[MISSÃO ROCKET] 016 — weaker girl

Com a conversa encerrada, todos se afastavam e seguiam seus respectivos caminhos. Aproveitei para voltar caminhando para o Centro Pokémon; apesar da vizinhança perigosa do bar, não via problema em seguir por ali e aproveitar um pouco da brisa marítima que acometia toda ilha. Chegando no meu quarto, aproveitei para deitar um pouco na banheira: peguei alguns sais de banho que tinha guardado na bolsa e joguei na água para ficar mais agradável. Eu merecia um pouco de descanso antes da maluquice que seria amanhã.

— Seria estranho eu liberar a Ivy pra aproveitar um pouco a banheira comigo? — levei o indicador ao queixo, falando sozinha — É... Seria. — dei uma leve gargalhada sozinha, igual uma maluca — Já sei.

Levantando bruscamente e retirando a tampinha do ralo para deixar a água descer, me sequei e coloquei um dos meu biquínis, com somente uma saída de praia por cima. O pendrive, ainda dentro do bojo do sutiã largado em cima da cama, escondi dentro do ralo do banheiro, colando-o junto ao tampo com um durex. Sabe-se lá se alguém vai tentar roubar, né?

Sem sono, só havia uma solução: passear na areia da praia à noite. Como o Centro Pokémon não era tão distante, por que não? Rapidamente recuperei Ivy e Mochi que estavam machucados e levei todas as seis Pokéballs até a praia. Fazia tempo que não me aventurava nas águas de Tohjo e tinha certeza que trariam algumas memória não muito agradáveis, mas, bom, fazer o quê? Liberei todos os seis pequenos, aproveitando para apresentar os mais velhos aos bebês.

— Filhos, esses são Shoyu e Matcha, o Tyrunt e a Fennekin. — abri um sorriso para os pequenos, fazendo carinho na cabeça de ambos — Como vocês e Sashimi não são muito fãs de água, podem ficar brincando aqui na areia. — voltei meu olhar para Gallade e Manju — Como vocês são os mais velhos, vão ficar de olho nas crianças. — pisquei para Ivy — Você, pode entrar na água!

Com todos se divertindo, aproveitei para sentar na areia da praia e molhar os pés, deitando a cabeça e observando um pouco as estrelas. Fazia tempo que não tinha um momento só pra mim, de calmaria e paz, por mais que fosse acabar em algumas horas. Plenitude.

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Depois de todo o caos que havia passado há poucas horas e o que me aguardava no dia seguinte, pode falar, vai: eu mereço essa vida de madame! Sentada na praia, aproveitando a brisa gelada, ver meus bebês se divertindo, o fofinho da areia entre os dedos do pé, as longas madeixas voando ao vento, o cheiro de sal do oceano... Tudo isso acalentava meu coração de uma maneira gigantesca. Estava em paz. Não só com o mundo, mas comigo mesma. Pelo menos enquanto minha cabeça não inventava algum motivo pra me fazer surtar.

Cerrei os olhos por alguns segundos, deixando que o vento levasse minha consciência para longe: lembrei da infância, correndo inconsequentemente pelas palafitas de Cianwood, sem qualquer medo de cair e me machucar. Faz falta demais sentir essa sensação de liberdade, né? Sem qualquer amarra social, sem qualquer medo da percepção dos outros. Sem cobranças, sem compromissos, sem nada. E, principalmente, ter minha mãe e minha avó comigo. Abri os olhos aos poucos, dando uma leve risada de Ivy que se deleitava no oceano. Se eu pudesse deixava todos eles assim, livres, o tempo inteiro. Pena que o mundo é uma merda... E eu contribuo para que seja, de fato, uma merda. Mas tudo bem, eu acho. O mundo é do mais esperto, certo?

Um leve susto trazia a consciência de volta pra mim: um frisbee voava na nossa direção, caindo sobre a areia da praia. Sashimi, que dormia, logo despertou, não conhecendo o item que aparecera em sua frente e colocou uma das patas em cima, só não quebrando o troço porque a superfície era fofa. Shoyu correu desengonçado e abocanhou o disco de brinquedo, mas consegui tirar da boca dele antes que quebrasse... Mais ou menos. Ficou com a marca dos dentes do dinossauro.

— Nossa, acho que você que tem que me desculpar. — dei uma risada sem graça, me limpando da areia que acabei jogando em cima de mim mesma no impulso de  tentar recuperar o frisbee — Ele é bebê ainda, morde tudo. Pede desculpas ao moço, Shoyu. — Tyrunt consentia com a cabeça, logo voltando a brincar — Será que ainda funciona?

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A inocência dos monstrinhos bebês é uma coisa de se admirar. Tyrunt sequer sabia o que era pedir desculpas e, ainda assim, acenou com a cabeça antes de voltar a brincar com sua irmã bebê. Sem remorso, sem desculpas excessivas, sem rispidez... O bichinho fazia o que dava na telha. Um meio sorriso surgiu no meu rosto, antes de acenar com a mão para que Mochi e Manju abaixassem a guarda perante o garoto.

— Espero que sim, se quiser posso até pagar. — cocei a cabeça, sem graça — Oi, Dake... Me chamo Karinna.  — levei o olhar até a direção que o loiro apontava — Posso ir sim, o que estão fazendo por lá?

Assim, longe de mim aceitar convites de homens desconhecidos no meio da noite, mas se parar para pensar bem...  Era ele quem estava em perigo no final das contas, né? Quem diria que estaria convidando uma Rocket assassina e ladra para o seu meio? Seria uma boa oportunidade de conhecer os locais de Cinnabar e até jogar uma conversa fora, acho. Sinalizei para que meus pequenos acompanhassem enquanto caminhava na areia; com um assobio para chamar atenção da pequena, Ivy nos acompanhava pela água.

