Clube da Luta

– Venusaur, bote ele pra dormir. – falou com impaciência, gesticulando com a cabeça pra apontar o prisioneiro.

O sapo rosnou e lançou da grande flor das suas costas um punhado de esporos esverdeados, que caíram pelo ar como um véu sobre o rosto do homem caído, fazendo com que sua cabeça pendesse pesada pra baixo quando ele adormeceu. Enquanto isso, o Rocket só enfiava as mãos, agora livres, nos bolsos do casaco, respirando fundo pra retomar algo da paciência.

– Qual parte de ser uma organização secreta e discreta não ficou clara no seu treinamento, Operador? – voltava-se pra Nicholas, é claro; dos bolsos puxava uma caixinha, de onde sacava cigarro e isqueiro – Eu não sei quem você é, mas sei como descobrir. Do jeito que pareceu se empenhar em atrapalhar minhas ações, vou considerar pôr alguém de olho em você. – era sabido que os Rocket são muito criteriosos com quem ingressa em suas fileiras, evitando ao máximo infiltrados.

O agente estralou os dedos duas vezes e Venusaur ergueu o corpo do outro homem, deu uns passinhos pesados pra perto do seu dono e ali aguardou. Agora com o olhar menos enraivecido e mais desafiador o Rocket seguia encarando Nico enquanto tragava e soprava do cigarro.

– Será que podemos seguir com as coisas? – estava claramente longe de se intimidar com Pokémon ou mesmo uma arma de fogo na posse do outro; ou sabia blefar muito bem pra esconder os receios.

Ran – Noite | 25°C – Ruínas de Mountrock

Com um suspiro o homem pegou a arma de volta e a guardou num bolso interno da jaqueta, jogou a veste do outro desacordado sobre o ombro e andou na direção de Nicholas; não pra lhe fazer algo, só porque era por ali que fariam o caminho de volta à área da arena.

– Não. – respondeu seco à pergunta do ruivo quando passou por ele – Essa é uma das "graças" de uma Organização secreta, pelo menos pra escalões ainda não altos como os nossos: nós não sabemos quem vai estar nas nossas missões até cairmos nela. – ora, afinal ele era um Agente com A maiúsculo, só um Rank acima de Nicholas – Você não sabia quem eu era, só deduziu. E se o "Plano Mestre" tivesse dado errado, eu fosse o alvo e ele o Rocket?! E eu ainda tenho dúvidas se você não é um aliado dele ganhando tempo. Só não me preocupo porque... Enfim. – ao dizer aquilo seus olhos desviaram depressa pra um canto escudo na montanha, onde nada se via a não ser o breu; era como se ele tivesse uma ação de reflexo sabendo que algo estaria lá.

Caminhariam juntos, praticamente em silêncio. Quando se aproximassem dos fundos da arena já não mais escutariam os sons das gritarias e movimentações intensas que o caos anterior tinha causado. Já de longe até dava pra ver que no alto do palanque onde antes o líder estava, agora havia pelo menos duas pessoas, uma delas andando de um lado a outro.

– É a sua deixa. Melhor ir na frente averiguar o que rolou e se ainda temos a vantagem. – disse dando uma tragada no cigarro, encarando as silhuetas no palanque e reduzindo os passos até ficar ao lado do seu Venusaur, parados onde a luz refletida da arena não alcançava para os revelar.

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A medida que se aproximava da arena as coisas que aconteciam lá começavam a se revelar. Espalhados na área livre estavam vários dos espectadores, a maioria atordoada, confusa, sem saber o que tinha havido. Uns poucos ainda se recuperavam do fumacê de antes e toda confusão. O que deixava claro que estavam ali contra suas vontades eram as pessoas machucadas. Não eram muitas, veja bem, mas tinham tomado porrada de alguém ou algum Pokémon, claramente, e apesar do sangue ninguém as atendia, elas só estavam lá entre os outros.

Nico veria pelo menos um rosto familiar disperso na multidão, o menino loiro responsável pelas apostas. Ele conversava com os demais como se nada estivesse acontecendo, afinal precisava manter o disfarce. A outra figura conhecia estava sobre o palanque que antes pertencia ao líder. A ruiva era uma das duas pessoas que andava ali, mas ela estava longe de ser o destaque.

Quem estava em foco lá em cima era uma mulher também, de pele bronzeada e uma longa trança castanha caindo sobre o peito. Ela era linda, não dá pra negar, mas algo nos traços do seu rosto, suas tatuagens e os músculos delineados lhe davam um ar de imponência e importância. Do tipo que você não ousa cruzar o olhar pra não correr o risco de ter a cara amassada por um par de punhos. [imagem ilustrativa]

De baixo não dava pra ouvir o que as duas conversavam, mas claramente o público aguardava que elas anunciassem qualquer coisa.

– Putz. Achei que tinha morrido! – disse o homem que mal dava pra ver por estar debaixo da luz fraca, sentado, passando uma faixa de atadura em volta da canela direita.

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Ao se aproximar, Nicholas descobriria que o homem machucado nas sombras era o mesmo que o tinha recebido horas antes, oculto pela armadura de estátua. Ele tinha um corte na bochecha esquerda agora, com o vermelho vivo do sangue que recém estancou.

– Nossa, e já morreu quantas vezes pra testar? – era uma pergunta retórica, claro, e com humor.

Depois que o cara levantou a cabeça e percebeu que Nico estava só - exceto por Lamora ao lado - é que o sorriso meio que se desfez do rosto jovial dele e um semblante de preocupação se formou. Seus olhos vasculharam depressa os arredores do ruivo, atrás de algo... Ou alguém.

– Onde eles tão? Achávamos que você tinha ido atrás deles. – olhou direto nos olhos de Nicholas agora, como se buscasse a veracidade das respostas, ou um vacilo que o denunciaria – Não me diga que... Ele não fugiu não, né?! – puxou o ar com peso, já se preparando pra ficar de pé e agir caso fosse confirmado que o vilão desta história tinha fugido.

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– É, eu vi. – comentou o rapaz com um risinho meio torto e claramente aliviado por saber que não tinham perdido o alvo de vista – Digo, vi você se resolvendo com o primeiro cara lá na frente. – indicou a entrada da arena com um gesto de cabeça – Foi o suficiente pra supor que você daria conta do resto. É mais forte do que a sua posição insinua. – falava do Rank na organização, é claro.

Com esforço ele se pôs de pé e esgueirou parte do corpo pro lado de fora da arena, ficando metade lá e metade cá. Levou a mão até a altura da cabeça e gesticulou discretamente pro escuro profundo lá atrás. Chamava o outro homem que tinha ficado ali com o preso.

– Heh, o cara do Gengar é o mesmo do Venusaur. Esquentadinho da porra. Estivemos trabalhando juntos por aqui tem um tempo. Se deixassem, ele só agiria sozinho. Pro azar dele nem sempre é possível. – e aí um sorriso debochado apareceu por alguns segundos, antes de o moreno sentir a ferida na bochecha doer – Pelo menos, pra mim, acabou. O resto aqui já não é mais comigo. E você?

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