Tasting Freedom

Aos poucos as pessoas e monstrinhos começavam a diminuir, ao passo que eu me aproximava de Sienna. A Rota 10 provavelmente estava mais lotada que a própria cidade-ilha, ao menos era o que todo o barulho dos treinadores e seus parceiros indicavam.

Quando estava bem perto de entrar na cidade, uma criaturinha apareceu para bloquear o meu caminho. Estranhei o fato do Pokémon estar tirando um cochilo em um lugar que provavelmente seria bem movimentado em comparação com as áreas mais afastadas da rota. Será que a caça aos monstrinhos fugitivos inverteu drasticamente as opções de refúgio dos nativos?

Não parecia boa ideia acorda-lo, então eu apenas retirei a Poké Ball da Togekiss e a libertei, demonstrando estar sem graça por precisar da sua ajuda antes de chegarmos na rota. Apontei para o selvagem, o que esclareceu o meu pedido, mas Silena estava tão focada no sono alheio, como se estivesse o invejando, que não havia entendido.

- Precisamos passar e o único jeito, sem perturbar ele, é voando. – Expliquei, arrumando a cela nas costas da fada. – Depois que a gente encontrar o último Pokémon você poderá tirar um cochilo. – Apelei, para seguir logo com o que havia planejado.

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Era um Slowpoke? O corpo rosado e a sua expressão, ou a extrema ausência dessa, eram características marcantes da sua espécie. O monstrinho era conhecido em Azalea por trazer a chuva em períodos de seca com apenas um bocejo, uma lenda urbana que muitos nativos acreditavam a ponto de defendê-los com unhas e dentes.

De qualquer modo, o aquático não me atrapalharia agora. Por sorte a Togekiss possuía bastante compaixão e era paciente a ponto de sequer demonstrar sinais de irritabilidade. A agradeci com um carinho em suas asas, antes de montar em suas costas para voar para a cidade.

Não quis passar pelo Centro Pokémon, para poupar tempo, indo direto para a Rota 12 antes de retornar a Fairy para a Poké Ball. Como ela havia me ajudado bastante até aqui simplesmente a agradeci, apertando o botão do dispositivo para confirmar o seu merecido descanso.

- “Agora é só eu e... eu”. – Mantive uma conversa interna para fazer companhia a mim mesmo durante o trajeto. – “Como andam as expectativas amore? No fundo do poço, eu espero, pois não tem muito para você nessa rota não”.

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Confesso que a ansiedade estava me dando uma surra de todas as maneiras possíveis. Era a última captura permitida pelas autoridades de Sienna, então eu deveria me contentar com o que viesse, mas como a sorte havia me presenteado com dois monstrinhos adoráveis que certamente seriam utilizados em batalhas ou competições, não tinha como reclamar.

Ao contrário da rota anterior, a Rota 12 estava vazia e sem qualquer fonte expressiva de barulho. Quando adentrei uma mata, dois treinadores vieram me alertar que os Pokémon dali não gostavam de ruídos. Eles até demonstravam uma postura mais cautelosa, como ratinhos esperando a oportunidade de sair do esconderijo.

Por conta disso a primeira coisa que eu fiz foi me afastar dos esquisitões, antes que eles viessem atrás do que aparecesse pra mim. Óbvio que assim que eu me virei para sair de perto da dupla o meu doce desastre resolveu agir. Tropecei em algo caindo entre as folhas espalhadas da rota e como elas estavam secas e em pouca quantidade, o som podia ser ouvido pelos monstrinhos.

Achei que tudo acabaria ali, mas uma das criaturas resolveu vir pra cima de mim, o que me deixou sem reação. Tentei sair do chão e sacar uma Poké Ball, mas meu corpo não respondia.

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Por alguma benção divina a criatura que pousou sobre o meu corpo não parecia estar com vontade de me surrar... Ainda. Como estava atordoado pela queda e pelo susto, não percebi nenhum detalhe do monstrinho, apenas notei que ele não era tão pesado a ponto de me imobilizar.

Senti uma dor em meu pé direito, ele havia se ralado na pedra que me fez tropeçar e os arranhões ameaçavam sangrar. Nada que já não tenha acontecido comigo antes, mas eu estava sem o kit de primeiros socorros de Mercy, o que significava que eu teria que ir ao Centro Pokémon imediatamente após sair da rota.

Consegui me levantar sem grandes dificuldades, ignorando a ardência característica do machucado. Assim que me recuperei, notei que a criaturinha se tratava de um Farfetch’D bem distinto. Já tive contato com a ave antes, inclusive fiquei com uma por um tempo em minha equipe, então sabia que o pato selvagem em minha frente era diferente da espécie que eu conhecia. Saquei a Poké Dex e recolhi as suas informações, entendendo em seguida que se tratava de uma variante regional de Galar.

- Obrigado, Farfetch. Já estou melhor. – Sorri para o lutador, enquanto pensava no que fazer. – Desculpe atrapalhar o seu cochilo, mas será que você poderia batalhar com meus Pokémon? Estou tentando treina-las, só que não estou tendo muito sucesso. – Ri da situação, preparando as Poké Balls das minhas parceiras. – Eu também gostaria de captura-lo, conheço alguém que gosta bastante de você! Mas eu vou provar que sou capaz de vencê-lo antes.

Aguardei pela reação do Pokémon, pois eu não seria capaz de provocar uma luta com um monstrinho que demonstrou preocupação comigo antes de ter o seu consentimento. Havia também a possibilidade dele recusar e eu ter que convencê-lo.