#Cinnabar - Pleiteando um estágio!

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Quem diria que, dentre tantas cidades-satélite para atrair aspirantes à Pesquisadores, Ayzen viria parar aqui tão longe, em Cinnabar?! Aqui é sobretudo uma grande ilha com um imenso vulcão ativo, só para deixar tudo mais interessante. Ah, claro, e não vamos nos esquecer dos costumes deveras diferentes dos habitantes locais.

Tá, mas não foi nada disso que trouxe Kitshomo até aqui. Não, não. Ele veio à procura de algo que, desde a ascensão de Sienna Co., perdeu um pouco de espaço nas mídias. Foi-se o tempo que os laboratórios de Cinnabar eram o centro das atenções de Kanto. Mas não me entenda mal, afinal eles continuam sendo muito bons no que fazem! É só que a militância mídia ultimamente só tem tido olhos para Sienna.

Por falar em mídia, mesmo após uma consulta breve em seu Rotom Phone, o loiro preferiu ir pessoalmente até o laboratório local, a fim de encontrar as melhores informações sobre o que viera procurar ali.

A manhã tinha estado ensolarada e quente, sim, mas agora nesse período da tarde uma brisa morna, levemente abafada, percorria as ruas de Cinnabar. O céu também exibia um nublado peculiar, que podia antecipar uma chuva ou ser simplesmente fumaça acumulada do vulcão - vamos torcer pela primeira opção.

Com seus trajes discretos e óculos escuro, faltavam poucos metros para ele chegar até entrada de seu destino. Duas esquinas, para ser mais exato. Mas na primeira ele foi forçado a parar.

- É tarde, é tarde, tão tarde até que arde! - repetia uma voz masculina às suas costas, antes do dono dela colidir com a bolsa de Ayzen - Ai, ai, meu Deus. Alô, adeus. É tarde, é tarde, é tarde.

Ele disse ao passar depressa, gesticulando um aceno que poderia servir como "alô", "adeus" ou simplesmente "foi mal pelo esbarrão". Afinal, estava com tanta pressa que não ficou para nada mais além disso. Apenas seguis seu caminho, seu jaleco branco esvoaçando em suas costas enquanto ele tentava enfiar o braço em um dos lados.

Era um homem baixo e gordinho, com o topo da cabeça bastante careca mas fios muito brancos nas laterais e atrás. De um lado de sua barriga proeminente dançava um relógio preso à uma corrente dourada, pendurado precariamente. Do outro lado escorria um Klefki, que caía no chão próximo aos pés do Ranger quando se esbarraram.

O homem tinha mesmo muita pressa, e seu corpo não dizia nada sobre sua agilidade e capacidade de se misturar com outros pedestres nas calçadas adiante, praticamente sumindo de vista...

Dividido por duas informações, Ayzen focava no que tava mais próximo e estático, com menos chances de escapar de vista: o Klefki caído próximo aos seus pés. Chegou perto o suficiente para não assustar o "bicho" quando o chamou com um sonoro "Ei" que antecedeu um cutucão. Então foi o tato, junto com uma visão melhorada, que revelou toda a situação.

Aquele Klefki era tinha uma textura estranha, que não se espera de um Pokémon metálico. Ele era macio, emborrachado, e quando Kitshomo o cutucou soou um apito agudo de brinquedo infantil. Sua opacidade também era incomum, muito diferente dos metais que costumam ser reluzentes. Era o que um Klefki deveria ser: um chaveiro. E ponto.

Inclusive, esse aqui carregava muitas chaves consigo, de diversos tamanhos, formas, cores; até não-chave ele tinha, que era um cartãozinho com tarja magnética que tinha jeito de abrir uma porta muito importante, já que trazia estampado no verso um logo recém visto pelo Ranger: o do Laboratório de Cinnabar.

Tudo bem, o Klefki era uma trollagem leve, mas pelo menos o destino o colocava numa boa pista para onde o loiro precisava ir. Isso é, torcendo que o senhorzinho atrasado estivesse mesmo seguindo para lá, já que ao perdê-lo de vista ficava impossível dizer se ele tinha dobrado em uma esquina qualquer, entrado num dos outros prédios da rua, ou simplesmente atravessado para o outro lado. Mas, uma coisa é certa, ele cedo ou tarde vai dar falta de suas chaves, nem que seja na hora de abrir a próxima porta.