— É normal vocês ficarem no sereno essa hora da noite por aqui?

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Ok, não é muito do meu feitio aceitar sentar junto com estranhos em lugares que não conheço, muito menos bebidas alcóolicas, mas... De novo, eu mereço. Abaixar um pouco a guarda não vai me fazer tão mal assim, certo? Consenti com a cabeça para Alexia, que me oferecia a cerveja, acenando meio desajeitada para o restante do pessoal. Culpa minha por ter aberto o PokéNav enquanto caminhava até lá para responder Natalie.

Zap para Natalie escreveu:
@Shianny

Entendi... Vou ver se vou atrás de descobrir! Porque sE VOCÊ FICOU COM A MEGA DE VERDADE DE EU COM A DE MENTIRA VC VAI VER SÓ OK

Tô na praia de Cinnabar aproveitando um pouco o tempo. Um pessoal me chamou para aproveitar o tempo com eles e eu to meio desconfiada mas acho que preciso relaxar um pouco né........ Amanhã que vai rolar o surto completo você-sabe-o-porquê.

Espero que esteja indo tudo certinho por aí, Cara de Wooper Com Caxumba.

TE AMO

— Desculpa, estava respondendo uma amiga. — sentei em um dos troncos, segurando o PokéNav com a mão e a cerveja com a outra; de onde eu tirei o aparelho? estava do meu lado na praia esse tempo inteiro — Tenho, um exército de bebês. São todos meus filhotinhos. — dei uma gargalhada; tá, nem todo mundo entenderia que nossa relação é de mãe-filhos, então precisava dar uma disfarçada — A Dratini é a Ivy, já já ela se junta a nós quando cansar de nadar pra lá e para cá. — o sorriso desapareceu por um único segundo quando o garoto me chamou de "gata"; gata, sério? além de tosco, esse pet name é beeem chatinho — Gata não... Pode me chamar de Ka, Kaka, Rina, qualquer coisa, menos isso. — dei uma risada para não assustá-los, não queria parecer ranzinza, apesar de ser — Eu sou de Johto, Olivine. Mas passei boa parte do último ano em Hoenn.

Conversando, até que eu acabava esquecendo de beber da cerveja, mas tudo bem. O clima estava ótimo e a fogueirinha contrastava bem com o vento gélido que corria por toda praia. E além disso, todos meus pequenos aproveitavam bastante. Mochi e Manju agora sentavam na areia, observando Shoyu e Matcha brincando de construir castelinhos desajeitados em cima da cabeça de Sashimi. Ivy, por outro lado, se divertia para lá e pra cá, mas com um assobio a chamei para se juntar aos irmãos. É bom para aumentar o laço entre eles.

— Mas e vocês? — finalmente dei uma golada na cerveja, jogando as madeixas para trás dos ombros — São daqui?

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Com estranhos ou não e com a guarda levantada ou não, música sempre fora algo que me encantava desde pequena. Quer dizer, é por isso que toco violino e outros dois instrumentos musicais, canto e tudo mais. Dava para ver que aquele grupo de pessoas estava ali somente se divertindo mesmo, aproveitando uma simpática noite em sua terra natal. Senti meu coração apertar de leve, com aquela ínfima pergunta que volta e meia retorna ao consciente: por que minha vida não é assim também?

Sei que as escolhas que maldito Arceus fez para minha vida trilhou tudo até aqui, mas... Imagina. Uma praia, agarrada em Daisuke, rindo da Natalie sem graça abraçada com o Luch, o restante dos meus amigos. Música, eu tocando o violino, cantando junto com todos. Todos eles assim, aproveitando um fim de dia como se a vida não tivesse pressa. Uma utopia, eu sei, ainda mais com a vida que o destino escolheu pra mim, mas seria ótimo, né? Todas as pessoas que eu amo juntas.

Mas, é... Essa vida não é pra mim.

Engoli seco, balançando a cabeça negativamente uma única vez. Dake parecia ter respondido minha pergunta anterior, mas por conta do devaneio, não ouvi absolutamente nada. Sorte que a consciência voltou quando Ivy, molhada, passou pela minha perna, arrancando uma leve risada.

— Er... — acariciei a cabeça da pequena Dratini, piscando para a mesma quando decidiu ir brincar com seus irmãos — S-sim, estou feliz! Muita saudade, sabe como é. — que mentira, Karinna; você sequer consegue passar por lá — Jura, vocês dois cantam? Que legal! — talvez ali tenha surgido o primeiro sorriso 100% sincero do meu rosto — Eu sou violinista e, bom, uma cantora nas horas vagas. — dei um gole na cerveja — Quero muito ver o talento de vocês, vamos! Sem timidez!

Por uma fração de momento, esqueci qual era meu objetivo em Cinnabar. Por outro, que fazia parte da organização criminosa mais famosa do mundo. Não sou uma boa pessoa, não tenho boa índole, tenho uma ficha tão suja quanto o sangue de desconhecidos que carrego nas mãos. M-mas... Mas. Seria bom, não seria? Viver assim? Tão tranquila, sem cobranças, com um emprego normal em uma Cafeteria, com uma amnesia que me fizesse esquecer tudo que já fiz e já fizeram contra mim?

Talvez, e somente talvez, esse exato momento com essas pessoas desconhecidas que me acolheram seja o último lapso da humanidade que ainda deixo habitar em mim. A partir de amanhã, o caminho sem um ponto de retorno finalmente irá surgir. Tudo bem, muitos considerariam assassinatos e roubos e um monte de ilegalidades que faço como esse tal caminho, ha, mas não pra mim. Provavelmente porque tudo isso já não me choca há muito tempo. Mas ok, chega de devaneios.

Que eu me permita ser uma mulher de vinte e um anos normal até amanhã.

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