Capítulo 12 - Mogno [Tielo]

Cap. 12 — Mogno.

Sentados no refeitório e aproveitando uma leve refeição com chá, café e biscoitos, Aiko escutava as perguntas de Tielo com um leve sorriso estampado no rosto; a pequena parecia grata pela preocupação do cigano. Demorou um pouco a responder, já que estava se esbaldando nos biscoitos e no cházinho que havia feito. Jynx apertava Eevee enquanto sentados no chão, enquanto Miltank se apresentava para Seel, começando uma simpática conversa ininteligível entre os dois.

— Meu tio e a família dele cuidam da gente, sim. — balançou a cabeça como quem dissesse "mais ou menos" — Eles também tem uma barraca de tortinhas, a maior da cidade. Se você não viu é porque não passou pela rua que ela tá, é bem chamativa e grandona. — a pequena abriu um sorriso para Tielo, até mesmo colocando o biscoito que comia de volta na mesa — Obrigada, tio, mas não precisamos de ajuda. Quando mamãe e papai voltarem, tudo vai ficar bem. — Aiko levantou, abraçando Tielo — Quero também que eles fiquem orgulhosos vendo que eu cuidei da nossa barraquinha sozinha! — sorriu, retornando ao seu lugar — Você já ajudou bastante encontrando o Choco, agora vou ter que ir com ele colher sempre que precisarmos das frutinhas. — suspirou, dando um gole em seu chá — Eu não sou boba... Eu sei que muita gente não gosta do Choco e de mim. Mas... Essa é minha cidade também. — Aiko parou de comer, aproveitando para acariciar Seel e Miltank, que conversavam entre si — Não vamos sair daqui. O Choco é desse jeito dele, mas é um fofinho. As pessoas maltratam ele à toa. — voltou sua atenção para Tielo — Obrigada por se oferecer, tio. Mas pode confiar em mim, tá tudo b-

Antes que a pequena pudesse terminar de falar, Jynx levantou-se bruscamente, se colocando na frente de Tielo e Aiko e erguendo seu Reflect. Por um único segundo ninguém entendeu o que estava acontecendo, até que uma explosão estremeceu toda a base do edifício. Pelo barulho, parecia ter acontecido na parte traseira do edifício, bem próximo de onde estavam. Alguns gritos poderiam ser escutados também, principalmente a da enfermeira-chefe que antes conversara com nossos heróis.

Que diabos havia acontecido?

Cap. 12 — Mogno.

O estrago era grande.

Tielo, Aiko e os companheiros do cigano chegaram ao lugar da explosão bem rápido; o fundo do Centro Pokémon não era tão distante do refeitório, mas também não tão perto ao ponto de sofrerem qualquer consequência do que acabara de acontecer. A enfermaria estava uma bagunça, com uma fumaça negra que cobria até o teto, aos pouco sendo dispersada pelo que parecia um enorme buraco na parede norte do local. No chão, além de diversas macas e esferas bicolores espalhadas, diversas roupas de cama estavam queimadas, bem como a beirada do circular furo antes mencionado na parede -- sem dúvidas, aquilo havia sido obra de um Pokémon ígneo. De um cômodo separado, o que parecia ser um banheiro, Houndour saía desesperado, como se procurasse algo incessantemente. Ao ver Tielo, o canídeo correu até o cigano, com lágrimas nos olhos e chorando bastante em seu idioma ininteligível. Jynx abraçou o pequeno noturno, consolando-o, mas ao mesmo tempo voltando sua atenção para cigano com uma expressão nada feliz -- não culpa do mesmo, claro, mas sim da situação que estavam. Joy saía de trás de um armário de remédios com parte de seu uniforme queimado, mas felizmente não-ferida; a mulher correu e abraçou Aiko, preocupada.