Ayzen – De Capitão à Estagiário – Cinnabar

Se sentindo um pouco idiota pela primeira impressão que teve do Klefki, que se revelava um chaveiro muito útil de fato, poderia ter ficado ali a lição de não julgar as coisas à primeira vista, mas na verdade o que vinha à tona era a curiosidade de Ayzen com as chaves carregadas pelo objeto.

O destino ou a coincidência levariam o aspirante a pesquisador para o lugar onde ele já gostaria de estar: o laboratório. Um prédio alto, cheio de janelas, com a fachada toda em branco e cinza. Ficava apenas a uns dois quarteirões dali, seguindo reto naquela rua, o que facilitaria muito o trabalho do GTS. [imagem ilustrativa]

Não havia dificuldade em localizar o prédio também porque seu terreno era amplo, ocupando praticamente o quarteirão inteiro, além de possuir uma posição de destaque por estar distanciado das outras coisas naquela rua. Sua entrada era uma porta dupla simples de vidro, com uma recepção climatizada e uma mulher com cara de tédio e um cafézinho fumegante diante de um computador, no balcão da recepção. O resto do saguão era tomado por catracas, insinuando que o acesso ali era restrito.

A porta de um dos elevadores, mais adiante, se fecharia quando Ayzen cruzasse as portas do prédio, se olhasse para lá poderia ver o velho gorduchinho e apressado, nervoso. Seria só um vislumbre, sem tempo irmão para chamar o homem...

Ayzen – De Capitão à Estagiário – Cinnabar

Os olhos da recepcionista pousaram no rosto do visitante a sua frente, tentando ver algo através dos óculos escuros que o loiro tinha cobrindo os seus próprios olhos. Ela o observou com alguma atenção, ainda que sua pálpebra pesada não deixasse isso claro, e só demonstrou uma leve desconfiança quando Ayzen apalpou o molho de chaves em seu bolso, fazendo o barulho metálico característico, mas sem mostrar o objeto em si.

Num gesto ligeiro dos dedos no mouse a mulher acessou algo em seu computador e o que quer que tenha visto ali a fez dar um meio sorriso e um suspiro. Depois, depositou preguiçosamente a mão livre por sobre o balcão da recepção, na direção do treinador.

– Boa tarde. Preciso fazer um cadastro pra você poder entrar, e pra isso preciso dos seus documentos. – sua voz era meio grave, meio rouca, do tipo danificada pelo cigarro – Não se acanhe, já tô acostumada a receber fãs do Doutor Roger. Mas devo admitir que fazia muito tempo que eu não ouvia a desculpa das chaves. – seus longos e magros dedos se agitavam sobre o balcão, ansiosos por receberem a identidade do treinador para lhe fazer um cadastro.

Ayzen – De Capitão à Estagiário – Cinnabar

Em tempos de tecnologia, um cadastramento desse tipo era algo muito rápido de ser feito. O próprio Rotom Phone facilitava tudo ainda mais, já que por sua inteligência natural e artificial também, podia passar todas as informações necessárias com uma simples aproximação entre os dispositivos.

Antes que tivesse concluído o processo, no entanto, ela pousou os olhos no molho de chaves que ele havia depositado sobre o balcão. A expressão de estranheza veio mais uma vez, incluindo até um risinho pelas narinas. Primeiro porque a imagem do Klefki inanimado era mesmo engraçada. Segundo porque o cartão pendurado entre as chaves validava a história do Ranger.

Enfim, em poucos minutos a mulher devolvia à Ayzen seu próprio aparelho, junto de um crachá de visitante, todo em tom de vermelho e com uma tarja magnética numa das faces. Ela não pegou as chaves, apenas voltou para sua posição relaxada na cadeira, e quando voltou a falar apontava as coisas com os dedos.

– Você pode usar sua credencial para liberar as catracas permitidas aos visitantes. O setor que lida com oportunidades como estágios e outros assuntos acadêmicos fica logo no segundo andar, de frente para a biblioteca. Já o Doutor Roger fica no quarto andar, final do corredor à direita. A chave parece ser mesmo dele então... Tome cuidado, por favor. – com suas últimas palavras, encarou Ayzen com olhos estreitos e desafiadores, além de apontar para a câmera de vigilância logo acima da sua cabeça, como quem diz "estarei de olho em você".

Não havendo nenhuma movimentação no saguão apesar do horário comercial, Ayzen no mínimo conseguiria pegar um elevador depressa e, uffa, ele também era climatizado por dentro! Resta assistir para ver onde ele vai primeiro...

Ayzen – De Capitão à Estagiário – Cinnabar