, sentei-me próximo de Kinney, pouco mais de um metro de distância talvez. - A gente gostava de passar as noites observando o luar quando você estava se recuperando, se lembra? - olhei de relance para minha parceira. Lucy veio lentamente e subiu no meu colo, Rolf deitou próximo a meus pés, olhando para Kinney com o semblante triste, as vezes emitindo choramingos curtos, de preocupação talvez - Foi numa como essa… só a luz da lua… - olhei para o astro, deixando minha mente mergulhar nas lembranças da noite que encontrei Kinney, ainda uma Sneasel selvagem, ferida, caída na encosta da montanha - Tava bem frio. Nunca poderia imaginar que naquela noite eu encontraria minha melhor amiga… - voltei os olhos para Kinney, senti os olhos marejados - Vem, deita no meu colo. - estiquei a mão para ela, sem saber ao certo se ela iria me atacar ou aceitar o convite.  

Dizem que depois das tempestades vem a calmaria. E aquele momento de calmaria era muito reconfortante. A visão de Kinney perdendo o controle e correndo pela escuridão… achei que tivesse perdido minha parceira. - Cara, muita coisa aconteceu nesse primeiro dia, né? - suspirei, enxugando as lágrimas em meu rosto. Assim como no começo de tarde daquele dia, observei meus parceiros de time. Lucy saltou, apressada, de meu colo e foi abraçar Kinney. Já Rolf se arrastava pelo chão e forçava o braço de Kinney para cima com o focinho, de modo a ficar envolvido por ele.

Apesar daquele ótimo momento de paz, a noite já havia caído. Precisavamos continuar nossa viagem. - Vamos descer a encosta, sim? Kinney, vem aqui… - apesar do cansaço, queria fazer um mimo a minha dedicada parceira, e a peguei “de cavalinho”, com suas garras envolvendo meu pescoço e suas pernas minha cintura. Lucy e Rolf se recusaram a entrar nas pokébolas, então foi a vez do lobinho carregar o pequeno broto. Éramos mais que uma equipe, um time. Éramos uma família...