— Arceus do céu, que bom que vocês estão bem. — disse, aliviada — Senhor, por sorte seus Pokémon estavam sendo atentidos nesse exato momento, tome. — buscou em um de suas máquinas a duas esferas de Tielo, entregando-as — Acabamos de ligar para a polícia. Parece ter sido um assalto ou algo no estilo da Equipe Rocket, mas olhe que estranho... Nada foi levado. — Joy parecia tentar se recompor, respirando fundo diversas vezes para diminuir a tremedeira de seus braços e pernas — Choco, pode vir. Tá tudo bem. — Aiko já parecia nervosa por não estar vendo o venenoso, mas logo o mesmo saiu de trás do mesmo armário, amedrontado — Espere... Está sim faltando algo, não? — voltou sua atenção para Tielo — Você também tinha um Snubull, não é?

Bastou a enfermeira falar o nome do outro canídeo para que Houndour chorasse ainda mais no colo de Jynx, que apesar de não conhecer o canídeo, já havia adotado-o para si. Aiko parecia assustada, mas a surpresa, principalmente para uma criança, foi ver todo aquele deslumbre com o caos se encerrar, dando lugar a um olhar determinado, quase beirando a irritação.

— Eu sei quem fez isso, tio. — a menina consentiu com a cabeça; Choco, que ainda estava um pouco assustado, fez o mesmo — Provavelmente viram que você estava me ajudando e levaram ele embora. — suspirou — Desculpa. — Aiko abraçou Tielo, escondendo seu rosto no casaco do rapaz — É minha culpa...

Joy juntava ambas as mãos como em prece, preocupada com a criança; sabendo que não poderia dizer nada para ajudá-la, começou a ajeitar as coisas que estavam derrubadas ao seu redor, somente para se aproximar de Tielo e falar algo em seu ouvido: "Vão. Se a polícia chegar e estiverem aqui, vão perder horas nos interrogatórios. Vocês precisam encontrar o seu cãozinho o mais rápido possível... Vai por mim.". Por fim, Joy se afastou, parando para consolar Houndour.

— Vai ficar tudo bem, menina. Seu treinador vai encontrar seu amigo.

Em meio a todo aquele caos, Tielo e Aiko precisariam sair dali o mais rápido possível. E assim a criança o fez, puxando o cigano em uma direção aleatória; parece que Joy acreditava estar falando tudo no ouvido do treinador, mas Aiko havia escutado tudo.

— Vamos, tio. Sei onde você pode encontrar seu Pokémon.

A pequena puxou o cigano até o banheiro feminino, onde havia uma única janela alta, mas facilmente passável, principalmente com a ajuda das habilidade de Jynx. Agora a pergunta que não quer calar é a seguinte: por que alguém iria querer sequestrar um Pokémon selvagem tão comum na região?

Parece que suas ações tiveram consequências, bufão.

E agora?

Cap. 12 — Mogno.

Fugidos da cena do crime de terceiros, Aiko puxava Tielo pelo braço e, junto com Choco, corriam dentre as ruelas da cidade, parando em um beco esquisito, mas relativamente vazio e onde não chamariam atenção. Com a Houndour capturada, o cigano momentaneamente não precisava se preocupar com mais ninguém além de si próprio — e Aiko, caso a pequena escolhesse segui-lo. Mas esse não parecia ser o caso.

— Uff... Acho que aqui estamos bem. — a criança respirava ofegante, Choco também, já que o pequeno saco-de-lixo não parecia estar em sua melhor forma por comer tantas tortinhas todo dia — ... De maneira exagerada? — os olhos de Aiko se arregalaram, assustada — Tio... Você... — a pequena engoliu seco — Nada. — abaixou a cabeça — Eu posso te levar até onde acho que levaram o cachorrinho, mas não posso ir com você. — Aiko acariciou a cabeça de Choco — Se souberem que estou te ajudando, as coisas vão ficar ainda piores pra gente... — Aiko abraçou Tielo uma vez mais — Me desculpa. Eu to sendo egoísta e você só tá nessa confusão por nossa causa. — sua voz estava embargada, abafada pelo choro e pelas vestes do cigano — E-eu aguento muita coisa. Tudo pra ainda estar aqui quando papai e mamãe voltarem. Não posso piorar ainda mais. Desculpa.

