Clube da Luta

As pessoas podiam ser realmente engenhosas quando queriam, e pra se cometer crimes com "classe" era preciso muito dessa engenhosidade. Preciso comentar isso porque, ao entrar na casa escura Nicholas ia se deparar com muitos desses elementos inusitados, que não se limitavam aos nomes de/da fachada.

Aquela construção, apesar de deteriorada, conservava boa parte das paredes e do teto antigos, até mesmo algumas das divisões internas que separava os cômodos. Tirando a marquise com a plaquinha na janela, lá dentro não havia nenhum sinal de loja ou coisa parecida, a não ser um banquinho de madeira também sob a janela.

A parede é que traria a surpresa... Não a da primeira sala, pois essa tinha só alguns murais de fotografias que mal davam pra ver no escuro, mas no cômodo seguinte o truque se revelava: pinturas em tinta fluorescente e roxa! Daquelas que na luz são invisíveis, mas se revelam no escuro ou sob luzes especiais. Era o caso aqui, graças às tecnologias Rocket que incentivavam o que acontecia.

As imagens eram objetivas, como setas, dedos apontados, olhos direcionados. Apontavam ora para os fundos da casa, ora para alguma parede lateral quebrada que dava acesso a outra propriedade em pedaços. É claro, aquele que Nicholas viu entrar já devia estar acostumado à isso e saber onde ir, porque seus passos não indicavam que tivesse parado pra refletir ou procurar. Ele só seguia reto para os fundos.

Ran – Noite | 25°C – Ruínas de Mountrock

Seguindo o rumo dos passos do outro homem, o caminho era um só e através dele Nicholas acabaria por sair daquela propriedade. Encontraria lá um cenário totalmente diferente, oculto aos olhos de quem passava por fora. A começar pelo fato de que havia vida humana por lá, pelos umas três pessoas à vista.

O complexo de ruínas formava uma viela estreita, do tipo que só deixava passar duas pessoas lado a lado; era cercada de muros inconstantes, porém altos, o que conferia uma proteção natural aos olhos de fora. Pra onde o Rocket olhasse veria brechas muito propícias para esconder uma pessoa, em "caso de emergência".

Pronto, Nicholas tinha encontrado o "submundo" de Mountrock, claramente ponto de atividades ilícitas. Ali, de novo, o caminho era um só, porque a maioria das coisas acontecia à céu aberto entre pequenos grupos de pessoas. Restaria então buscar pelas outras pistas que tinha pra encontrar o lugar. Pelo menos não estava mais só, nem perdido, e nem tanto no escuro, graças às lanternas e telas de celular que vez e outra se acendiam.

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O celular com sua lanterna mais discreta veio pra auxiliar Nicholas a se deslocar por ali. Ele logo veria e poderia adotar também o padrão com o qual as pessoas o usavam, sempre apontando para o chão, porque seu propósito era mostrar onde pisava, jamais focavam os rostos ou os cantos. As faces das pessoas eram reveladas só pelos seus próprios aparelhos, quando eles encaravam as telas dos próprios aparelhos.

Vasculhar os cantos acabava não trazendo nenhum resultado objetivo, eram só esconderijos em potencial e no momento sem uso. Além disso, depois daquelas primeiras pessoas que viu antes, o Rocket encontrou só mais uma dupla suspeita, vestidos de preto, conversando aos sussurros numa esquina. Eles pararam de falar quando ele se aproximou e o observaram de canto de olho. Uma Pokébola no cinto do homem reluziu à luz da lanterna.

Daí em diante, mais ninguém se encontrava na "rua". Nicholas já teria se afastado o suficiente pra não ver mais sinal dos outros lá atrás; estava cercado de ruínas bem incompletas, sem nada evidente. Mais adiante, se focasse bem, notaria uma parede incompleta, porém bastante extensa, e bem no meio dela os resquícios de uma estátua que lembrava um Sandslash, a julgar pelos restos de garra, pés e um terço da carapaça; ao lado dele o primeiro sinal de vida não humana daquele caminho, um arbusto verdejante e robusto.

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Ao se aproximar dos dois objetos que via, logo daria pra notar que eles ladeavam uma porta única, rachada e parcialmente caída para o lado - claramente com risco de cair por completo ao menor movimento. Era uma das poucas propriedades arruinadas que tinha algo do tipo, já que a maioria tinha apenas espaços vazios onde antes eram portas e janelas.

O arbusto que Nicholas decidiu averiguar mais de perto tinha algo de suspeito, sem dúvida. Sua forma era bem definida, oval, como se fosse constantemente podado; as folas pareciam bem reais, absolutamente verdes e iguais. Estranho mesmo eram os galhos, que ele conseguia enxergar penetrarem só até certo ponto, antes de sumirem num fundo escuro onde a luz da sua lanterna seria parcialmente refletida, sem conseguir penetrar mais...

Daquele ponto também era quase possível distinguir baixos ruídos. O mais próximo lembrava uma respiração pausada, bastante controlada, e os mais distantes se assemelhavam a instrumentos musicais. Mas só alguém que realmente se esforçasse para percebê-los conseguiria.

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– O que disse? Fale um pouco mais alto! – perguntou uma voz às costas de Nicholas, assim que ele sussurrou a palavra sugerida.

– Ô porra, achei que não ia chegar nunca. – resmungou a outra de dentro do arbusto.

A estátua de Sandslash se partia ao meio, como um ovo de páscoa, e de dentro saía um homem jovem de cavanhaque e dreads até os ombros apareceu com um sorriso irônico dançando em sua face. Já o arbusto, esse se ergueu do chão um pouco e o topo se abriu com o som de um zíper, dali saiu uma mulher trajando um vestido curto e justo que lhe ressaltavam as curvas, principalmente a cintura onde seu longo cabelo ruivo quase atingia. [ilustração - mulher] [ilustração - homem]

– Eu espero que já esteja pronto, porque estamos quase perdendo a hora. – sem cerimônias ela terminava de tirar o disfarce, ajustar a roupa e sacar de uma bolsinha alguns itens para si, que incluía uma arma.

– Já te disseram o que tem que fazer? – o outro perguntava enquanto também se organizava e se desfazia da fantasia, transformando-a até caber na palma da mão; amém tecnologias Rocket!

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