Dava para sentir, tanto por sua linguagem corporal quanto pelo o jeito que falava, que Aiko se sentia extremamente culpada. Não somente por não poder ajudar Tielo em sua investigação atrás de Snubbull, mas também por tê-lo envolvido em todo esse problema. Choco aproveitava para abraçar a perna do cigano também, demonstrando não só agradecimento, como perdão. Trubbish parecia querer lutar ao lado de nosso herói, mas, infelizmente, sua luta era outra: proteger Aiko.

— Seguindo aqui por esse beco, tio, você vai encontrar uma pequena portinha de metal. Ali era usado como depósito antigamente, pelo que papai me contava... — Aiko se afastou do abraço, apontando na direção norte — Ele dizia também algo sobre "milícia", mas eu não sei o que é isso. — suspirou — Ali, é a última porta antes de chegar na rua. — a pequena segurou a mão de Tielo, apertando-a — Toma cuidado, por favorzinho. Vamos ficar escondidos aqui esperando você voltar.

Cap. 12 — Mogno.

Tudo parecia absurdo demais para o simples resgate de um monstrinho selvagem, não é? Tielo poderia simplesmente ir atrás de outro e deixá-lo para lá, mas seu coração jamais permitiria tal ação sem sérias consequências psicológicas. O cigano era gentil, apegado, afetuoso; todas qualidades que demonstram a incírvel conexão que tem com todos seus Pokémon, algo difícil de encontrar em outros treinadores por aí.

Caminhando na direção da porta e estudando o local, Tielo se lembrava de Sootopolis, onde fora colocado na mesma posição que estava agora: lutar contra uma milícia, que havia sequestrado outro Pokémon. Similares situações, mas agora o cigano estava sozinho e não sabia das reais intenções dos malfeitores, a não ser que querem expulsar Aiko e Choco -- os quais, por sinal, se escondiam atrás de uma lixeira, observando o treinador à distância.

Abrir a porta não era um problema; apesar de pequena, estava destrancada. Não é como se algum morador de Mahogany, que conhece a área, se aventuraria a entrar ali por engano. Ou isso ou estavam aguardando Tielo.

Ao adentrar o local, Tielo se daria com uma sala-de-estar, vazia e sem qualquer mobília a não ser um enorme tapete no chão, tão empoeirado que mal dava para se ver o desenho sobre seu carpete. Caso decidisse caminhar pelo restante da casa, encontraria alguns cômodos tão vazios quanto; dando a entender que, claro, existia alguma entrada escondida por ali.

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Sem ter muito para onde ir ou o que fazer, nosso herói decidia investigar embaixo do enorme tapete e, bom, ali estava um alçapão, tão bem disfarçado que mesmo com uma mínima luz o cigano teve dificuldade em encontrar seu puxador. Um longa escada de metal estava disposta para descer e quando digo longa é beeem longa mesmo. No fundo, Tielo conseguia ver bastante luz, muito provavelmente o local era iluminado. A descida era apertada e, ao chegar no final da escada, nosso herói encontrou um túnel de metal maciço, muito bem iluminado por diversas lâmpadas que ali ficavam dispostas.

Não havia nada e nem ninguém, pelo menos não por uns bons três ou quatro minutos que o rapaz caminhou pelo túnel. Não muito depois Tielo encontrou uma espécie de redoma, com diversas mesas, cadeiras e quadros negros espalhados por ali. Um enorme mapa, colado na parte noroeste do local mostrava algumas regiões, com interessantes pontos circulados em vermelho: um deles Mahogany e, no mapa de Hoenn, Sootopolis e Lilycove. Será que de alguma maneira o que o rapaz encontrou na cidade que sediou a Wallace Cup está relacionado à Mahogany também? Alguns documentos e papéis também estavam espalhados pelas mesas, mas antes que Tielo pudesse investigá-los, as coisas ficariam mais complicadas: raivosas e territoriais, duas Liepard surgiam de um outro túnel, irritadas pela invasão do cigano. Mais um problema, hein?